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quarta-feira, 24 de abril de 2013

ITÁLIA - VENEZA, OUTRA VEZ


25 a 28 Outubro 2011


Veneza é sempre diferente.

 


Foram duas horas e pouco de viagem de Lisboa ao aeroporto Marco Polo. Arrastámos as malas até ao cais e optámos pelo transporte público de vaporetto, por 15 euros cada um.
Chove.
A paragem de San Ângelo fica a um metro do nosso hotel, o "NH Manin", mesmo à beirinha do Gran Canale. 
É um simpático palazzo adaptado.

E começámos logo a descoberta pelo Campo de San Stefano ou Campo Francesco Morosini 
(doge do séc. XVII), 


uma das praças mais espaçosas da cidade, onde almoçámos. 
Aqui se realizavam touradas até 1802, altura em que uma bancada caiu e matou alguns espectadores. Nicolò Tommaseo (1802-1874), sábio dálmata, figura central da rebelião contra os Austríacos em 1848, merece estátua na zona central. O Conservatório de Música, Palazzo Pisani

o Instituto Veneziano de Ciências, Letras e Artes, Palazzo Loredan e a Igreja de San Stefano 
(com quadros de Tintoretto na Sacristia), fazem o enquadramento.
Veneza faz-se caminhando e todos os caminhos vão dar à Piazza de San Marco
onde a Catedral continua em obras!

As pessoas fogem da chuva refugiando-se nos cafés das arcadas: Café Quadri, favorito das tropas austríacas e Café Florian, onde Byron, Dickens e Proust se sentavam. Ouvindo a música ao vivo, 

fomos fotografando a Torre dell'Orologio

o Palácio dos Doges

o Campanille 

e as Colunas, os ícones da Praça.



E, desta vez, a Ponte dos Suspiros estava escondida, em restauro, justificando o vazio da Ponte della Paglia.
Da Ponte dell'Accademia, a única ponte de madeira sobre o Gran Canale, já com pouca luz, olhámos Santa Maria della Salute, barroca, e a Dogana di Mare, a alfândega, ao fundo.

Depois, Rialto,
construída em 1588 que, até ao séc.XIX era a única ligação entre as duas margens do Gran Canale. 

No Campo San Giacomo

do lado de lá da ponte, está a Igreja de San Giacomo di Rialto, a tal que tem um belo relógio com apenas um ponteiro.
É do séc.V e é a igreja mais velha de Veneza.

As marés-vivas do dia seguinte, 
afastaram-nos da Piazza di San Marco.
O Palazzo Grassi 
fica perto do hotel e foi lá que fomos surpreendidos com uma instalação de Joana Vasconcelos, "Contaminação", no átrio, subindo até ao varandim, feita de retalhos de chita, em enchimentos, misturando tecidos, bordados, rendas, crochés, 
pequenos animais e bonequinhas de plástico, flores... muito ao jeito desta nossa artista plástica.

O tema da exposição global é "O Mundo Pertence-nos" e valeu os 15 euros pagos.
Depois da Ponte dell'Accademia, 

na Abbazia San Gregorio

estava uma exposição da "Biennale".
Contornando o Grande Canal até à Punta della Dogana, de onde se avista a ilha de 
San Giorgio Maggiore,
chegámos a Santa Maria della Salute
a grande igreja barroca à entrada do Grande Canal, construída em 1630 em acção de graças pelo fim da peste. Este evento comemora-se a 21 de Novembro com uma ponte de barcas que atravessa o canal. No altar-mor, um grupo escultórico de Giusto Le Corte, representando a Virgem e o Menino protegendo Veneza da peste.
A "Bienanale", continua por aí. Linda, a branca escultura do rapazinho pegando num sapo pela perna.

E contornando Dorsoduro, aproveitámos os vários espaços ainda abertos para usufruir esta mostra de Arte.

Caminhando, depois, para o interior, passámos no Estaleiro de gôndolas, Squero di San Trovaso
com os edifícios em madeira sobre estacas e pela Scuola Grande dei Carmini
sede da confraria carmelita com tecto decorado por Giambattista Tiepolo, com a sua igreja do séc.XIV e um campanille do séc.XVII.
Em San Tomá apanhámos uma gôndola, por 50 cêntimos, até ao nosso hotel.

O dia seguinte amanheceu com sol.
Até à Scuola Grande di San Rocco
no Campo de San Rocco, foram poucos minutos. 
Começada a ser construída em 1515, 
foi concluída em 1549 com doações dos venezianos que acreditavam que São Roque, padroeiro das doenças contagiosas, os livraria da peste. Em 1564, Tintoretto recebeu o encargo de decorar as paredes e o tecto da Scuola em 23 anos.

As Scuolas eram confrarias de laicos que se dedicavam à beneficência e apoio das Artes bem como à devoção de Santos padroeiros. A de San Rocco foi a única respeitada pelos éditos napoleónicos e que continuou a sua actividade sem interrupção até aos tempos modernos. Actualmente tem 350 confrades.
A galeria mostra, em duas salas e nas laterais da escadaria que leva ao primeiro piso, a maestria de Tintoretto na cor e na luz. O tecto do salão superior é completamente revestido por cenas bíblicas que se vêem melhor reflectidas nos espelhos que estão à disposição.
A Igreja
na mesma praça, é de Bartolomeo Bon, de 1489, reconstruída em 1725, com mistura de estilos. No interior, pinturas de Tintoretto com cenas da vida de San Rocco.
Perto, Santa Maria Gloriosa dei Frari
uma enorme igreja gótica, construída pelos Franciscanos, entre 1250 e 1338. O Campanille tem 80m de altura e é o maior da cidade. Engloba também o antigo mosteiro, 
o que lhe aumenta a volumetria no Campo dei Frari.
Mais à frente, a caminho de Ferrovia, a Scuola di San Giovanni Evangelista
de 1261, com um elegante pórtico branco e cinzento de Pietro Lombardo, com a águia esculpida (símbolo de João Evangelista), separando a praça da rua, fundada pela Irmandade dos Flagelantes. A praga da Peste foi trazida para a Europa por ratos e pulgas transportados nos cascos dos navios. No meio da falta de higiene da época, a doença proliferou matando cerca de 25 milhões de pessoas entre 1347 e 1351. Interpretada como castigo divino pelos pecados dos homens, levou ao aparecimento de muitas manifestações de religiosidade doentia. Na Alemanha começou um movimento que procurava aplacar a ira de Deus por meio da flagelação colectiva. Vestiam-se com uma bata branca ou um saco branco, com uma cruz vermelha no peito e peregrinavam de aldeia em aldeia, repetindo ladaínhas e chicoteando-se nas costas com tiras de couro com pontas de ferro.
Atravessámos a Ponte Scalzi em direcção ao Guetto,
no distrito de Cannaregio onde, em 1516, o Conselho dos Dez (que governava Veneza) decretou que todos os Judeus da cidade se deveriam confinar à ilhota com o mesmo nome. Atravessada por longos canais 


e duas comportas dirigidas por guardas cristãos, a zona foi chamada de Guetto por causa de uma fundição (gheto, em veneziano) que existia no local. Os Judeus podiam sair, durante o dia, mas eram obrigados a usar um distintivo. Só podiam exercer as profissões de comércio de tecidos, empréstimos de dinheiro e medicina.
No Campo del Ghetto Nuovo
a zona mais antiga do gueto, existe um memorial ao Holocausto.
Como a zona estava limitada e a população foi crescendo, os edifícios foram também crescendo, em altura, e eram chamados os arranha-céus de Veneza.
Seguimos para o Campo dei Mori
onde os três irmãos Mastelli, comerciantes do Peloponeso, construíram o seu palazzo e ficaram eternizados nas estátuas de pedra.

A figura na esquina, com nariz de metal ferrugento, é um tal Signor Antonio Rioba, figura alvo de ditos e anedotas maliciosas.

Um quarto negociante oriental, com um grande turbante, que olha o rio della Sensa, 
guarda a fachada da casa onde viveu e morreu Tintoretto 
que, por sinal, continua em muito mau estado como já tínhamos visto quando cá estivemos num passado Carnaval.
Guiando-nos pelo original campanille 
com a cúpula em forma de bolbo, procurámos a Madonna dell'Orto
gótica, dedicada a São Cristóvão, 
padroeiro dos viajantes, para protecção dos barqueiros que transportavam os passageiros para as ilhas do norte da laguna. Mudou de padroeiro e a igreja foi reconstruída no séc.XV depois da descoberta, numa horta vizinha, duma imagem da Virgem Maria 
a que atribuíram poderes miraculosos. Mas São Cristóvão ainda está por cima do portal. 
Dentro, mais obras de Tintoretto que era seu paroquiano e cujo túmulo aqui se encontra.
A caminho do vaporetto para San Marco, passámos por San Marcuola
dedicada a Santa Ermagora e São Fortunato, construída entre 1728 e 1736 por Giorgio Massari, com fachada incompleta virada para o Grande Canal. Em frente, o edifício O Fondaco dei Turchi
onde se encontra o Museu de História Natural, estilo Venezo-bizantino do séc.XIII, mas que sofreu um polémico restauro no séc.XIX.
A partir do vaporetto, a beleza dos palazzi.


Em San Marco, subimos ao Campanille
pelo elevador instalado em 1962, depois de pagar 8 euros. As vistas são a partir da torre dos 5 enormes sinos 
com toques diferentes: Marangona para o início do trabalho, Maléfico para anunciar uma execução, Nona para o meio-dia, Mezza Terza para chamar os senadores ao Palácio dos Doges e Trottiera que anunciava as sessões do Grande Conselho. Fotografámos a Basílica
as esplanadas, 
o casario ao longe, 
Santa Maria della Salute em contraluz, 
a Dogana di Mare
Santa Maria Maggiore...

Depois, a pé, até ao hotel, passando de novo, por Rialto.

No último dia, procurámos o La Fenice

o teatro que foi construído no séc.XVIII, sendo o mais antigo da cidade, destinado a ser usufruído por todas as classes sociais. O nome vem-lhe do renascimento das cinzas, 
depois do incêndio do séc.XIX. Sofreu um outro em 1996. Fica situado na confluência do rio Verona,
rio dell'Albergo 

e rio delle Veste 
que passa nas traseiras do teatro e por onde chegavam as gôndolas dos espectadores mais afortunados.
A ponte de pedra 
que liga o teatro à Calle dell Piovan e a pequena praça têm o nome de Maria Callas.
Continuámos o passeio pela Calle dell Piovan, encontrando a igreja de Santa Maria del Giglio 
(giglio=lírio) ou Zobenigo, com uma exuberante fachada barroca financiada pela família Jubanico no séc.IX e a igreja San Moisé
de 1668, também barroca, que os venezianos dizem ser a mais feia da cidade.
San Marco recebe-nos para as últimas fotografias, com a maré a subir.

Visitámos ainda alguns locais da Biennale, 
passámos na Ponte dell'Accademia e almoçámos, como ontem, no "Corner Pub". Pertinho, o Palazzo Vernier dei Leoni
do séc.XVIII, um edifício branco , baixinho, que sobressai quando estamos em cima da ponte dell'Accademia. A verdade, é que o projecto era de um edifício de quatro andares, mas não foi completado. Foi comprado pela milionário Peggy Guggenheim, que auxiliou muitos artistas inovadores, abstractos e surrealistas. Casou em segundas núpcias com Max Ernst. Da sua colecção fazem parte obras de Picasso, Miró, Dali, de Chirico, Magritte, Mondrian, Kandinsky, Jackson Pollock.
Virada para o Grande Canal, o "Angello della Cittá" 
de Marino Marini que já conhecíamos do Museu Getty em LA: um homem a cavalo, negro, de falo erecto.

Voltámos à ponte de madeira, 
pegámos nas malas e, mesmo ali, apanhámos o vaporetto para Piazzale Roma, onde nos esperava o carro para a visita ao resto do Veneto!


*****


9 comentários:

São Rosas disse...

O "Angello della Cittá" ficava muito bem a servir de cabide no espaço da minha colecção.

olinda Rafael disse...

Revisitei Veneza!
Relembrei a parte descritiva que a Daisy tão bem transmite.
Senti-me por lá, pois foi na década de 70 que, por lá andei com o JóJó,Ana cristina e Couceiro...
Recordar é viver,dizem e eu também!

DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Belo, belo!!!!

São Vaz disse...

Obrigada por mais esta viagem a uma cidade tão fascinante que não conheço.beijinhos aos dois .

Elizabeth Oliveira disse...

Très belles photos, j'y étais plusieurs fois, j'adore

celeste maria disse...

Quem visita Veneza não esquece!
Como sempre, uma reportagem de luxo.
Hoje pude saber mais detalhes, pelas descrições da Daisy!

lili disse...

Mais uma vez venho agradecer esta viagem. Já estive em Veneza várias vezes mas é sempre um prazer viajar e relembrar certos locais convosco.
As descrições e as fotos são sempre de 1ª água.
Um abraço e muitos beijinhos.

LILI

Susana Dourado disse...

Olá Alfredo!!! Também conheço Veneza adorei... ;)A tua foto dá para fazer um quadro está lindíssima. Bjs Grandes da Susana

candita disse...

gosto muito.um ainda vou dar uma voltinha a Veneza...
candita