TURQUIA - CAPADÓCIA
Outubro 2009
Ás cinco e meia da manhã, as carrinhas da empresa das viagens de balão, estavam à nossa espera. A pontualidade é importante sempre, mas neste caso ainda mais porque se tem que aproveitar os ventos e ver o nascer-do-Sol.
Noite cerrada, abriram-se as portas da carrinha num descampado. Éramos os primeiros. Serviram-nos um café e um doce e demos lugar a outras cerca de trinta carrinhas, que foram chegando, aos poucos.
Encaminhámo-nos para o local onde os balões estavam a encher.
Na penumbra, adivinhavam-se as “chaminés de fadas” e as casas trogloditas, em silhueta.
O fogo sobressaía e iluminava o colorido do balão, que ia enchendo e se começava a erguer no ar. Aqui, ali e mais além, o barulho e a cor.
O sol começava a nascer. O balão encheu e os vinte e quatro do grupo do Murat (o guia turco) subiram, com uma certa dificuldade alguns, para a cesta.
Começámos a subir, lentamente, enquanto o manobrador dava algumas instruções para a descida e o fotógrafo se atarefava a chamar a atenção do pessoal para a pose (já sei o que nos espera no fim do passeio…)
Máquinas fotográficas (as nossas) a postos para o que sonhávamos!...
O sol nascia e, lentamente, suavemente, em silêncio, elevávamo-nos no ar.
Entretanto, um e outro e outro e mais outro balão, faziam o mesmo.
O dia ia clareando e o maciço erodido da Capadócia, mostrava-se.
Casas, torres, vales, escavados pela erosão e desagregação das rochas formadas pelas cinzas solidificadas dos vulcões, iam aparecendo.
Esta região fica entre Ürgüp e Göreme, na Anatólia Central.
As camadas de lava, endurecem, protegendo o tufo de cinzas. Existem fendas naturais entre elas e a água e os ventos, vão moldando diversas figuras. Como o arenito é fácil de trabalhar e a camada superior de lava protege da chuva, as pessoas foram escavando as habitações.
E vêem-se janelas e varandas.
Como a Turquia é uma região de muitos sismos, nos anos sessenta, O Estado proibiu a habitação destas zonas por perigo de desmoronamento. Muito poucas são, ainda, habitadas. Algumas foram transformadas em restaurantes e pequenos hotéis para turistas, depois de uma apertada vistoria, por causa da segurança.
Aos poucos, os balões foram subindo todos e o céu ficou cheio de cor e beleza.
Por vezes, o piloto aproximava-se de uma formação, causando um certo calafrio, mas, facilmente se desviava, provocando o alívio e o aplauso dos tripulantes. Achou piada às palmas e repetiu a graça mais uma ou duas vezes, mas sempre com segurança.
Fantástico!
As máquinas fotográficas não descansaram durante cerca de cinquenta minutos.
Depois, a escolha dos ventos para aterrar e, lá em baixo, carrinhas e vans, deambulavam a tentar prever em que local da planície lisa o balão iria poisar!... Um pouco ao sabor das correntes e da perícia do piloto.
Preparar para a descida: guardar as máquinas fotográficas, agachar e pegar nas pegas de segurança, como nos recomendou o piloto no início da viagem. Tudo previsto, tudo muito bem.
No final, uma taça de champanhe e a escolha das fotografias (…).
A oferta de uma taça de champanhe, vem do facto de, em 1783, altura em que se fez a primeira viagem de balão com partida de Paris, poisando a cerca de cinco milhas, num vinhedo, perante a estupefacção dos camponeses que julgavam estar a ser invadidos por seres de outro planeta. Os tripulantes traziam uma garrafa de champanhe e as respectivas taças e festejaram com os atónitos agricultores.
Voltámos ao hotel para tomar o pequeno-almoço e fazer a visita da Capadócia por terra.
O grupo é ordeiro e muito pontual. Também, como diz o Murat, é um grupo excepcional, como a sua companhia nunca teve, de um “clube de leitura”…
Às nove e meia saímos e parámos na aldeia de Üçhisar, que quer dizer “Castelo de Fronteira”.
A primeira visita, foi no local da aldeia, apenas 15 minutos que aproveitei muito bem, fotografando habitações já abandonadas mas onde ainda se reconheciam portas, janelas e as chaminés,
mas também uma com um belo terraço com sofás, sombreada por um par de árvores. Fomos convidadas, eu e a Helena a visitar uma outra residência, por dentro, mas tivemos que recusar, por causa do tempo contado. Descemos rapidamente e fomos conduzidos mais à frente, para ver o maciço de habitações que se vêem ao longe, na montanha, encosta abaixo, que dá o nome à aldeia (como uma fronteira).
E, no vale, à direita, os pombais.
Os pombais, hoje em dia, já não são tão úteis porque existem adubos químicos mas ainda se vêem alguns pombos a entrar e a sair. São buracos escavados no maciço de cinzas vulcânicas solidificadas, onde os pombos se refugiavam. As entradas eram tapadas à excepção de um orifício (muitas vezes pintado de branco) por onde entravam e saíam as aves. Periodicamente, as entradas eram abertas para recolher os excrementos que serviam de adubo para estas terras áridas.
Do local onde parámos, podíamos distinguir os relevos amarelos e esverdeados.
Visitámos a cidade subterrânea de Kaimakli, descoberta em 1964 e que é a segunda cidade subterrânea mais importante da região.
Percorremos os cinco níveis abertos aos visitantes.
Julga-se que funcionavam como locais de recurso quando havia invasões de outros povos, possuindo à entrada, local para os animais e armazéns. Uma grande cozinha comunal com nichos para armazenamento de alimentos e quartos. Entre os quartos e os diversos níveis, existem passagens estreitas e escadas que obrigam a alguma ginástica.
As portas, para dificultar a entrada dos inimigos, eram pesadas rodas de pedra com o feitio de mós de moinho.
Pensa-se que a cidade foi usada entre os séculos VI e IX e que alojou milhares de pessoas.
A construção destas cidades não era difícil porque o arenito é um material, que, com a ponta de uma navalha (o Murat exemplificou) facilmente se desagrega.
Quem tem problemas de claustrofobia não deve fazer esta visita.
De novo ao ar livre, fomos ver as Chaminés de Fadas ou Chaminés Encantadas, assim chamadas por causa da sua forma e por o povo dizer que, debaixo da terra, de onde elas aparecem, viviam seres encantados.
Fotografámos várias e todas muito interessantes com os seus chapéus ou cúpulas de material mais duro.
Uma delas parece a “Sagrada Família”, com três pedras que se assemelham a um homem, uma mulher e uma criança, enormes, num vale, que fotografámos de uma colina. Aqui, são os Vales Amarelos, com uma cor dourada dos seus relevos.
Parámos nos Vales Vermelhos, em que o arenito tem uma cor mais avermelhada.
O Museu ao ar livre de Göreme, é uma espécie de santuário. Possui a maior concentração de capelas e mosteiros escavados na rocha da Capadócia.
Visitámos quatro, apreciando lindíssimos frescos bizantinos, com cenas do Antigo Testamento, representando a vida de Cristo e dos Santos.
Formam figuras interessantes, esculpidas pela Natureza, como o camelo, as focas, a mão e um par, perfeito, mulher e homem.
O Museu ao ar livre de Göreme, é uma espécie de santuário. Possui a maior concentração de capelas e mosteiros escavados na rocha da Capadócia.
Datadas a partir do século IX, são cerca de trinta igrejas, no vale, construídas escavando o macio tufo vulcânico.
Visitámos quatro, apreciando lindíssimos frescos bizantinos, com cenas do Antigo Testamento, representando a vida de Cristo e dos Santos.
Popularmente, Murat diz que lhes foram dados nomes como “a da cobra”, porque tem um fresco com uma cobra, ou “a das sandálias” porque, quando foi descoberta, tinha um par de sandálias à porta. Na da cobra, que se chama Igreja de Yilanli vê-se S. Jorge e S. Teodoro matando o dragão.
A de Santa Bárbara tem um fresco que se julga reproduzir Santa Bárbara e uma cruz turca, um galo e um ser estranho. A Igreja de Karanlik tem vários frescos da ascensão de Cristo.
À saída o Mosteiro de Kizlar, onde viviam e trabalhavam os monges, numa formação esburacada que não tinha ligações no interior, pressupondo-se que eram usadas escadas ou andaimes exteriores.
A UNESCO declarou o Vale Património Mundial da Humanidade.
O dia acabou com um jantar turco, com folclore e dança do ventre.
No dia seguinte, saímos ás nove horas e trinta minutos, para visitar uma aldeia troglodita abandonada nos anos sessenta.
Esta aldeia chama-se Çavusin e merece uma boa hora de passeio pelas suas ruínas, fotografando enquanto a Natureza não a destrói completamente.
É um espectáculo único.
Algumas casas mostram ainda trabalhos artísticos, enfeites geométricos nas janelas, varandas sobranceiras ao Vale. Também os pombais.
18 comentários:
Um espanto ! Parabéns ao fotógrafo e grande artista que é o nosso amigo Alfredo. Um documentário que deu muito trabalho a fazer. Melhor é impossível .Bem haja e que tenham sempre muita saúde e energia para nos continuarem a maravilhar com tão soberbas imagens.
Um grande abraço da
Jane
Começam a faltar as palavras para descreverem as fantásticas viagens da Daisy e do Alfredo.
A Turquia é hoje um destino recorrente para muitos europeus. Na sua maioria, como já aconteceu comigo, quedam-se pelas visitas ao Bósforo, a Istambul e a alguns dias de cruzeiros turísticos ao longo da costa.
Este casal, no entanto,descobre lugares inimagináveis!
O que mais me impressionou foi o aspecto pontilhado de inumeras saliências fálicas que parecem resultado de um caldeirão a ferver e uma alvorada já a bordo de um balão para ver nascer o sol.
O meu medo das alturas e a sensação de insegurança que esses balões ainda me transmitem, teriam porventura impedido a minha viagem.
Para mais quando um qualquer Murat parece ter-se divertido a executar manobras arriscadas para assustar os passageiros...
Os turcos nunca me deram fé.. Mas reconheço que têm coisas lindas para mostrar...
Rui Felício
E chegada do Face, após ter ido dar permissao, à entrada do Carlos Encarnaçao, na Pág. cá estou!
Um optimo relato espectacularmente bem ilustrado, de uma viagem ao locais mais reconditos da Turquia! Turquia essa, que nem o seu litoral me desperta os sentidos - turcos??? para mim chegaram os marroquinos, em Marraqueche, onde apanhei uma "depré"!!!
Adorei ver aqui no écran... a beleza das cores dos baloes no céu azul, é verdade!
E mais nao digo, OK? Vao para dentro e nao se constipem...
Beijoes grandes para os dois jovens aventureiros e maravilhosos.
Júju.
Ai,meus amigos,sinto-me completamente uma grande patega a olhar para o balão!!!
Que loucura de viagem,eu adorava viver a vossa aventura por essas terras tão fantásticas!
A Olinda vai ter de tomar os "ansiolíticos"para fazer o vosso percurso...
A natureza é,para mim,um grande mistério.
Também a Daisy e o Alfredo têm uma magia misteriosa!
FANTÁSTICOS!!!
Bem-hajam.
Viagem que farei em Março mas recuso-me a subir no balão...não quero morrer de panico!
Não seria uma viagem que faria programada por mim...mas já que fui bafejada pelo sorteio da Bertrand lá irei.
A reportagem fotográfica e descritiva já conseguiu entusiasmar-me mais um bocadinho.
Sobe,sobe balão sobe é que não!!!
Maria,
Fazes mal em não querer fazer o passeio de balão.
É uma experiência única e extraordinária! Vale bem o sacrifício de nos termos de levantar às 3h da manhã. Por favor, não percas essa oportunidade.
Grandes fotos, parabéns Alfredo.
A Turquia é assim, exótica, colorida, multifacetada.
Contínua a abrir o album, as vossas viagens encantam-me.
Grande abraço.
Luís Cabral
Coincidência das coincidências...
Devemos ter estado na mesma altura nos mesmos sitios.
estive na Capadócia(Capadoca) no dia 8 de Outubro, e foi, defacto, uma viagem inesquecível.
Não andei de balão, e já sinto inveja...
Parabéns pelas espectaculares fotos.
Vou ter que voltar para fazer a viagem de balão.
Muito bom
Menino, lindo, lindo.
OBRIGADO por estas imagens, e pela prosa, está tudo lá.
Um Abraço.
Tonito.
Meus queridos Daisy e Alf:
Mil vezes obrigados pelas maravilhosas fotos seguidas de textos lindos como já nos habituaram.É sempre um gosto viajar convosco...embora virtualmente. Esta viagem, tal como outras já narradas, tem uma Magia encantadora que se assemelha em tudo ás Pessoas lindas que vocês são. Um Abraço agradecido da LILI e do João.
Alfredo, só falta dizeres que estiveste nesses lugares no dia 8 deste mês... Seria uma coincidência incrível! Tal como diz a minha amiga do "Detalhes", estivemos na Turquia, na semana passada, a trabalho, mas claro que seria impossível estar em Konya sem aproveitarmos para, em 3h30 de autocarro, visitar esse local mágico que é a Capadócia. ADOREI e só tenho pena de não ter tido oportunidade de andar de balão. O tempo foi pouco e havia muito para ver.
Maria, tens de fazer a viagem, sem dúvida. Deve ser uma experiência única na vida.
Quanto ao teu relato, Alfredo, está espectacular e consigo "ver" muitas das coisas que visitámos.
Bem-hajas por partilhares estas maravilhas. Tenho de lá voltar prós balões (hihihi)
Um grande beijinho para ti e para a Daisy
Romicas
(p.s. vou mandar-te uma foto do nosso guia para ver se haverá mais alguma coincidência. O nosso levou-nos à mesma cidade subterrânea e a muitos dos lugares que vocês visitaram. O nome não me é totalmente estranho)
Meus Amigos,
Vocês são o máximo e continuam a surpreender pela qualidade da fotografia e pela cuidada descrição.
Esta zona da Capadócia é uma zona mágica que nos transporta para aquele imaginário que alimentámos ao ler em criança as histórias do Ali Bá Bá...
Coincidência das coincidências é a convergência de alguns amigos na ida por estes lugares, "Detalhes"(?), a Romicas que também por lá andou na mesma altura, e para o ano a Olinda e eu que lá estarei em Maio, em programa idêntico, através do Círculo de Leitores.
Não sei se as minhas maleitas me deixarão fazer esse maravilhoso passeio de balão que a vossa admirável descrição me fez nascer água na boca. A ver vamos.
Obrigado Alfredo e Daisy por partilharem as vossas aventuras.
Abílio
Mas estes meus amigos são mesmo doidos!
Percorrer meio mundo para fazerem uma simples viagem de balão, é de doidos!
Já sem falar do pormenor de se terem de levantar às 3 horas da manhã ( que é uma hora decente para deitar e não levantar), já sem referir que resolveram, de forma inconsciente, aceitar alojamento numa :
"região de muitos sismos, Atatürk proibiu a habitação destas zonas por perigo de desmoronamento. Muito poucas são, ainda, habitadas. Algumas foram transformadas em restaurantes e pequenos hotéis para turistas". Para turistas, pois claro!
São eles que o dizem !
Ganhem juízo!
O Eterno Invejoso
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Daisy e Alfredo,
Tenho acompanhado, como sabem, as vossas viagens. A minha admiração, pelas vossas escolhas, vai crescendo. O meu agradecimento, pelo sentimento de partilha das vossas emoções com os amigos, é grande
Sim, falei em emoções e não em viagens.
As fotos, que nos oferecem aquilo que os vossos olhos viram, os textos que nos transmitem o conhecimento adquirido, permite-nos saborear um pouco dessas emoções.
Mais uma vez, obrigado.
Grande abraço.
O Verdadeiro.
Meu Caro Alfredo:
De cortar a respiração, a paisagem e o balão.
Continuem a fazer muitas viagens e premiar-nos com tão belas fotografias.
Abraço para ti e beijos para a Daisy.
Grandes fotos de uma viagem que acredito terá sido inesquecível. Já está marcado o próximo destino??
Fabulosas imagens!
Tal como o Rui Felício escreve...
"Começam a faltar as palavras para descreverem as fantásticas viagens da Daisy e do Alfredo."
Muito Obrigado!
Jose Leitao
Junta-se a visão do fotógrafo Moreirinhas à inspiração da poetisa Daisy... e voilá!
Ao pé de um documentário destes, a National Geographic é uma revista de amadores...
Beijinhos para os dois!
Estive a ver o vosso blog e dei mais uma volta de balão, foi realmente uma
viagem extraordinária, esquecendo a entrada e saída do balão.
Achei graça ver fotografias de Boticas, onde passei férias de verão durante
muitos anos.
Parabéns pelo blog
Maria Teresa Lopes dos Reis
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