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sábado, 24 de janeiro de 2015

ALGARVE


FARO, TAVIRA e OLHÃO

Natal 2012, 2013 e 2014



O Algarve não é só praias!


A maioria dos turistas que procuram a região, frequentam as suas magníficas praias há anos e nem lhes passa pela cabeça de que o local tem história e lugares encantadores que muitas vezes procuram no estrangeiro.
A actual paisagem lagunar 
que se estende ao longo do Sotavento algarvio, de Faro até Cacela Velha, perto de Tavira, foi criada pelo maremoto de 1755. As suas dunas, ilhas e barras para o alto mar, estão em movimento contínuo, conforme as marés. É uma reserva natural onde podemos ver aves marinhas, flamingos, cegonhas
e salinas.

E também, nesta época do ano, podemos colher os saborosos espargos selvagens que cozinhamos com ovos mexidos.
A Ria Formosa, onde a cidade de FARO se situa, atraiu ocupantes humanos desde Romanos e Visigodos. No século VIII, foi ocupada pelos Mouros e, no século XIII, Dom Afonso III conquistou-a. Em 1596, o conde de Essex saqueou a cidade e levou a biblioteca do Bispo de Faro para Oxford… onde os livros fazem parte da Bodleian Library dessa Universidade!

A caminho da casa da Bilay e do Jorge, do lado direito depois de passar o shopping à esquerda, despertava-me sempre a atenção um curioso edifício, na zona do novíssimo Teatro Municipal: a chamada Quinta do Ourives

O tal edifício é a Casa das Figuras 

e faz parte do complexo do Solar da Horta do Ourives ou Solar do Capitão-Mor. 


Funcionava como celeiro do solar e o que me chamou a atenção foi a curiosa platibanda 
composta por dois monstros encimados por uma figura humana, em massa, dos meados do século XVIII. Os "monstros" são dois dragões alados, macho e fêmea, com faces humanas, ladeados por dois gatinhos. A figura em cima, parece ter a cabeça de um guerreiro negro. 
Foi mandada executar pelo Desembargador Veríssimo de Mendonça Manuel, dono do Solar da Horta do Ourives, o belo solar Barroco com uma capela ao centro, dedicada ao Senhor do Bonfim.
Do conjunto, também faz parte a nora e o tanque de água, também setecentistas.

A partir daqui, em 2014 foi aberto o Passeio Ribeirinho, que deverá ser agradável, depois de terminadas as obras. 
Por enquanto, as flores 

e alguns cenários dão fotografias interessantes.

Pelo mesmo desembargador, foi mandado construir o Celeiro de São Francisco, bem escondido ao fundo da Rua Manuel Penteado e num lamentável estado de degradação. De planta octogonal, 

com dois pisos, atribui-se-lhe a função de celeiro, também, mas pensa-se que teria o objectivo de marco visível do poder do Desembargador no limite urbano de Faro, encostado à nova cerca seiscentista.

Especula-se bastante quanto às figuras em massa que ladeiam o portal principal, 
um homem coberto de pele de leão, com uma maça e a hidra de Lena, cuja lenda identifica Hércules. 
A figura de um índio gigante que luta com um crocodilo é identificada pela inscrição "Cabo da Boa Esperança Adamastor". 

Como as figuras da Casa das Figuras, foram feitas por Mestre Diogo Tavares. Esperemos que o Património lhe dê a importância que deu à Casa das Figuras!
Um saltinho à baixa, à Rua de Santo António, 
para um pequeno passeio a pé pelas ruas com pouca gente, 

à procura da Casa das Açafatas, a meio da rua, edifício setecentista, de dois pisos corridos, com beirado saliente e cobertura de quatro águas. Com  fachada de cantaria Barroca

e  Pedra de Armas da família, 
a casa foi habitada pela açafata (camareira) da Rainha Dona Maria I, Dona Rita Ifigénia.
Outros edifícios, talvez menos importantes, despertam a nossa atenção, nomeadamente o da Pastelaria Gardy 
onde há 40 anos saboreei um lanche com a minha amiga Guida Oliveira, na primeira vez que fui ao Algarve!

No lado sul do Largo Dom Marcelino Franco, o imponente Palacete Belmarço
projectado em 1912 por Norte Júnior, símbolo da renovação Revivalista urbana, 
com elementos de Arte Nova 

e mandado construir pelo rico comerciante Manuel de Jesus Belmarço. No mesmo largo, o edifício do Consulado-Geral do Brasil em Faro
recentemente recuperado, do século XVIII, que foi a residência do industrial do sector da cortiça, José Alexandre Fonseca.
No Largo de São Pedro, a Igreja de São Pedro
no local onde existia uma ermida medieval de pescadores, reconstruída no século XVI.
A imponente Igreja do Carmo ou Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, 
no largo com o mesmo nome, foi fundada em 1713. As pombas e as cegonhas namoram nas torres e redondezas. 

O interior Barroco e a Capela dos Ossos, fechados à chave, ficaram por ver.
A Ermida do Pé da Cruz
no Largo do Pé da Cruz, foi edificada no século XVII, sobre a antiga sinagoga. De estilo Barroco, é de uma singeleza encantadora, também enfeitada pelas cegonhas, 

um rosto e duas figuras no remate da fachada. 

Nas traseiras, um Passo da Paixão monumental, 
do século XVIII, com a venerável Nossa Senhora do Pé da Cruz e as Almas Santas.

A Ermida de Santo António do Alto


como o nome diz, fica no ponto mais alto da cidade, numa zona agradável de vivendas e jardins. Em 1355, fazia parte de um conjunto da atalaia, ermida e casa do ermitão.
Ainda fica muito por descobrir, mas o tempo, desta vez, não é muito e temos que ir descobrir a Cidade Velha.
De carro, circulamos pela zona ribeirinha até encontrar as muralhas 
construídas pelo príncipe muçulmano Ben Beckr, no século IX, para defesa da cidade.
No grande largo, a Igreja de São Francisco

ao lado do convento com o mesmo nome.
Entramos na Cidade Velha pelo Arco do Repouso,
assim chamado porque, segundo a lenda, Dom Afonso III aqui descansou depois de ter conquistado Faro em 1249.
Estacionámos junto do Seminário, em frente da Sé Catedral, na Praça da Sé. A praça é muito bonita, circundada por laranjeiras.
O Seminário Episcopal foi construído no século XVIII pelo arquitecto italiano Francisco Xavier Fabri, em dois pisos corridos com janelas Rococó e Neoclássico. 

Está ligado ao Paço Episcopal

dos séculos XVI e XVII, por um arco ornamentado.

A belíssima Sé Catedral ou Matriz de Santa Maria 
foi erguida sobre as fundações de uma basílica 
Paleo-cristã e uma mesquita de 1251. Saqueada pelo conde de Essex e um incêndio, apenas as capelas dos braços do transepto permanecem Góticas. Reconstruída em estilo Maneirista, o órgão é atribuído ao alemão Arp Schnitger, decorado com pinturas em chinoiserie do artista de Tavira, Francisco Correia da Silva. Bela talha dourada e painéis de azulejos fazem da Sé um local imperdível de visitar.
Da torre, desfruta-se de uma bela paisagem sobre a Ria Formosa.

A Câmara Municipal
construída entre 1883 e 1893, tem uma branca fachada com frontão triangular onde está o brasão da cidade.
As ruazinhas medievais convidam ao passeio e levaram-nos ao Convento de Nossa Senhora da Assunção

em frente do qual está a estátua de Dom Afonso III. Renascença, a cúpula da Igreja 
tem decorações Rococó do século XVIII com torre-mirante e é o Museu Municipal de Faro.
Novamente Vila-Adentro, encontramos becos, edifícios em algum estado de degradação 

e muitas portas aferrolhadas e decadentes. 

Mas também recantos encantadores.

Saímos pela Porta Nova
encarando a Ria Formosa, aberta no século XV, e fomos fotografar a Igreja da Misericórdia

Barroca com alguns apontamentos Manuelinos. Do século XVI, foi construída sobre as ruínas da antiga Ermida do Espírito Santo.
E para reentrar na Vila-Adentro, temos que passar o belíssimo Arco da Vila
que é a principal entrada medieval, em frente à marina. No interior, um arco em ferradura que pertencia às muralhas árabes. 

As cegonhas, de novo, as torres e as cruzes, fazem um belo enquadramento!


A vantagem de passar o Natal com a Família do Algarve, é que toda a gente gosta de cozinhar e a cozinha fica demasiado cheia para oferecer ajuda… este ano até os três cães reclamam o seu espaço! A Mafalda, a mais nova, até amua e não quer sair, para ter tempo para fazer o bolo de Natal!…

E aproveitamos para conhecer o Algarve sem praias.
TAVIRA

foi elevada a cidade por Dom Manuel I. Com o abandono das praças de África, o assoreamento do rio e o aumento da tonelagem das embarcações, a actividade portuária acabou por se reduzir, contribuindo para a estabilização da população e limitação das actividades à pesca, extracção de sal, agricultura e exportação de peixe, sal, figos, azeite, amêndoas, alfarroba e vinho. Nos anos 50 do século XX, com o afastamento dos cardumes de atum da costa, a actividade pesqueira entrou em crise.

Com o GPS para a Rua Jacques Pessoa,

estacionámos, tirámos fotos da colina, do rio Gilão e da Ponte Romana, 

que atravessámos e, virados para o outro lado, onde o rio toma outro nome (rio Séqua), não faltam pormenores interessantes.

Numa esplanada da Praça da República, saboreando o dia soalheiro, tomámos a bica e, ao longe, vislumbrámos o recorte da bela igreja que tivemos que ir procurar.

Pelo caminho, outro monumento religioso, a Igreja de São Paulo

do século XVI e, por ruas estreitas de casas brancas

e portas interessantes, 


guiando-nos pela nossa intuição, chegámos à igreja, encontrando pelo caminho a Ermida de São Brás

capelinha branca, medieval (século XV), outrora situada fora da cidade.
E a que adivinhávamos da Praça da República, é a Igreja do Carmo
encostada ao Convento do Carmo. Mandada construir pela Ordem Terceira do Carmo em 1744, com uma bela fachada estilo Barroco. Fechada, claro.
Voltámos à margem do rio, atravessámos, de novo a Ponte Romana,

juntamente com São José, o Burro e a Virgem muito grávida.

No final da ponte, um Memorial 
à memória dos valorosos moradores de Tavira e Faro que , na Crise de 1383/1385 defenderam, nesta ponte, a causa de Dom João I, Mestre de Aviz e nela proclamaram a vitória decisiva do Algarve na Independência de Portugal.

No alto, a colina onde o povoado se situou, de início, no século VIII aC, por gentes relacionadas com o contexto fenício a ocidente de Gibraltar. Povo de marinheiros que cultivavam a leitura e a escrita e que, na colina, hoje Alto de Santa Maria, tinham um lugar reservado a práticas religiosas consagradas ao deus Baal.
No Jardim do Coreto, o mais antigo da cidade, está o coreto 
fabricado no Porto, de planta octogonal, de ferro.

Na Praça da República, o edifício dos Paços do Concelho, o Monumento aos Combatentes da I Guerra Mundial e o Posto de Turismo.

Atravessámos a Porta de Dom Manuel 
e entrámos Vila Adentro.

Ao cimo de rua estreita, a fachada da Igreja da Misericórdiado século XVI, 

projecto de Mestre André Pilarte (que trabalhou nos Jerónimos de Lisboa), o mais notável monumento de expressão Renascença no Algarve. Os 18 painéis de azulejos figurativos, azuis e brancos, representam obras da Misericórdia e Passos da Paixão de Cristo, são belíssimos… mas não podem ser fotografados!

Virando à esquerda, ao cimo de outra rua estreita,

ladeada por portas, janelas e platibandas interessantes, o Palácio da Galeria
Museu Municipal e Centro de Arte Contemporânea, construído no século XVI, com portal e janelas do piso superior com cantaria Barroca.
Já se vislumbra o campanário bonito

da Igreja de Santa Maria do Castelo
no Largo Abu-Otmane, que não deixa dúvidas quanto à origem desta área e da igreja que terá sido edificada sobre a antiga Mesquita Maior. Do século XIII, tem alterações bem posteriores depois dos danos sofridos pelo terramoto de 1755.

O castelo e a muralha 

da fortaleza militar islâmica tem entrada no mesmo largo e dá acesso a um jardim octogonal com flores coloridas. 

Foi a partir daqui que se desenvolveram as muralhas da cidade. Do cimo, com subida um tanto ou quanto difícil, desfruta-se de uma paisagem com a cidade, 
os telhados característicos de quatro águas e a Ria Formosa.

Contornando a Matriz de Santa Maria, à esquerda, já vemos parte da Igreja Matriz de Santiago com as conchas realçadas no telhado. 

A sua fachada vê-se mais abaixo. 

Do século XIII, foi construída sobre a antiga Mesquita Menor. 

Na frontaria, um grande medalhão, 

trabalho em massa, no qual se observa, ao centro, a imagem de São Tiago a cavalo, em luta contra os Mouros.
Antes, passámos pelo edifício que, pela sua volumetria e cor não passa despercebido, o Convento Senhora da Graça,

transformado em Pousada de Portugal. Ocupou parte da zona onde se localizava a Judiaria, oposta à Alcáçova e à principal porta da cidade. Expulsos os Judeus e extintas as sinagogas, transformadas em igrejas, foi fundado o convento cuja construção se prolongou até ao século XVII.

Fomos descendo até à parte baixa da cidade e, 

antes da Praça da República, virámos à direita à procura da Igreja de Nossa Senhora das Ondas 
ou de São Pedro Gonçalves Telmo, difícil de identificar porque não tem o aspecto de igreja clássica, porque praticamente nada resta do primitivo templo construído pela agremiação de pescadores, nos séculos XV e XVI, conhecida por Compromisso Marítimo.

OLHÃO 
fica mais perto de Faro e quando lá íamos, nesta época, era, invariavelmente, para comprar marisco já cozido para a entrada da festa de Natal.
AL-HAIN significa "Fonte Nascente" ou "Olho de Água", na linguagem popular… e "Olhão" o seu substantivo aumentativo. 
O nome de Olhão da Restauração, veio depois da revolta contra os Franceses (16-18 de Junho de 1808), quando alguns pescadores se ofereceram para ir ao Brasil divulgar ao futuro Dom João VI a notícia da Restauração do Reino do Algarve, chegando a 22 de Setembro de 1808 ao Brasil, para espanto do Príncipe Regente. Através de alvará, a 15 de Setembro do ano seguinte, o rei baptizou-a com o nome de Nobre Vila de Olhão da Restauração.

É uma cidade antiga e, infelizmente, velha, embora alguém pretenda esconder a decrepitude com Arte de rua. 

Mas, embora a degradação de edifícios interessantíssimos ser chocante, a maioria do casario, cativa.

A influência árabe vê-se por todo o lado, 

nas portas e janelas. 


As típicas platibandas debruadas, são outro atractivo.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário,
construída entre 1698 e 1715 com contributos dos pescadores, tem uma inscrição na torre do sino que diz "À custa dos homens do mar deste povo se fez este templo no tempo em que só haviam palhotas em que viviam". Tal é a fé do povo!!!

Fachada Barroca majestosa, 
tem frontão com volutas. Um escudo ao centro, ladeado por anjos. Nas costas da Matriz, aberta para a rua, a capela do Senhor dos Aflitos 
que se vê da Avenida da República e é resguardada por um gradeamento de ferro. Acima, uma varanda de onde o pároco fazia o sermão, no fim das procissões e, mais acima, um painel de azulejos com o Cristo crucificado.
Na Praça da Restauração, em frente da fachada da Matriz, o Padrão dos Heróis da Restauração e a Casa do Compromisso Marítimo
construção do século XVIII, com três frentes, confinando a poente com a Igreja de Nossa Senhora da Soledade de que se vê a cúpula, de sabor árabe. 

Os telhados são de quatro águas e um nicho alberga a imagem de Nossa Senhora da Graça.

A Igreja de Nossa Senhora da Soledade ou Igreja Pequena
é o primitivo templo dos pescadores, com bonitos ornamentos de massa na fachada, platibanda e cúpula.

Em triste estado de degradação, 
o Clube Desportivo os Olhanhenses 
que está longe dos seus dias de glória.

Em contraste, mesmo ali, o Poço das Bombas
na Avenida da República, um belo painel de azulejos de Jorge Timóteo, alusivo aos aguadeiros e uma pequena fonte ornamental. Aqui existiu um poço que terá sido, durante muitos anos, a principal fonte de água de abastecimento para consumo público da povoação, onde se reabasteciam os aguadeiros que a distribuíam porta a porta.
A paragem seguinte foi no local habitual, conhecido por toda a gente, à beira-água e junto dos Mercados Municipais
que são um dos ex-libris da cidade, dois edifícios construídos em 1915 para venda de peixe, um, e hortaliças e frutas, o outro.
As esplanadas, na primeira rua pedonal do país, criada em 1933, e a beira-mar, 
convidam à preguiça, sob o quentinho do sol de Inverno.

O Jardim do Pescador Olhanhense, tem um coreto hexagonal, 
estrutura em metal que suporta uma cobertura semi-circular. Os bancos têm painéis de azulejos que relatam a revolta contra os Franceses e a viagem do caíque "Bom Sucesso" ao Brasil.

Para ver o Sol a pôr-se, vale a pena ir à Fuzeta 


e espreitar a Ria Formosa!

Antes da meia-noite e da festa de distribuição das prendas, a festa do jantar, onde o bacalhau cozido e as caras de bacalhau foram destronadas pelo bacalhau com broa, 
e o belíssimo e saboroso bolo de Natal da Mafalda,
que ofuscou todas as outras iguarias!


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