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quarta-feira, 20 de março de 2013

NEPAL - KATHMANDU - BAHKTAPUR - PATAN


NEPAL
05  a 08 de Agosto 1996

O Nepal, na altura, era uma monarquia constitucional, com 140.000 quilómetros quadrados e uma população de 17 milhões de habitantes. Tornou-se República Parlamentarista em 2008, após acordo entre partidos políticos e facções guerrilheiras rebeldes (contra o autoritarismo do último rei, Gyanendra).




No topo do Mundo, na encosta dos Himalaias, limitado a norte pelo Tibete e a leste, sul e oeste pela Índia.
É aqui que se encontra o pico mais alto do Mundo, com 8.848 metros, o Everest, na fronteira com o Tibete. Tem 8 das 10 montanhas mais altas do Mundo.
Os nepaleses são descendentes de migrações da Índia, Tibete e norte da Birmânia e Yunnan (China).

Tem a única bandeira do Mundo que não é quadrangular. É a junção de duas, dois triângulos que provêm de diferentes partes da antiga dinastia Rana.
A maior parte do país é agrícola e o turismo é a sua maior indústria.
Dentro das maiores atracções está a herança do Hinduismo e do Budismo, nomeadamente o local de nascimento de Sidarta Gautama (Buda), Lumbini, no sul do país.
Kathmandu, Patan (Lalitpur) e Bahktapur são parte integrante do chamado Vale de Kathmandu, que é Património Mundial da Humanidade da UNESCO.

KATHMANDU é a capital do Nepal.
Do aeroporto até ao hotel (Everest hotel), fomo-nos apercebendo de algumas diferenças em relação à Índia. Menos movimento e, aparentemente, menos pobreza e sujidade. Mas à medida que nos vamos entrosando no centro da cidade, vamos encontrar a degradação e os bairros de lata à beira do rio, típico das grandes cidades onde desembocam os menos favorecidos... das montanhas, neste caso.

A principal diferença é não haver muros para ver os templos. Estes, encontram-se por todo o lado fazendo, naturalmente, parte do quotidiano.
À beira da estrada, os camponeses expõem os seus produtos, 
trazendo as crianças, que dormem onde podem.

No topo do Vale de Kathmandu, está o Swayambhunath
um complexo religioso também conhecido por Templo dos Macacos porque, neste lugar, na parte noroeste do templo, vivem macacos considerados sagrados.
Segundo o Swayambhu Purana, todo o Vale foi, em tempos, preenchido por um enorme lago onde crescia a flor de lotus. Manjusri cavou uma garganta em Chovar, nascendo o vale e a flor de lotus transformou-se numa colina onde foi construído o Swayambhunath stupa.
365 degraus separam-nos do primeiro templo,

o Vajra
Atrás, a redonda e grande cúpula branca do stupa.

A cúpula branca na base, representa o Mundo inteiro. Os 13 pináculos no topo, simbolizam que os sentimentos vão para os 13 estádios espirituais. Nos quatro lados da torre por cima da cúpula branca, de cor dourada, estão as quatro faces de Buda com os olhos semi-cerrados a observar as coisas externas; o terceiro olho, entre as sobrancelhas, vê as coisas interiores e por ele Buda envia pensamentos e ensinamentos celestiais aos crentes. Abaixo dos olhos, como um nariz, está o símbolo da "Unidade", na língua nepalesa.

Dentro da cúpula, estão relíquias de Buda.
Os crentes circulam à volta, rezando enquanto fazem mexer as rodas de meditação.

Daqui, tem-se uma vista panorâmica da cidade.

No Centro Histórico, andámos a pé, admirando a cidade que parece toda construída de madeira trabalhada com belos recortes, templos por todo o lado e muitos vendedores de fruta. Os cheiros envolvem-nos, com predomínio do açafrão.

Os únicos veículos são bicicletas e não nos sentimos tão inseguros como na Índia.

O centro é a Praça Durbar, nome que é comum às praças principais das três cidades que compõem o Vale. É onde fervilha o povo e os visitantes que,
além de nós, nesta altura, são nulos. Mas nos anos 60 do séc. XX, quando o fumo da cannabis era livre, os hippies pululavam e passavam os dias nas escadas dos templos.

É nesta praça que se situa o Palácio Real e onde os reis eram coroados.
Hanuman Dhoka
é o templo do Macaco Albino, um imenso palácio real do séc. IV, com um belo portão de entrada e a estátua de um macaco coberto por uma túnica vermelha.
O Templo de Shiva, Manju Deval, de três andares, com telhados e escadaria cobertos de ervas, contrastando com o vermelho do arenito.

Mais pequeno, o Taleju Temple
de paredes brancas onde sobressaem as janelas de madeira trabalhada.
O Kumari Bahal é a Casa da Deusa Viva
encarnação da Deusa Taleju, um edifício vermelho de três andares, com janelas de madeira esculpidas ao estilo Budista Vihara, de 1757.

A Deusa Viva 
é escolhida entre as meninas de três a cinco anos filhas dos súbditos mais ricos, principalmente joalheiros. As crianças são sujeitas a provas de resistência psicológica incríveis, como acordar com a cabeça de um animal morto na própria cama. Só aquela  que mostra grande coragem é a escolhida. Depois, é enclausurada no palácio, educada por sacerdotisas, afastada da família e aparecendo em ocasiões especiais, enfeitada como a Deusa.
O seu reinado acaba quando aparecem as primeiras regras menstruais. Depois disso, é livre para regressar à família e à vida comum. Mas a sua vida não é, normalmente, nada comum, pois não arranjará marido porque os homens têm medo dela por causa das lendas que se criaram, entre elas a de que se transformam em serpentes no acto sexual!... A maioria acaba num mosteiro de recolhimento.

A cerca de 11 quilómetros, está o Bodhanath

de 36m de altura, um dos mais sagrados stupa do Nepal e um dos maiores do Mundo. À volta, foram construídos mais de 50 mosteiros tibetanos, desde 1959, pelos refugiados do Tibete que aqui se instalaram quando o seu país foi invadido pela China.



Pequenas lojas misturam-se com os templos. 

A cor, dentro, enfeita deuses e deusas. 


À volta do grande stupa, as rodas de orações, que também experimentámos.
Situado no trajecto da antiga Rota da Seda, foi provavelmente construído no séc. XIV, depois das invasões mughal e é local de culto de muitos peregrinos.

A alguns quilómetros, fica o Templo de Pashupatinah, um dos mais importantes templos hindus do Mundo, dedicado a Shiva, nas margens do rio Bagmati.

Antes de chegarmos ao templo, passamos por bancas coloridas onde se adquirem as oferenda para os deuses e para a cremação.

Foi construído no séc. XVII no local onde existiu outro que foi consumido pelo caruncho (cupim). À sua volta foram construídos outros templos, tornando-se uma amálgama de edifícios onde se destacam os dois telhados de cobre revestidos a ouro do pagode, com o pináculo de ouro, símbolo do pensamento religioso.

Em frente, junto do rio, os ghat de cremação. 

É aqui onde são cremados os membros da família real. O cheiro é intenso e, por isso, preferimos observar o complexo do outro lado do rio.
É local de peregrinação de milhares de hindus a esta manifestação de Shiva Pashupati, Senhor dos Animais.
Os Sadhu ou Homens Santos 

seguem o estilo de vida de Shiva e pintam os corpos com cinzas, usam a tika ao lombo e não cortam o cabelo. É suposto que se dediquem à oração e sobrevivam apenas com o que lhes é dado, não utilizando dinheiro... mas fomos surpreendidos com o pedido de "dólar!...", quando fizemos as fotos.

BAHKTAPUR fica a 14 km de Kathmandu e a 1401 metros de altitude. Cidade medieval, cativa pela sua arquitectura e arte tradicional em cerâmica, trabalhos em madeira e têxteis.
Cobra-se a entrada que se faz por portão de pedra 
e os cerca de quatro quilómetros quadrados são interditos ao trânsito automóvel.
Desemboca-se na Praça Durbar 
e surpreende-nos a grande quantidade de pagodes, templos e palácios.
O Templo Nyatapol 
é um pagode de cinco andares construído em 1702 e está ao cimo de uma escadaria de cinco patamares, cada um ladeado por 2 lutadores, 2 elefantes, 2 leões, 2 grifos e 1 tigre e 1 leão (Baghini e Singhini). Cada par é considerado dez vezes mais forte do que o imediatamente abaixo. O par de lutadores, é dez vezes mais forte do que qualquer homem.
Em frente, fica o Café Nyatapol,
onde almoçámos. Da janela, tem-se vista sobre a praça. A Coluna do Rei Bhupatindra Malla 
em adoração, magnífica, em frente ao Palácio das 55 Janelas
construído em 1427 e posteriormente remodelado por ele próprio. As janelas são primorosamente talhadas em madeira.
O Templo Batsala
de pedra é famoso pelo seu sino de bronze colocado pelo rei Ranjit Malla, em 1737, e com detalhes elaborados.
O Templo Pashupati 
é réplica do outro famoso nas margens do rio Bagmati e é conhecido pelas esculturas eróticas.
O Templo Bhairab Nath, estilo pagode, dedicado a Shiva.
O Templo Dattatrya, de três andares, foi construído, segundo a crença popular, com o tronco de uma só árvore, da mesma época do Palácio das 55 Janelas.

Na descida, encontrámos campos de arroz 

e a cannabis sativa que cresce, selvagem, nas encostas.

O Templo de Dakshinkalidedicado à Deusa Kali,
de seis braços, é onde se fazem sacrifícios animais, particularmente gatos e bodes não castrados. Fica a 22 km de Kathmandu.
Atravessa-se um espaço aprazível, 
muito verde, onde se vêem numerosas bancas coloridas com as mais variadas oferendas, desde os pós coloridos aos vegetais.

No meio das vendedoras, encontrámos a cara mais bonita do Nepal, que timidamente se deixou fotografar.

A paz acaba quando se visualiza o sangue dos sacrifícios.
Demorámos pouco tempo.

Entre Bahktapur e Patan, fomos ver a Garganta de Kathmandu
uma zona muito bucólica, muito verde e aprazível. De uma ponte suspensa, olhámos a garganta do rio.
Diz a lenda que a cidade estava submersa e Deus, com uma espada, abriu a garganta, para que a cidade aparecesse... e que se a garganta fechar, Kathmandu ficará, de novo, debaixo de água.
Ao longe, um templo com ghat crematório.

A terceira cidade do Vale de Kathmandu, é PATAN.

O seu nome antigo, é Laliltpur que significa "Cidade de beleza".
Fica a 5 km de Kathmandu, e é conhecida pelo património cultural e artesanato de metal, pedra e madeira.
Tem mais de 600 templos espalhados pelas suas ruelas.
Fundada no séc. III pela dinastia Kirat, é a mais antiga cidade do Vale.
Diz a lenda que o imperador Asoka, da Índia, quando visitou o Nepal, com a sua filha, mandou construir 5 stupa: quatro à volta de Patan e um no centro.
Existem mais de 1200 templos budistas na região. Destes, sete monumentos fazem parte da lista do Património Mundial da UNESCO desde 1979.
Foi desta cidade que saiu o maior número de artistas e artesãos do Nepal.
A sala de visitas é, claro, a Praça Durbar
repleta de templos, belos pagodes de dois e três andares, a Coluna de Bhupatindra Malla 
e muitas bancas de artesanato.
O Palácio dos Governantes Malla é de 1734 e, a seu lado, está o templo de três andares, Degutale.

Mahabouddha Temple, 

é um templo de pedra coberto de telhas de terracota, dedicado ao Buda das 1000 incarnações, inspirado no maior templo Bodhgaya na Índia e levou quatro gerações a ser construído.
Kumbheswor, é o templo de Shiva, 
com duas lagoas cujas águas se crê virem de Gosaikunda.
O Palácio da Kumari, a Deusa Viva, é o Rudravarna Mahavihar-Ha Baha.

O chamado Templo de Ouro, Hiranayavarna Makavikar

foi construído no séc.XV e é caracterizado por ter uma enorme quantidade de ouro e prata cobrindo algumas estátuas. Também é conhecido por Templo da Serpente.

Na última noite, tivemos um espectáculo de danças nepalesas, no salão do hotel.

E no dia da partida, de manhã, enfrentando uma chuvinha incómoda, demos um passeio pelo centro, sem guia, a pé, conseguindo fugir à insistência dos condutores de riquexó.






19 comentários:

PAULA RAPOSO disse...

Ainda não desisti de ir...um dia!

ALCINA FERNANDES disse...

Sempre bonitas as vossas reportagens e, com elas, também se aprende e abraça-nos o desejo de também viajar. Talvez um dia destes.

Isabel Maria (Ló) disse...

Belissima lição de arte e cultura nepalesas, como aliás já nos habituaram. Neste caso, só o escrever os nomes esquisitos deve ter dado um trabalhão. Gostei muito

Cristina Borda D'Água disse...

Vou fazer o malote, penso embarcar no "vôo" das 23:30!

São Rosas disse...

Então e essas esculturas eróticas do Templo Pashupati, onde estão? Ahn?...

Maria Julia disse...



Sem dúvida, uma fascinante viagem.

Passeamos convosco e ainda apanhamos, com um "banho de cultura", de cada local.

Lembrei-me do livro, que me marcou, "A Viagem ao Mundo da Droga".

Obrigada Alf e Daisy.

Beijinhos.

Cristina Borda D'Água disse...

Já "Aterrei"!!! Fabuloso Alfredo Moreirinhas! Até à próxima viagem!

Alfredo Moreirinhas disse...

São Rosas,
Das fotos que temos nos álbuns que tive de digitalizar, não encontro. Nessa altura ainda não tinha máquina digital e não encontro os negativos!

São Rosas disse...

Encontrei algumas fotos na net com referência a Pashupati. Só que li também que este é um nome que dão a um deus... e podem não ser imagens desse templo.

Uma neste artigo:
http://www.drukpabrasil.org/2011/05/pashupati-e-cavernas-de-tilopa-e-naropa/

Estas fotos:

http://www.dijitalimaj.com/alamyDetail.aspx?img=%7B13CCEC74-8954-4504-92CE-5732157E73C5%7D

http://www.flickr.com/photos/dey/100006038/

http://www.flickr.com/photos/briansearwar/3129415196/

http://www.flickr.com/photos/jungle_boy/2886132433/

e aqui está um artigo com uma foto extraordinária (clicando amplia) de Pashupati Mandir:

http://pianofortephilia.blogspot.pt/2011/12/images-of-nepal-bhaktapur-and-patan.html

Maravilha...

quito disse...

Sempre tive uma certa curiosidade sobre este país longínquo e misterioso. Até as próprias montanhas, pela sua grandiosidade à escala universal, deixam no viajante um travo de inquietação.
Bela reportagem, como sempre. Muitos contrates e costumes ancestrais, em que impera uma certa crueldade. A Deusa Viva, será um desses casos.
Mas é um documento excelente este, que os nossos amigos nos trazem.
Se eu gostava de ir ao Nepal? Talvez. Mas falta-me a capacidade para conseguir sobreviver em cultura tão diversa da minha. E é por isso que mais valor dou aos meus amigos Daisy e Alfredo ..

Luís Arménio Ramos disse...

Uma lição excepcional sobre um País,desde os seus costumes,maneira de viver,seus Templos,a história da sacerdotiza é bastante forte,ainda há coisas muito estranhas no Mundo.
Resumindo gostei de ver e ler pois desconhecia totalmente.Muito bom!

Jorge Castilho disse...

Obrigado, Alfredo, por mais esta "viagem" que me proporcionas.

Também para mim, este é um dos destinos sonhados desde a juventude. Mas provavelmente já lá não vou a não ser através das vossas belíssimas imagens e excelentes comentários.
Grande abraço para ambos, com muita amizade, do

Jorge

Elizabeth Oliveira disse...

Merci, bisous

Saint-Clair Mello disse...

Sigo seus passos e não me canso. Há lugares tão distantes, que preferível é vê-los pelos olhos dos amigos. Bela viagem!

Odete Tavares disse...

Obrigada, SEMPRE, pela partilha de lugares onde certamente nunca irei (ao Nepal não vou de certeza...!) Beijinhos,
Odete

olinda Rafael disse...

Apenas hoje vos visitei para vos acompanhar nesta viagem...
Como sempre aprendi o que tão bem é explicado pela Daisy e fotografado por vós.
Cultura completamente diferente da nossa e também com tantos problemas de toda a ordem...a peservidade a que são submetidas as crianças é tão desumana e arrepepiei-me de tristeza!
E já cá canta mais uma viagem de longo percurso para mim...~
Beijinhoa,amigos!

celeste maria disse...

Gostei de ver os amigos Daisy e Alfredo a viajarem pelo Nepal!
Um país cheio de contrastes. Com tanta cor e tanta miséria!
Monumentos grandiosos!
Obrigada, amigos.

Titá disse...

Gostei de ver sobretudo porque fiquei com uma ideia de um destino que não faz parte dos meus planos. Há algumas semelhanças com a India, acho eu. Confesso que não me entusiasmou. Por isso o meu obrigada por mais esta viagem, Tranquila e sem custos.

DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Calmamente vi e li tudo o que estava escrito!
Obrigado!