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terça-feira, 27 de setembro de 2016

PORTUGAL - AÇORES

ILHA TERCEIRA
12 e 13 Julho 2016

A Terceira foi a terceira paragem do arquipélago a ser reconhecida pelos navegadores portugueses, entre 1420 e 1430. Mas só em 1449 o Infante incumbiu Jácome de Bruges, flamengo de nascença, do seu povoamento que começou a concretizar-se em 1470, na Praia e Angra.

O seu ponto mais alto situa-se na Serra de Santa Bárbara a 1021 metros. Tem 401,9 quilómetros quadrados e uma população residente de 56000 habitantes.
Com a anulação do voo da manhã e um atraso no da tarde, acabámos por chegar apenas às 18h, o que comprometeu bastante o nosso programa.

A Marina esforçou-se e prolongou o seu horário de trabalho para nos mostrar o máximo possível do programa previamente combinado.
Assim, arriscámos a subida à Serra do Cume, a 545m de altitude, para ver e fotografar a 
"manta de retalhos"

com bastante nevoeiro, que se foi dissipando em alguns pontos, mantendo-nos atentos para os fotografar. 

As vacas, essas, indiferentes, equilibravam-se na encosta. 

O nevoeiro tirou-nos a vista para a Praia da Vitória e não foi possível ver, em pleno, este vale 
(Vale da Achada
que é considerado a maior bacia leiteira do Mundo, onde as vacas pastam, produzindo, cada uma, cerca de 30 litros de leite por dia. E existem 2 vacas por cada habitante da Ilha!

Já na descida, São Sebastião ao longe 

e o encontro inusitado, na Quinta dos Salgueiros, com o senhor Armando e os seus 
Barbados da Terceira, amorosos, raça única local.

E a freguesia de São Sebastião

esperava-nos em baixo, com a sua bela Igreja e o não menos belo e célebre Império.

A Igreja  
foi edificada pelos primeiros povoadores em 1455. 
Tendo sofrido diversas adversidades, a sua recuperação significativa só se fez a partir de 1964. 

De estrutura baixa, destacam-se os seus portais gótico-manuelinos. 

A torre sineira é baixa e quadrangular, com uma cúpula piramidal. 
O Império do Espírito Santo é de 1882 e reconstruído em 1918. 

Na frontaria e no soco apresenta alegorias às festas e ao bodo, 

com rosquilhas, pão, espigas e vinho. A decoração cobre todo o império. 
Casas senhoriais concentram-se à volta.

Aproximando-nos da costa, avistámos o Farol das Contendas

A Ponta das Contendas engloba a Baía da Mina ou Baía das Mós 

e o Ilhéu dos Garajaus 
onde nidificam o Cagarro, o Pombo-da-rocha e o Estorninho-malhado.

Contornando a costa, encontramos a Baía da Salga,

onde ocorreu a Batalha da Salga (25 Junho de 1581) entre os Castelhanos e as tropas que defendiam Dom António Prior do Crato ao trono de Portugal usurpado pelo rei espanhol. 

O Monumento 
lembra Brianda Pereira que, à frente de um grupo de mulheres, soltou uma manada de touros bravos, obrigando os espanhóis a voltar às embarcações.

Mais à frente, Porto Judeu ou Porto Judeu de Santo António, onde terão desembarcado os primeiros povoadores da Ilha trazidos por Jácome de Bruges. Como a enseada do porto, de pequenas dimensões, não oferecia condições fáceis de abrigo, foi chamado de "judeu" que, na altura era palavra para tudo o que era mau...
O Império de Porto Judeu de Baixo, 

bem colorido (azul, vermelho, verde e amarelo), é de 1916.
O Ihéu das Cabras

visualiza-se, com ligeira neblina. É composto por dois rochedos de diferentes tamanhos, com tufos vulcânicos cobertos por vegetação onde nidificam aves marinhas. As cabras foram os primeiros habitantes da Ilha... Os navegadores vieram e deixaram as cabras no ilhéu. O desconhecimento das condições de habitabilidade era preocupante: um local belo, aparentemente pacífico, poderia ter uma razão para não estar habitado. As cabras não tinham possibilidade de passar para o resto da Ilha e seria fácil encontrá-las, se resistissem, na viagem seguinte. E resistiram. Vieram, depois, os povoadores... e trouxeram as vacas holandesas.

E chega-se a Angra, recebidos pelo monumento aos touros à corda 

e a praça de touros.

Subimos à freguesia da Memória e, na Praça do Castelo, no Alto da Memória
o Monumento à memória de Dom Pedro IV. 

Do miradouro, vê-se o casario, 

a Sé Catedral de São Salvador, Matriz de Angra, 
com fachada de duas torres sineiras que ladeiam um templete para o relógio colocado em 1782. Aqui foi baptizado Ngungunhane e seus companheiros de exílio (1899), trazidos de Moçambique.

A Igreja do Forte de São João Baptista
também espreita, ao longe. O forte foi construído durante a administração filipina, na Praça de Armas da Fortaleza. Barroca, tem duas torres quadrangulares e tem um aspecto robusto, com o Monte Brasil a servir-lhe de fundo.

Identifica-se, também, a Igreja da Misericórdia

azul, olhando a Baía e, até, o Ilhéu das Cabras.

O dia terminou no Hotel Terceira Mar, com jantar a ver a noite a cair sobre a piscina 

e o Monte Brasil ao fundo.

Saímos com a lua a crescer, 

a pé, até ao centro, olhando os edifícios recuperados do abalo, 

a Sé e os passeios de calçada portuguesa. 

Praça Velha está bem iluminada e, 

à volta,  a Câmara Municipal e os belos edifícios, 

incluindo o hotel onde ficámos há 30 anos.

O dia seguinte começou cedo. Às oito horas, rumámos para oeste, com a Marina. À beira-mar, a 4km,  São Mateus da Calheta
vila de pescadores, onde a igreja se ergue, imponente, acima do casario. Em 1893, um furacão destruiu o templo anteriormente existente. A actual, ficou concluída em 1911, com as torres sineiras bem altas.

Ao longe, o Monte Brasil emerge da neblina.

O porto, 

o coreto, o Império de 1873 

e a Fonte 
com painéis de azulejos com referência à pesca, à religião, à agricultura e à tourada à corda, marcam a curta visita.

A estrada ladeada de cedros japoneses 

levou-nos até São Bartolomeu de Regatos 

e ao lugar encantado da Lagoa das Patas
na Reserva Florestal de Recreio da Lagoa das Patas. 

Os verdes e o silêncio contribuem para o maravilhoso. 

Tufos de flores 

e o lago com nenúfares 

e patos (patas) rodeado por muito verde completam o cenário.

O Pico Gaspar 

e os Mistérios Negros 

acompanham-nos na paisagem até à Lagoa do Negro

E o encantamento, de novo, na lenda: o escravo negro, apaixonado por uma dama e perseguido pelo pai dela, fugiu, cavalgando até o cavalo morrer de cansaço. Enterrou o cavalo e refugiou-se no lugar dos Mistérios Negros. A paixão fê-lo regressar e, ao encontrar a sepultura do cavalo chorou a sua sorte e as suas lágrimas formaram uma bonita mas triste lagoa, deixando-se afundar nela.

A Gruta do Natal estava fechada... 

Mas o tempo disponível também não daria para a sua descoberta pois que se trata de uma formação lávica em tubo com várias ramificações, uma das quais passa por baixo da Lagoa do Negro.

E a estrada até aos Biscoitos, 
pelo interior, vai-nos surpreendendo com a sua paisagem de pequenas elevações e caminhos debruados a hortênsias.

Na freguesia dos Biscoitos

cultiva-se a vinha entre cerrados de pedra vulcânica
que, conservando o calor solar que absorvem, criam um micro-clima que acrescenta qualidade às uvas.

Mas o lugar mais turístico da freguesia são as piscinas naturais, 

onde as rochas lávicas e a mão do homem criaram aprazíveis espaços para refrescar e proteger do mar mais ou menos agreste.

Retrocedemos para Altares, freguesia rural fundada em 1480 sendo, portanto, uma das mais antigas da Ilha. A Igreja de São Roque dos Altares, 

debruada a azul, foi fundada no século XV, reconstruída em 1901. Ao lado, a antiga Escola Paroquial, hoje Museu Etnográfico dos Altares,

e a Ribeira de São Roque sem água.

O Império

em tons de verde, com janelas ogivais e azulejos, de 1903.
Mesmo ao lado, a freguesia de Raminho, implantada no complexo vulcânico de Santa Bárbara. O seu Império do Divino Espírito Santo é lindo e colorido.

A Igreja

também imponente, no local onde existia uma ermida da Madre de Deus, foi concluída em 1861, em estilo neo-romântico, com duas torres sineiras e consagrada a São Francisco Xavier.

O sismo de Junho de 1867 provocou grandes danos aqui, bem como nas freguesias da Serreta e Altares, com uma erupção que só terminou um mês depois. Mais ou menos no mesmo local ocorreram as erupções de 1998 e 1999. Na véspera da erupção fez-se uma procissão na freguesia de Raminho e repete-se, até hoje, todos os dias 31 de Maio (Procissão do Abalo), 

em silêncio, às 6h da manhã, transportando as coroas da Irmandade do Divino Espírito Santo até ao alto da Ponta do Raminho. Os participantes vestem as suas roupas de trabalho e, no regresso, cada um vai ficando em sua casa, à medida que a procissão por elas passa.

A 200m de altitude, na Mata da Serreta, a Fonte Mitológica. 

(Nesta Ilha, os sinais de Mistério e encantamento, são muitos!).

Na freguesia da Serreta
a devoção à Senhora dos Milagres vem desde o século XVII. No local onde existe a actual igreja, o padre Isidro Fagundes Machado ergueu uma pequena ermida onde colocou uma imagem de Nossa Senhora com o Menino. 

A actual Igreja de Nossa Senhora dos Milagres foi inaugurada em 1907. 

Seriamente danificada no abalo de 1980, foi reconstruída mantendo a traça, com 19m de altura de frontispício, com torre sineira única de 23metros.

Continuando a circundar a Ilha para Leste, a freguesia das Doze Ribeiras 

(São Jorge das Doze Ribeiras), no maciço vulcânico da Serra de Santa Bárbara. O nome vem de ser a 12ª ribeira a contar da sede do concelho, Angra do Heroísmo. No terramoto de 1980, a quase totalidade dos edifícios foi destruída, o que levou ao abandono do lugar. Reconstruída, a freguesia voltou à sua traça. 

O Império 

foi desmontado e reconstruído devido a várias catástrofes naturais. Actualmente está no lado direito do largo fronteiro à igreja desde 1989. 

A Igreja 

foi reconstruída em 1986, segundo a traça original. O orago é São Jorge.

A freguesia de Santa Bárbara 
fica a escassos 9km, continuando para Leste, a caminho de Angra. É, também, como as duas anteriores, com edifícios bem restaurados, saltando à vista a Igreja 

debruada a amarelo, dedicada a Santa Bárbara. A freguesia foi a primeira paróquia real criada na jurisdição de Angra, anterior a 1486, no tempo de Jácome de Bruges. A primeira igreja terá sido construída no século XVI, reconstruída em 1592 e ampliada em 1834. Após o abalo de 1980, foi novamente reconstruída em 1985, mantendo a traça original. 
O Império

também debruado a amarelo, tem, em frente, um bonito trabalho de calçada portuguesa.
Nas Cinco Ribeiras, igreja (Igreja de Nossa Senhora do Pilar
e império estão unidos pela Sociedade Recreativa, no Largo Padre Belarmino José da Silva, centrado pelo chafariz, predominando a cor azul.

Os Impérios da Ilha Terceira, encantam-me. Existirão 45 no Município de Angra do Heroísmo! No caminho para a Praia da Vitória, descobri um de linhas arrojadas...

Completada a volta até Angra, com paragem numa queijaria para saborear os queijos locais, apanhámos a única auto-estrada da Ilha até à cidade da Praia da Vitória.
Do Miradouro do Imaculado Coração de Maria

a panorâmica da cidade. 

A baía com a marina e a praia, 

o casario e, no meio, as igrejas e a Câmara, os edifícios mais antigos.

Jácome de Bruges fixou aqui residência, juntamente com os primeiros povoados. A cultura do pastel (para a tinturaria) e do trigo fez com que a região se desenvolvesse rapidamente, com edifícios ricos. Protegida dos ventos pela Serra do Cume, espraiou-se até à beira-mar.

O nosso curto passeio a pé levou-nos à Praça Francisco de Ornelas da Câmara

no centro da qual está a estátua da autoria de Abraham Abohobot, 
comemorando o centenário da Batalha da Praia da Vitória (1829, entre as forças de apoio a D. Miguel e a D. Pedro, liberais e absolutistas).

O edifício dos Paços do Concelho 

é o mais importante da praça. Do século XVII, com fachada de escadaria dupla, torre sineira e alpendre. O brasão com as Armas Reais de Portugal,
no enfiamento da coluna central do balcão do piso superior. 
A placa, na torre, lembra os povoadores.

À direita, sobe-se para a Igreja Matriz de Santa Cruz. 

Segundo Alfredo da Silva Sampaio, data de 1456, erguida pelo primeiro capitão donatário Jácome de Bruges. Foi reconstruída em 1557 

quando Dom Sebastião ofereceu as magníficas portadas de mármore de estilo manuelino. 

Pormenores interessantes nos capitéis das colunas.

A casa das tias de Vitorino Nemésio 

vislumbra-se ao fundo, em frente à Igreja do Senhor Santo Cristo das Misericórdias, com o busto do escritor entre as duas edificações. 

Destruído por um incêndio em 1921, o primitivo templo foi reedificado 1924, como reza a fachada.

Depois do terramoto de 1980, sofreu novas obras de restauro. Tem um aspecto imponente com as suas duas torres debruadas a azul.

Depois do almoço, a caminho do Algar do Carvão, a paisagem bucólica, 
onde os touros da tourada à corda, pastam.

Estrada estreita, rodeada de verdes, leva-nos à entrada do vulcão.

No interior da Caldeira de Guilherme Moniz a 550m de altitude, 

o Algar do Carvão é uma cavidade predominantemente vertical, uma chaminé vulcânica 
com cerca de 45m de desnível. 

Em 1977 foi construída a escadaria de acesso 
e em 1987 instalou-se o primeiro sistema de iluminação eléctrica.

É uma sensação única, estar dentro de um vulcão.

A humidade é grande, com grossos pingos de água a cairem  sobre os visitantes. 

Olhando para cima, as estalactites de sílica e, 

em baixo, a lagoa de negras águas.

A Terceira tem um encanto especial e misterioso.
Ficou muito por ver, como Angra do Heroísmo, 
Património da UNESCO. 

Vamos voltar, para ficar uma semana. Prometido!


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