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domingo, 2 de novembro de 2014

BUTÃO



27 Setembro 2014 a 07 Outubro 2014


Situado entre a China e a Índia, encravado aos pés da Cordilheira dos Himalaias, 

o Butão é um país verde e montanhoso, de difícil acesso ao turismo que é controlado para oferta de melhor qualidade. Só em 1974 abriu as suas portas aos visitantes, tendo vivido até aí em completo isolamento.
A nossa entrada foi planeada minuciosamente com a Druk Asia, via e.mail, incluindo os vistos e toda a estadia, devidamente planeada, com hotéis marcados, refeições, guia e condutor para os 11 dias que pretendíamos ficar no país.
Fizemos a viagem via Istambul e Kathmandu, mas já existe possibilidade de entrar pelo Dubai, o que poupa uma escala (Lisboa-Dubai e Dubai-Paro).
O trânsito no Nepal, não foi fácil: muita burocracia, muita lentidão. Não pudemos sair do balcão de trânsito, mostrámos o papel dos vistos provisórios, identificámo-nos devidamente, entregámos passaportes, os cartões das malas e esperámos que tudo corresse bem. Felizmente que éramos poucos passageiros em trânsito…
A viagem até ao Butão foi de cerca de 55 minutos.
Com lugares marcados à esquerda, pudemos ver o nascer do sol 

e admirar a magnífica Cordilheira dos Himalaias e o seu pico mais alto, o Evereste.

O aeroporto internacional de Paro fica num vale e só pilotos experimentados conseguem contornar as montanhas e alinhar o aparelho para fazer a aterragem em segurança.

O controle dos vistos  é num balcão com uma placa de marca de whiskie por trás. Para um país budista… não me parece lá muito bem!…
A confusão que se adivinhava, foi rapidamente resolvida, com abertura de mais balcões.
Os primeiros europeus a chegar ao Butão, foram os portugueses, jesuítas, Estêvão Cacella e João Cabral, a caminho do Tibete, que presentearam Ngawang Namgyal com espingardas, pólvora e um telescópio.

Fora, guia e motorista estavam vestidos a preceito com o ghô, uma espécie de roupão que é ajeitado como uma saia travada e ablusado com um cinto e meias pretas até ao joelho. O traje feminino é o kira.

Ugyen, o guia e Thinley, o motorista, falam bem inglês. Perceberam que estávamos muito cansados e acordámos em descansar hoje, alterando um pouco o que estava previamente combinado e também para nos irmos aclimatando à altitude. Almoçámos muito bem, num pequeno restaurante entre o aeroporto e o hotel, depois de nos perguntarem se tínhamos alguma restrição alimentar: sopa de legumes, legumes estufados e legumes cozidos, arroz, bocadinhos de frango frito (muito saboroso), café e chá. Extra, a cerveja. O resto está tudo incluído no pacote da viagem já pago.

Butão é o Reino do Dragão do Trovão. O dragão, não se apresentou, mas o trovão apareceu, já bem instalados, com uma chuvada monumental.

O "Bhutan Metta Resort and Spa", é simples, mas muito simpático. Foi-nos dado um apartamento individualizado, com um hall e duas suites, com quartos muito espaçosos.
O inglês é a segunda língua do país, a primeira é o Dzongka que é a língua ensinada nos Dzongs, as fortalezas-mosteiros que juntam o poder religioso e o político.
Desde 1998, o Butão é uma monarquia constitucional. O rei actual é Jigme Khesar Namgyed Wangchuck que casou em 2011 com Ashi Jetsun Pema Wangchuck 
(o último nome corresponde à dinastia que vem do pai do rei, ainda vivo e que abdicou no filho). O pai, casou com 4 mulheres, irmãs, e o actual rei é o filho da mais velha.

Os meios de subsistência do país são, em primeiro lugar, a venda de energia eléctrica-hídrica (foram adquirir os conhecimentos no Brasil), depois o Turismo e em terceiro lugar, a Agricultura Biológica.

O Budismo é encarado mais como uma filosofia de vida do que como religião.

As pessoas têm um ar muito calmo, discretas e com um sorriso fácil quando nos olham.

A paisagem montanhosa, muito verde, 
com muitos pequenos cursos de água e uma arquitectura com um padrão de janelas praticamente iguais (por decreto real, estruturas recortadas de madeira com desenhos pintados à mão).

Saímos cedo, no dia seguinte, por volta das 8h da manhã.
A estrada é estreita, 
enlameada e em aparente construção. "Na Primavera estará pronta!", garante o guia, risonho, porque é a melhor altura para visitar o Butão, com tudo florido e verde. Bem… verde não falta e a paisagem, esquecendo a road massage, é belíssima, com precipícios no fundo dos quais os rios levam águas turquesa que lembram o degelo. 
E muitos arrozais.

Subimos até aos 3050m de altitude, onde está o Dochula Pass.

Seria para uma caminhada na floresta durante duas horas, mas não é o nosso tipo de turismo e o guia apercebeu-se rapidamente dos nossos gostos e não foi difícil adaptar o programa ao que nós queríamos. O Ugyen é um tipo inteligente e faz, connosco e com o condutor, uma boa parceria!
Descansámos, bebemos uma chávena grande de café, 
comemos umas bolachas e fomos visitar os 108 stupas mandados construir pela Rainha-mãe, para comemorar a vitória sobre os militares indianos e libertar as almas das vidas perdidas na batalha.

Descemos aos 2000m e, hora e meia depois, estávamos na aldeia Chhimi, onde almoçámos, olhando os arrozais.

A aldeia mostra as suas casas com as tradicionais janelas debruadas a madeira e desenhos coloridos e… nas paredes, símbolos fálicos enormes, coloridos e enfeitados, sugestivos da sua função fertilizante! 


Estes desenhos são vistos em muitas casas do Butão, mais em zonas rurais e especialmente nesta aldeia onde existe o Chhimi Lhakang

o templo dedicado Drukpa Kinley, o Divino Louco, um professor do século XVI cuja filosofia (pouco ortodoxa até então) era de poder falar de tudo, incluindo o que dá felicidade e bem estar. Depois do almoço, caminhámos entre os arrozais e subimos, em peregrinação, envolvidos pela belíssima paisagem, 
as bandeirinhas de orações e um tempo magnífico. O Divino Louco estava a proporcionar-nos uma tarde feliz! É também um mosteiro e podem ver-se crianças com os trajes de monges que jogam à bola com os visitantes. 

Dentro, a imagem da deidade com alguns falos de madeira à volta e um velho monge em posição de lotus que nos abençoou tocando-nos com dois falos de madeira na cabeça.
Voltámos à estrada até ao Punakha dzong, colocado estrategicamente na junção dos rios Pho Chhu (pai) e Mo Chhu (mãe). 

Os Butaneses acreditam que os rios têm espíritos próprios e que o encontro de dois espíritos pode ser causa de conflitos e, por isso, constroem templos na sua intercepção. 
Este dzong foi construído em 1637 por Zhabdrung Ngawang Namgyal para servir de lugar religioso e administrativo da região. 

Foi aqui que o duplo sistema de governo foi introduzido no século XVII e onde, em 1907, foi entronizado o primeiro rei, Gongsar Ugyen Wangchuck. Danificado por quatro incêndios catastróficos e um terramoto, foi reconstruído como o original. Acede-se-lhe por uma ponte de madeira, sobre o rio Mo Chhu e impôe-se, majestoso! Uma íngreme escadaria 
leva ao pátio rodeado de varandas ricamente trabalhadas e pintadas, em madeira. 

No centro, o branco stupa 

e uma árvore centenária.

Um pouco à frente, depois de uma caminhada por estreito carreiro, a Pho Chhuponte suspensa de cerca de 160m, a maior do país. 
Alguns monges sobressaem com as suas vestes vermelhas, caminhando. Talvez aguardando, dois deles estão sentados nos pilares, quais guardiões! 

É impressionante! O belo vale de Pho Chhu, com o rio de águas esmeralda e o Punakha dzong envolvem-nos, enquanto somos balançados pelos caminhantes e o vento sacode as numerosas bandeirinhas de preces.
Houve algumas alterações de programa, para podermos assistir a festivais em dois locais (tudo devidamente combinado entre nós, o Ugyen e a empresa de turismo…) e os hotéis também mudaram. Voltámos a Chimmi, para dormir. 
Magnificamente situado, numa colina, com a aldeia e os arrozais aos pés e o templo do Divino Louco 

no morro, ao longe, tem algumas limitações que superámos, esquecendo-nos dos pequenos insectos que confiamos se vão manter afastados. O jantar foi muito bom: porco de caril, arroz vermelho, legumes cozidos, couve-flor e um outro legume envolvidos num polme e, como sobremesa, uma salada de fruta numa espécie de iogurte. Não há televisão, mas tem wi-fi, na sala.
Os trajectos de carro são calculados em horas porque as estradas são tão más que ninguém se regula pelos quilómetros de distância! 

As curvas são muitas e a maior parte dos troços não são alcatroados e estão enlameados e/ou com bastantes buracos. Os precipícios são muitos e, na maior parte das estradas não cabem dois carros. Mas os condutores são muito educados, facilitando as manobras e não buzinando!… 

Os animais são outros dos obstáculos: iaques, vacas, 
cães e macacos
passeiam no meio do caminho, obrigando a verdadeiras gincanas! A morte de qualquer animal, dá prisão perpétua. Então, e as galinhas e os porcos da alimentação? Toda a carne que se come, é importada da Índia ou da China.
A viagem prevista de cerca e 9h até Bumthang obrigaria o Ugyen a dormitar, como lhe aconteceu ontem. Mas, hoje, preveniu-se: na berma da estrada comprou o seu estimulante, uma pequena noz de areca e uma folha de betel que, mascados, formam o goma
A verdade é que ele se manteve acordado e conversador!…

Paragem para café e bolachas e num miradouro para fotografar o Trongsa dzong

A paisagem é estonteante. A fortaleza é enorme, no alto, rodeado de verdes e com vários matizes nos campos de arroz. Visitá-lo-emos depois de amanhã, no regresso a Punakha.
A entrada no distrito de Bumthang é marcada por uma porta e muitas bandeirinhas de orações. 

Até fomos presenteados com um arco-íris!

A 3400m de altitude, fica o nosso hotel, o "Rinchenling Lodge". 

Somos sempre recebidos com chá ou café e bolachas. O guia trata de tudo, enquanto saboreamos as boas vindas, marca a hora de jantar e despede-se depois de combinarmos a hora de saída no dia seguinte. E é pontual.
Aqui, faz frio. Além do aquecimento eléctrico, um fogão a lenha 
para aquecer as pedras que irradiam calor.

O pequeno-almoço foi reconfortante, com torradas, panquecas (de sabor estranho… de flores cor de rosa), mel e compotas de frutas do pomar onde tudo é orgânico.
O nome actual de Bumthang (bum=rapariga; thang=pátio) é Jakar. Fica num vale e é o coração do budismo no Butão. No século VII, o rei tibetano Sontsen Gampo mandou construir 108 stupas para subjugar espíritos malignos que estavam a obstruir a propagação do Budismo nos Himalaias. Poucos ainda existem, mas o do Butão está bem perto do hotel. 

Foi a passear, com marijuana a bordejar a estrada, como erva daninha, 
que lá chegámos. Percebemos, hoje, a calmaria das vacas e dos cães, que se devem empanturrar de erva.
A aparência arquitectónica do mosteiro Jambay Lhakhang

é do século XX, mas no interior 

acredita-se que está o futuro Buda, numa escultura folheada a ouro, desde há 1400 anos. À volta do edifício central, os peregrinos circulam no sentido dos ponteiros do relógio, 
fazendo rodar as rodas de orações embutidas em originais janelas, durante 24h. 

Os monges recitam os mantras, em tom monocórdico, durante 7 dias (segundo o nosso guia).

O Thinley, o nosso condutor levou-nos até ao Kurjey Lhakhang
um dos mosteiros mais sagrados do Butão mandado construir pelo Guru Rimpoche em 1652 e que abriga a gruta onde ele meditou e se manifestou como Garuda para enfrentar o demónio Shelging Karpo que tinha tomado a forma de um leão.
A pé, conversando e acompanhados por uma matilha de cães, 
que foram dispersando à medida que nos afastávamos do templo, atravessámos outra ponte suspensa, brincando.





A paisagem vai-nos surpreendendo.

A decepção, foi a impossibilidade da visita do Thangbi Lhakang, do século XIV, porque estava em obras.

Almoçámos no centro da cidade. A rua principal está cheia de restaurantes, hotéis, lojas de artesanato e vans

Os edifícios só diferem nas pinturas das portas 

e nos desenhos nas paredes brancas. 

As malaguetas secam ao sol, nas janelas e nos telhados.

Um outro lugar também muito sagrado é o Me-Bar
o lago onde se diz que Terton Lingpa (santo budista descobridor do tesouro) mergulhou, segurando uma lamparina acesa. Várias horas depois, emergiu, segurando as relíquias de Buda e a lamparina ainda acesa. 
Um eremita reza pelos visitantes. 

Debaixo das rochas, miniaturas de stupas guardam cinzas dos mortos (108 por cada um…). 

Os crentes lançam moedas e notas para a água 
de onde se desprendem pequenas bolhas.

No regresso, parámos para fotografar o Jakar dzong, ao longe 

e o belo Lamay Gonpa que fica a 4km do dzong.

Fizemos a viagem de regresso a Punakha, no dia seguinte.
A floresta, na paisagem, é serradíssima.
Parámos em Trongsa

que quer dizer "cidade nova" na língua dzongkha e é onde a monarquia actual teve a sua origem. Cada rei, na linha de sucessão, ocupou o cargo de Trongsa Penlop ou Governador, antes de colocar a coroa do corvo. No centro do vale, o Trongsa dzong 
é imponente, restaurado em 2004. A sua fundação é do século XVI, associado a Pema Lingpa. 

Um labirinto de templos, corredores, escritórios e alojamentos de monges por onde andámos à vontade. 

Num dos alpendres, magníficas pinturas, entre elas a da Roda da Vida.

Almoçámos no mesmo restaurante, o "Norbu Yangphel", onde fotografei o monge a comer a maçã junto do colorido falo.

E estamos de novo em Punakha, onde voltámos para poder assistir a um festival, amanhã.
O hotel, "Lobesa", 
foi uma agradável surpresa. Com uma localização espectacular, com vistas para o vale. 

Os quartos têm pormenores que deliciariam a nossa amiga São Rosas, como o grande falo de madeira que segura a porta 

e o cadeado da chave do quarto!


O Wangdue Tsechu decorre durante 3 dias. Normalmente, o festival realizar-se-ía no dzong, mas este ardeu a 24 Junho 2012 e, por isso, decorre na área militar, Tencholing Army Ground.

Os festivais ou tsechu são uma festa para a dura vida dos agricultores, que vestem as suas melhores roupas, socializam 
e prestam homenagem às diversas manifestações de Buda representadas pelos monges-bailarinos dançando com as suas máscaras 


e pedindo a benção e protecção para o ano seguinte ao Guru Rinpoche (considerado o 2º Buda). 

Além das danças dos monges, também há danças butanesas 

do quotidiano e os apsaras 

que são uma espécie de palhaços que entretêm o público entre as danças, fazendo tropelias e empunhando pequenos falos de madeira para expulsar os maus espíritos!
O colorido é grande, tanto nas roupas dos bailarinos como nas das pessoas e das crianças que brincam livremente. Parecem as crianças dos anos sessenta do século passado, nas feiras das nossas cidades e aldeias. Nem faltam as barraquinhas de jogos

e as pistolas de plástico que fazem as delícias dos rapazinhos!

O deus da Morte, enorme, aguarda para, no final, todos lhe prestarem homenagem, em grandes filas.

O almoço foi um belo piquenique transportado pelo Thinley, que já nos tinha arranjado um espaço à sombra, junto dos locais!…

As pessoas são muito calmas, educadas e a maioria não se importa de ser fotografada e ainda agradecem. 

As crianças metem-se connosco, levantando a mão e dizendo "Hello!", esperando a retribuição do sorriso.

Para finalizar o dia, voltámos ao Punakha dzong para o fotografar de pontos estratégicos.

Thimphu é a capital do Butão, a 2400m de altitude.
Como queríamos assistir a dois dias de festival na cidade, e como a sua população mais que triplica nesta altura, os hotéis são insuficientes. Tentou-se que ficássemos o mais perto possível. Voltámos ao Dochula Pass, para deixar as malas no "Dochula Resort".

A estrada para a capital, é um suplício, em obras. 

A chegada também não foi o que esperávamos: a cidade está cheia de tendas e a Praça do Relógio está descaracterizada, 

com o relógio meio escondido 
por um grande telão onde passam os filmes do Festival do Filme.

É uma grande cidade, 
como nos apercebemos quando nos aproximávamos, com edifícios já com 4 e 5 andares, no vale.

Reina uma grande confusão de gentes e lixo.
Almoçámos cedo, antes de ir para o festival, no "Butanese Rest", que não nos agradou.

De carro, o Thinley deixou-nos o mais próximo possível do festival e foi estacionar. O Ugyen acompanhou-nos, identificou-se perante as autoridades e nós tivemos que passar pela segurança.

O Tashichho Tsechu, realiza-se no dzong da cidade, 

o Tashichho dzong que contornámos, cruzando-nos com muita gente bem vestida, de caras felizes. 

Um ligeiro cheiro a naftalina pairava no ar, quando entrámos no recinto. Os preciosos fatos ostentados pelo público são cuidadosamente guardados de um ano para o outro. O que se alterou, foi o calçado: sapatos de salto agulha ou de cunha, nas senhoras e algumas sapatilhas nos homens e rapazinhos. 

Como os outros festivais, a festa realiza-se em honra de Padma Sambhawa (Guru Rimpoche), o yogi precioso e santo que introduziu o Budismo Tântrico no país ao longo dos Himalaias.

O recinto já fervilhava, espectacular. 

Na tribuna central, o representante da autoridade civil e a autoridade religiosa. Os monges sorriem e a senhora ao lado do civil, tira fotografias com o telemóvel.

Tudo serve de motivo para fotografar, enquanto os monges executam as danças, com máscaras e fatos coloridos, 
ao som da música monocórdica, que não parecem ter fim. 



As gentes passeiam, 

mostrando-se nas bancadas. 

As crianças brincam e fazem das deles! 
Tudo faz parte da festa.

O céu foi escurecendo, ameaçador, 
e, às 15h, foi a debandada geral, com uma carga de água assustadora!

Chegámos encharcados ao hotel. O quarto está superaquecido. Nesta altitude, a mais de 3000m, as noites devem ser bem frias!… Distribuímos os aquecimentos entre o quarto, a salinha circular e o quarto de banho.

O hotel foi aqui construído para se poder admirar a Cordilheira, de manhã. E foi o que fizemos: sem televisão nem wi-fi, adormecemos cedo, depois do jantar, e acordámos por volta das 6h da manhã. O nascer do sol afasta as nuvens e descobre os picos nevados. 

Até ao vale, a neblina caminha.



No centro de Thimphu, bebemos um expresso no "Karma's Coffee", 

um lugar agradável, já ocidentalizado, que também serve fast food.
A abarrotar, o recinto, hoje. 

Queríamos assistir à célebre "Dança dos chapéus pretos", mas a programação é um pouco anárquica. Cada dança, prolonga-se por um tempo indeterminado, chegando a ser fastidioso. A dificuldade em tirar as fotos sem as cabeças das pessoas que chegam a trazer a comida e fazer ali mesmo o seu piquenique, fez-nos perder um pouco o entusiasmo inicial. E a hora do almoço, aproximava-se.
Almoçámos bem melhor, no "Crossroad Rest".
Depois da refeição, demos um passeio pela cidade 


e fomos visitar o belíssimo 
Thimphu Memorial Chorten
onde o branco e o dourado predominam. 
Chorten significa Banco de Fé e os budistas  chamam a estes monumentos as "mentes de Buda". À volta, rezando, cumprindo as três voltas, população predominantemente idosa.
Subimos ao Buddha Point
localizado na colina Kuensel Phodrang, para ver a estátua do grande Buda, de 52 metros de altura, de onde se desfruta de uma bela paisagem sobre o vale.

Grossas pingas de água escorraçaram-nos do recinto. Quando chegámos ao miradouro para ver o dzong e o festival, do alto, 

já a chuva também empurrava o público do festival.
Esperava-nos outra experiência inédita: dormir numa farmhouse!

A senhora da quinta, 


magra, dos seus 55/60 anos, recebeu-nos com um sorriso sereno. 
Norbu, o nome da quinta, da família e, como soube mais tarde, também o do filho mais velho, que fala japonês e é guia de turistas japoneses. Não éramos os únicos hóspedes. 
Subimos escada de madeira íngreme para aceder aos nossos quartos, 

de uma limpeza irrepreensível, onde só se acede descalço. Os colchões, no chão 
estão rodeados por móveis muito bonitos. Na sala comum, sentados no chão, foi-nos servida uma pequena refeição de boas vindas. A higiene pessoal, hoje, vai ter que ser adiada. Não há água corrente e os sanitários são em baixo, 
no exterior, com um wc precário em cima para as urgências. Assim vivem os agricultores no Butão!
De manhã, depois de uma higiene precária, serviram-nos o pequeno almoço, que tomámos juntamente com uma simpática colombiana, Glória. 
E despediram-se de nós com o mesmo sorriso sereno com que nos tinham recebido.
Reencontrámos o nosso ritmo, com o nosso motorista e o nosso guia, que nos levaram ao Museu Nacional do Butão, provisoriamente instalado ao lado do antigo edifício, 

de arquitectura bem mais interessante, 
que sofreu derrocada com um sismo. Animais, flores, trajes e máscaras, compõem o espólio aqui guardado. Sem hipótese de ser fotografado.
O Ugyen não desistiu  de nos pôr a caminhar
e destinou-nos um trilho, não muito difícil, na sua opinião. Prevenidos, estávamos bem calçados, o que não nos poupou de alguns sustos, em passagens estreitas com precipícios!
Magníficas vistas de Paro, 
incluindo a pista do aeroporto, no vale, entre montanhas, o dzong e o museu.
Perto de um mosteiro em ruínas, um velho homem de 96 anos, 

vendeu-nos uns cordéis vermelhos como o seu traje, prometendo rezar pela nossa viagem.
 À beira do precipício, lutámos com abelhas 
que morderam o Ricardo e o Ugyen e, depois de mais de 2h de aventura, chegámos ao mais caro hotel do Butão, o "UMA Hotel Resort and Spa", 
onde o Ricardo pagou 10 dólares por uma "bica"!

No centro da cidade, almoçámos bem, passeámos pelas ruas e comprámos lembranças. 
E tomámos o nosso expresso por cerca de 90 cêntimos.
A visita ao dzong de Paro, o Rinpung dzong
deixou-nos encantados. 
Depois de atravessar a ponte de madeira, 
subimos, já o vislumbrando em cima, bem como ao edifício do museu. Vacas e cães estão no seu ambiente, calmos, ignorando-nos.

Escadarias, janelas, 

portas e as pinturas nas paredes 
(cuidadosamente protegidas da luz por grandes panos, que vamos levantando para ver), fazem deste local o mais interessante dos dzongs que visitámos.
A tempestade ameaçava, 
mas ventos generosos empurraram-na para longe.
Chegámos enxutos ao já nosso conhecido (foi o nosso primeiro hotel no Butão) "Metta resort and spa", onde um banho reconfortante nos preparou para o jantar. O hotel está cheio, com muitos turistas chineses, entre eles um grupo de Macau, de onde se destacou um simpático jovem que veio falar connosco em português. Tem dupla nacionalidade, é tradutor e diz ter grande dificuldade em perceber o Acordo Ortográfico. Imagino!…
No dia seguinte, foram cerca de vinte minutos até ao estacionamento do Taktsang Lhakhang


o "Ninho do Tigre", do século XIV, um dos mais sagrados mosteiros dos Himalaias.
Encravado na face de uma imponente falésia, a 800m acima do vale de Paro, é o local para onde, segundo a lenda, no século VII, o Guru Rimpoche voou, no dorso de uma tigresa (que seria a sua consorte) e permaneceu, meditando durante 3 meses, numa caverna, emergindo em 8 manifestações, convertendo o vale de Paro ao budismo tântrico.
Em 19 de Abril de 1998, o fogo destruiu grande parte do conjunto de mosteiros, mas foram restaurados em 2005.
A caminhada é difícil. Parámos várias vezes 

porque a altitude e a falta de oxigénio custam a suportar, no meio da floresta, mas por vezes em campo aberto, subindo em terreno poeirento e irregular. 

Cavalos e mulas desciam, 
leves dos turistas que tinham deixado em cima, alguns em corrida, obrigando-nos a sair do trilho, por vezes em equilíbrio instável, quando ouvíamos o aviso do Ugyen: "Horses!!!".

Alguns recantos bucólicos, 

muitas bandeirinhas de orações e água a correr, convidam à paragem. Sem pressa, diz o nosso guia. Temos tempo.
A "Cafeteria", 


é o poiso para beber e comer. A comida é servida em buffet livre de despesas. Também chá, café ou água são gratuitos.
Tem-se uma vista esplêndida para o conjunto dos mosteiros. 

Consegue ver-se a queda de água, no precipício. 

Os 700 degraus até cima, 

levam-nos até mais perto da água e dos edifícios. 



A descida foi mais fácil.

E terminámos a nossa odisseia ao Butão, no dia seguinte, no aeroporto, com fotos de "família".

Os nossos companheiros butaneses deram-nos, do seu país, a melhor imagem e as mais preciosas recordações. 


Obrigada, Ugyen Tenzin e Thinley Dorji.



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