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terça-feira, 5 de abril de 2016

SANTIAGO DO CHILE

12, 13, 14 Fevereiro 2016

O voo de Puerto Montt até Santiago foi de apenas 1:40h.

Santiago já não é aquela confusão de autocarros amarelos que recordávamos de há 18 anos quando, de carro, tínhamos dificuldade em nos movimentar, porque ocupavam todas as faixas de rodagem! 
O Estado chileno tomou conta dos transportes e, conjugando os autocarros com o Metro entretanto desenvolvido, conseguiu organizar e servir toda a grande metrópole.
O "Hotel Plaza San Francisco" está bem situado, mesmo ao lado da igreja 
com o mesmo nome e muito perto do centro histórico.
A cidade é a maior e mais importante cidade do Chile, situada ao lado da Cordilheira dos Andes. Foi fundada pelo espanhol Pedro de Valdivia entre os dois braços do rio Mapocho. Em 1818 foi palco da Guerra da Independência e, desde aí, capital do país.
 Procurámos a Plaza de Armas, atravessando a Avenida Libertador O'Higgins e passeando nas ruas pedonais.

Muita gente, muitas lojas e dois Chinchineros que nos surpreenderam com uma exibição de uma espectacular coreografia, enquanto tocavam os bombos e pratos que traziam às costas! Fiz dois pequenos filmes que vão encantar o nosso amigo Dom Rafael, apaixonado por bombos!...


Uma chilena, vendo o nosso interesse, disse-nos que pretendem candidatar-se como Património da Humanidade.


Perto, a Iglesia de San Agustín
com um grande cartaz dos 400 anos do Cristo de Mayo.

Também chamado Señor de la Agonia, é uma escultura de madeira policromada, talhada pelo frade Pedro de Figueiroa em 1612 e que, milagrosamente, sobreviveu a um terrível terramoto em 1647. Intacta, apesar de toda a cidade ter sido destruída pelo fogo. 

A coroa de espinhos, porém, deslocara-se da cabeça, onde estava bem encravada, para o pescoço. 

Quando os frades tentavam repô-la na cabeça, ocorreu uma réplica do sismo. Uma segunda vez o tentaram e, de novo, uma réplica do sismo, o que foi interpretado por um segundo milagre e, por isso, desistiram de mudar a coroa de espinhos.
A grande igreja tem uma fachada Neo-clássica e Barroca. O primeiro edifício data de 1608 e foi sendo reconstruída, devido a muitos sismos. De três naves,
separadas por grossas colunas, tem várias capelas e pude ver a devoção fervorosa a Santa Rita de Cássia, cuja capela se encontrava repleta de crentes.
Continuámos até à Plaza de Armas
o Centro Histórico da cidade, onde tudo começou. 

Hoje, os monumentos são um pouco mais grandiosos mas, fundamentalmente, estão lá todos os símbolos.
A Catedral Metropolitana 
actual começou a ser construída em 1748, no mesmo local onde foi edificada a primeira, em 1566, com maior resistência aos sismos frequentes. A elegante fachada é de estilo Neo-clássico. A portada principal tem uma imagem interessante do Bom Pastor, 
com uma figura humana aos ombros. 

Na porta do meio, o Bom Pastor 
já tem, aos ombros, a clássica ovelha. 

De três naves, a central 
tem uma bela abóbada corrida, apoiada em pilares. 
O altar-mor, de mármore branco, foi construído em Berlim. 
Com rico espólio, despertou-me a atenção 
o vitral de Santo António, 

a escultura da Pietá 

e uma original pia de água benta.

Correo Central,
foi renovado e perdeu o azul de que tanto gostei há 18 anos. Foi construído em 1882, sobre os alicerces do antigo Palácio dos Governadores, que foi residência dos presidentes da República até a casa do governo ter sido mudada para o Palácio de La Moneda. De fachada Neoclássica, desde 2004 alberga o Museo Postal y Telegráfico. 
Ao lado, o Museo Histórico Nacional. 

O terreno fazia parte do solar de Pedro de Valdivia, onde foram construídos, depois da morte do conquistador espanhol, em 1553, a residência do governador (actual Correo Central), a Real Audiência (actual Museo Histórico Nacional) e o Cabildo Colonial (actual Municipalidad de Santiago). Foi em 1822, durante o governo de Bernardo O'Higggins, que nasceu a ideia do Museu. Mas só em 1874 foi inaugurado. No seguimento  dos edifícios anteriores, está a Municipalidad de Santiago.

Em frente, a estátua equestre de Pedro de Valdivia e a Fonte de homenagem a Simón Bolivar.

Deambulando, passámos na Casa Colorada
um bom exemplo da arquitectura colonial na América do Sul, que alberga o Museu de Santiago e foi construída para residência do presidente da primeira junta de governo, Mateo de Toro y Zambrano com projecto de um arquitecto português (cujo nome consta ser Joseph de la Vega, que não soa muito português...) entre 1769 e 1779. À porta, uma enorme fila, para a visita.
Continuámos até La Merced 

que nos surpreendeu com a sua belíssima fachada cor-de-coral com colunas coríntias. A Ordem de La Merced foi a primeira congregação católica que aqui chegou, com Pedro de Valdivia.
Na Plaza de Constitución, fica o Palácio de la Moneda 
ou, simplesmente, La Moneda
sede da Presidência da República do Chile. Abriga, também, o Ministério do Interior, a Secretaria da Presidência e a Secretaria Geral do Governo. Foi construído para Casa da Moeda quando o Chile era uma colónia espanhola, entre 1786 e 1812, projecto do arquitecto italiano Joaquin Toesca. Mas a sua celebridade data do golpe de estado de 11 de Setembro de 1973, quando o edifício foi bombardeado pelas forças de Pinochet durante três horas, destruindo parte do prédio, documentos e tesouros valiosos (entre eles a Acta de Independência do Chile, de 1818). Foi no Salão da Independência que foi morto Salvador Allende e, pelo seu significado, foi mandado emparedar pelo ditador, sem hipótese de ser visitado durante o tempo da ditadura.

Na praça envolvente,
estátuas dos presidentes, com destaque para a de Salvador Allende.

No regresso ao hotel, fomos visitar a Igreja de São Franciscomesmo ao lado. 

Aqui, começou por existir a Capela do Socorro, de adobe, para abrigar a imagem da Virgem trazida por Pedro de Valdivia. Entre 1586 e 1628, foi construído o complexo com o convento da Ordem de São Francisco. O campanário, 

que contém o relógio e quatro esferas, em estilo neo-clássico, é de 1857.
O desenho do interior é em cruz latina, 
com uma nave central 

e duas laterais, com capelas.

Parte do Convento foi adaptado para o Museu Colonial.
Jantámos no hotel, cujo restaurante tem uma boa cozinha, mas o serviço é muito lento.

No dia seguinte, começámos no Bairro Paris-Londres, 
mesmo ali, ao lado do hotel. 

Edifícios de arquitectura europeia, 

do século XIX e princípio do século XX, de casas ricas. Os terrenos pertenciam à Ordem de São Francisco e foram vendidos para construção de ricas habitações projectadas por arquitectos europeus. 

Actualmente, os ricos preferiram ir viver para local mais calmo, desde que os estudantes universitários passaram para aqui a sua noite boémia, nos vários bares que foram aparecendo. De dia, as estreitas ruas empedradas estão praticamente vazias e abundam os hostels 

e pequenos hotéis.

O nome vem das duas ruas principais, 
que se cruzam, Calle Paris e Calle Londres.

Nos números 38/40, está o edifício que foi prisão e lugar de tortura durante o regime de Pinochet. 

Na fachada, uma faixa: "A romper con el #PactoDeSilencio". Pede-se a libertação do segredo profissional das pessoas, principalmente padres e médicos, para a revelação dos nomes dos criminosos da ditadura. 
Nas pedras da calçada, 

em frente, nomes de pessoas assassinadas. 

Pedras mais escuras simbolizam corpos encontrados e não identificados e pedras mais claras simbolizam os não encontrados.

De carro, fomos até ao Club Hipico de Santiago, 
inaugurado em 1870 e designado como Monumento Histórico em 1972, pela sua importância para cidade, cujas corridas de cavalos atraem figuras importantes de todo o mundo.
Parámos noutro bairro da cidade 

com construções parecidas com o Paris-Londres, o Bairro da República ou Bairro Universitário.

O Estadio Víctor Jara

antes Estadio Chile, foi um complexo desportivo que foi inaugurado em 1949 e que, após o golpe de Estado de 11 de Setembro de 1973 foi transformado em centro de detenção e tortura. Logo no dia 12 de Setembro, foram para aqui deslocados os primeiros 600 prisioneiros provenientes da Universidad Técnica del Estado
E no dia 16 foi assassinado o poeta e cantor Victor Jara, depois de ter sido submetido a sessões de tortura. 
O local tem um aspecto bastante degradado, mas os murais de protesto estão bem conservados, nomeadamente aquele em que se pede a devolução do mar à Bolívia 



e o de homenagem ao escritor Pedro Lemebel.

Também ligado à história de Victor Jara, 
está El Galpón

no Barrio Brasil, a fundação criada pela mulher e pela filha do cantor, funcionando como centro literário, de teatro e de arte, 

apoiando, também, os mais desprotegidos financeiramente e idosos, com cursos de artesanato para lhes dar meio de sobrevivência.

O Mercado Central

também mereceu a nossa visita. É um interessante edifício com cobertura em ferro, 
fundido em Glasgow, e projectado pelo arquitecto Fermin Vivaceta, inaugurado em 1884.

Hoje em dia, o mercado é mais conhecido pelos seus restaurantes, 
com pratos tradicionais crioulos.

Para uma panorâmica da cidade, tínhamos programado o Cerro San Cristobal, mas o trânsito está interrompido durante os fins de semana... Subimos, por isso, ao Bairro Santa Maria de Manquehue

uma zona que me fez lembrar certa colina de Hollywood, com casas principescas, 

jardins suspensos 

e bem guardados por barreiras de arame electrificado. 

Aqui, não há letreiros de "se se aproximar, disparamos", mas dão-nos uma descarga eléctrica se tocarmos no muro ou nos portões. Só deixam subir carros identificados e apenas até às 20h.
A cidade, lá em baixo, 


está envolta numa neblina de poluição e pode ver-se o prédio mais alto da América do Sul, 

aqui, num local bem castigado por sismos, o que demonstra a qualidade da construção. Neste bairro moram pessoas muito ricas, árabes, judeus, o concessionário da Mercedes no Chile, por exemplo.


Descendo, percorremos a downtown, Sanhattan 
(como Manhattan...), com prédios de arquitectura moderna, lojas das grandes marcas internacionais e Porches e Jaguares nos estacionamentos.

Ainda fotografei a Igreja de Nossa Senhora da Divina Providência
restaurada após o sismo de 2010.

O calor sufocante levou-nos para o hotel, onde passámos as últimas horas desta viagem com tantas aventuras.


O regresso a Lisboa, 
via Buenos-Aires e Madrid, é uma eternidade de mais de 24h (contando com as horas de espera nos aeroportos), 

depois de uma viagem fantástica à Patagónia!


Fim.

* * *