ILHA GRACIOSA
11 e 12 Julho 2016
Pelo censo de 2008, vivem 4910 pessoas nesta pequena ilha de 60,9 quilómetros quadrados.
Terá sido descoberta em 1427 e, três anos depois, a Coroa Portuguesa mandou que aqui se deixasse algum gado. Em 1470 iniciou-se o povoamento, em dois núcleos, Santa Cruz e Praia e, em 1485, o capitão da Ilha, Pedro Correia, promove a vinda de mais continentais e algumas pessoas da Flandres. Um ano depois, Santa Cruz recebe o seu foral de Vila. Praia e São Mateus só o recebem em 1546.
Como nas outras ilhas a vida foi complicada por pilhagens de piratas que levavam o que, na altura, se cultivava: cevada, trigo, vinho e aguardente. No século XIX, o oidium e a filoxera castigaram a agricultura. Nos anos 50 e 70 do século XX, o empobrecimento obrigou à demanda de melhores paragens com emigração para os USA.
Em 1994 foi criada a Região Demarcada da Graciosa, recuperando-se a cultura vinícola, lacticínios, carnes, produtos hortícolas e árvores de fruto. Em 1980, a abertura do aeródromo e do porto comercial na Praia, trouxe outro movimento e desenvolvimento.
Com os atrasos habituais da SATA, lá chegámos depois de cerca de hora e meia de voo desde São Miguel, tendo à nossa espera uma simpática anfitriã, natural da Ilha. Depois de instalados no Graciosa Resort Hotel, iniciámos a visita à Vila de Santa Cruz da Graciosa.
A Igreja da Misericórdia
tem uma nave única,
simples, mas com destaque para dois vitrais
(Cristo
e Descida da Cruz)
oferecidos por um grupo de emigrantes graciosenses em Lowell, Ma, USA.
O altar-mor
tem uma bela imagem do Senhor Santo Cristo.
O Largo da Matriz,
com casas brancas, lembra uma qualquer aldeia beirã, onde não faltam os alpendres.
A Igreja Matriz,
no entanto, recorda-nos onde estamos, com a sua negra cantaria basáltica. De torre única, quadrada, estilo barroco quinhentista, a sua construção foi iniciada o século XV, tendo sofrido várias alterações ao longo dos anos.
O trabalho de cantaria tem motivos florais.
No interior (as igrejas, nos Açores, estão sempre abertas!), três naves
e várias capelas laterais com retábulos de talha dourada.
Apesar da sua simplicidade, algumas peças de Arte Sacra chamaram-me a atenção.
Bem como o órgão de tubos, muito bonito,
de Luís Silveira.
Na grande praça central,
Praça Fontes Pereira de Melo,
os depósitos de água, pauis, ligados à captação de água, lembram as dificuldades na obtenção do precioso líquido nesta ilha de baixa altitude. Foi desenvolvida a chamada arquitectura da água, com poços subterrâneos e de armazenamento e recurso a fontes naturais. Os pauis ficaram e são, hoje, um elemento decorativo da bela praça.
O passeio pela praça é agradável
e dá para descobrir algumas curiosidades como as caixas telefónicas dos taxistas.
Nos passeios, belíssimo trabalho de calçada portuguesa.
O coreto fica no centro,
a Câmara Municipal
e a Biblioteca (que visitámos),
à volta, entre edifícios de interessante arquitectura.
Saindo da Biblioteca, à direita, a Torre
do terceiro e último templo dedicado a S. Francisco, construído em 1700 e demolido em 1950, como reza o painel de azulejos.
Lá em cima, no Monte de Nossa Senhora da Ajuda, a igreja branca, vigiando, como uma fortaleza.
Contornando a costa para norte, vamos observando as rochas vulcânicas.
Na Ponta da Barca, a baleia de pedra,
o Ilhéu da Baleia.
As arribas negras e vermelhas fazem baías pequenas
e tomam formas de chaminés, tufos e filões, arte da natureza agreste.
O Farol da Ponta da Barca
tem uma torre cilíndrica com 23 metros de altura.
Ao longe, a povoação de Beira-mar da Vitória.
Com neblina, a beleza dos campos verdes em cerrados.
Regressando à estrada principal, surpreendemo-nos com o pequeno burro, lindo,
espécie protegida na Ilha, considerado raça autóctone desde 2015.
Na ponta seguinte, Porto Afonso,
recanto lindíssimo, fruto da erosão marítima,
formando um porto de pesca, com arribas altas e calcinadas
onde se podem ver as diferentes camadas geológicas resultantes das erupções vulcânicas.
Nalguns locais, formaram-se grutas
que estão aproveitadas para abrigo dos pequenos barcos de pesca e seus apetrechos da faina.
Também as aves se aninham nos orifícios das rochas.
A Ribeirinha fica mais abaixo,
continuando pela costa oeste.
A Igreja de Nossa Senhora da Esperança
foi construída em 1847 e ampliada em 1898. Na pracinha, o Império de 1928 e o coreto formam, com ela, um conjunto singelo e bonito.
No chão, na entrada da igreja, o trabalho de calçada portuguesa, encantador.
Subindo para a Caldeirinha, os campos verdes em retalhos e as vacas castanhas e brancas
transportam-nos para um ambiente bucólico.
E as povoações: Ribeirinha e, mais ao fundo, Vitória.
E chegamos à Caldeirinha de Pêro Botelho
(Algar dos Diabretes ou, simplesmente, Caldeirinha), com um arzinho fresco. Tem 37m de profundidade e 33mX15m (largura máxima e mínima) e situa-se na Serra Branca. É um algar vulcânico, produzido por lavas muito fluídas que se movimentam no interior da terra e recuam rapidamente, deixando uma caverna.
Desfruta-se de boas vistas,
pequenas povoações
e a Vila de Santa Cruz à beira-mar.
E as vacas, sempre.
O Maciço da Caldeira, vê-se ao longe,
com forma ovóide. Com 300m de profundidade tem 1600m de diâmetro e 900m de largura. No centro, está a Furna do Enxofre.
Já no sul da Ilha, as Termas do Carapacho,
no sopé do vulcão da Caldeira.
As águas termais nascem numa fonte junto à Furna do Enxofre a uma temperatura de 36-40ºC.
As termas foram criadas em 1750.
Tem piscinas interiores e exteriores
e estão indicadas para tratamentos de foro dermatológico e reumatológico.
Daqui, visualiza-se o Ilhéu de Baixo ou
Ilhéu do Carapacho,
que são, na verdade, dois pequenos ilhéus basálticos e alguns rochedos emersos de origem posterior à formação da Graciosa por erupção submarina em águas pouco profundas.
Almoçámos nas termas e subimos, visualizando a povoação de Carapacho
e o seu ilhéu, lá em baixo.
Em direcção ao farol da Restinga, a encosta mostra a encosta estratificada.
Descendo até à Freguesia da Luz,
visitámos a Igreja de Nossa Senhora da Luz,
de três naves
e um altar-mor em talha dourada com a padroeira.
Também o Império,
debruado a azul, para mim o mais bonito da Ilha, mereceu fotografia, bem como o casario simples mas com a característica cantaria basáltica debruando janelas e portas.
E chegámos à Furna do Enxofre.
Localizada no interior da Caldeira da Graciosa, no sul da Ilha, forma uma gruta com uma abóbada perfeita
de 194m que chega a atingir os 80m de altura.
O acesso foi facilitado com a construção da torre
de 37m com escadaria em caracol de 183 degraus.
Mas em 1939, como reza a placa na entrada,
o príncipe Alberto I do Mónaco, fez a visita por uma das aberturas naturais, com muito mais esforço...
Dentro, sentimo-nos pequeninos perante a força da Natureza.
O lago, ao fundo, tem águas frias,
130m de diâmetro e 15m de profundidade máxima.
Quente, estará a fumarola com lamas a ferver...
Contornando a Caldeira em direcção a São Mateus, parando no Miradouro da Senhora da Saúde, vê-se a Praia e o Ilhéu da Praia, com nevoeiro,
e São Mateus.
Na Praia, a pequena Ermida dos Remédios da Praia
foi mandada construir pelo Tenente Reis (também ligado à construção da escadaria de acesso à Furna do Enxofre) e tem o culto pelo número 3 e forma geométrica triangular. É, talvez, o único edifício sacro com traços maçónicos nos Açores.
Em São Mateus,
encontramos os Moinhos flamengos,
desactivados da sua missão (moíam milho e trigo) e transformados em casa de turismo de habitação em interessante composição.
E as famosas queijadas foram provadas, quentinhas. São famosas, mas os pastéis de arroz doce não lhe ficam atrás: recomendo especialmente!
A chuva veio estragar-nos o passeio.
Subimos à Serra das Fontes e parámos em Guadalupe.
A chuva não me deixou sair do carro, mas não impediu as fotos da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe,
do século XVIII que tem como curiosidade não ter o relógio na torre, mas na fachada.
O Império tem a data de 1896.
A volta completou-se. De novo em Santa Cruz, subimos ao Monte de Nossa Senhora da Ajuda,
onde três ermidas defendem e vigiam a povoação. A de Nossa Senhora da Ajuda que tem um aspecto robusto, como uma fortaleza, é do século XVI. As outras, são a de São João (século XVI)
e a de São Salvador (século XVIII).
As coberturas da Ermida de São Salvador e da de Nossa Senhora da Ajuda, não são telhadas, mas rebocadas e pintadas de branco.
No centro da caldeira, a praça de touros,
infelizmente pouco visível por causa do crescimento da vegetação...
Do Monte da Ajuda desfruta-se uma vista panorâmica sobre Santa Cruz.
Na Ponta da Barra, está o nosso hotel, disfarçado na paisagem.
No dia seguinte, antes do avião, fizemos a visita ao Museu Regional da Ilha Graciosa, com peças etnográficas da cultura da vinha,
objectos oferecidos pelos habitantes
e uma interessante colecção de cartazes de propaganda das lojas dos emigrantes da Graciosa nos USA.
Num antigo barracão de canoas, à beira-mar, uma canoa
e vários utensílios utilizados na pesca à baleia.
Infelizmente, o voo da SATA foi cancelado, com desculpa de mau tempo quando o sol raiava!...
Precioso, o nosso curto tempo foi largamente prejudicado, limitando-se a companhia a dar-nos transporte para o centro e 16€ para os almoços!!!
O voo da tarde cumpriu-se, mas com atraso.
Deixámos a Ilha, no entanto, encantados.
* * *