30 Outubro a 2 Novembro
Chegados a PÁDUA, estacionámos no parque junto a Prato della Valle (prato=campo).
Aqui, existia um teatro romano e é por isso que a enorme praça tem a forma de uma elipse.
É a maior praça pública de Itália. Era aqui que Santo António vinha fazer os seus sermões para as grandes multidões. Votada ao abandono, tornou-se num grande pântano mas, em 1767, foi criado o canal que a circunda e drenados os terrenos, tornando-se na magnífica praça que é hoje com quatro pontes de pedra e 78 estátuas de cidadãos ilustres da cidade ladeando o canal. E a bela Basílica de St. Giustino.
Procurámos a Basílica de Sant'Antonio, na Piazza dell Santo.
Com abóbadas bizantinas e agulhas como minaretes,
tem um exterior exótico que reflecte a influência da arquitectura bizantina. Foi iniciada em 1232 para guardar os restos mortais de Santo António.
Contradizendo toda a vida do Santo, foi-lhe construída uma das igrejas mais ricas de Itália. No altar-mor, magníficos relevos de Donatello (1444) representando os milagres de Santo António, a Crucificação, a Virgem e vários Santos. Em frente ao túmulo do Santo, as pessoas passam em fila, fazem ofertas e tocam as paredes do túmulo, com devoção profunda. Todo o Santuário está decorado com grandes relevos em mármore com cenas da vida real medieval e representações de pessoas, animais e plantas. Infelizmente, nada desta beleza pode ser fotografada pelo turista comum! Fica a recordação dos belos claustros.
Na praça, a estátua equestre de Gattamelata,
considerada uma das grandes obras renascentistas, o retrato do soldado Gattamelata que prestou muitos serviços à República de Veneza. É obra de Donatello e foi a primeira estátua equestre realizada deste tamanho desde o tempo dos Romanos.
Na Via Galilei, procurámos a casa onde viveu Galileo Galilei,
mas não temos a certeza de a ter encontrado.
Na Via San Francesco,
ruas com muitas arcadas, fazendo lembrar Bolonha e muitos palazzi, entre eles o Palazzo e
Torre Zabarella.
E ainda um conjunto escultórico do túmulo de Antenore
e as ruazinhas estreitas do Guetto
até chegarmos à Piazza delle Erbe.
Aqui, o Palazzo della Raggione,
Palácio da Justiça na época medieval, conhecido por Salore, construído em 1218.
Seguimos para a Piazza del Duomo,
inicialmente encomendada a Miguel Ângelo, em 1552, mas consideravelmente alterada durante a sua construção. Da catedral primitiva, ainda resta o Baptistério
românico, abobado, com frescos magníficos pintados por Giusto del Menabuoi (1376) representando histórias bíblicas.
Na Piazza dei Signori,
cercada por belas arcadas com pequenas lojas, cafés e bares, deparámo-nos com o
Palazzo del Capitanio,
construído para sede militar da cidade e que tem uma torre com um relógio astronómico feito em 1344. Ao lado, a Faculdade de Arte, Corte Capitaniato, do séc.XIV, com um retrato de Petrarca. A Loggia della Gran Guardia,
com as suas arcadas, renascentista, datada de 1523, foi o local do Conselho dos Nobres e é, actualmente, utilizada como sala de conferências.
Unida à Piazza dei Frutti em cujas bancas se vendem frutos frescos, com vista para o Palazzo della Raggione,
que atravessámos, está a Piazza delle Erbe, a praça dos legumes.
Sobressai a torre quadrada do Palazzo Communali,
complexo onde funcionam os escritórios da Assembleia da Cidade. A grande torre é uma torre de defesa, do séc.XIII. Atrás deste complexo está a Universidade de Pádua,
fundada em 1222, a segunda mais antiga de Itália.
O edifício principal, Palazzo del Bo, é do séc.XVI e está em obras de restauro.
Ali mesmo, com aspecto de edifício gótico de um lado e de templo romano do outro, ocupando um quarteirão, o Caffè Petrocchi,
construído como um templo clássico em 1831, onde se reuniam intelectuais, estudantes, políticos e filósofos.
Até ao conjunto de Museus Eremitani, passámos pela Ponte delle Torricelle.
E desiludimo-nos porque não pudemos visitar a Capela Scrovegni
para ver os frescos de Giotto, porque é necessário uma pré-marcação com um mínimo de 48h, via internet. A justificação é de que a capela é muito pequena, albergando grupos de apenas 25 pessoas cada meia-hora. Enrico Scrovegni mandou construir esta capela em 1303 para redimir o seu pai, já morto, um agiota que foi amaldiçoado por Dante no "Inferno". Ao lado, a Igreja dos Eremitani, do séc.XIII.
E seguimos a Via Umbertos até ao estacionamento, fotografando belos edifícios.
Rumámos a CITTADELLA, uma bela cidade amuralhada com um fosso com água à volta.
As muralhas têm uma média de altura de 14m, chegando aos 30m nas torres.
De forma elíptica, tem 36 torres de tamanhos diferentes e 4 portas (Bassano, Treviso, Vicenza e Pádua).
Na Torre de Malta,
dentro da Porta de Pádua, funcionava uma prisão com câmara de tortura e pode ver-se as armas de Pádua tendo, também incorporada, a igreja de Santa Maria del Torresino e a Torre do Relógio. Na Porta Bassano ainda se pode ver um fresco.
O Duomo adivinha-se muito bonito, mas está tapado com os panejamentos de obras, na Piazza Pierobon.
Desiludidos, rodámos para CASTELFRANCO, cidade gémea de Cittadella. Também fortificada com muralhas de 1199
pelos governantes de Treviso para se defenderem dos vizinhos de Pádua.
Dentro, as ruazinhas estreitas
e a Piazza del Duomo de Santa Maria Assunta,
modesta, na praça acanhada. A Torre do Relógio, ergue-se altaneira.
No dia seguinte, continuámos o périplo pelas cidades do Veneto, começando por NOVENTA, onde o dia é de feira, na grande praça onde sobressai a Catedral,
o edifício do Município
enfeitado, numa arquitectura "palladina" e um palazzo com janelas e portas vermelhas.
MONTAGNANA é bem mais importante, com belas e muito bem conservadas muralhas medievais, com quase 2km de comprimento, 4 portas e 24 torres.
Entrámos pela Porta Oeste, Porta de Vicenza, Rocca degli Alberi.
Na Piazza Vittorio Emanuelle II,
coração da cidade, as pessoas amontoavam-se à porta da igreja onde decorriam as missas. O Duomo de Santa Maria Assunta
tem uma fachada Gótico Tardio, de mármore branco, atribuído a Jacobo Sansovino. Construído entre 1431 e 1502, tem um fresco, no altar-mor, "A Transfiguração", de 1555, de Paolo Veronese.
O Palazzo Comunale,
em frente ao Duomo, é do séc.XVI e é projecto do arquitecto Michele SanMichelli de Verona.
O Palazzo della Loggia (1877)
é um elegante edifício que foi construído no local onde existia uma velha igreja.
Chamando a atenção pela sua volumetria e invulgar arquitectura, a Cassa di Risparmio,
uma excelente reprodução do edifício medieval, embora tenha sido construído em 1924, depois do fogo ter destruído o original.
Caminhando até à Porta Este, Castelo di SanZeno,
entrámos no Turismo para saber onde estava a Villa Pisani, de Palladio.
Construída em 1560, está completamente votada ao abandono.
ESTE fica a 30km de Pádua, a sul dos Montes Eugâneos, de origem muito remota, provavelmente do séc.IX aC, conquistada pelos Romanos no séc.IV aC.
Na Piazza Maggiore,
comprámos castanhas assadas, enormes, e entrámos num café nas arcadas por baixo do edifício em cuja varanda, segundo a voz popular "Garibaldi falou". É o actual Município.
A partir da Piazza Maggiore pode ver-se a Torre da Porta Vecchia, do séc.XVII,
o Palazzeto Scaligeri, do séc.XIV, gótico, actual biblioteca, com cerca de 50.000 volumes. E também o Castelo,
datado do séc.XIV, erigido por Ubertino da Carrara nas ruínas da fortificação anterior destruída em 1249 pelas tropas de Ezzelino da Romano.
Perto, a Abadia Catedral de Santa Tecla,
construída no final do séc.XVII, com um grande presbitério.
MONSÉLICE
fica a alguns quilómetros, no sopé de duas colinas, uma que é pedreira e outra no cimo da qual está o Castelo, engalanado com faixa vermelha.
Completamente afogada em gente (muita festa há por aqui!...), a Piazza Mazzini com a Torre Civica (Torre do Relógio)
do séc.XVIII que emerge das tendas e das cabeças dos festeiros. A Chiesa di San Paolo
perde a monumentalidade.
Ao lado, a Mansão Monte Pietá,
um edifício do séc.XV, com uma graciosa loggeta com colunas dóricas.
A caminho do Castelo, a Villa Nani-Mocenigo,
um edifício renascença. Em frente, nos antigos estábulos, está a "Enoteca Al Castelo",
taverna medieval onde experimentámos variedades de café (com chocolate e leite frio e amêndoa ralada, por exemplo...).
ARQUÀ PETRARCA, il borgo dell poeta, fica logo ali.
Já foi simplesmente Arquà, mas em 1868 foi-lhe acrescentado o nome do poeta (Francesco Petrarca) que viveu aqui na sua velhice. Entre vinhedos e olivais, a casa ainda mantém um encanto especial,
com frescos nas paredes. E paisagens inspiradoras visíveis das janelas e varandas.
Almoçámos numa simpática brusquetteria
e fotografámos recantos pitorescos.
E gatos,
que não o de Petrarca, que está mumificado dentro da casa do poeta.
No último dia no Veneto, depois de nos despedirmos da Lícia (que nos ofertou uma garrafa de vinho da propriedade e um frasco de compota caseira), rumámos a TREVISO, cidade amuralhada e circundada pelo rio Slile, que a atravessa em bonitos canais.
A pequena ilhota onde está o mercado do peixe,
tresanda, chamando pássaros e patos que disputam os restos lançados à água no fim da venda.
Seguindo Calmaggiore, na Piazza dei Signori,
encontrámos o enorme e fora de vulgar Palazzo dei Trecento ou Palácio da Razão,
construído em 1185, casa do Supremo Assise Cívica composto por 300 membros. Em 1944 foi vítima de um atentado, tendo sido reconstruído e sendo, actualmente, sede do Município.
O Duomo, Catedral de Treviso,
fundado no séc.XII, sofreu algumas alterações nos séculos seguintes. Dentro, a "Anunciação"
de Il Pordenone, rival de Ticiano,
e a "Adoração dos Pastores" de Paris Bordone.
Atravessámos o Viccolo Piccolo del Duomo,
cheio de recantos interessantes, e surpreendemo-nos com um mosaico paleo-cristão, numa pequena praça.
Contornámos a Catedral e fotografámos a fachada palladina
e a Chiesa di San Giovanni, com campanário.
Na Piazza della Vitoria, estão o edifício dos Correios
e o monumento aos Mortos de Todas as Guerras, ainda com flores frescas das comemorações de ontem (1 de Novembro).
Queríamos ver os retratos realistas de Santos, de Tomaso da Modena e, por isso, procurámos a
Chiesa di San Nicolò,
do séc.XVI, ao lado das muralhas. Mas... todas as igrejas encerram ao meio-dia.
Reabriria às 15.30h, demasiado tarde para nós que teríamos que entregar o carro às 16h, em Veneza.
Almoçámos na "Trattoria Hesperia",
fotografámos as belas casas com varandas e paredes pintadas que datam da época medieval.
As pinturas pretendiam esconder a pobreza dos materiais usados na construção.
No Aeroporto Marco Polo, aguardámos o avião, atrasado, para Lisboa.
Marco Polo
era um mercador veneziano que viveu 20 anos na corte de Kublai Khan, na China.
Nasceu por volta de 1254, em Cannaregio, perto de Rialto e deixou Veneza aos 18 anos. Viajou como diplomata e regressou em 1295 com uma grande fortuna em jóias e histórias. Feito prisioneiro de guerra em Génova em 1298, escreveu as histórias das suas viagens no "O Livro das Maravilhas" que pode muito bem ser comparado ao de Fernão Mendes Pinto!
Assim é o VENETO, belo e cheio de histórias!
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8 comentários:
E acaba em beleza, com uma sereia que ficava bem na minha colecção.
Ó Primo, tu fazes de mim, que sou uma pelintra, uma fulana muito viajada!!!...
Obrigada.
Beijinhos para os dois.
Belo!
Gostei da imitação do mercado delle Erbe do mercado do Calhabé!
Reparo que demoraste 58 minutos a ir da Torre de Bassano à Toree do Relógio!
Continuem que vão bem!
Um Abraço.
Tonito.
Itália dos meus sonhos...
Lá vos vou acompanhando com entusiasmo tentando "viver" o vosso prazer através das fotos e descrições.
Belíssima viagem!
Agora que corre o giro de Itália em bicicleta, também eu vos acompanhei neste magnifico giro.
A monumentalidade e todos os pormenores históricos, enriquecem e valorizam muito este trabalho, o que, aliás, nem sequer é motivo de admiração. O Travel e os seus autores, já nos habituaram à qualidade das reportagens e à possibilidade de, com eles, corrermos muitos cantos do planeta. Gostei.
Obrigado, Daisy e Alfredo ...
Revi alguns locais, outros apreciei-os pela imagem e pela explicação que a acompanhava.
Sempre um prazer ver os vossos passeios!
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