12 e 13 Julho 2016
A Terceira foi a terceira paragem do arquipélago a ser reconhecida pelos navegadores portugueses, entre 1420 e 1430. Mas só em 1449 o Infante incumbiu Jácome de Bruges, flamengo de nascença, do seu povoamento que começou a concretizar-se em 1470, na Praia e Angra.
O seu ponto mais alto situa-se na Serra de Santa Bárbara a 1021 metros. Tem 401,9 quilómetros quadrados e uma população residente de 56000 habitantes.
Com a anulação do voo da manhã e um atraso no da tarde, acabámos por chegar apenas às 18h, o que comprometeu bastante o nosso programa.
A Marina esforçou-se e prolongou o seu horário de trabalho para nos mostrar o máximo possível do programa previamente combinado.
Assim, arriscámos a subida à Serra do Cume, a 545m de altitude, para ver e fotografar a
"manta de retalhos",
com bastante nevoeiro, que se foi dissipando em alguns pontos, mantendo-nos atentos para os fotografar.
As vacas, essas, indiferentes, equilibravam-se na encosta.
O nevoeiro tirou-nos a vista para a Praia da Vitória e não foi possível ver, em pleno, este vale
(Vale da Achada)
Já na descida, São Sebastião ao longe
e o encontro inusitado, na Quinta dos Salgueiros, com o senhor Armando e os seus
Barbados da Terceira, amorosos, raça única local.
E a freguesia de São Sebastião,
esperava-nos em baixo, com a sua bela Igreja e o não menos belo e célebre Império.
A Igreja
Tendo sofrido diversas adversidades, a sua recuperação significativa só se fez a partir de 1964.
De estrutura baixa, destacam-se os seus portais gótico-manuelinos.
A torre sineira é baixa e quadrangular, com uma cúpula piramidal.
O Império do Espírito Santo é de 1882 e reconstruído em 1918.
Na frontaria e no soco apresenta alegorias às festas e ao bodo,
com rosquilhas, pão, espigas e vinho. A decoração cobre todo o império.
Casas senhoriais concentram-se à volta.
Aproximando-nos da costa, avistámos o Farol das Contendas.
A Ponta das Contendas engloba a Baía da Mina ou Baía das Mós
e o Ilhéu dos Garajaus
Contornando a costa, encontramos a Baía da Salga,
onde ocorreu a Batalha da Salga (25 Junho de 1581) entre os Castelhanos e as tropas que defendiam Dom António Prior do Crato ao trono de Portugal usurpado pelo rei espanhol.
O Monumento
Mais à frente, Porto Judeu ou Porto Judeu de Santo António, onde terão desembarcado os primeiros povoadores da Ilha trazidos por Jácome de Bruges. Como a enseada do porto, de pequenas dimensões, não oferecia condições fáceis de abrigo, foi chamado de "judeu" que, na altura era palavra para tudo o que era mau...
O Império de Porto Judeu de Baixo,
bem colorido (azul, vermelho, verde e amarelo), é de 1916.
O Ihéu das Cabras,
visualiza-se, com ligeira neblina. É composto por dois rochedos de diferentes tamanhos, com tufos vulcânicos cobertos por vegetação onde nidificam aves marinhas. As cabras foram os primeiros habitantes da Ilha... Os navegadores vieram e deixaram as cabras no ilhéu. O desconhecimento das condições de habitabilidade era preocupante: um local belo, aparentemente pacífico, poderia ter uma razão para não estar habitado. As cabras não tinham possibilidade de passar para o resto da Ilha e seria fácil encontrá-las, se resistissem, na viagem seguinte. E resistiram. Vieram, depois, os povoadores... e trouxeram as vacas holandesas.
E chega-se a Angra, recebidos pelo monumento aos touros à corda
e a praça de touros.
Subimos à freguesia da Memória e, na Praça do Castelo, no Alto da Memória,
Do miradouro, vê-se o casario,
a Sé Catedral de São Salvador, Matriz de Angra,
A Igreja do Forte de São João Baptista,
Identifica-se, também, a Igreja da Misericórdia,
azul, olhando a Baía e, até, o Ilhéu das Cabras.
O dia terminou no Hotel Terceira Mar, com jantar a ver a noite a cair sobre a piscina
e o Monte Brasil ao fundo.
Saímos com a lua a crescer,
a pé, até ao centro, olhando os edifícios recuperados do abalo,
a Sé e os passeios de calçada portuguesa.
A Praça Velha está bem iluminada e,
à volta, a Câmara Municipal e os belos edifícios,
incluindo o hotel onde ficámos há 30 anos.
O dia seguinte começou cedo. Às oito horas, rumámos para oeste, com a Marina. À beira-mar, a 4km, São Mateus da Calheta,
Ao longe, o Monte Brasil emerge da neblina.
O porto,
o coreto, o Império de 1873
e a Fonte
A estrada ladeada de cedros japoneses
levou-nos até São Bartolomeu de Regatos
e ao lugar encantado da Lagoa das Patas,
Os verdes e o silêncio contribuem para o maravilhoso.
Tufos de flores
e o lago com nenúfares
e patos (patas) rodeado por muito verde completam o cenário.
O Pico Gaspar
e os Mistérios Negros
acompanham-nos na paisagem até à Lagoa do Negro.
E o encantamento, de novo, na lenda: o escravo negro, apaixonado por uma dama e perseguido pelo pai dela, fugiu, cavalgando até o cavalo morrer de cansaço. Enterrou o cavalo e refugiou-se no lugar dos Mistérios Negros. A paixão fê-lo regressar e, ao encontrar a sepultura do cavalo chorou a sua sorte e as suas lágrimas formaram uma bonita mas triste lagoa, deixando-se afundar nela.
A Gruta do Natal estava fechada...
Mas o tempo disponível também não daria para a sua descoberta pois que se trata de uma formação lávica em tubo com várias ramificações, uma das quais passa por baixo da Lagoa do Negro.
E a estrada até aos Biscoitos,
Na freguesia dos Biscoitos,
cultiva-se a vinha entre cerrados de pedra vulcânica
Mas o lugar mais turístico da freguesia são as piscinas naturais,
onde as rochas lávicas e a mão do homem criaram aprazíveis espaços para refrescar e proteger do mar mais ou menos agreste.
Retrocedemos para Altares, freguesia rural fundada em 1480 sendo, portanto, uma das mais antigas da Ilha. A Igreja de São Roque dos Altares,
debruada a azul, foi fundada no século XV, reconstruída em 1901. Ao lado, a antiga Escola Paroquial, hoje Museu Etnográfico dos Altares,
e a Ribeira de São Roque sem água.
O Império,
em tons de verde, com janelas ogivais e azulejos, de 1903.
Mesmo ao lado, a freguesia de Raminho, implantada no complexo vulcânico de Santa Bárbara. O seu Império do Divino Espírito Santo é lindo e colorido.
A Igreja,
também imponente, no local onde existia uma ermida da Madre de Deus, foi concluída em 1861, em estilo neo-romântico, com duas torres sineiras e consagrada a São Francisco Xavier.
O sismo de Junho de 1867 provocou grandes danos aqui, bem como nas freguesias da Serreta e Altares, com uma erupção que só terminou um mês depois. Mais ou menos no mesmo local ocorreram as erupções de 1998 e 1999. Na véspera da erupção fez-se uma procissão na freguesia de Raminho e repete-se, até hoje, todos os dias 31 de Maio (Procissão do Abalo),
em silêncio, às 6h da manhã, transportando as coroas da Irmandade do Divino Espírito Santo até ao alto da Ponta do Raminho. Os participantes vestem as suas roupas de trabalho e, no regresso, cada um vai ficando em sua casa, à medida que a procissão por elas passa.
A 200m de altitude, na Mata da Serreta, a Fonte Mitológica.
(Nesta Ilha, os sinais de Mistério e encantamento, são muitos!).
Na freguesia da Serreta,
A actual Igreja de Nossa Senhora dos Milagres foi inaugurada em 1907.
Seriamente danificada no abalo de 1980, foi reconstruída mantendo a traça, com 19m de altura de frontispício, com torre sineira única de 23metros.
Continuando a circundar a Ilha para Leste, a freguesia das Doze Ribeiras
(São Jorge das Doze Ribeiras), no maciço vulcânico da Serra de Santa Bárbara. O nome vem de ser a 12ª ribeira a contar da sede do concelho, Angra do Heroísmo. No terramoto de 1980, a quase totalidade dos edifícios foi destruída, o que levou ao abandono do lugar. Reconstruída, a freguesia voltou à sua traça.
O Império
foi desmontado e reconstruído devido a várias catástrofes naturais. Actualmente está no lado direito do largo fronteiro à igreja desde 1989.
A Igreja
foi reconstruída em 1986, segundo a traça original. O orago é São Jorge.
A freguesia de Santa Bárbara
debruada a amarelo, dedicada a Santa Bárbara. A freguesia foi a primeira paróquia real criada na jurisdição de Angra, anterior a 1486, no tempo de Jácome de Bruges. A primeira igreja terá sido construída no século XVI, reconstruída em 1592 e ampliada em 1834. Após o abalo de 1980, foi novamente reconstruída em 1985, mantendo a traça original.
O Império,
também debruado a amarelo, tem, em frente, um bonito trabalho de calçada portuguesa.
Nas Cinco Ribeiras, igreja (Igreja de Nossa Senhora do Pilar)
Os Impérios da Ilha Terceira, encantam-me. Existirão 45 no Município de Angra do Heroísmo! No caminho para a Praia da Vitória, descobri um de linhas arrojadas...
Completada a volta até Angra, com paragem numa queijaria para saborear os queijos locais, apanhámos a única auto-estrada da Ilha até à cidade da Praia da Vitória.
Do Miradouro do Imaculado Coração de Maria,
a panorâmica da cidade.
A baía com a marina e a praia,
o casario e, no meio, as igrejas e a Câmara, os edifícios mais antigos.
Jácome de Bruges fixou aqui residência, juntamente com os primeiros povoados. A cultura do pastel (para a tinturaria) e do trigo fez com que a região se desenvolvesse rapidamente, com edifícios ricos. Protegida dos ventos pela Serra do Cume, espraiou-se até à beira-mar.
O nosso curto passeio a pé levou-nos à Praça Francisco de Ornelas da Câmara,
no centro da qual está a estátua da autoria de Abraham Abohobot,
O edifício dos Paços do Concelho
é o mais importante da praça. Do século XVII, com fachada de escadaria dupla, torre sineira e alpendre. O brasão com as Armas Reais de Portugal,
A placa, na torre, lembra os povoadores.
À direita, sobe-se para a Igreja Matriz de Santa Cruz.
Segundo Alfredo da Silva Sampaio, data de 1456, erguida pelo primeiro capitão donatário Jácome de Bruges. Foi reconstruída em 1557
quando Dom Sebastião ofereceu as magníficas portadas de mármore de estilo manuelino.
Pormenores interessantes nos capitéis das colunas.
A casa das tias de Vitorino Nemésio
vislumbra-se ao fundo, em frente à Igreja do Senhor Santo Cristo das Misericórdias, com o busto do escritor entre as duas edificações.
Destruído por um incêndio em 1921, o primitivo templo foi reedificado 1924, como reza a fachada.
Depois do terramoto de 1980, sofreu novas obras de restauro. Tem um aspecto imponente com as suas duas torres debruadas a azul.
Depois do almoço, a caminho do Algar do Carvão, a paisagem bucólica,
Estrada estreita, rodeada de verdes, leva-nos à entrada do vulcão.
No interior da Caldeira de Guilherme Moniz a 550m de altitude,
o Algar do Carvão é uma cavidade predominantemente vertical, uma chaminé vulcânica
Em 1977 foi construída a escadaria de acesso
É uma sensação única, estar dentro de um vulcão.
A humidade é grande, com grossos pingos de água a cairem sobre os visitantes.
Olhando para cima, as estalactites de sílica e,
em baixo, a lagoa de negras águas.
A Terceira tem um encanto especial e misterioso.
Ficou muito por ver, como Angra do Heroísmo,
Património da UNESCO.
Vamos voltar, para ficar uma semana. Prometido!
***
23 comentários:
Já estive na Ilha Terceira... mas agora, convosco, é que a vi com olhos de ver.
Abre aços!
Que bom rever esta ilha maravilhosa !Ate o hotel foi o mesmo!!!! Continuem a vossa viagem para nos deliciarem tambem com as belas imagens que conseguem ,tao bem,captar.Beijinho .
Ai, ai, ai...Queria isso tudo pra minha vida (bastavam só as "Ilha Quarta, Quinta...". rss
Olá Amigos, mais uma viagem maravilhosa! Adorei como sempre. Já conhecia esta Ilha, mas visitada agora convosco, parece que nunca lá tinha estado :)!! Muito obrigada por este momento lindo, fico à espera de uma nova viagem OK.
Beijinhos
Gostei muito do passeio, mas minha expectativa com Angra do Heroísmo ficará também para a próxima. A primeira igreja é de uma beleza cândida. Muito bonita mesmo! Grande abraço!
Obrigado pelo passeio.
Um Abraço.
Obrigada.
beijinhos
Candita
Revistei a minha estadia de vários dias nos Açores.E gostei, claro
Obrigado
Gostei muito. Bela reportagem! Beijinhos aos dois
Como sempre ,uma óptima reportagem!
Venham mais.,....
Obrigado. É o que sinto. Um grande abraço,meu amigo.Beijinho à Daisy.
Eu já vi há dias a vossa viagem e adorei.As fotos e o documentário ,estavam excelentes tudo tão bem explicado,q.parecia ,q.também nós ,tínhamos feito a viagem !...beijinhos
Fotos muito bonitas como sempre, abraço amigo.
É sempre um prazer ver as vossas viagens. Continuem a usufruir do vosso tempo! Um caloroso abraço.
Que magníficas fotos que aqui tens...
Já comecei a saborear a viagem à terceira, mas mais logo vai ser melhor!! Sois Únicos!!
Bem Hajam Daisy e Alfredo !
Um grande Abraço!
Eu já vou no segundo ano consecutivo a passar 1 semana na Terceira, na Praia da Vitória. para o ano há mais
Obrigada pela partilha que adorei. Foi precisamente o local para onde o meu Pai foi fazer a tropa, em 1941, mantendo-se lá durante quatro anos. Naquele tempo uma grande viagem que nem lhe deu coragem para dizer aos meus avós pessoalmente para onde ia .Escreveu depois uma carta e contava que sofria de imensas saudades. Mas...com o gosto pela fotografia tenho fotografias muitas, não tão bonitas como a vossas ,pois , claro que são a preto e branco. Repito que adorei a vossa partilha com todo o vosso bom gosto.Obrigada.
Obrigada pela partilha. Fotos muito boas, muito bem documentadas.
Bellas fotos. Obrigada
beijinhos
Revisitar a Ilha Terceira é sempre um prazer.
Aprender mais pormenores, ainda melhor!
Grande e linda reportagem.
P.S. Já tinha visto mas não comentei...
Obrigada, Alfredo e Daisy. Assim que pudermos, faremos a vossa viagem. Beijinhos e abraços. Marinela e Chico.
Muito bonita ,a Ilha Terceira! e com os vossos documentários e fotos,tudo se torna ainda mais belo !!!
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