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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

PERÚ - 2017 - 2

Machu Picchu e Cusco

29 Outubro a 1 Novembro

Abandonámos o nosso refúgio no Vale Sagrado.

A caminho de Ollantaytambo, para apanhar o comboio para Aguas Calientes, fizemos uma breve paragem para fotografar um inusitado hotel.
Penduradas na montanha, três cápsulas iguais e uma maior: é o 
Sky Lodge, 





um hotel para aficcionados da escalada!
Chegados à estação de Ollantaytambo, apercebem-nos que o movimento aumentou.
Esta linha de caminho de ferro, 
antes de ser o meio para chegar à cidade escondida de Machu Picchu, fazia a ligação até ao interior da Amazónia para trazer os produtos da selva amazónica. 
Com o fenómeno do "El niño" foi praticamente destruída e, agora, só vai até Aguas Calientes.
O Sócrates seguiu para Cusco, com as nossas malas. Vamos dormir uma noite em Aguas Calientes e ficámos apenas com as mochilas e uma muda de roupa interior, porque o comboio não tem bagageira.
O "Vistadôme" tem grandes janelas que permitem ver o Urubamba apressado sobre as grandes pedras roladas.

A ligação de Aguas Calientes e Machu Picchu faz-se de autocarro, 
que apanhámos depois de atravessar o mercado artesanal. O Romaín acompanhou-nos e guiou-nos no meio da confusão.
Os autocarros fazem fila e são a única maneira de chegar lá acima: 
a subida está proibida aos automóveis particulares. E os visitantes são cada vez mais. A UNESCO limitou as entradas a 3500 pessoas por dia, mas entram à volta de 9000!
No entanto, tudo está muito bem organizado e, 
apesar de se verem muitas pessoas, ninguém se atropela, embora se ouça, de vez em quando, o apito dos vigilantes por causa da imprudência 
e da falta de respeito pelo local da parte de alguns turistas.
Começámos a visita subindo, calmamente (por causa da altitude),
entre o Sector Agrícola e o Sector Urbano, até à Casa da Vigia,
fotografando o povoado, por entre nuvens e abertas, 
com o tempo instável.
A chuva, miudinha, ia e vinha, dando por bem empregues os impermeáveis e o pequeno guarda-chuva para proteger a máquina fotográfica.

Hiram Bingham, o americano, explorador e político que aqui chegou em 1911, soube aproveitar-se bem da cidade inca. Não era arqueólogo, como muita gente pensa, e pode, mesmo, ter-se aproveitado das explorações que fez!... Sempre afirmou que não encontrou qualquer riqueza, mas conseguiu, com muitos subornos e cumplicidade do Governo americano e da National Geographic, embarcar muitos caixotes para os Estados Unidos da América.

A cidade está rodeada por altas montanhas, num planalto protegido.
Bem estruturada, tem um Sector Agrícola com os seus terraços de cultivo e armazéns, o Sector Urbano e o Sector Sagrado.
Das montanhas, salienta-se a mais alta,
Huaína Picchu (2750m), onde se encontram o Templo da Lua e a Grande Caverna. 
Ao lado, o conjunto de três pequenas montanhas que formam a silhueta de um condor a levantar voo, 
Huchuypicchu
À frente, o monte em forma de pirâmide
Intiwatana.

Perto da Casa do Vigia, encontra-se a 
Roca Funeraria
um bloco de granito sobre a qual se efectuavam rituais de sacrifícios e oferendas a Pachamama. 
E, ao longe, consegue ver-se parte do Caminho Inca.

Iniciámos a visita descendo, visitando a cidade mandada construir no século XV
por Pachacuti ("o que muda a terra"), o nono Sapa Inca, pai de Túpac Yupanqui.
Entrámos pela porta principal.
Templo das 3 Janelas 
está localizado no Bairro Alto (Hanan),
com as janelas trapezoidais sem adornos, simétricas. Está orientado para sul, em direcção a Huayna Picchu. Está associado à lenda do Tamputoq'O, da fundação do Estado Inca, representando cada janela uma das 3 tribos que,
mitologicamente, deram origem aos Incas. Também podem representar os 3 níveis em que os Incas dividiam o mundo: o Céu (Vida Espiritual), a Terra (Vida Mundana) e o Subterrâneo (Vida Interior). E, na sua frente, 
Cruz Quebrada ou Cruz Inca,
enterrada até metade (no solstício, a sua sombra completa a cruz).
Templo Principal 
terá sido o principal recinto cerimonial, na base da Pirâmide Intiwatana.
Foi aqui que se utilizaram as maiores pedras de basalto na típica sobreposição da arquitectura inca. 
As pedras desalinhadas
foram sujeitas a um deslizamento de terras. No alto da Pirâmide Intiwatana, está o Relógio Solar ou Observatório Astronómico ou Pedra de Energia.
Será o lugar mais sagrado da cidade.

Templo do Sol 
sobressai pelo seu formato arredondado, como um torreão que protege o altar no seu interior onde a luz do sol incide, por uma das janelas, no solstício de Junho e por outra no solstício de Dezembro. Era um local sagrado onde só a elite podia entrar para fazer rituais de purificação. Hoje em dia não é permitido entrar, o que também acontece no Templo do Condor 
que aproveita o afloramento rochoso para a sua arquitectura.
Praça Principal
era onde decorriam as principais festividades. No seu centro, existia um misterioso monolito, cujo significado se desconhece. 
Foi derrubado em 1978 a mando do governo central de Lima
para o helicóptero que transportava os reis de Espanha pudesse aterrar!

Numa praça mais pequena,
uma altiva árvore, marca o local onde foi encontrado uma bracelete de ouro e outros objectos de ouro e peças preciosas, em escavações posteriores a Hiram Bingham!...
Ficámos com a imagem da 
Casa do Vigia
com o colorido das pessoas disseminadas pelos socalcos.
A chuva, entretanto, engrossou bastante. Salvou-nos o restaurante, mesmo à saída, o "Tinkuy", com um óptimo buffet acompanhado por chicha morada 
uma deliciosa bebida preparada por fermentação de milho vermelho (não alcoólica).
Muita gente para descer, fazendo fila à chuva, para entrar nos autocarros que formam um vai-vem constante.
O Romaín deixou-nos no "Sumaq", o nosso hotel no Machu Picchu Pueblo ou Aguas Calientes e seguiu de comboio para Cusco. A ideia de ficarmos mais um dia em Machu Picchu era para fazer uma segunda visita, o que não aconteceu, mas nada se perdeu: resolvemos conhecer melhor a pequena cidade
que está na base do lugar mais turístico do Perú.
Jantámos no hotel, à carta: ceviche e truta salmonada.
O hotel está encostado à montanha,
com a varanda para o rio Urubamba e para a rua estreita onde passam os autocarros para a Cidade Inca, a poucos metros do centro.
E  centro é na Praça Manco Capac
onde o mesmo está bem representado
mas convive bem com a bela igrejinha 
Virgen del Carmen. Quadrada, a praça tem um cartaz onde todos os turistas tiram a fotografia para recordar.

A igrejinha, simples, tem um 
Cristo Moreno

com uma Pietá espantosa aos pés,
e... uma Nossa Senhora de Fátima com os Pastorinhos!

Visitámos uma exposição de fotografias sobre o antes e o o depois 

da Cidade Escondida e de alguns (poucos) achados encontrados 
depois da primeira escolha de Hiram Bingham!...
O resto é o mercado local 
e o grande Mercado de Artesanato
de que vive a povoação, onde comprei as minhas botas(...)
e outras recordações.

Almoçámos num restaurante que tinha uma vista privilegiada para a linha do combóio.



E foi esse o tema para fotografar, até à hora do comboio para Cusco.


A viagem, de cerca de 4 horas, foi calminha (depois da passagem de modelos e da saída do resto do povo,  uma excursão VIP de espanhóis,em Ollantaytambo), 
observando a paisagem,
a lua, 
e o anoitecer.

CUSCO 
está a 3360m de altitude. 
A sua história está ligada à história da Cultura Inca de que foi capital. 
Foi povoada por vários assentos humanos até à chegada, no século XIII, de um povo que poderá ter vindo do Lago Titikaka que se auto-denominava Filhos do Sol. 
Fizeram alianças com os povos que ocupavam o Vale. No século XV foram invadidos pelos Chancas que foram vencidos por Pachacuti Inca que organizou a cidade capital do Império Inca (Tawantinsuyo).

Ficámos muito bem instalados no 
"Belmond Palacio Nazarenas", 
um antigo convento de freiras, com pátios interiores, jardins, fontanários
e outros pormenores cativantes.
Fomos recebidos com um ramo de perfumadas frésias 
e com o bar e comida à descrição.

O Romaín continuou a guiar-nos e muito bem.
Começámos pelo Sítios Arqueológicos.
Para os Incas, a Natureza é muito importante. Os templos não são dedicados a deuses, mas aos elementos da Natureza: Fogo, Água, Ar e Terra.
O elemento Fogo está em Saqsayhuamán 
(Saqsay=satisfeito e huamán=falcão).

As grandes pedras basálticas
(as maiores chegam a pesar 130 toneladas) estão dispostas em três muros em ziguezague que formam o raio de um trovão. 
No topo está o observatório astronómico, circular.
Para os Incas, o templo representava a cabeça de um puma e a cidade, em baixo, o seu corpo.

Por aqui passaram 14 chefes incas, entre 1200 e 1400 dC.
Em 1532, chegaram a Cusco 
167 espanhóis, com Francisco Pizarro. 
Em 1539 começaram a destruir o templo para aproveitar as pedras na construção da Catedral, deixando apenas 30% ao abandono.

A História é pouco explícita, mas diz-se que Francisco Pizarro se terá aproveitado de guerras entre os dois irmãos incas, um ao Norte e outro ao Sul. 
Alia-se a Manco Inka que rapidamente se apercebe que o espanhol só está interessado no ouro e pedras preciosas que abundam no Império, escravizando o povo para o obter. Fugiu, matando o irmão de Pizarro e estabeleceu uma resistência que durou 40 anos, a partir da floresta amazónica, de 1532 a 1572. Mas não se impediu o declínio.

O Templo da Água, Tambomachay
fica a 3800m de altitude. 
A água vem da montanha
e segue por canais subterrâneos até Cusco. 
Os incas subiam até aqui para meditar e traziam oferendas que colocavam nos escavados forrados a ouro.

Pukapukara 
deve o seu nome à cor da terra onde está, que é vermelha (puka) e à sua função de ponto de encontro e fortaleza (pukara). É o templo do Ar. De planta irregular, evitando cortar as pedras já existentes, tem três muros
com habitações de tamanhos diferentes e uma praça alta
de forma trapezoidal a que se acede por uma escada exterior.

Q'enqo 
(Labirinto Pachamama. Pachamama é a Mãe Terra) é o Templo da Terra. É um enorme bloco de basalto trabalhado na sua superfície. 
A enorme pedra, à sua frente,
já desgastada, poderá ter representado um puma sentado. 
Dentro, um labirinto
onde se faziam sacrifícios humanos e embalsamentos. 

Nestes embalsamentos utilizavam uma série de ervas, entre elas as folhas de coca, depois de esvaziarem o corpo das vísceras que colocavam em potes.
O enterramento era sempre em posição fetal e acompanhado de oferendas e riquezas porque acreditavam numa vida para lá da morte (como os Egípcios).

Parámos na Plaza San Cristóbal
junto da Igreja de San Cristóbal para ter uma panorâmica da cidade, 
identificando os seus atractivos principais.
No Mercado de San Pedro 
pudemos conhecer algumas das 3500 variedades de batatas do país,
e outros produtos da região.
Preparava-se a festa de 1 de Novembro e chamou-nos a atenção para uma espécie de folar com a forma de uma jovem e de um cavalo,
uma história que fala numa jovem que foi raptada a cavalo pelo seu amado que o pai não aceitava...

Qorikancha
Qurikancha ou Templo do Sol 
(Inti Kancha), era o recinto de ouro ou templo dourado dos Incas. 
É o Convento de Santo Domingo de Cusco. 
Construido pelo Inca Pachacuti depois da vitória contra os Chancas em 1438. Era um templo dedicado ao Sol, onde vivia o Sumo Sacerdote. 
As suas paredes
eram revestidas por lâminas de ouro.
Foi destruído pelos Dominicanos que erigiram sobre ele, a Igreja e Convento de São Domingos.
Com as pedras foram construídos os palácios senhoriais. No grande terramoto de 1950, a construção dos espanhóis deixou à mostra a construção inca! A sua reconstrução transformou o local em Museu, uma mistura
da Cultura Inca e de elementos do Templo Católico.  
Os claustros foram restaurados e mantêm a beleza original.
De cima do Qorikancha avistam-se os jardins do Templo do Sol,
onde chegava a água do Tambomachay.

O painel dourado da Filosofia Inca 
foi escrito por Joan de Santa Cruz Pachacuti Sakamayaqua, cronista indígena descendente dos governadores das províncias de Canas e Canchis, em 1613. O que fotografei, é uma cópia.

Almoçámos no "Don Thomaz", onde a alpaca na brasa
acompanhada por quinoa e batata, estava uma delícia.
Na Plaza de Armas, ainda com guia, visitámos a Catedral
concluída no séculoXVII.
Mistura os estilos 
gótico, maneirista, barroco e renascentista. No interior, imagens preciosas, quadros, riquezas em ouro e prata. E um Señor de los Temblores, negro do fumo das velas que foram acesas a seguir ao tremor de terra de 1650. Nada de fotos no interior!

A cidade estava um pandemónio, com muita polícia e crianças mascaradas.
É véspera do 1º de Novembro.

A Plaza de Armas 
parece um formigueiro.
Igreja da Companhia de Jesus, também virada para a Plaza, foi construída sobre edifícios incas de Amarucancha. O primeiro templo foi a Igreja de Nossa Senhora do Loreto, para os indígenas. Depois do sismo de 1650, foi construída a actual, em estilo barroco e, ao lado, a Capela de San Ignacio de Loyola que é, hoje, o Paraninfo Universitário da Universidade pública de San António Abad.
O passeio livre pela cidade levou-nos à Calle Plateros com os seus balcões lindíssimos.

Junto de La Merced
o movimento não era menor. A igreja foi uma das primeiras congregações de Cusco. Barroca, no seu interior (nada de fotos!), tem um altar-mor neoclássico com uma imagem da Senhora da Misericórdia.
Caminhando, chegámos à Plaza San Francisco, onde a Igreja e Convento de San Francisco
de 1645, com uma torre românica, está sombreado e é escurecido pela pedra andesita com que foi construído.

Cusco fica, sempre, incompleta. 
Nunca se sabe se não voltaremos!

Jantámos no hotel e preparámos as malas para amanhã rumar ao Lago Titikaka.

* * *