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sábado, 2 de abril de 2011

TOSCANA 2 - Pistoia, Lucca, Pisa, Cinqueterre

***

Despedimo-nos do Borgo de Castelletti com um belíssimo pequeno-almoço.
A caminho de Lucca, onde iremos dormir, parámos em Pistoia, no sopé dos Apeninos, depois de 47 quilómetros de rodagem. O seu nome, provavelmente, deriva de pistore que significa padeiro, porque forneciam de víveres as tropas romanas. Mas, hoje, o seu comércio baseia-se em plantas e flores. Como é sábado, há mercado (também às quartas-feiras).
Os mercados
são muito coloridos, mas têm muita gente, enchem as praças de tendas... e tiram muita beleza à arquitectura dos locais.
Estacionámos e, debaixo de uma chuva miudinha, passámos pela igreja de San Paolo Apostolo
e, por ruas estreitas,
com algumas lojas de fachadas Arte Nova, desembocámos em pracinhas pejadas de gente e de tendas.
Desde trapos a flores e frutas, tudo muito arrumadinho.
E as igrejas e as torres só conseguiam sobressair por metade.
Entrei na igreja de Sto Ignacio de Loyola, na basílica della Madonna dell'Umiltá e no átrio do Tribunal,
na Piazza del Duomo. Uma beleza!
O Duomo,
consegue impôr-se acima das tendas.
A sumptuosa catedral
é do séc. XIV, com entrada em terracota desenhada por Andrea della Robia,
realçando as riscas do exterior românico. Também o Batistério de San Giovanni
é do séc. XIV, mas a fachada foi executada em 1226.
O tempo urgia, porque só tínhamos pago uma hora de estacionamento (largamente ultrapassada), mas no retorno ainda deu para reparar nos batentes das portas

 e nas caixas de correio.

Com a ajuda do GPS, chegámos a Lucca.
É uma cidade de ópera (Puccini), de azeite, de igrejas românicas e jardins palacianos ocultos atrás das ruas estreitas. E muitas praças.
A cidade está concentrada dentro de uma larga muralha
de tijolo vermelho que dificulta o acesso de carro.
As muralhas renascentistas foram construídas entre 1504 e 1645 e estão entre as mais bem conservadas da Europa (a par da nossa praça muralhada de Almeida, perto de Vilar Formoso). As ruas são muito estreitas,
mantendo-se intacta a traça original do antigo plano urbanístico.
Para chegar ao nosso hotel,
o Relais San Lorenzo, na via Cesare Battisti, um palácio nobre do séc. XV,
passámos por ruas tão estreitas que algumas manobras tiveram que ser feitas de cabeça fora do carro, num bate-não-bate! O palácio foi construído pela família Orsucci de Lucca que aqui residiu, bem como, ao longo dos séculos, nobres da Casa de Bourbon, um ministro de Napoleão descendente de Elisa Bonaparte e importantes prelados de papas. Manteve o estilo, mas os quartos (com nomes de óperas de Puccini) têm todo o conforto. Nós ficámos no "La Bohème"
e a Joana e o Ricardo no "Turandot".
A recepcionista retirou o seu carro para podermos estacionar no pátio do palácio e deu-nos um molho de chaves porque, a partir das 19 horas, ficaremos por nossa conta.
O hotel ocupa um dos pisos, com cinco quartos e um belo salão. O resto, suponho, é habitação privada.
Resolvemos alterar o programa delineado (Pisa e Cinqueterre) para amanhã, porque a entrada nas muralhas é controlada e só se pode entrar de carro até às 21 horas e não teríamos tempo.
E foi uma boa opção porque a cidade oferece mais pontos de interesse do que esperávamos.
Plana, ao contrário das outras cidades da Toscana, anda-se a pé e de bicicleta. As ruas estreitas, com edifícios altos, de pedra escurecida, dão um encanto especial ao local. O piso é calçada romana, de pedra preta.

A primeira paragem foi na Piazza San Frediano,
com a igreja com o mesmo nome que, na frontaria, exibe um belo e colorido mosaico do séc. XIII, a "Ascensão" da Escola de Berlinghieri.
A pia baptismal, românica,
profusamente trabalhada, parece uma bela fonte.
Quadros com cenas da vida de Cristo e frescos de Amico Asperitini e uma colorida imagem da Virgem,
de madeira esculpida por Matteo Civitali, fazem o encanto desta igreja.
Enquanto almoçávamos na esplanada da praça, a chuva voltou.
Pelas 16 horas estávamos na Piazza del Mercato,
no Anfiteatro. Poucas pedras existem do antigo anfiteatro romano porque as ruínas foram gradual-mente delapidadas para vários fins. As casas medievais foram construídas contra as paredes do anfiteatro cuja forma foi conservada. As arcadas,
baixas, a norte, sul, este e oeste, assinalam as portas através das quais as feras e os gladiadores entravam na arena. As esplanadas
abundam (tipo plaza mayor espanhola) e em algumas lojas à volta é possível ver troços das antigas paredes, propositadamente expostos.
Na Piazza San Michele, está a igreja San Michele in Foro,
no local onde existia o forum romano. Na esquina sudoeste, está a escultura da Virgem com o Menino, de Matteo Civitali.


A igreja tem uma bela fachada pisano-românica, com cenas em mármore embutido representando animais selvagens e caçadores a cavalo. Só a figura de São Miguel, de pé no frontão e ladeada por dois anjos,
nos diz tratar-se de uma igreja cristã e não um templo pagão.
A praça é rodeada por palácios dos séculos XV e XVI, ocupados por bancos e, hoje, porque é sábado, mais tendas e uma prova de vinhos e presunto à descrição, por 3 euros.
No Corte San Lorenzo, via Poggio, num belo edifício do séc. XV,
 
está a casa de Giacomo Puccini (1858-1924).
Foi o local onde ele nasceu e, junto, na praça da Citadella, foi-lhe erguida uma estátua em homenagem. Descansámos na esplanada da praça, durante alguns minutos, ouvindo, ao longe, uma ária do compositor.
Na Piazza Napoleone ou Piazza Grande,
com um carrossel ao fundo e uma álea de casas sombreadas por altas árvores, as crianças brincam.


Na Piazza San Martino,está a extraordinária Catedral de Lucca, com a sua fachada desarmoniosamente interrompida pelo Campanille
com os pisos inferiores mais escuros, construídos em 1060 e os dois superiores acrescentados em 1261, quando a torre se ligou à catedral. A igreja é dedicada a São Martinho,
soldado romano representado na fachada a dividir o seu manto com a espada para o dar a um pobre.
No interior, onde não é permitido fotografar, uma "Última Ceia" de Tintoretto, com um ângulo de visão diferente na disposição das figuras, em diagonal. Muito resguardado, numa capela octogonal de mármore de Carrara desenhada por Matteo Civitali (1482), o "Volto Santo", uma imagem em madeira representando Cristo crucificado que os peregrinos medievais do Séc. XIII acreditavam ter sido esculpido por Nicodemus, contemporâneo de Jesus, com a ajuda dos anjos, e que seria a face real de Jesus Cristo.
Pelas ruas estreitas, na via Fillungo, vêm-se portas de belas lojas comerciais com fachadas Arte Nova.
Várias torres sobressaem, entre elas a Torre Guinigi,
torre medieval com a característica de ter azinheiras no seu topo e que é uma referência familiar de Lucca. Também a Torre do Relógio
nos aparece em várias perspectivas, nesta cidade onde somos obrigados a olhar muito para cima!
A chuva acompanhou-nos o resto do dia e refugiámo-nos num concorrido restaurante típico, para jantar.

No dia seguinte, depois de um pequeno-almoço pobre, comparado com os anteriores, no Borgo de Castelletti, saímos pela porta de S. Anna, rumo a Pisa.
Pisa
atingiu o seu apogeu nos séculos XI e XII, quando esta cidade-estado marítima romana foi um dos grandes poderes do Mediterrâneo. Génova era o seu poderoso vizinho que a derrotou em 1284 começando, então, o seu declínio como império comercial. Em 1406, foi tomada por Florença e os Medici transformaram Pisa num polo de ciência e aprendizagem, onde Galileu brilhou como professor. Mas a cidade foi mergulhando gradualmente na obscuridade e provincianismo, com os palácios a oferecerem alojamento barato, no séc. XIX, a exilados britânicos como Byron e Shelley. Fortemente bombardeada na 2ª Guerra Mundial, conseguiu sobreviver com indústria, uma universidade florescente e muito turismo, sendo uma das portas de entrada para a Toscana, pelo seu aeroporto.
Com o programa intensivo que tínhamos para o dia, dirigimo-nos, como a maioria dos turistas, ao Campo dei Miracoli,
na Piazza del Duomo.
A Torre inclinada é o que atrai mais pessoas.
É um belo exemplo de arquitectura iniciado em 1173. Quando 3 dos seus 8 pisos estavam acabados, a torre começou a inclinar e, quando terminada, em 1350, o ângulo de inclinação era permanente. O terreno instável em que a torre assenta exacerbou a inclinação e, no final do séc. XX, a torre afastava-se 4,5 metros da perpendicular. Em 1990 sofreu obras para evitar a queda e voltou à posição que tinha em 1838 e que, previsivelmente, manterá no futuro. Diz-se que de cima dos seus 294 degraus, a 54 metros de altura, Galileu fez as suas experiências sobre a força da gravidade.
A torre faz parte do complexo que engloba a Catedral, o Campanille ou Torre e o Battisterio.
A Catedral ou Duomo,
antecipa as catedrais de Florença e Siena, impondo o estilo em toda a Toscana. De arquitectura românica, de mármore cinzento e branco, com uma fachada de quatro pisos formados por colunas e galerias.

A sua construção teve início em 1064. As portas em bronze, da autoria de Bonnano Pisano, foram fundidas em 1180. A principal, a do meio, é a Porta di San Ranieri.
O Battisterio
é o maior baptistério de Itália, circular, com três níveis de arcadas coroadas por uma elegante cúpula octogonal cujos nichos exteriores já acolheram estátuas agora no Museo dell'Opera del Duomo.
O Campo Santo terá sido construído em redor de um carregamento de terra proveniente da Terra Santa, no lado norte do Campo dei Miracoli, delimitado por um muro de mármore branco e teria servido de cemitério para as pessoas eminentes de Pisa.
Demorámos cerca de uma hora, evitando as tendas e tendinhas da entrada principal com a correspondente confusão de turistas.

Metemo-nos na auto-estrada
em direcção a Génova, para visitar as Cinqueterre, na província da Ligúria.
Cinqueterre, são cinco aldeias da chamada Riviera Italiana que se uniram num projecto de candidatura e são Património Mundial da UNESCO.
Saindo da auto-estrada, os castanheiros sobressaem na paisagem.
Depois de alguns quilómetros em estrada de montanha, por volta do meio-dia,
Monterosso al mare
mostra-se numa vista panorâmica, lá em baixo. "Rubra" era o seu antigo nome, em latim, devido à cor avermelhada das montanhas ao pôr-do-sol.
Sempre a descer, até ao pequeno porto,
por ruas estreitas, a pé, ao longo da carrugi do centro histórico.
O carro ficou em cima. Para baixo, para o povoado,
só o transporte dos habitantes, devidamente autorizado. Pagámos uma hora de estacionamento e aproveitámo-la bem, chegando ofegantes ao parque de estacionamento.
Na enseada seguinte, já se vislumbrava Vernazza.
Carruggi e escadarias íngremes convergem na praça principal
com vista para o mar.

É o centro da vila, onde se ergue a Igreja de Santa Margarida de Antioquia (1318).
Num recanto, a capela de Maria de Betânia.
Corniglia apareceu na enseada seguinte.

Depois de estacionar, tentámos almoçar mas os restaurantes ou já estavam fechados ou estavam a fechar. Mas numa das belas ruas estreitinhas,
num bar pequeníssimo,
uma simpática ragazza serviu-nos foccacia com mozarella e tomate. E saboreámos um delicioso gelado enquanto íamos fotografando
e apressando o passo para cumprir o percurso das 5terras antes do anoitecer! Corniglia foi construída no séc. XI e ainda preserva o seu encanto, com edifícios com varandas e terraços suspensos sobre o mar.
A quarta terra é Manarola,
cujo nome parece vir de "manium arula"," templo das almas mortas" (?). Na praça principal, a igreja paroquial San Lorenzo (1338),
em frente à torre do sino
utilizada como torre de vigia.
A jóia de Cinqueterre, é Riomaggiore,
fundada no final do séc.XII e o seu nome deriva de "Rivus Mayor", o maior dos córregos que atravessam a vila.
As casas

continuam a ser muito coloridas, agarradas umas às outras, chamadas torricaso, casas-torre.
A beleza da paisagem enche a alma. A luz do dia a finalizar, dá-lhe uma tonalidade especial. E a chuva que os meteorologistas prometiam, não veio!
Ainda fizemos uns metros da "Via dell'Amore",
mas não é para qualquer um nem para uma só tarde fazer, a pé, o trajecto entre Riomaggiore e Manarola, bordejando a costa!... Alguns murais iniciam este percurso.
Passando por La Spezia,
uma cidade com um grande porto de mar, regressámos a Lucca e ao nosso palácio.
Saímos para jantar, encontrando a cidade com muito pouca gente e muito suja (o domingo deve ter sido de muitas visitas !...).

Amanhã, iremos visitar as mais típicas cidadezinhas da Toscana.

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