Agosto 2006
A primeira vez que vimos o Mekong, foi no norte da Tailândia, no Sop Ruak ou Triângulo Dourado.
Saímos de Chiang Rai, com chuva, com o Red a conduzir e o Keki (uma cópia tailandesa do Harry Potter...) como guia, por volta das nove da manhã.
Chegámos a Mae Sai, a cidade mais a norte da Tailândia, separada da Birmânia apenas por uma ponte sobre um rio sujo, o Ruak. Muito comércio, como em todas as cidades de fronteira. Muita gente e muitos rostos diferentes. Foi aqui que vimos as mulheres birmanesas com as estampagens brancas no rosto, feitas com folhas de uma árvore.
Além do stupa, tem uma estátua a um escorpião gigantesco (de significado desconhecido) e o monumento ao Rei Naresuan, um rei lama muito importante nas guerras com a Birmânia (Myanmar).
A caminho do Triângulo Dourado, a chuva continuou, mansinha mas consistente. O Red estava prevenido com belos guarda-chuvas, o que evitou as capas de plástico, tão incómodas com o calor húmido que se fazia sentir.
A Paisagem é lindíssima. O rio Mekong, enorme, no meio, o Laos à direita e a Birmânia à esquerda, vendo-se o rio Ruak a desaguar no Mekong.
Descemos até Chiang Saen, nas margens do Mekong. Um enorme Buda foi erguido, numa escultura com a forma de um barco, virado para o rio.
O insólito: um grupo de crianças, com trajos das tribos das montanhas, cantarolavam: "Una foto 5 bath, por favor...", em coro. Decoraram a lenga-lenga também em francês, alemão e inglês e iam-na alterando conforme se apercebiam da nacionalidade do turista!... Impossível resistir ao seu charme...
O Mekong, "Me" (Mae), significa "Água" (Rio) e "Kong" significa "Grande". É o 13º rio mais comprido do mundo e o 10º de maior caudal. Percorre 4.880 quilómetros, nascendo no Tibete, atravessa a China, a Birmânia, a Tailândia, o Laos, o Camboja e desagua no Vietname, em Ho Chi Minh City (ex-Saigão), num delta que ocupa 795.000 quilómetros quadrados, em pequenos estuários.
O primeiro europeu a encontrar o rio, foi o português António de Faria, em 1540.
O Delta foi palco da Primeira Guerra da Indochina, durante o colonialismo francês e da Guerra do Vietname, onde decorreram diversos combates entre os guerrilheiros vietcongs da Frente Nacional de Libertação e unidades da Marinha Norte-Americana, nos manguezais e alagadiços que formam a maior parte do delta.
O Delta pertencia ao Reino Khmer e foi a última região a ser anexada pelo Vietname.
Hoje em dia, o Delta é composto por uma população mista de cerca de 13 milhões de cambojanos, chineses e vietnamitas, que convivem pacificamente.
O nosso guia é o Khoa, um anti-chinês faccioso que se sente mal com os milhares de chineses novos-ricos que proliferam em Saigão.
Fomos de carro até ao porto onde entrámos num pequeno barco, os três e o barqueiro.
Percorremos o mercado flutuante, muito diferente do da Tailândia porque, este, é um mercado maioritariamente para revenda, vendo-se grandes barcos a motor carregados de produtos. Num alto mastro, colocam a "amostra" do produto que transportam, para mais facilmente os clientes os identificarem.
As águas são barrentas e inspiram pouca confiança, mesmo um certo receio!...
Vagueámos pelos canais e, com um pouco de imaginação, poderíamos esperar que, de qualquer canto, aparecesse um vietcong camuflado!... Em muitos, viam-se habitações, de um lado e outro, com pessoas lavando a roupa e a colher a água castanha para fins inimagináveis! Mas também se encontraram recantos bucólicos, de muita beleza.
Entrámos de novo no pequeno barco para atravessar o delta, num descampado, para a ilha onde iríamos almoçar. E, aí, chegou a chuva. Não foi fácil: a chuva e o vento, juntos, fustigavam o pequeno barco e os passageiros. As capas de plástico que o Khoa nos deu, enfiadas precipitadamente, agarravam-se ao corpo e não queriam proteger. E o barqueiro, na ânsia de minorar o incómodo, acelerava, aumentando o nosso desconforto.
Temos vindo a fugir da chuva todos estes dias desde Banguecoque: ou chegávamos antes ou já tinha acontecido a monção... Apanhou-nos no pior sítio!
Depois do deserto aquático, chegámos à pequena ilha onde, num ambiente muito íntimo, nos foi servida uma refeição diferente, mais bonita que saborosa. O peixe foi pescado ali mesmo e parecia piranha, cheio de espinhas. Os acompanhamentos eram vários, envolvidos numa base muito fina, como um crepe, de farinha de arroz.
A chuva parou e pudemos regressar a um outro porto, calmamente, onde nos esperava o motorista e uma viagem de 150 quilómetros até Ho Chi Minh City.