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sábado, 11 de fevereiro de 2012

POLÓNIA - Varsóvia

NA ROTA DE CHOPIN

7 a 10 Outubro 2010


Foi ideia da Leninha e do Altino, que conhecemos na Turquia e com quem nos identificámos de imediato. A música é um dos interesses comuns, Chopin um compositor que muito admiramos e o ano em que se comemoram os 200 anos do seu nascimento foi a desculpa para visitar Varsóvia, onde decorria a Competição de Piano 2010.
O voo foi muito cedo, o que nos deu oportunidade de ver o nascer-do-sol a partir do avião, depois deste ter passado uma densa camada de nuvens.
Chegámos ao Lotnisko Chopina, Aeroporto Chopin, às 13 horas e 25 minutos, onde nos esperava Agnieszka, a guia, que nos surpreendeu com um português quase sem sotaque que aprendeu na Universidade de Varsóvia.
VARSÓVIA é a capital da Polónia, com mais de 1,6 milhões de habitantes na sua área urbana. A Cidade Velha ou Stare Miasto, burgo amuralhado que data das épocas medieval e renascentista, foi meticulosamente reconstruída. As suas ruas estreitas, reservadas a peões, são animadas por numerosos cafés e bares, que invocam a intensa vida comercial deste centro desde 1596. A reconstrução da Cidade Velha, depois da destruição total durante a Guerra,
foi baseada nos quadros de Canaletto.
Criou-se uma espaçosa cidade moderna fora dos limites da Cidade Velha.
Às 17 horas tivemos o primeiro contacto com a música de Chopin, no National Philarmonic Hall,
edifício com mais de 100 anos, onde decorria a competição de piano. Do júri faz parte Nelson Freire, conhecido pianista brasileiro que já ganhou um "Viana da Mota", em Lisboa. Ouvimos Kana Okada do Japão, Natalia Skolovskaya da Rússia, Andrew Tyson dos USA, Meng-Sheng Shen da China, Denis Zhdanov da Ucrânia e Gracjan Szymczac da Polónia. Todos muito bons. No intervalo, fotografei alguns dos cartazes do evento, de anos anteriores, em exposição.

Jantámos no "Sekret" na parte velha da cidade,

numa cave com uma decoração original.

 

Na manhã seguinte, fomos ao local de nascimento de Chopin, Zelazowa Wola, uma pequena vila na região de Mazovian. O pai de Chopin era tutor dos filhos do conde Skabek que era dono da vila e a mãe do compositor administrava a casa.
Viviam num anexo da mansão
que sobreviveu até hoje, enquanto o resto da mansão ardeu durante as Guerras Napoleónicas. Montou-se uma estrutura museológica à volta, com belos jardins.


Em Lowicz fomos recebidos no que resta do Castelo dos Primazes da Polónia, por Kasia e Wojtek com o típico pão e sal
e um tiro de canhão!
Os nossos anfitriões são artistas plásticos
e para poderem reconstruir o castelo, além de venderem as pinturas e os quadros feitos com penas de galinha (escolhem as galinhas que compram pela qualidade das penas e não pelo peso...), servem refeições típicas aos turistas.
Trocámos presentes: recebemos compotas e demos Vinho do Porto, Licor Beirão e ovos moles de Aveiro.
Seguimos para Bróchow, a 11 quilómetros de Zelazowa, para visitar a igreja fortificada de estilo renascentista de St. Roch,
onde Chopin foi baptizado e onde os pais casaram.
Com duas torres monumentais, de tijolo vermelho, encimadas por cruzes e sobrevoadas por grandes corvos, a igreja estava fechada.
Mas informaram-nos que o padre viria rezar missa e esperámos para a ver por dentro.
Regressámos ao hotel e às 19 horas dirigimo-nos ao Palácio Raczynski,
reconstruído em 1786, onde Jerzy Romaniuk, professor de música na Universidade de Varsóvia, nos brindou com um concerto privado de cerca de uma hora, numa sala magnífica.
No final, depois de algumas palavras com o pianista,
fomos a pé até à bela Praça do Mercado da Cidade Velha, onde o frio não deixava que os transeuntes fossem muitos. Refugiámo-nos num restaurante quentinho para provar os "pierogi", uma espécie de raviolis gigantes com recheios diversos.

No dia seguinte, começámos cedo a caminhada da Rota de Chopin em Varsóvia, começando no Cemitério Powazi onde estão os túmulos dos pais do compositor.
Continuando, passámos em frente ao Monumento Umschlagplatz na via da Memória Judaica,
descerrado em 1988, assinalando o local do antigo ramal ferroviário em Ulica Dzika, onde mais de 300.000 judeus do Gueto de Varsóvia e outros foram carregados em vagões de gado para os campos de extermínio. Entre este monumento e o dedicado aos Heróis do Gueto de Varsóvia, situa-se o Trilho do Martírio e da Luta Judaicos assinalado por 16 blocos de granito ostentando inscrições em polaco e idiche e a data 1940-1943. Cada bloco é dedicado à memória de 450.000 judeus assassinados.
Na frente do Monumento aos Heróis do Gueto de Varsóvia, está um relevo que simboliza a Marcha para a Morte.

Do outro lado, os relevos representam homens, mulheres e crianças debatendo-se para fugir do Gueto em chamas.
O novo museu em construção, em frente, é dedicado à História dos Judeus Polacos e pode ver-se uma interessante estrutura que representa as águas do Mar Vermelho a separarem-se para os judeus fugirem do Egipto.

Cabe, agora, lembrar a enfermeira Irena Sendler, que fazia parte da Resistência Clandestina Polaca e que conseguiu salvar muitas crianças judaicas anestesiando-as e fazendo-as passar por moribundas de tifo,
conseguindo levá-las para fora do país e entregá-las a pessoas que as adoptaram. Descoberto o esquema pelos nazis, foi presa mas os judeus conseguiram subornar os alemães e ela viveu escondida na cidade, morrendo há poucos anos com noventa e muitos!
Com a reconstrução, a cidade conseguiu ressuscitar o espírito de cidade medieval.
A Igreja do Espírito Santo,
de madeira inicialmente, foi construída junto do Hospital Municipal do séc.XIV, destruída durante a invasão sueca e reconstruída entre 1707-1717 em estilo barroco. Foi queimada durante a Revolta de Varsóvia e reconstruída em 1956.
Entrámos pela Porta da Barbacã construída em 1548 segundo o projecto de Jan Batista Venecia e reconstruída em 1953/54.
A Praça do Mercado da Cidade Velha é bem o espelho da cidade medieval.
Fundada nos finais do séc.XIV, era o lugar de festas e execuções. Circundada por belíssimas casas do séc.XVII,
foi-lhe acrescentada a escultura da Sereia de Varsóvia
que se encontra no escudo da cidade.
A Igreja de Santa Maria da Piedade,
dos Jesuítas, ao lado da Catedral, construída em estilo renascentista tardio entre 1609-1626, foi financiada por Segismundo III e reconstruída em 1956. Tem um altar barroco da Senhora da Piedade, patrona da cidade, coroado em 1973.
A Catedral, Basílica de São João Baptista,
foi construída em estilo gótico no ano 1339, ampliada com naves laterais no séc.XV, destruída em 1944 e com nova fachada desenhada por Jan Zachwatowicz. Tem um crucifixo com cabelo humano de Baryczkowski e uma escultura interessante de São João Baptista.
Na Praça do Castelo, o Castelo Real (Zamek Królewski), do séc.XIII,
foi reconstruído em 1970 e é o símbolo da independência polaca. No centro da praça, a Coluna de Segismundo III Vasa,
a estátua profana mais antiga da cidade (1644), com 22 metros de altura.
A rua mais importante desde a Idade Média é a Rua Krakowskie Przedmiescie.
Percorrendo-a, vamos encontrar o percurso de Chopin. O Palácio Czapski
foi onde se instalou a família Chopin em 1827, num apartamento do 2º piso.
A Igreja de Santa Ana,
mais à frente, foi fundada pela princesa Anna Matowiecka, em 1454, para mosteiro de monges bernardos. Também na mesma rua, a estátua de Adam Mickiewick, ilustre poeta romântico polaco.
A Igreja das Carmelitas Descalças, barroca, de 1661-1682, é dedicada a S. José.
O Palácio Presidencial (Namiestnikowski)
e o Palácio Radziwill
onde Chopin deu um concerto aos 8 anos de idade, embelezam a Rua mais famosa de Varsóvia. Também o Hotel Bristol, o mais luxuoso e caro da cidade.

A Igreja de Santa Maria da Visitação,
uma das mais antigas, estilo gótico era onde Chopin tocava órgão.
Tem um altar barroco e um púlpito muito interessante em forma de barca, com um anjo e uma âncora (esta, símbolo da Resistência Polaca).
Na Igreja da Santa Cruz (Missionária),
barroca, num dos seus pilares, está a urna com o coração de Chopin,
que sua irmã trouxe de Paris (onde o compositor está sepultado), escondido debaixo da saia. Chopin tinha pavor de ser enterrado vivo, em morte aparente, e fez esse pedido à irmã, na hora da morte.
Na praça, ao fundo da escadaria da igreja, o monumento ao astrónomo Copérnico,
em frente à Sociedade Científica, no Palácio Staszic.
A visita ao Museu Chopin foi uma desilusão: muita gente e a anunciada "interactividade" não funcionava ou estava permanentemente ocupada.

No Parque Lazienski
está o Monumento a Chopin do escultor Waclaw Szymanoski (1908) representando o compositor debaixo de um salgueiro, buscando inspiração na Natureza.

Almoçámos tardia e apressadamente perto do hotel, para podermos assistir a mais uma mostra da Competição de Piano no National Philarmonic Hall
continuando a ficar deliciados com a música e com a qualidade dos intérpretes, com especial relevo para o mais jovem, o russo Daniil Trifonov, de 19 anos de idade.

Jantámos junto da Ópera,
no restaurante "La Bohème" e, na manhã seguinte, por volta das 11 horas e meia, a Agnieszka levou-nos ao restaurante "Literatka", em frente ao Castelo Real, onde antigamente se reuniam os intelectuais e que mantém, ainda, o fascínio e decoração da época.


Tínhamos duas pequenas salas reservadas. Na primeira, assistimos a um recital privado pela pianista Helna Christenko e a soprano Anna Kutkowska que nos deliciaram com canções de Chopin. Na outra salinha foi-nos servido um típico pato com maçã.

Fazendo horas para a partida, a nossa simpática guia, extra-programa, foi mostrar-nos a Cidade Nova.


Fomos até ao miradouro
onde pudemos vislumbrar o rio Vístula, passando pela rua Dwna (Antiga) com arcos coloridos.
Até 1791, a Cidade Nova funcionou como uma cidade independente, com a sua própria municipalidade e igreja. Passámos pela Rua das Escadas de Pedra

com a porta da muralha
por onde saía o lixo da Cidade Velha.
Chegámos à Praça do Mercado da Cidade Nova,
à volta da qual existem casas que, inicialmente eram de madeira e depois de pedra, em estilo barroco classicista com alguns murais realistas socialistas. A Igreja de São Casimiro das Dominicanas,
branca, de interior simples,
tem o túmulo de Maria Carolina de Bouillon exibindo um escudo quebrado e uma coroa a cair no abismo,
alusões ao brasão Sobieski e à morte do último membro da sucessão real.
O tijolo escuro da Igreja da Visitação de Nossa Senhora,
na rua Pryrynek, sobressai, chamando a atenção para a igreja mais velha da Cidade Nova (1411), com vista para o rio.
Quase a chegar à Porta da Barbacã, a Igreja de São Jacinto
que albergava o hospital de campanha durante a Insurreição de Varsóvia e, em frente, a já conhecida Igreja do Espírito Santo.
Depois da Barbacã a Igreja de San Martin dos Agostinhos,
barroca com torre gótica, com os edifícios do convento onde se reuniam os círculos independentes oposicionistas.
E chegámos ao ponto de partida, no "Literatka",
de onde arrancámos para o aeroporto, de regresso a casa.






21 comentários:

São Rosas disse...

Pianos... pianos... pianos... e mais pianos... mas o Chopin não era violinos?!

ihihihihih...

Ana Isabel disse...

Uma belíssima reportagem sob um (não menos) belíssimo céu azul! Beijinhos para os dois!

Maria Julia disse...

Um "banho" de cultura e deslumbre!


Obrigada Alf e Daisy.

Beijinhos.


Juju.

cota13 disse...

Meninos, assunto.
Obrigado.
Tonito.

carlos costa freire disse...

Não podia ser melhor numa tarde de aninhos estar a ler o teu Blog e ficar deslumbrado com o vosso trabalho sobre a Polónia como diz a JuJU um banho de cultura.
Obrigada Daisy e Alfredo

Ricardo R disse...

Mas não chegaste, como o outro, o Provedor de tanta misericórdia, a assistir ao celebérrimo concerto para violinos de Chopin, pois não?

Alfredo Moreirinhas disse...

EXPLICAÇÃO:
Para os meus amigos e visitantes do Blog, que não são portugueses, preciso esclarecer o seguinte:
Houve um secretário de Estado da Cultura do Governo de Cavaco Silva, que, inquirido sobre a sua obra musical preferida, respondeu ser ela um Concerto de Violino de Chopin.
Por isso estas piadas de alguns amigos!...

celeste maria disse...

E, pronto, acabou mais uma deliciosa viagem, desta vez à Polónia e às memórias de Chopin!
Encantada e mais informada.
Agradeço à Daisy e ao Alfredo a sua partilha.
Voltem sempre, que nós aguardamos os próximos capítulos!

DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Olha ficámos juntos!!!

Encantado e mais informado.
Agradeço à Daisy e ao Alfredo a sua partilha.
Voltem sempre, que nós ambos os dois aguardamos os próximos capítulos!

lili disse...

Muito obrigada por mais esta viagem
que desta vez teve uma motivação diferente.
A intenção era ouvir Chopin, mas o proveito foi também ver a cidade monumental de Varsóvia.
Adorei a reportagem.Um abraço para os dois.
LILI

olinda Rafael disse...

Olha,uma viagem que gostaria de fazer!...
Quem sabe,um dia por aí!

RI-RI disse...

Mais uma aula de História belamente ilustrada. Tem música! Obrigado.

ANA MARTINS disse...

Já vi e, como sempre, adorei!

Costuma dizer-se que "por detrás de um homem há sempre uma grande mulher". Eu - que até nem gosto nada da frase! - prefiro dizer que "por detrás de uma grande reportagem está sempre uma grande viagem!"

Beijinhos para os dois!

Ana Rodrigues disse...

Bom .... estou completamente rendida ao teu blog. Estou quase a pensar registar-me nesse mundo digital para poder beneficiar dessas maravilhas...!

Beijinho grande para o casal,

Ana

Carlos Viana disse...

Comemorar os 200 anos de nascimento de Chopin, parece-me uma boa desculpa para visitar Varsóvia.
Aproveitar essa visita para mais uma excelente reportagem, com qualidade fotográfica e a preocupação de transmitir os conhecimentos históricos recolhidos, parece-me de agradecer.
É isso que estou a fazer.

A seguir, temos a Aurora?
Espero bem que sim.
Beijinho e abração.

Saint-Clair Mello disse...

Belíssimo passeio! Sempre tive grande admiração pelo povo polonês, por sua história de resistência às invasões e pela tenacidade com que reconstruiu seu país. Como sempre, as imagens são maravilhosas. Parabéns, mais uma vez, Moreirinhas!

quito disse...

Por vezes faltam as palavras, perante a qualidade e a beleza do que vai desfilando perante os nossos olhos.
Os textos e as fotos, estão bem à altura do evento - bicentenário do nascimento de Chopin.
Ao casal Moreirinhas, temos que agradecer mais este belíssimo momento cultural.
Sempre gostei de ouvir Chopin.Talvez, por lá em casa, estar habituado a ouvir os seus "Noturnos" ...
Um dia, em Palma de Maiorca, tive o privilégio de ver alguns manuscritos de Chopin e um piano em que tocou, aquando da sua estadia ali, por força da doença que o viria a vitimar ...
Bela homenagem, este documento produzido pelo Alf e Daisy.
Obrigado

Nanda disse...

Muito obrigada por partilharem connosco esta maravilhosa viagem.
Foi uma aula espetacular. Vou aguardar pela Aurora Boreal.
Um abraço.

Jorge Neves disse...

Mais uma vez visitei o seu Blog. Não são viagens, são lições de História fantasticas, a forma como apresenta a viagem, como descreve cada facto, gosto muito do blog do moreirinhas. O ano passado eu fui à Suécia Dinamarca e Noruega mas tenho tudo desordenado ainda não organizei as fotos mas foi um passeio interessante.
Cumprimentos
Jorge

Anónimo disse...

Gostámos muito de partilhar convosco esta viagem, sítios magnificos, muita cultura e charme... parabens.

Luís e Fátinha

Daisy Moreirinhas disse...

Irena Sendler não era enfermeira mas assistente social. Salvou centenas de crianças judias a sair do gueto e encaminhou-as para famílias de apoio no lado ariano de Varsóvia. O seu papel na Resistência Polaca está bem contada no livro "Os Meninos de Irena" de Tilar Mazzeo, que aconselho.