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terça-feira, 3 de julho de 2018

PORTUGAL - AÇORES

ILHA DAS FLORES e 
ILHA DO CORVO

23, 24 e 25 Maio 2018

Saímos às 7.00h da Ilha Terceira, fizemos escala em Ponta Delgada e chegámos à Ilha das Flores por volta das 11.30h, com algum atraso, mas nada significativo.

O aeroporto é pequeníssimo e fica a dois passos do "Flores Inatel", onde vamos ficar hospedados. Aliás, fica tudo logo ali.
Saímos a pé e fomos à Experience OC marcar a viagem para o Corvo, para amanhã, com o Carlos "que é excelente"!...
Este Grupo Ocidental das nossas ilhas atlânticas terão sido descobertas por volta de 1452. 
O nome de Flores terá sido dado pela abundância de flores aqui encontradas. 
 
  
Só em 1508 se consegue um povoamento bem sucedido. Lajes das Flores é elevada a vila em 1515 e Santa Cruz das Flores em 1548. 
O cultivo de cereais, a criação de ovelhas, a produção de panos e a pesca foram os seus meios de sobrevivência durante séculos. Porque era o ponto mais ocidental da Europa, era um ponto estratégico para a Coroa Portuguesa, para apoiar os navios com as riquezas que vinham do Pacífico e do Índico. Pelo mesmo motivo os corsários as usavam para esperar os galeões espanhóis e as naus portuguesas, carregadas com os materiais preciosos das Américas e as especiarias do Oriente.
A partir de meados do século XVIII começam a ser procuradas para abastecimento dos baleeiros ingleses e norte-americanos, levando mais tarde à criação de bases de caça ao cachalote. 
Nos Açores, já "não se vai à baleia". 
A fábrica fica ao lado do nosso hotel e havemos de visitá-la, agora transformada em Museu.
A Vila de Santa Cruz das Flores é um pequeno lugar que se percorre facilmente a pé.
A capelinha do cemitério mereceu uma fotografia.


O Monte das Cruzinhas 

domina a Ilha. 
Diz-se que quando os primeiros povoadores aqui chegaram estava coberto de silvas e as pessoas, cheias de medos e superstições, receavam lá ir e cultivá-lo. Então, os frades resolveram limpá-lo e, por cada pedaço limpo, colocavam uma cruz, tendo ficado, então "semeado" de cruzinhas!...

Encontrámos o primeiro pássaro pintado por Morgan Bricca, 
artista californiana, na torre do aeroporto. Depois, muitos mais fomos descobrindo.

A Igreja Matriz da Conceição 
começou a ser construída em 1781 e foi consagrada a 8 de Dezembro de 1859. A fachada tem três níveis, 
torres sineiras também divididas em três níveis com janelas em guilhotina rematadas por cornijas encimadas por cúpulas bulbosas octogonais que lhe dão um aspecto bem oriental.

Da Praceta Roberto Mesquita 
vê-se a fachada apalaçada do 
Museu da Cidade 
que foi habitação particular 
(Casa Pimentel Mesquita) e faz parte do Convento de São Boaventura.

Almoçámos no restaurante "Sereia". Gente simpática que nos serviram um peixe desconhecido para nós, o Veja, de textura branca e rija, bom.
Regressámos ao hotel, passeando pela vila, 

vendo os jardins, 

os animais curiosos, 

as pinturas murais. 

Uma calmaria que conforta.

A marginal é linda. 

Piscinas naturais, 
contorno revestido de flores. 
E a Ilha do Corvo a olhar-nos, 
sempre, com mais ou menos nuvens a tentarem escondê-la.
Jantámos muito bem, no hotel.

De manhã, às 9h, estávamos no Porto do Boqueirão
junto da antiga Fábrica da Baleia. 
A rampa ainda faz escorregar: restos do óleo do cetáceo.
O Carlos tem mais de 20 anos de travessia para a Ilha do Corvo no seu barco pneumático. 
Quando diz que é seguro, podemos confiar que o mar nos não vai causar problemas.

A costa das Flores é muito recortada e escarpada. 

O Carlos fez-nos um pequeno circuito por grutas e cascatas. 

Arcos e ilhéus, como o Maria Vaz 

e o Furado. 

A ponta da Ilha, Ponta Delgada.

Na aproximação à ILHA DO CORVO
fomos saudados por golfinhos.

Chegados à Ilha 
esperava-nos uma carrinha que nos levou ao Caldeirão, a caldeira do vulcão que deu origem à ilha há cerca de 1 milhão de anos. 
É a mais pequena ilha do arquipélago dos Açores, e o seu povoamento só começou a concretizar-se em 1548. Tem, apenas, 430 habitantes e uma superfície de 17 quilómetros quadrados. 

A única povoação é a Vila do Corvo.

O caldeirão é imponente. 

Faz-nos sentir pequeninos e insignificantes. Tem cerca de 300m de profundidade e 3400m de perímetro. 
No fundo, as lagoas fazem emergir pequenas ilhotas e as vertentes cultivadas dão-lhe um encanto especial.

Descemos, depois, à Vila, com uma pequena paragem na Praia da Areia,

onde as Caravelas portuguesas vêm morrer. 

A sua picada é perigosa e o próprio contacto, mesmo depois de mortas, pode causar uma urticária.
O nosso condutor deixou-nos no Alto dos Moinhos 
para almoçar, mas o restaurante só servia os trabalhadores da obra que ali decorre...
Os moinhos estão bem conservados.

O posto do turismo, na Casa do Bote
 estava fechado...

Acabámos no BVC, Bar dos Bombeiros Voluntários, onde só valeram as sanduíches, porque a feijoada era uma pasta castanha...
Valeu a descrição da Ilha, feita por Vasco Pernes, 
no toalhete da mesa:
E toda a ilha é um poema...
No poema de Nemésio... Um Mundo.
O Corvo é um Mundo, disse Raúl Brandão.
Que melhor lugar de verão poderá haver senão este onde a paisagem
está praticamente inalterada, atraente e cativante.
...
Ilha Preta, que de negro tem pouco porque quando o sol se deixa ver, empresta a toda a ilha a cor que ela verdadeiramente tem.
...
Que ninguém diga que conhece o Corvo se aqui passou um par de horas apenas...
...
Entrar nas velhas ruas, fechar os olhos, e conseguir imaginar os sons dos piratas e corsários, mas também o som deste povo que sabia que tinha de estar bem com deus e com o diabo e que se protegia  matando a fome e a sede aos invasores que passavam a amigos.

E as palavras de Mouzinho da Silveira: 

Quero que o meu corpo seja sepultado no cemitério da ilha do Corvo, a mais pequena dos Açores... são gentes agradecidas e boas, e gosto agora da ideia de estar cercado, quando morto, de gente que na minha vida se atreveu a ser agradecida.

O passeio pela Vila revelou ruas estreitas, 

canadas, 

casas modestas. 

Até há bem pouco tempo as chaves das casas ficavam nas fechaduras, por fora. E, antes, as fechaduras eram de madeira.

No pequeno museu, tivemos uma visão da ilha e a vila na base do vulcão.

A  Igreja de Nossa Senhora dos Milagres 
também é modesta. 
Tem, no altar, 

uma imagem da Virgem com apenas 25cm de altura 
e tem uma lenda, claro: No século XVI, a ilha, pelo seu isolamento, era muitas vezes alvo de ataques de piratas turcos. Apanhados de surpresa, certa vez, chamaram em seu auxílio Nossa Senhora do Rosário. E o padre levou para o lugar uma pequena imagem que tinha dado à costa, entre calhaus, no Porto da Casa. 

A imagem, de mão estendida, desviava, devolvia e multiplicava os tiros dos piratas. Durante muitos anos, os piratas não voltaram ao Corvo. Por ter feito este e muitos outros milagres, passaram a chamar-lhe Nossa Senhora dos Milagres. A fama do milagre espalhou-se e chegou a Lisboa, tendo sido enviada uma nau para a levar para uma igreja da capital do Reino. Mas todos as manhãs a imagem aparecia com o manto molhado porque, durante a noite, ela atravessava o mar para ir à sua ilha. Os responsáveis da igreja decidiram devolvê-la e ela foi recebida com grande alegria e colocada na ermida perto do Porto da Casa, onde tinha aparecido.

Dissemos adeus à pequena ilha

Voltámos às Flores, com o Carlos, e fomos surpreendidos pela imagem da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes 
no recorte da ilha. Belíssima! 
A igreja foi construída sobre o leito de uma ribeira que se lança no mar.

Mesmo ali, junto ao cais do Porto do Boqueirão, 

fica o Museu da Fábrica da Baleia do Boqueirão

Um museu fantástico onde aprendemos como os gigantes dos mares eram arriados pelos homens minúsculos.

Nunca se caçou baleias: os baleeiros arriavam à baleia, iam à baleia e apanhavam... ou não. 
São 7 as etapas: arriar os botes, aproximar do animal, trancar, perseguir, desferir lançadas até à morte, rebocar para o cais e varada no cais. Tudo era aproveitado!

Logo que era detectado o bufo 

(casa da vigia) 
e lançada a bomba de aviso, os botes eram arriados pela sua tripulação de 7 homens e navegavam de encontro ao animal, 

à vela ou a remos até meados do século XX. Depois, passaram a ser rebocados por lanchas a motor no percurso de ida e volta.
Foi com os americanos que os florentinos aprenderam, porque eles procuravam estas paragens para encontrar o cetáceo. 
Já na última metade do século XVIII os diários de bordo mencionavam as Flores e o Corvo, reportando a compra de vinho, cebolas, batatas, bois, porcos, galinhas e ovos. De 1809 a 1811, as baleeiras representavam um terço dos navios ancorados nas Flores. Levados para os USA, alguns baleeiros frequentaram a Escola Náutica e ascenderam socialmente, 

como José Tomás Eduardo (John Thomas Edward) ou o capitão Nicolau Rodrigues Vieira e a família 
(foto de 1910).

Fotografias, reproduções de BD com histórias de baleias, 

representações à escala de actividades dentro da fábrica, 
fazem parte da visita. 

E uma interessante instalação de uma Procissão de São Pedro 
em pasta de madeira policromada, de 2014, de Rui Pimentel, deixou-me encantada.

Ainda tentámos ir ao Museu da Cidade, mas encerra às 17.30h e não chegámos a tempo.
Retemperámo-nos no Lucino's Bar.

O tour da Ilha foi fantástico, na companhia do Armando Rodrigues da Experience OC.
Voltámos a ver a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes
agora por outra perspectiva, talvez não tão bonita.

No Miradouro dos Caimbros 

vê-se a povoação de Cedros, no alto. 

E o Corvo, sempre presente nesta costa norte.

No Miradouro dos Cedros

um pouco mais à frente, a paisagem continua linda  e, em baixo 
a casa do guarda 
onde o guarda evitava a fuga das pessoas para os barcos baleeiros americanos. A pobreza era tão grande... e a América o sonho!

A Ponta Ruiva 
tem uma fajã, uma rua, 50 pessoas, um Airbnb e um museu!

O museu Casa do Machado 
tem tudo o que havia nas casa do século passado. Bem espelhada a história de uma família numa divisão apenas.




Para ter uma visão da fajã, 
junto ao mar, descemos um pouco. 


E encontrámos o sr. Machado que vinha de sachar as batatas, lá em baixo. Sempre a subir, são uns bons trinta minutos, o que justifica o aspecto ofegante. 
Do pequeno miradouro, o Ilhéu Furado vê-se muito bem.

Voltámos à estrada e o Armando fez questão de nos mostrar que, efectivamente, as Flores é uma ilha forrada de água. 
De uma cor verde amarelada, a parede de musgão 
foi perfurada pelo seu punho, enterrando o braço até ao cotovelo, 
escorrendo água. Esta água é encaminhada, naturalmente, para as ribeiras e cascatas que se encontram por todo o lado!

Caminhámos para o topo Norte, para Ponta Delgada
onde residem entre 300 e 400 pessoas e onde existiu uma base francesa, responsável pela construção da estrada até Santa Cruz.

Do miradouro vê-se  o Corvo, 

a casa de vigia da baleia 

e, ao longe, o Ilhéu Maria Vaz 

e o Ilhéu Monchique

Na Ponta do Albernaz, o Farol do Albernaz
onde residem duas famílias de faroleiros. 
Descemos para fotografá-lo.

Continuando a subir até aos 700m, conseguimos ver as cascatas da Ribeira do Ferreiro, ao longe. 

Também ao longe, o "pico" da Catedral, 

no nevoeiro... A cratera da Ilha das Flores 
tem mais de 1,5km de diâmetro. 

Mas o nevoeiro acentua-se... e as lagoas estão escondidas. Melhor ir almoçar e voltar!

Descemos à Fajã Grande, a terra do Armando. Aqui moram umas 200 pessoas. Todos se conhecem pelo nome. A pequena Igreja

tem como padroeiro São José.

A baía é impactante. 

Debruada por cascatas, 

com uma praia e a Fajãzinha  ao longe. 
Com uma beleza destas, não apetece viver em outro lado!

O almoço foi no "Papadiamandis" 
 
que tem o nome do barco que aqui naufragou em 22 de Dezembro de 1965, carregando milho, trigo e feijão, de New Orleans para Hamburgo.
O Poço do Bacalhau, cuja cascata se vê da Baía da Fajã Grande, fica perto.

Um caminho bem empedrado e fácil 
foi construído ao lado da ribeira. 

Vamos passando por moinhos de água abandonados 
mas que ficam bem na paisagem, contrastando as suas paredes de pedra escura com o verde da paisagem. 
O som da água ajuda ao paraíso. 

Até há melros! 

O poço convida ao banho em dias de calor. 
Não é o caso!

A aldeia mais isolada da Ilha é a Aldeia da Cuada
Que não se vê do mar e, por isso, não era vista pelos piratas!

O seu abandono começou com a emigração nos anos 60 do século XX e, já nos anos 70, estava despovoada e rodeada de silvas. Foi então que Carlos Silva foi adquirindo as habitações 
pensando num turismo diferente. 

Foram recuperadas 15 casas adaptadas
e restauradas com a própria pedra, conservando a arquitectura original. 

Cada casa tem o nome do seu último habitante, 
homenageando, assim, o povo que aqui viveu... Até a casa do Espírito Santo foi recuperada.

Depois disto, um duro caminho, de grandes pedras escorregadias, 
levou-nos à maravilha das maravilhas da Ilha.
O Poço da Ribeira do Ferreiro ou Alagoinha, é um local paradisíaco. 

Uma encosta verde rasgada por muitas cascatas 

caindo sobre uma lagoa de águas límpidas.

Um casal de garajaus 
escolheu o sítio para acasalamento e contribuiu para embelezar ainda mais os minutos que ali passámos. Os cerca de 700m de pedra escorregadia foram altamente compensados!

Mais descansados, parámos num dos moinhos de água 
recuperados com o apoio do Governo Regional. 
Conversa amena com a moleira que explicou como funciona o moinho e com o marido que vinha do amanho da terra.

No Miradouro do Portal 
queríamos ver a Fajãzinha e a Ribeira Grande com as suas cascatas. 
Mas o nevoeiro atraiçoou-nos e escondeu as cascatas. Com zoom consegui ver a Ribeira Grande a caminho do mar.

Também o nevoeiro nos escondeu as 7 Lagoas!
Descemos até às Lajes das Flores
por onde começou o povoamento da ilha e que tem uma bela igreja do século XVIII. 

E um bonito farol, o Farol das Lajes.

Fizemos um tempo de espera, tomando um café, na esperança de que o nevoeiro passasse.
Quando o Armando decidiu, subimos de novo, na esperança de ver as 7 Lagoas alojadas na caldeira de um dos primeiros vulcões da Ilha.

Mergulhadas no nevoeiro, num misticismo fantástico, conseguimos ver a Lagoa Rasa 
com uma cota máxima de 60cm, 

a Lagoa Funda 
com 500m de altura, vizinhas.

A Negra e a Comprida 



ficam de um e outro lado da estrada. 
A Comprida ficou melhor na fotografia. O nevoeiro foi-se dissipando e até consegui ver uma cascata.

A Lagoa Branca 
parece mesmo branca, com o reflexo do sol. 

À direita, um afloramento rochoso 
que se assemelha à Rocha dos Bordões que, se escondeu em denso nevoeiro!

A Lagoa Seca
linda, com muita luz, tem vários tons de verde e castanho.

A Lagoa da Lomba ainda se vislumbrou, antes de se esconder completamente na bruma, mas não deu para fotografar.
Despedida da bela Ilha das Flores com a imagem da Igreja da Nossa Senhora de Lourdes na paisagem.

Amanhã, São Jorge espera-nos.


* * * * * 

4 comentários:

celeste maria disse...

Belo passeio, calmo, inspirador e com fotos de cortar a respiração! O relato desenrola-se ao ritmo do pulsar das gentes das fajãs... Beijinhos, muuuuuuuuitos .

quito disse...

Mais um trabalho magnífico. Se estas ilhas fossem no Oriente, uma vénia de mãos postas espelharia a admiração do leitor. Admiração pelo trabalho de pesquisa e testemunho escrito. Admiração pelas fotos, algumas de uma beleza arrebatante. Fauna, flora e também a gastronomia residente de mãos dadas com uma ruralidade de luxo. E, desta explosão de sentidos para os mais sonhadores de memória fértil, lembrar as fumarolas e neblinas que nos adensa os mistérios de duas ilhas plantadas no meio do Atlântico e a visão febril de ver por entre uma cortina de nevoeiro, um barco de corsários rondando a costa açoreana de bandeira negra içada no mastro. ´Claro que é pura fantasia, mas deixemos cada um de nós sonhar e viver a solidão ilhéu à sua maneira.
Obrigado por mais esta maravilhosa rota deste nosso Portugal .

ALFREDO FARIA disse...


Caros amigos

Acabei de "viajar" a vossa viagem...

Espantosa a vossa descrição dos locais visitados e das pessoas prestáveis com que andaram.
As vossas desilusões (com nevoeiros, ventos e, por vezes, alimentação) e alegrias.
Tudo muito bem documentado e bem escrito.

Dá vontade de imprimir e levar tal "roteiro" no bolso!

Obrigado, Daisy e Alfredo.

Alfredo

olinda Rafael disse...

E por aqui andei a espreitar com todo o gosto esta volta deliciosa pelos Açores.
Só conheço São Miguel,Faial e Pico...
Beijos,amigos!