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sábado, 25 de fevereiro de 2017

PORTUGAL - AS AMENDOEIRAS EM FLOR


Marialva, Longroiva, Mêda, Penedono, Vila Nova de Foz Côa, Freixo de Numão, Castelo Melhor, Almendra, Castelo Rodrigo, Linhares da Beira

Final de Fevereiro até à segunda semana de Março (conforme o tempo)

***
A lenda das Amendoeiras em flor diz:

Era uma vez um rei mouro que se apaixonou por uma princesa nórdica, com quem casou. Mas a alegre princesa foi-se tornando triste, saudosa da brancura da neve do seu país distante. Então, o rei teve a ideia de plantar amendoeiras à volta do seu castelo e, no fim do Inverno, a princesa subiu à alta torre e vendo as árvores floridas como a neve da sua terra natal, sentiu-se tão feliz que a sua tristeza desapareceu para sempre.



Também nós nos apaixonámos pelas belas flores das amendoeiras 

e temo-las visitado nas terras mais próximas, da Beira e Alto Douro, aproveitando para conhecer as nossas belíssimas aldeias históricas.

Saímos de Aveiro pela A25 e, depois, IP2.
MARIALVA fica a menos de duas horas.

Parece uma aldeia abandonada, aos dias de semana. 

Aos fins-de-semana e no Verão, anima-se um pouco.
Remonta ao tempo da antiga cidade de ARAVOR, século IV antes de Cristo, Castro dos Arávos, numa eminência rochosa. 

No século I aC, na romanização, teve importância pela localização próxima do cruzamento de algumas importantes vias romanas. No século VIII dC, os muçulmanos ocupam o território mas, em 1063, o rei leonês Fernando o Magno conquistou-a e em 1179, Dom Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, atribui-lhe o foral e manda-a reedificar e povoar. Em 1512 Dom Manuel promove obras no castelo, dá-lhe foral novo e transforma o local em imponente praça-forte. Em 1758 ainda conservava intacta a cintura muralhada 
e era seu alcaide-mor o Marquês de Távora. 
Na segunda metade do século XVIII, inicia-se o abandono do espaço habitado e em 1855 é extinto o concelho de Marialva, passando a pertencer ao concelho de Vila Nova de Foz Côa passando, em 1872, para o concelho de Mêda.
Os anos 40 do século XX marcam o fim da habitação da zona intramuros e a ruína. Em 1994, integra o Programa de Recuperação das Aldeias Históricas de Portugal.
Entrámos pela zona baixa do arrabalde, onde encontrámos duas mulheres ao soalheiro, 
junto de um solar em ruínas. De resto, portas fechadas e nem vivalma. É segunda-feira. Que sim senhor, o castelo é sempre a subir, na Alta. No morro granítico, bem difícil de ser tomado pelos inimigos!
O pequeno edifício do Turismo está localizado junto à muralha, onde se situavam as Casas dos Judeus.
No largo, 
onde sobressai o Pelourinho do século XV, uma coluna sextavada assente sobre oito degraus, rematado por capitel com motivos vegetalistas. É um funcionário do Posto de Turismo que nos encaminha para a visita ao castelo, após pagamento de 1€.
A Porta do Anjo da Guarda ou de São Miguel 
deu-nos acesso ao interior das muralhas.

À esquerda, o campanário românico da Igreja dos Templários.

O piso é difícil. 

As ruínas são evidentes. Adivinham-se as casas do burgo medieval. 

De vazios onde existiram janelas, surgem motivos para fotografias interessantes.

Chegados ao espaço aberto do Largo da Praça
algumas estruturas de madeira e ferro estragam o espaço. 
Salienta-se outro Pelourinho 
que data da época do foral manuelino. Sobre quatro degraus octogonais, ergue-se a coluna, de base quadrangular, com 4m de altura, encimada pela gaiola constituída por dois chapéus piramidais, o inferior invertido e o superior sustentado por ferros cravados em todas as arestas, com um colunelo central.
Viradas para o Largo da Praça, a Antiga Casa da Câmara (do século XVI), 

e o Tribunal e Cadeia e a Antiga Casa dos Magistrados.

Continuando em direcção ao castelo, encontramos o planalto onde estão as duas igrejas.

A Capela do Senhor dos Passos

Maneirista, é do século XVII, também conhecida como Capela da Misericórdia, com um púlpito exterior.
A Igreja Matriz ou Igreja de Santiago
associa os estilos Manuelino e Barroco. A origem é do século XII. No século XVII foi-lhe implantado, na portaria, um portal manuelino orientado a poente.

Um carreirinho estreito leva à porta chamada Postiguinho.

O Castelo 
foi implantado no topo do morro granítico, dominando o conjunto urbano, no local onde possivelmente terá existido o castro romanizado (referenciado no século XI como Castro de São Justo). Já em grande parte reconstruída é, juntamente com as duas igrejas, as estruturas que estão em melhor estado de conservação.
Nas muralhas, várias torres que serviam de vigia para defender a vila: Torre do Relógio, a Torre do Monte ou Torre dos Namorados e a Torre da Relação.

Vale a pena percorrer a pé as ruazinhas do Arrabalde

deixando para trás a Capela de Nossa Senhora de Lourdes 
ou de São João Baptista.

Desci ao Largo do Cruzeiro, fazendo outros planos fotográficos e, continuando a descer, à direita, a interessante Casa do Leão

um edifício de dois pisos com balcão e escadaria em pedra encimada por uma figura zoomórfica e duas caras bochechudas. 

À esquerda, uma encantadora casa de pedra com enfeites contemporâneos.

A arquitectura beirã, 
com as suas varandas de pedra, vai compensando bem a caminhada com o sol do meio-dia a queimar.

Seguindo em frente, desemboquei num largo grande, com a Casa das Freiras (adaptada a unidade de alojamento) e, em frente, a monumental Igreja de São Pedro 
que está no local onde existiu um templo romano, que foi reformada no século XVI e ampliada no séculoXVII.
As amendoeiras florescem nos quintais. 
E o silêncio, avassala.

No cimo da rua, o Alf conversa com um habitante e fica a saber: a escola, nova, não serviu para o efeito, porque não há crianças. Adaptou-se (e bem) a Centro de Dia para a gente mais velha.
Marialva fica para trás e Mêda logo ali.

Mas, primeiro, um desvio até LONGROIVA
onde esperamos encontrar amendoeiras em flor cobrindo as encostas.

A sul do rio Côa, o castelo de Longroiva tem uma posição dominante sobre a vila 
e é testemunho da arquitectura templário na região.

Romanos, Visigodos e Muçulmanos passaram por aqui. Na época da reconquista cristã, pertencia aos domínios legados ao Mosteiro de Guimarães por Dona Flâmula Rodrigues, sobrinha de Mumadona Dias (ano de 960). O castelo foi transformado em pedreira, no século XIX, mas bem recuperado 
e classificado como Monumento Nacional por decreto de 18 de Agosto de 1943.
Também a Igreja Matriz (de Santa Maria),
do século XV, foi alvo de muitas fotografias, com as amendoeiras em primeiro plano, na encosta.

Voltámos pela mesma estrada até MÊDA, sede de Município, na transição entre as regiões naturais do Alto Douro e o Planalto Beirão.
Surpreendemo-nos com a parte nova, de grandes avenidas. Compram-se bons produtos regionais: figos, amêndoas, azeite e vinho! E almoçámos bem no "Sete e Meio".
A parte antiga não é tão fácil de visitar... O autarca (que nos disseram ser de Coimbra), investiu mais na modernização e qualidade de vida dos seus munícipes e não se preocupou com os turistas, possivelmente escassos!...
Mas conseguimos, perguntando, chegar ao largo onde estão a Torre do Relógio, o Pelourinho e a Igreja Matriz, virando à direita, ao fundo da grande avenida, depois do almoço. É o Largo do Município.

A Torre do Relógio 

não terá chegado a castelo: é uma torre de vigia da Idade Média, no morro granítico de 760m. 

O Pelourinho
manuelino, do tipo gaiola, provavelmente do século XVI.
Também do século XVI, a Igreja Matriz ou de São Bento
barroca, remodelada no século XVIII, tem fachada triangular com campanário de duas "ventanas" inseridas no mesmo plano e portada clássica.

PENEDONO 
pertence ao distrito de Viseu, nos limites entre a Beira e os socalcos do Douro. Não foi pelas amendoeiras, mas pelo seu castelo 
que a visita foi obrigatória. 
Do século XI, a 1000m de altitude, foi berço, segundo a lenda, de Álvaro Gonçalves Coutinho, um dos Doze de Inglaterra, filho do conde de Marialva, imortalizado por Camões nos Lusíadas.
O Castelo de Penedono ou do Magriço, no alto da penedia, foi espaço militar e residência senhorial. 
Românico-gótico foi, muito provavelmente, construído no tempo de Dom Sancho I e fez parte dos bens de Dona Chamoa Rodrigues que fez testamenteira sua tia Mumadona Dias.
A configuração actual remonta aos fins do século XIV. Com função de solar, apresenta planta hexagonal, dois torreões robustos, prismáticos, 
com contrafortes e mísulas, coroados por ameias piramidais. Dois torreões esguios, no sector sudoeste da muralha, 
ladeiam a porta principal encimada por um arco que os une.
O Pelourinho fica mesmo em frente ao belo castelo e compõe a fotografia. Construído no século XVI, após o foral de Dom Manuel I, em 1512, é um pelourinho de gaiola exuberante, sobre uma plataforma de cotas diferenciadas, devido ao declive, de base de cinco degraus.

Direitos a VILA NOVA DE FOZ CÔA 

(ver também, neste blog, "Rota dos Castelos de Fronteira"), que não cansa.

No centro histórico, na Praça do Município, a Igreja Matriz

de Nossa Senhora do Pranto ou da Piedade, foi mandada construir por Dom Manuel I, que convidou Mestres franceses, italianos e biscaínhos que lhe deram um final gótico com decorações manuelinas. 

O portal principal, 
belíssimo, é encimado por uma imagem da Pietá 
abrigada num nicho e ladeada por pedra de armas reais. Coroada por um óculo, é rematada por campanário com três ventanas sineiras e platinada manuelina. A cornija é marcada, nos ângulos, por gárgulas. 
No interior, três naves com arcaria de volta plena 
sustentada por colunas robustas, tecto abobado pintado com cenas da vida de Cristo 
e da Virgem e talha barroca dourada. 

Na capela-mor, escultura de Nossa Senhora do Pranto, do século XVIII, 
num retábulo setecentista de talha dourada. 

E nas paredes laterais, pinturas dos Passos da Paixão.

Em frente, no exterior, o Pelourinho manuelino, os Paços do Concelho 
e a estátua de Dom Dinis.

Deixando Vila Nova de Foz Côa 
seguimos para Freixo de Numão.

As amendoeiras gostam de 
FREIXO DE NUMÃO

enfeitando quintais, 
terras de cultivo e praças vazias de gente, mas com muita história.

A Casa Grande
solar barroco da segunda metade do século XVIII, com varanda de balaústre 
de pedra encimada por um brasão desproporcionado, foi transformada em museu arqueológico e etnológico, dentro 
e no quintal anexo, com ruínas romanas, medievais e modernas. 

Fica na Rua Direita e é, também, Posto de Turismo.
Por ruas empedradas, fomos descobrindo a Capela de Santa Bárbara ou capela roqueira, 
de data indeterminada, construída em cima de grande calhau redondo.

No largo, a Igreja Matriz
no local onde existiu um templo pagão e depois uma igreja românica que ficou destruída com o terramoto de 1755! 
Foi reconstruída e ampliada em seguida, no século XVIII, com um busto em pedra de São Pedro, padroeiro e protector. 

Foi uma senhora que tomava sol na entrada de sua casa, que se ofereceu para nos abrir a porta do templo, para podermos admirar os altares de talha barroca.

No mesmo largo, o Pelourinho 

com elementos heráldicos e coroa de Dom João IV e as armas do Concelho e uma mão estilizada, estendida, debaixo de uma coroa imperial com um N e um E significando NEMÃO. 

Também a Casa da Câmara, ao lado da Antiga Casa da Justiça
setecentista, de traça barroca e escudo de Dom João V.

Lamentável ruína, é o castelo de CASTELO MELHOR
outra aldeia aparentemente desabitada, silenciosa. 
A colina é linda, especialmente no tempo das manchas coloridas das amendoeiras em flor.

No cimo, o castelo, do período leonês, 
com o que resta das muralhas do burgo inicial, 
extremamente interessantes pelo desenho pouco vulgar nos nossos castelos. É como uma coroa à volta do monte. A desilusão vem depois da caminhada pouco fácil até ao seu interior, num completo abandono.

Seguimos para ALMENDRA acompanhados pelas amendoeiras e os típicos pombais.

O que nos aparece primeiro e chama a atenção por causa da volumetria, é o Solar do Visconde de Almendra ou Solar dos Viscondes do Banho,
palácio barroco setecentista. 

De dois pisos, apresenta nas janelas as típicas vieiras invertidas 

e a varanda com balaústres. 

Perto, a Igreja da Misericórdia
do século XVI, com data marcada na fachada, 1571, foi posteriormente associada à Irmandade do Senhor dos Passos. Ao lado, a Casa do Despacho (da Irmandade).
No local onde está a actual Igreja Matriz
existiu um templo pagão romano. Por cima do portal, a data de 1565, mas suspeita-se que o templo cristão será mais antigo. É dedicado a Nossa Senhora dos Anjos e tem influências arquitectónicas renascentistas, com torre sineira, portal ladeado por dois contrafortes, um óculo de pequenas dimensões por cima do portal e uma torre com contrafortes acossados aos cantos da sua parede posterior.
Ali mesmo, a Casa de Gaspar Sanchez de Castilho, de 1625, 
com a sua capela de Nossa Senhora do Socorro

que tem uma imagem em pedra em cima de um portal renascentista.

O Pelourinho de Almendra
manuelino, tem fuste oitavado encimado por um capitel onde assenta uma gaiola com lanterna rematado com uma esfera armilar. 
Na Praça do Pelourinho, uma homenagem a Dom Manuel I, 
que lhe deu foral de vila.

CASTELO RODRIGO avista-se ao longe, 
com a sua muralha que data do século XIII, protectora, por causa dos conflitos luso-castelhanos da época.

O nome poderá vir do conde leonês Rodrigo Gonzalez Giron (o mesmo que terá povoado Ciudad Rodrigo), responsável pelo povoamento da região. Perto da fronteira, sofreu com as pelejas e as agruras dos anos, chegando a ser ocupada pelo exército espanhol na Guerra dos Sete Anos (1756-1763) que o dinamitou na altura da retirada.
Com a integração no Programa de Recuperação das Aldeias Históricas em 1994, começou a recuperação.

Ao cimo da ladeira calcetada, 
aparecem-nos as muralhas guarnecidas por amendoeiras em flor.
Deixámos o carro e prosseguimos a pé, que é a melhor maneira de conhecer bem os lugares, perdendo-nos nas ruazinhas estreitas com casas de pedra recuperadas.

A Torre do Relógio 
salienta-se pela brancura contrastante. 
É junto dela que se encontram, ainda, vestígios do castelo, em torre circular.

O Palácio de Cristóvão de Moura
em ruínas, data dos finais do século XVI e foi implantado onde se situava o castelo e a sua alcáçova. 

A Porta Monumental do Palácio 
foi construída entre duas torres que protegiam a porta principal do castelo.
Cristóvão de Moura pertencia à nobreza castelhana e instalou-se aqui durante a ocupação filipina após a crise sucessória que adveio da morte de Dom Sebastião. 
Com a restauração da independência
portuguesa (1640), os espanhóis foram expulsos e o palácio, símbolo da opressão filipina, foi incendiado pela população. 
Resta pouco, o que é pena, 
porque se adivinha que teria sido um belo edifício.
A visita é paga (1€) e é a senhora do Turismo, mesmo ali, que nos dá a chave e a quem a entregámos, no final.

Descobrindo a aldeia, procurámos o Pelourinho manuelino, com remate interessante.

A Igreja Matriz, Igreja de Rocamador

começa por se vislumbrar numa vista baixa, entre os muros de pedra. 
A arquitectura é uma transição entre os estilos Românico e Gótico, construída entre os séculos XVI e XVII, sobre uma outra, do século XIII, edificada pela Confraria dos Frades de Nossa Senhora de Rocamador que se dedicava à assistência dos peregrinos de Santiago de Compostela.
Parámos no "Sabores do Castelo", uma lojinha gourmet que dá gosto visitar. 
Os produtos podem ser todos provados, o que é muito simpático. É dirigida pelo francês André Carnet, um normando que se apaixonou pela região, e onde comprámos azeite, cogumelos secos, queijo, amêndoas e rebuçados artesanais.

No regresso a casa, parámos em LINHARES da BEIRA, mais uma aldeia histórica. O dia estava a findar e a luz já não era a melhor. Assente em granito, construída em granito, obrigou-nos a subir. 

Até à Igreja da Misericórdia
de raíz românica. Ao lado, foi construída a Casa do Despacho. Frontaria joanina e torre do campanário, encantadora. 

Em frente, o Solar Corte-Real
barroco, do século XVIII, tem uma fachada imponente, adaptado a hotel.

As janelas manuelinas, típicas desta aldeia, merecem atenção: 
a da Casa da Rua Direita, 

a da Casa do Arco ou Casa do Judeu 
(onde se crê ter funcionado a Sinagoga), a da Casa do Beco das Escadinhas.

O Castelo 
foi construído sobre as ruínas de um antigo castro da Idade do Ferro e já existia no reinado de Dom Sancho I. 
Num morro granítico escarpado, foi construído um acesso sobre penedos, 
para facilitar a visita do turista.
Contra a luz do sol que descia no horizonte, a silhueta é imponente, com duas torres altaneiras, a sineira

e a de menagem.

A Fonte de São Caetano
no extremo esquerdo, vista do castelo, atrás da Matriz, foi restaurada em 1829 e ostenta as armas reais com uma coroa e um nicho que abrigou, em tempos, a imagem de São Caetano, e é rematada por uma cruz.
A Igreja Matriz 
de Nossa Senhora da Assunção já existia no século XII, com base românica, e foi sofrendo alterações maneiristas e barrocas, com torre sineira de dois pisos.

Soube bem o chocolate quente no café que nos abrigou, um pouco, do frio cortante exacerbado pelo vento. 

E ainda voltámos a parar no Largo da Misericórdia para fotografar o pelourinho manuelino, 

campanário  

e o cruzeiro 
da Igreja da Misericórdia ao sol pôr!...


* * *