ILHA DE SÃO MIGUEL
9 e 10 Julho 2016
O Arquipélago dos Açores continua a ser um lugar mágico, misterioso.
A História faz-se de documentos (que muitas vezes não existem e, até, por vezes, escondem o que não convém à época) e pela voz do povo que cria lendas. E parece que nem existiam as aves Açores que deram o nome às Ilhas...
A mente humana é criativa e gosta de mistérios. E esta lindíssima Ilha, a maior, consegue cenários propensos a isso, com as suas neblinas que mostram e escondem...
O povoamento terá sido iniciado por Gonçalo Velho Cabral, por volta de 1440. O povo veio do Norte de Portugal, Estremadura, Algarve e Alentejo. Posteriormente, Mouros, Judeus e Franceses e, mais tarde ainda, Ingleses.
Ontem, vindos de Santa Maria, chegámos muito tarde. Ficámos no Hotel The Lince e notámos grandes mudanças em Ponta Delgada. Estivemos aqui há cerca de 26 anos e damo-nos conta que, na zona onde estamos alojados, tudo é novo.
De manhã, iniciámos a nossa visita, acompanhados, porque o tempo é escasso e pretendemos ver "tudo" em dois dias!...
Obrigámos a uma primeira paragem para fotografar a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos,
na Fajã de Baixo, do século XVIII, restaurada em 2006, linda na sua cantaria basáltica, tão característica das Ilhas e que tanto me encanta.
A visita às plantações de ananases, é obrigatória.
Cultivados em estufas, de vidro caiado de branco,
é o único local do nosso país onde existem.
É um processo complicado, trabalhoso, mas obtêm-se frutos deliciosos.
As estradas estão debruadas por hortênsias
e criam uma atmosfera fresca e bela, com fundos verdes.
Aprendemos que existe diferença entre flores macho
e fêmea...
Do Pico do Carvão desfruta-se de uma paisagem magnífica de montes arredondados
com imagens de vacas a pastar,
tufos de hortênsias
e a povoação de Capelas, ao longe.
Voltando à estrada, continuamos a surpreender-nos com alguns pormenores.
No Parque Mata do Canário, deixámos a lagoa e subimos por caminho em socalcos
até ao Miradouro da Grota do Inferno para uma vista sobre a Caldeira das Sete Cidades, na esperança de ver as lagoas Azul, Rasa e Santiago. Mas o nevoeiro denso decepcionou-nos.
Ainda vimos parte da Lagoa das Sete Cidades e a estrada, em baixo, bem marcada pelas hortênsias.
Mais em baixo, a Lagoa do Canário
ainda se deixou fotografar, mas logo se cobriu, também, pela neblina!
No Miradouro da Vista do Rei,
junto do abandonado Hotel Monte Palace, apesar das neblinas,
conseguimos boas e interessantes fotografias, com muita paciência, no vai-vem das nuvens.
Sobre as duas cores da mesma lagoa (aparentemente separada pela ponte de pedra), existem várias lendas mas, fundamentalmente, é sempre a velha parábola do bem e do mal, do pobre e do rico: uma princesa de olhos azuis apaixonou-se por um pastor de olhos verdes. Esse enamoramento era contrariado pelo rei que os separou mas lhes concedeu um último encontro de despedida. E ambos choraram tanto que encheram, cada um, as lagoas Azul e Verde. A verdade é que a Lagoa Verde reflecte o verde intenso da vegetação que a rodeia, e a Azul espelha o azul intenso do céu! Mas a poesia e a beleza estão presentes, mesmo sendo nós racionais!...
No Miradouro do Cerrado das Freiras, porque estamos mais abaixo, a Lagoa das Sete Cidades,
já mostra as suas duas cores.
A Lagoa de Santiago,
fomos vê-la mais à frente, no Miradouro com o seu nome.
Descemos à povoação das Sete Cidades
e, de cima da ponte, tomámos contacto mais próximo com a Lagoa, as suas duas cores,
e os patos.
A Igreja de São Nicolau,
no centro, neogótica, construída em 1857, estava enfeitada para as festas.
Fica no final de uma alameda de criptomérias.
Tem um interior singelo, de nave única.
A pia baptismal está num recanto
com um painel de azulejos que representa o baptismo de Jesus por João Baptista.
Depois do almoço, na freguesia da Várzea, parámos no Miradouro da Ponta do Escalvado,
no alto de uma escarpa, antigo ponto de vigia de baleias, consegue ver-se Ferraria
e a região de Mosteiros.
É sítio ideal para observação do pôr-do-sol. Em dia limpo, até se consegue ver a Ilha do Pico: não foi o caso!
A região da Bretanha parece que deve o nome a um certo bretão que aqui terá vivido e era dono de muitas terras. Pilar da Bretanha
é uma pequena povoação com casa plantadas ao longo de uma rua que termina na igrejinha barroca de Nossa Senhora d'Ajuda.
Também aqui conseguimos ver a cobertura vermelha de um moinho flamengo.
Continuando a contornar a costa Norte, no Miradouro do Pico Vermelho,
chamou-nos a atenção a atenção a Freguesia de Santo António
com a sua belíssima igreja com elaborada cantaria de basalto de cor escura a debruar as janelas e a torre sineira, bem como os azulejos azul e branco que contam a história de Santo António.
Em Capelas, existe uma antiga fortificação,
com alguns baluartes,
onde foi instalado um pequeno barco que dá aso a algumas fotografias de engano...
Fenais da Luz, tem uma igreja, de Nossa Senhora da Luz, que obrigou a mais uma paragem.
Rabo de Peixe, freguesia criada no século XV, era um pequeno aglomerado de pescadores e pastores de origem flamenga e moura que se estabeleceram em terras com formato de rabo de peixe, cedidas por el-rei.
Junto ao cemitério, que me encantou há 26 anos,
existe um painel que presta homenagem a Natália Correia e a Antero de Quental.
A Igreja do Bom Jesus
que já existiria no século XVI, só tem referências a partir do século XVIII.
E chega-se à cidade da Ribeira Grande, a segunda maior cidade da Ilha. Parámos em frente da
Igreja do Senhor dos Passos
(Igreja da Misericórdia ou do Espírito Santo), do século XVIII, barroca, de fachada convexa e pilastras com capitéis coríntios. A exuberância da sua fachada é enfeitada com uma grande concha em relevo,
trabalho de cantaria talhado numa única pedra! É o centro da cidade.
Os Paços do Concelho,
no largo Hintze Ribeiro, é um interessante edifício construído entre os séculos XVI e XVII. Também virado para o largo, o Teatro Ribeiragrandense,
de 1933, de arquitectura ecléctica, tem sido palco de cinema e espectáculos teatrais e musicais.
A ponte dos Oito Arcos, ex-libris da cidade,
é do século XIX e enfeita o Jardim do Paraíso.
Tivemos que provar e comprar os licores da "Mulher de Capote"
e recomendamos o de arroz doce, que se serve com um pouquinho de canela...
A Área Protegida da Serra de Água de Pau tem um agradável espaço para passeio, banhos e merendas, na Caldeira Velha.
Pertence à Reserva Natural da Lagoa do Fogo, encaixada num vale de falha.
Na represa, junto à cascata,
a água, férrea, está entre os 25 e os 30ºC.
Fetos arbóreos, acácias e flora nativa abundam
e ensombram e refrescam a tarde muito quente.
Foram os fetos que mais me encantaram, lembrando outras paragens distantes!...
Do Miradouro da Bela Vista, vê-se a cidade da Ribeira Grande, bem lá em baixo.
E já chegámos à Lagoa do Fogo,
na cratera do vulcão do Fogo, numa visão limpa, sem réstia de neblina! Paisagem de perder a respiração. É a segunda maior lagoa da Ilha, a situada mais alto, tem 30m de profundidade máxima e uma extensão de 3km por 2,5km.
A última erupção, aqui, foi em 1563.
Um pouco mais acima, cinco minutos depois, começava a estar forrada de neblinas!...
Começámos a descida, encantados com a paisagem
e, na cidade de Lagoa, tomámos um refresco, na Praia do Pópulo,
Jantámos no hotel e fizemos um passeio,
já ao cair da noite, até ao centro, por ruas estreitas
de passeios enfeitados de calçada portuguesa.
A Igreja de São Pedro
já tinha pouca luz, mas não resisti a fotografar mais um exemplo do barroco micaelense.
Lembrava-me das Portas da Cidade
e da pena que tive de não as ter podido fotografar porque decorria um evento automobilístico qualquer... E também não foi desta vez, com os enfeites das Festas!... São um marco arquitectónico que, inicialmente, foram colocadas junto do antigo cais, na Praça Gonçalo Velho Cabral.
Três arcos de volta perfeita,
em basalto e mármore claro trazido do continente, apresentam as armas reais e o brasão da cidade.
A belíssima Matriz de São Sebastião foi
construída entre 1531 e 1547 no local onde existia uma pequena ermida. De estilo Gótico tardio, manuelino, tem, no seu portal da fachada barroca, um belíssimo exemplo.
Também lateralmente tem outra porta no mesmo estilo.
A festa prosseguia,
a noite já tinha caído, bem como a chuva que começou a engrossar e nos enxotou para um taxi que nos levou ao hotel.
De manhã, prosseguimos a visita da Ilha, em direcção à Ponta Norte e Nordeste.
No Miradouro de Santa Iria,
a baía com o mesmo nome e a forma de "tartaruga"
Pertence à Ribeira Grande, próximo de Porto Formoso e, nas suas encostas, a 3 de Agosto de 1831 ter-se-à travado a Batalha da Ladeira Velha
entre as tropas dos irmãos D. Pedro IV e D. Miguel, entre liberais e miguelistas.
Do outro lado, a Ponta Formosa e as aldeias de Porto Formoso e Maia.
Um posto de vigia das baleias, em ruínas, continua encravado na montanha.
O chá mais antigo da Europa, nasce nas encostas desta ilha.
E a fábrica Gorreana,
que visitámos, funciona desde 1883. Fica na Maia, em solo argiloso e beneficiando da humidade do clima.
Do Miradouro Pico do Ferro, vê-se a Lagoa das Furnas,
a freguesia das Furnas
e fica-se com uma noção da cratera vulcânica do Vale das Furnas e, com aproximação do zoom, o local onde se cozinham os célebres "cozidos".
O caminho até ao pico, está formosamente ladeado de hortênsias.
A cerca de 20 minutos de carro, o Parque Natural da Ribeira dos Caldeirões, freguesia da Achada.
Na Serra da Tronqueira, a ribeira
e a bela cascata,
no meio da Laurissilva, dos Fetos arbóreos, das Criptomérias e das Hortênsias ainda pouco floridas.
Moinhos de água e casas dos moleiros
transformadas em loja de artesanato e turismo rural. Tudo muito cuidado e paradisíaco.
A Vila do Nordeste
fica já no contorno Este, como o seu nome diz.
Atravessando a ponte de sete arcos, a Igreja de São Jorge, Matriz, de 1796, com um ar delicado,
como contornada a renda basáltica.
Do Miradouro da Ponta do Arnel,
temos uma vista sobre a costa norte da ilha e do Farol do Arnel no promontório.
A curiosidade deste farol: em Outubro de 1918, um bote salva-vidas pertencente ao navio de guerra português "Augusto de Castilho", carregado de marinheiros, chegou aqui após afundamento do navio por um submarino alemão, depois de vários dias perdidos no mar.
Continuando a contornar a costa Leste, no Miradouro da Ponta do Sossego,
o nevoeiro não deixou vislumbrar a paisagem.
O miradouro tem uma área de 1300 metros quadrados de zona ajardinada em socalcos e um local aprazível para merendas e convívio das famílias. Deveríamos avistar a Fajã do Araújo, a Ponta da Madrugada e a Ponta da Marquesa.
A seguir, o Miradouro do Pico Longo, já a Sudeste, também com neblina mas ainda visíveis as povoações com cambiantes de verdes.
Povoação
foi o primeiro local habitado da Ilha de São Miguel.
Fotografámo-la mais adiante, vendo-se a ribeira e a Igreja de Nossa Senhora Mãe de Deus.
E chegámos ao ponto mais turístico da Ilha, as Furnas.
Almoçámos o típico "cozido", com a característica de ser cozinhado lentamente (cerca de 5 horas) em buracos propositadamente abertos nas caldeiras. É obrigatório provar e comparar com o do continente que é mais rico em gordura...
Perto do restaurante onde almoçámos, a Igreja de Nossa Senhora da Alegria, de 1963,
que foi construída no local onde existiu uma ermida de Jesuítas, de 1642.
A curiosidade deste Vale das Furnas anda à volta das muitas Fontes de águas minero-medicinais e das suas Caldeiras.
A Caldeira dos Milhos
está carregada de sacos e pinta-se de amarelo, a cozer as maçarocas de milho que se vendem aos turistas.
A Caldeira dos Vimes,
com tons avermelhados, é o local onde se cozem os vimes para a cestaria.
A Caldeira de Pêro Botelho
que chega e emitir roncos assustadores, tem uma lenda: Pêro Botelho era um indivíduo de muito mau carácter, que brigava com todos e por tudo. Como os vizinhos, utilizava as caldeiras para a cozedura de alimentos e vimes e, um dia, caiu no buraco negro da caldeira. Se alguém o chamava, ele roncava e atirava pedras.
Quando ameaça chover, o ruído pode ir até ao trovão de tempestades. No bom tempo, emite apenas um murmúrio...
Uma das fontes, Nascente Água de Prata,
a temperatura atinge os 34,4ºC, de pH ácido, é boa para as alergias cutâneas.
A Lagoa das Furnas, a 600m de altitude,
está rodeada por abundante vegetação que lhe dá uma tonalidade verde.
Na margem, a Ermida Nossa Senhora das Vitórias, a sul, construída em 1886
para sepultar o casal Maria Guilhermina e José do Canto. De estilo neogótico, tem 13 janelas em ogiva.
Outro local de visita obrigatória, é o Parque Terra Nostra.
É um jardim criado em 1775 por Thomas Hickling, um abastado comerciante de Boston que se apaixonou pelas Furnas. É um bom local para passear e descobrir árvores exóticas,
variadas flores,
lagos e recantos românticos.
O tanque termal, em frente ao hotel,
mostra as suas águas tingidas e quentes, ricas em ferro, cálcio, magnésio e outros oligoelementos.
Encontra-se uma Memória aos Viscondes da Praia
e um interessante miradouro, o "Açucareiro"
onde se pode descansar e apreciar a paisagem
e o Topiário, com vários animais representados.
Em Vila Franca do Campo,
fotografámos o ilhéu
e tomámos uma bebida na marina, mas não conseguimos provar as queijadas da vila (não havia...).
Ainda queríamos ver a imagem do senhor Santo Cristo e, por isso, apressámos-nos para Ponta Delgada. Infelizmente, por causa do jogo de futebol (final da taça dos campeões europeus...), a igreja fechou mais cedo.
Há 26 anos, tive o privilégio de ver a imagem, mostrada por uma das simpáticas freiras. Desta vez, fiquei decepcionada.
O dia estava a terminar e, à volta do Campo de São Francisco, fotografámos o Convento de Nossa Senhora da Esperança,
onde está o Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a peça de Arte Sacra, de madeira, sob a forma de relicário, de estilo renascentista, representando "Ecce Homo".
A Igreja de São José,
antigo Convento de São Francisco fica virada para a praça. Também a enorme árvore, centenária, de que me lembrava muito bem, lá está, amparada.
É conhecida como árvore-de-fogo
(Metrosidero excelsa), originária da Nova Zelândia.
São Miguel merecia mais dias de visita, mas fica a promessa de lá voltar!
* * *
14 comentários:
E lá fui eu, à tua custa, Alf. Gostei de tudo, mas queria saber qual é o chá mais antigo da Europa. Vi um painel vermelho, com um nome esquisito e que era casa de chá?
E o cozido? Digam lá a verdade...
Obrigada, Alf e Daisy. Beijinhos.
Açores, onde até as freiras gostam de futebol...
Obrigado por mais esta bela reportagem, que mais me abriu o apetite de conhecer este pequeno paraíso.
Vamos ver se consigo lá ir, antes que ele arda!...
Beijos e abraços.
Ai, ai...qdo, enfim, poderei atender aos meus ais?
Quero tanto isso pra minha vida!
Parabéns por tanta qualidade.
Reportagem maravilhosa ! fiz-me ao caminho, seguindo as vossas maravilhosas e bem explícitas
indicações ! foi só seguir em frente e ... adorei cada povoação, cada igreja bonita, cada recanto florido, cada lagoa, tudo, tudo.
Obrigada, meus amigos, gostei muito! Era um lugar como tantos mais,que gostava de conhecer, mas talvez me fique apenas pelas vossas belas fotos.
Beijinhos e continuem a aproveitar a saúde para fazerem belas viagens.
Olga
A explicação que lá nos dão para a diferença de cores das lagoas azul e verde (mais e maior vegetação nas margens da lagoa verde), não me convence.
Parece-me que tem a ver com algas, com a ecologia de cada lagoa.
Coisa linda.
Tonito.
Maravilha de viagem! Belíssimas fotos, de belos locais. E o texto sempre preciso, cheio de informações. Posso dizer que quase estive na Ilha de São Miguel. Abraços!
Melhor é impossível.
Eu que sigo a novela C D nunca imaginei que era assim tão esplendorosa a Ilha.Beijos para ambos da Candita
Não há ilha mai linda, pois não?
C'est tellement beau. Je suis sous le charme. Merci pour ce magnifique reportage. Beijinhos
Bem hajas, Primo. Lá vou viajando convosco...
Beijinho
Muito bonita esta Ilha e muito bem apresentada por vós!
Obrigada pelo passeio magnífico.
Beijinhos
Já lá estive mas nunca se consegue ver tudo. Agora fiquei com a visita muito mais completa. As fotos estão lindíssimas fazendo justiça à beleza da ilha.
Beijinhos aos dois.
Claro que valeu a pena! Obrigado pela excelente reportagem que nos proporcionaram. Parabéns!
Abraço dos Vossos
F. e ZM
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