PIÓDÃO
14 Março 2013
De Aveiro até Coimbra, pela A1. Seguimos pelo IP3, IC6 em direcção a Arganil. Depois, já começam as indicações de Piódão.
A Serra do Açor deslumbra-nos, com as suas aldeiazinhas nos vales verdes.
E a bela Serra da Estrela, branquinha de neve, ao fundo, o ponto mais alto de Portugal.
A estrada serpenteia. O meio do dia ainda não chegou, mas o sol brilha. Nos muros onde ainda o calor não chegou, os pingentes de gelo, quais cristais, forram-nos e criam fantásticas esculturas.
Algumas folhas verdes foram surpreendidas e ficaram congeladas, durante a noite.
O frio afronta-nos, quando saímos do carro, enganados pelo brilho do sol.
E, finalmente, numa curva da estrada, começa a vislumbrar-se a encosta verde com o maciço das casas negras de xisto,
onde sobressai a brancura da igreja.
Piódão é uma das 18 freguesias do Concelho de Arganil, nas imediações dos Montes Hermínios, na Beira Interior.
A povoação medieval vem do séc.XIII, com o nome de Casas de Piódão e estava no local onde foi construído um mosteiro da Ordem de Cister, uma abadia de monges São Bernardo, tendo sido, então, transferida para o local actual.
"Piódão" vem da palavra "Piodam" que significa gente que anda a pé. E andaram a pé durante muitos anos. Pastores, agricultores, mineiros, apicultores, criadores de cavalos e comerciantes, desapareceram com a emigração forçada, restando uma centena de pessoas que vive do turismo desde 1972, altura em que se construiu a estrada de acesso a 12km. Só em 1978 teve energia eléctrica, altura em que se alcatroaram os 12 tormentosos quilómetros onde nem os carros de bois cabiam.
O isolamento era tanto que se conta que foi aqui que se refugiaram os assassinos de Inês de Castro procurados pelo desesperado Dom Pedro.
É impossível resistir a fotografar, a cada curva da estrada, o maciço xistoso.
Chegamos, por fim, ao largo da igreja
rodeado pelas lojas de artesanato, o café, o restaurante, o turismo e o museu. Enfim, onde tudo acontece. Quer dizer, a um dia de semana de Inverno, onde se encontram alguns dos pouco mais de 100 habitantes.
É aqui que tem que se deixar o carro, porque todo o passeio é, obrigatoriamente, feito a pé por caminhos difíceis lajeados de xisto e ardósia.
Começámos pela Igreja Matriz, do séc.XVII,
dedicada ao culto de Nossa Senhora da Conceição que abriga uma escultura em calcário de uma Virgem da Conceição da segunda metade do séc.XVII. Pena não se poder fotografar o interior. Reconstruída ao gosto Barroco, Eclético e Românico, no final do séc.XIX por iniciativa do cónego Manuel Fernandes Nogueira.
As quatro belas torres cilíndricas são rematadas em cones.
Encostada a meio da fachada sul, a torre sineira de planta quadrada.
Nichos com pequenas esculturas de santos,
enfeitam a fachada que sobressai ao cimo da escadaria.
A cor azul debrua as janelas brancas, cuidadas nas suas cortinas rendadas.
Também as portas exibem a mesma cor.
Diz-se que, devido ao grande isolamento da aldeia, a chegada de uma lata de tinta azul à única "venda" da terra, causou uma certa sensação e vontade das pessoas de alegrar o tom escuro das casas. E manteve-se até hoje a tradição, embora haja alguns que fazem questão de ser diferentes.
Outras, mantêm-se como as originais.
A própria roupa a secar dá uma pincelada colorida nas estreitas ruas.
Subindo sempre, damo-nos conta de algumas casas em degradação.
Não é fácil viver aqui. Alguns desistem. Entre as pedras dos degraus dos caminhos, as ervas espreitam, alimentando-se com o sol e a humidade.
E a Igreja de São Pedro,
branquinha, espera-nos, singela, encimada pela cruz e com o sino pronto a tocar. Na frontaria, escrito na laje: "S. Pedro o bom amigo do Piódão padroeiro ajudai-o cá na terra que lá no céu é porteiro.
Está em obras de restauro, para receber os turista de Verão.
A subida é custosa,
mas pode parar e tomar algo reconfortante no "O Fontinha", restaurante e snack-bar, bem encaixado nas ruas estreitas.
E quem sobe, tem que descer.
Aproveita-se para mais planos de fotos e enquadrar o novo hotel da INATEL debaixo do belo candeeiro da iluminação pública.
E para ouvir o barulho calmante das águas na cascata.
Subimos de novo à procura da Capela das Almas que passa despercebida.
É, realmente, muito simples.
Dentro, conseguimos ver "as Alminhas" penando nas chamas do Inferno.
Julgava que estariam no Purgatório. Mas se isto é Purgatório... como será o Inferno?!?
Bem, depois disto, só um belo cabrito da serra, assado no forno, no restaurante "Piódão XXI".
De regresso a casa, ainda parámos na curva da estrada para uma última foto.
7 comentários:
Maravilha (como sempre)!
As plantas revestidas a gelo são um fenómeno de extraordinária beleza dessa zona: o sincelo («sem céu»), provocado por geada que acumula diversas noites por não chegar a derreter durante o dia.
Se procurarem no Google por "sincelo", verão imagens de árvores que chegam a partir com o peso do gelo (tal como acontece com fios eléctricos e de telefone).
Minha visita à Terrinha não contemplou Piódão, pelo que me penitencio. Ao voltar, certamente visitarei esta bela aldeia, de que tive aqui as informações necessárias.
Abraços.
Apesar de já ter ido ao Piodão por três vezes, nunca fui em época de inverno, pelo que achei tantas belas imagens!
Desconhecia a origem do nome Piodão e são sempre uma mais valia as referências no texto da Daisy.
Grata pela partilha, Alfredo.
Também já fui ao Piódão mas foi no Verão!
Adorei fazer esta visita convosco. As fotografias a informação...
Obrigada ao casalinho pela partilha
Muito obrigada por mais este magnifico passeio, cá dentro também temos coisas lindas para ver.
Jorge
Mais uma maravilha! Obrigado!
Mais uma vez uma maravilha.
Muito obrigada pelas bonitas fotos e pelas explicações. Estamos sempre a aprender convosco.Beijinhos à Daisy e grande abraço para ti, Moreirinhas.
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