Hanoi e Halong
Vietname - Agosto 2006
Embarcámos em Bangkok, a horas, 7.20, em direcção a Hanoi. Teríamos cerca de 25 minuto de voo quando o comandante avisou que íamos regressar a Bangkok por causa de "um pequeno problema técnico"!... Em menos de um quarto de hora, estávamos de novo em Bangkok. Nem deu para apreciar o campo de golfe que existe no aeroporto!... Estávamos deveras assustados, embora nenhum de nós o manifestasse!... Meia hora depois, levantámos voo e a viagem decorreu sem problemas.
A burocracia, nos países ditos comunistas, é assustadora. Já levávamos "visto", mas tivemos que sair da bicha para preencher mais papéis, ficaram-nos com os passaportes para copiar as fotografias que colaram nesses papéis e pagámos 30 dólares cada um e mais 2 dólares por cada scaner da foto do passaporte... Sem um único sorriso!... Um americano, a nosso lado, diz que o obrigaram a sair do país, porque não tinha Visa... e que pedisse responsabilidades a quem quisesse (...).
Esperava-nos o Nang, com um inglês cheio de "zzs" no início das palavras. O condutor é o Cûòng. O nosso transporte é um jeep moderno e confortável.
Atravessámos a ponte sobre o rio Vermelho e dislumbrámo-nos com a arquitectura de influência colonial francesa.
A cidade nasceu na confluência dos rios Vermelho e Duong. Continuou a crescer apesar das invasões das hordas dos mongóis, das guerras com os chineses, das guerras civis, da ocupação francesa e das bombas dos americanos (13 milhões de toneladas de bombas, em todo o Vietname, o equivalente a 450 vezes a energia de uma bomba atómica como a de Hiroshima).
Descansámos cerca de meia hora. Às 14 horas, o nosso guia veio buscar-nos para um passeio pelos "quartiers" de Hanoi, ladeados por frondosas árvores. "Passeio" que foi uma aventura digna de Spilberg! Quem disse que o combóio-fantasma das nossas feiras, é assustador?!? Três bicicletas, com um acento à frente. São os xich' lô ("ciclo"): o guia à frente, eu no meio e, atrás, o "ciclo" do Alfredo. No meio de um trânsito caótico.
Bicicletas, motorizadas (muitas) e automóveis (bons carros. Vi jeeps, um mercedes e um BMW,pelo menos...). Em Bangkok, admirei-me porque não respeitavam as passadeiras dos peões. Aqui, não respeitam peões, riquexós, semáforos (!), nada! Cada um vai-se desenrascando, apitando sempre. Carros e motorizadas apareciam-me à direita, à esquerda, pela frente!... Assustador!...Fomos tirando as fotos que pudemos. Parámos num grande lago
(Lago Hoan Kiem) que já esteve ligado ao rio Vermelho e servia para exercícios da marinha.
O Palácio do Presidente foi fotografado sem nos apearmos do riquexó, um local bem mais calmo.
E o Mausoléu de Ho Chi Minh. Diz-se que Ho Chi Minh queria ser cremado e que as suas cinzas fossem espalhadas.
Deixou isso escrito, mas não lhe fizeram a vontade e conservaram-lhe o corpo, gastando uma exorbitância na sua mumificação e na construção do monumento.
Esta zona é muito bonita e cuidada, com belos edifícios, embaixadas e ministérios.
Os "quartiers" têm edifícios coloniais franceses originais, alguns em muito mau estado. Por baixo, muito comércio. Lojas muito coloridas, muitas motorizadas paradas, barbeiro à porta. As calçadas cheias de mercadorias.
Às quatro horas parámos num desses velhos edifícios, para o almoço que o Nang já tinha encomendado. Despedimos os três condutores e subimos uma estreita escada de madeira. Comemos um peixe especial (que não apreciei...), fresco, frito aos pedaços com ervas de um sabor intenso. O outro prato, era de pedacinhos de bacon frito. Servidos, os dois pratos, com "noodles" de arroz (uma espécie de massa feita com farinha de arroz), um molho adocicado e amendoins. A sopa era uma delícia: creme de farinha de arroz com ovo. Pedimos para cheirar o "nuoc mam", o molho de peixe tão apreciado pelos vietnamitas, feito de peixe fermentado durante mais de um ano. Aquele tinha cinco anos... e era mesmo malcheiroso. Os americanos diziam que sentiam os vietnamitas ao longe pelo cheiro do nuoc mam. E os vietnamitas diziam que adivinhavam os americanos pelo cheiro a tabaco e a chicletes...
A pé, arriscando a vida, por entre automóveis, bicicletas e motorizadas, sempre escudados pelo Nang, fomos até ao Ngoc Son Temple, o templo dedicado ao General Tran Hung Dao, junto do lago Hoan Kiem, da espada e da tartaruga.
A lenda diz que, quando o general navegava no lago, viu uma tartaruga e, então, tirou a espada que era o símbolo da independência do reino e apontou-a à criatura que imediatamente agarrou a espada e desapareceu nas profundezas. Existem, mesmo, tartarugas enormes, no lago.
A lenda diz que, quando o general navegava no lago, viu uma tartaruga e, então, tirou a espada que era o símbolo da independência do reino e apontou-a à criatura que imediatamente agarrou a espada e desapareceu nas profundezas. Existem, mesmo, tartarugas enormes, no lago.
Visitámos um outro templo, o Chùa Trân Quô´c ("pagode protecção do país") com o símbolo suástico, à entrada, que tem o significado de "felicidade e paz para sempre".
Acabámos a volta no Teatro das Marionetas de Água (Mua Roi Nuoc): vários quadros da história, lendas e danças do Vietname, executados por marionetas manejadas na água.
Teve a sua origem no delta do rio Vermelho no século X. Foram os agricultores que desenvolveram uma forma de entretenimento usando o seu meio natural, nas lagoas e nos campos de arroz. Os bonecos são talhados em madeira e pesam entre 10 e 15 quilos. Uma orquestra e cantores vão contando as histórias, algumas muito bem humoradas, provocando o riso dos espectadores. Chamou-me especial atenção o som de um instrumento manejado por uma rapariga, tocado na horizontal e o som era tirado pela maior ou menor tensão que dava à corda (o monocórdio).
Teve a sua origem no delta do rio Vermelho no século X. Foram os agricultores que desenvolveram uma forma de entretenimento usando o seu meio natural, nas lagoas e nos campos de arroz. Os bonecos são talhados em madeira e pesam entre 10 e 15 quilos. Uma orquestra e cantores vão contando as histórias, algumas muito bem humoradas, provocando o riso dos espectadores. Chamou-me especial atenção o som de um instrumento manejado por uma rapariga, tocado na horizontal e o som era tirado pela maior ou menor tensão que dava à corda (o monocórdio).
À saída, o jeep esperava-nos. O Nang e o Cuong deixaram-nos à porta do Hotel Zephir, mesmo no centro da cidade, com o lago Hoan Kiem em frente.
Jantámos no hotel e acabámos a noite no bar, vazio, a ler, escrever e a olhar o trânsito caótico lá em baixo, na rua.
De manhã, no dia seguinte, fizémos a viagem até Halong.
No caminho, passámos por extensões enormes de verdes arrozais.
Cada família tem direito a uma parcela durante um período de 15 anos ( o terreno é do Estado). Fazem cerca de 250 quilos de arroz por 1000 metros quadrados por ano (uma família de cinco pessoas, por exemplo), o que corresponde a 1000 dólares por ano. Desses, 7% são para o Estado, tendo que comprar fertilizantes e tudo o resto necessário ao cultivo. Para poderem sobreviver, criam galinhas, patos e outros animais domésticos.
Cada família tem direito a uma parcela durante um período de 15 anos ( o terreno é do Estado). Fazem cerca de 250 quilos de arroz por 1000 metros quadrados por ano (uma família de cinco pessoas, por exemplo), o que corresponde a 1000 dólares por ano. Desses, 7% são para o Estado, tendo que comprar fertilizantes e tudo o resto necessário ao cultivo. Para poderem sobreviver, criam galinhas, patos e outros animais domésticos.
Um médico cirurgião ( o Nang tem um tio com essa profissão) ganha 110 dólares por mês (doze meses por ano). A saúde é paga. Os velhos têm uma filosofia bastante altruísta: não querem ir para o hospital para não endividarem os filhos. Pagam médico e medicamentos. O pai de Nang tinha uma neoplasia pulmonar e os filhos enganaram-no, dizendo que o médico do hospital era conhecido e não teriam de pagar-lhe e ele, então, aceitou ser internado. Mas tomava muita medicação e ia perguntando: "Quanto custa?" E os filhos: "Pouco...". "Mas quanto?" Teve alta do hospital, foi para casa ainda medicado, mas recusou-se a tomar a medicação. "And go away...", disse o Nang.
O ensino também é pago. Não há uma grande taxa de analfabetismo porque "os vietnamitas têm muito gosto em aprender...". "E quando não têm, mesmo, dinheiro, como fazem?". Nas cidades, toda a gente consegue qualquer coisa. Nas regiões rurais mais afastadas, existem comunidades que ajudam.
O ensino também é pago. Não há uma grande taxa de analfabetismo porque "os vietnamitas têm muito gosto em aprender...". "E quando não têm, mesmo, dinheiro, como fazem?". Nas cidades, toda a gente consegue qualquer coisa. Nas regiões rurais mais afastadas, existem comunidades que ajudam.
Em algumas localidades vimos edifícios bonitos e algumas urbanizações recentes com colunas encimadas por belas varandas, grandes, ao estilo colonial francês. "Quanto poderão custar?". O equivalente a cerca de 200 mil euros. "E quem pode comprá-las?". O guia sorriu. "Tu podes? Ou o condutor?". São ambos freelancer, trabalhando para companhias de turismo (que devem pertencer a pessoas do Governo...). Claro que não. Só membros do Governo.
Chegámos a Halong. Melhor, a Halong Bay ou "Baía do Dragão", que faz parte do Património Mundial da UNESCO.
Fica no Mar da China a 100 quilómetros da China.
São cerca de 1500 milhas marítimas de uma beleza sem igual.
O cais está pejado de barcos parecidos com os dos piratas das Caraíbas.
O nosso era privado. Pequeno, mas muito simpático, composto por uma tripulação de quatro pessoas: o comandante,dois marinheiros (um dos quais também é cozinheiro) e uma jovem sorridente, Hiên.
O cais está pejado de barcos parecidos com os dos piratas das Caraíbas.
O nosso era privado. Pequeno, mas muito simpático, composto por uma tripulação de quatro pessoas: o comandante,dois marinheiros (um dos quais também é cozinheiro) e uma jovem sorridente, Hiên.
Alguns barcos-casas de pescadores que vão vender o peixe aos barcos de turistas. Peixe e marisco, tudo fresquíssimo.
Fizemos uma atracagem na Gruta do Paraíso.
Diz a lenda que começou aqui a história do Vietname. Um homem e uma mulher (não consegui saber de onde vieram... uma espécie de Adão e Eva...) casaram aqui e tiveram dois ovos (?). De um dos ovos saíram 50 mulheres.
Do outro, 50 homens. Os homens foram para o mar e tornaram-se pescadores. As mulheres subiram à montanha e dedicaram-se à agricultura. Casaram uns com os outros e tiveram muitos filhos. Uma vez por ano, os filhos (os vietnamitas) vão à gruta festejar o casamento dos pais.
Diz a lenda que começou aqui a história do Vietname. Um homem e uma mulher (não consegui saber de onde vieram... uma espécie de Adão e Eva...) casaram aqui e tiveram dois ovos (?). De um dos ovos saíram 50 mulheres.
Do outro, 50 homens. Os homens foram para o mar e tornaram-se pescadores. As mulheres subiram à montanha e dedicaram-se à agricultura. Casaram uns com os outros e tiveram muitos filhos. Uma vez por ano, os filhos (os vietnamitas) vão à gruta festejar o casamento dos pais.
Quando regressámos da gruta, a Hiên estava a pôr a mesa. Seriam treze horas quando começou o festim gastronómico. Começámos por grandes caranguejos e camarões, fresquíssimos, pescados e cozidos na altura. Seguiram-se os deliciosos rolinhos de vegetais envolvidos por massa finíssima de farinha de arroz. Pedacinhos de carne de porco frita, batatas fritas, arroz, lulas fritas com legumes. Quando pensávamos que já tinha acabado, veio uma travessa com um peixe semelhante a um pargo grelhado com legumes. Como sobremesa, "dragon fruit" (três fatias de um fruto grande, vermelho por fora, com uma doce polpa branca com pequenas sementes) e chá.
O banquete durou mais de uma hora, com pequenos intervalos para fotografar as montanhas, as ilhotas, os barcos-casas e os pescadores.
O tempo, ameaçando sempre chuva, não ajudou a sublinhar a beleza dos verdes das ilhotas calcárias da bela baía.
Quando chegámos ao porto, o nosso condutor disse que choveu a cântaros em terra.
Regressámos a Hanoi com a sensação de termos vivido mais um dia num dos locais naturais mais bonitos do Mundo.
11 comentários:
Mais uma vez fiquei "presa" à descrição sempre muito realista abrangendo a incomodativa burocracia,o cáos do transito,as lendas e crenças destes povos,as dificuladades económicas reais, etc,mas a vontade enorme que esse povo tem em aprender "tocou-me" profundamente.
As fotografias ilustram a vossa narrativa de uma forma espantosa.
E mais uma viagem que "fiz" na vossa boa companhia...
Olinda
Obrigado Alfredo por mais esta viagem.
Um Abraço.
Tonito.
Meus Amigos:
Como gostei desta nova viagem!Diversas peripécias umas mais tristes outras divertidas e surpreendentes fizeram com que passasse uns minutos muito agradáveis.Aprendi mais sobre esses povos orientais que me fascinam sempre pela sua cultura tão diferente da nossa e depois a descrição tão bem feita pela Daisy e as fotos tão bonitas e ilustrando muito bem toda a narrativa é o que se pode chamar um "must".Só me resta agradecer estes minutos de beleza que me proporcionaram e dar graças por vos ter como Amigos e pedir que continuem a viajar por esses mundos desconhecidos ajudando a divulgar essas maravilhas. Um beijo da LILI.
Claro que nunca estive em Hanoi. Aliás nunca tinha estado...
Agora, quase que posso dizer que já lá estive, tão perfeitas e objectivas as descrições da Daisy.
Ficamos presos à leitura, sem vontade de a abandonar.
Mantemos na mente o que ela escreve, enquanto apreciamos as fotografias do Alfredo, cuja qualidade e arte, já não nos admiram.
Posso por isso contar aos meus amigos que tive a vantagem de passear por aquelas terras de grande beleza, sem ter que preencher formulários chatos e burocráticos, nem pagar os 32 dólares aos antipáticos policias de fronteira...
Nestes regimes ( conheço outros idênticos espalhados ainda pelo mundo ), era mais fácil e menos incomodativo sacarem-nos os dólares sem nos obrigarem a preencher a papelada que só serve de justificativo para nos esportularem o dinheiro.
Rui Felício
Mais um belíssimo "passeio" que me levaram a ver paragens maravilhosas.
Achei engraçados os riquexós!
Mas...a gruta do paraíso faz jus ao seu nome.
Então,os preparativos da próxima estão quase prontos?
Queridos Amigos e Amigas, claro!
É muito gratificante ler os vossos comentários. Ficamos muitos contentes em saber que vocês gostam das nossas viagens. A próxima que virá para aqui, será Konya e Antalya.
A próxima viagem que vamos fazer, já em Fevereiro, vai ser, Bali, Austrália (sul, oeste e Uluru novamente para ver o pôr e o nascer do Sol) e Nova Zelândia, agora com maior incidência na ilha do Sul)
Bonitas fotos, óptimas descrições.
Estou encantado com as vossas viagens, espero que a próxima corra como as anteriores, cá estarei para apreciar mais uma bela reportagem.
Um grande abraço do amigo
Luís Cabral
Como do Vietname, estes maravilhosos nossos Amigos, Alf e Daisy nos podem encantar...
De Vietname apena imaginava guerra e caos - belezas??? Nunca!
Obrigada, só mesmo vocês!!!
Beijinhos.
Júju.
Destaco o que mais me encantou, de tudo o que me maravilhou:
A gruta do Paraíso e aquelas duas imagens, da tartaruga e espada e o que se lhe segue(dragão?) - Deliciosas...
Júju.
Muito obrigado Daisy!
Muito obrigado Alfredo!
"Viajar" convosco através dessas paragens de mil encantos é muito gratificante!!! E o que ficamos a saber de povos, regioes, crenças, mitos, etc!?
Abraço
De NYC
Jose D ́Abranches Leitao
Gostaria de vos contactar sobre vossa viagem Vietname.
Enviem vosso email para
raul.silva1959@gmail.com
Raul Silva
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