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sábado, 9 de janeiro de 2016

PORTUGAL - IDANHA-A-VELHA, MONSANTO, PENHA GARCIA


Aldeias de granito
16 Junho 2012

IDANHA-A-VELHA, no meio de olivais, 

é mais uma mostra da história de Portugal.
Estacionámos fora da aldeia e deparámo-nos com um terreiro com velhas oliveiras, por certo milenares…

Crê-se que aqui nasceu o rei visigodo Wamba. Foi sede de bispado até 1199.
Está circundada por muralhas a que foi acrescentado um passadiço, 

podendo ver-se o campo à volta 

e espreitar as ruas estreitinhas 

e as cegonhas nas torres. 

As primitivas muralhas foram construídas pelos romanos no século III, mas o que resta será do século X.
Sabe bem passear nas ruas desertas 
e olhar com olhos-de-ver. 

Os turistas não vieram e os habitantes do burgo devem estar a almoçar ou resguardados do sol abrasador.
A luz é intensa. O céu, azul com nuvens branquinhas e bem delineadas. As casas de granito, bem tratadas, mantêm as janelas fechadas.

Chegamos à Matriz, de traça Renascentista.

A escadaria de acesso termina em patamar junto do portal decorado com elementos geométricos. 

Por baixo de um nicho vazio, uma Cruz de Tau ou de Santo Antão.
E, logo ali, o Pelourinho, manuelino, do século XVI, 
numa plataforma de três degraus, com fuste oitavado de faces côncavas, rematado por uma peça prismática com as armas reais, a esfera armilar e a cruz de Cristo.

Na parede de uma das casas, a cruz dos Templários.

Ao fundo, a Casa Marrocos
solar desenquadrado, ao abandono, já deve ter conhecido dias gloriosos! 
Debaixo das janelas, os ninhos das andorinhas, habitados.

É do chamado estilo eclético, do século XX.

Mais ao fundo, descendo à esquerda e depois à direita, adivinha-se a Catedral.

Mas, antes, alguém que nos avistou no papel de turistas, convidou-nos a visitar o artesanato local. Os adufes, demasiado caros para peça de decoração, já que nenhum de nós conhece a arte de os tocar. Mas tem valor, sim senhor! 50 euros os profissionais, 40 os menores. Mas, com boa vontade, os profissionais ficariam por 40 euros. É a crise: do negócio… e nossa. Ficaram lá. Mel, também não trouxemos: envelhecem os que temos, na gaveta da cozinha!… As "marafonas", quero comprá-las em Monsanto. 
Ah, mas os queijos, sim! Uma delícia, a prova. Trouxemos dois. Um será para congelar, que somos só dois e não damos conta do recado!… Agradeceu o Mário, que interrompeu o almoço para nos atender.

E descemos à Catedral, do século VI, 
restaurada no princípio do século XVI, com características góticas e romanas. 

O turismo estava fechado (para almoço) e pouco mais consegui saber. 
Informei-me depois e soube que é dos edifícios mais fascinantes do nosso país, com misturas arquitectónicas e de materiais do tempo dos romanos, 
suevos, visigodos, islâmicos, templários e manuelinos! Ao longo de mais de um milénio, foi sofrendo modificações ao sabor das religiões dominantes. 
Na próxima visita, não escapará a visita do interior, que marcaremos com antecipação.

Perguntámos onde era o Forno Comunitário 
e lá fomos comprar pão acabadinho de cozer. Quente! O saco de plástico foi dispensado e, com ele a queimar-me o peito, segui a indicação de Torre dos Templários ou Torre de Menagem,

deparando-me com as ruínas de uma grande torre quadrangular, com porta e janelas ogivais, 

num ermo, rodeada de ervas e entulho!… É o que resta do castelo, primitivamente rodeada por uma cerca com muralhas. Assenta sobre um podium de um templo romano e foi mandada erigir pela Ordem do Templo em 1171. Espero que as Aldeias Históricas de Portugal façam o que já fizeram em muitas outras e recuperem este Património histórico do nosso país!
O Alfredo já se impacientava e chamava por mim, de uma das pequenas ruas.

MONSANTO não fica longe. 

E o piso das estradas está melhor do que julgávamos.
Construída em pedra granítica na elevação escarpada do chamado Cabeço de monsanto (Mons Sanctus)

a aldeia que ganhou o galo de prata de "mais portuguesa de Portugal", em 1939, esperava por nós para nos dar de almoçar, que a fome já apertava, com o desandar das horas.
Conta a lenda que, estando cercada pelos Mouros há muitos dias, já com pouco de comer e desesperados, atiraram os monsantenses uma vitela com o estômago cheio com os últimos cereais, pela escarpa abaixo, juntamente com cruzes de flores. Os Mouros, que estavam mais esfomeados do que os cercados, desandaram, convencidos de que os inimigos tinham, ainda, tantos alimentos que se davam ao luxo de lhes oferecer alguns, aguentando, por isso, o cerco até que eles morressem de fome! No primeiro Domingo de Maio, festeja-se a Festa da Santa Cruz, lançando cântaros de barro caiados de branco decorados com fitas e flores, pelas escarpas.

Deixámos o carro à entrada da aldeia, junto da Igreja Matriz de São Salvador
com fachada românica, provavelmente do século XV.

E abancámos no "Petiscos e Granitos" para almoçar,

em sala castiça incrustada nos penedos graníticos. 
Comida boa e gente simpática.

Como diz Cardoso Marta:
Nunca se sabe em Monsanto
(que as águias roçam com a asa)
se a casa nasce da rocha
se a rocha nasce da casa.

Vale a pena deambular umas horas pelas ruas estreita e íngremes



e espreitar a paisagem nos miradouros.

O lugar de Monsanto foi doado à Ordem dos Templários que, sob a orientação de Gualdim Paes, mandou construir o castelo onde antes teria havido um castro, uma povoação lusitana fortificada. Dom Sancho I repovoou e reedificou a fortaleza destruída nas lutas contra o Reino de Leão. O foral da vila foi-lhe outorgado por Dom Manuel I. No século XVIII, o duque de Berwik cerca a vila, mas o exército português, comandado pelo Marquês de Minas, derrota o invasor. No século XIX, o castelo medieval foi parcialmente destruído por uma explosão acidental no paiol de munições.

Caminhámos até ao castelo

mas o calor e o sol abrasador fez-nos desistir mesmo à sua vista. Ficou a promessa de voltar. 
O Alf nem o viu, ficando à sombra de dois grandes penedos de granito.

Pelo caminho, encontrámos a Grutacujo significado desconheço. 

Um aparente altar ou tumba, 

esconde-se num dos recantos formado por dois gigantescos blocos graníticos.

Desviei-me na indicação de Torre de Lucano
torre de granito do século XV, encimada pela réplica do galo de prata ganho em 1939.

No Turismo, que estava fechado quando subimos, a simpática funcionária forneceu-nos alguma informação que teria sido mais útil quando chegámos. Encantei-me com um cartaz ("Realidade e Imaginário", de José Luís Madeira), 

exposto e, gentilmente, foi-me oferecido, embora estivesse disposta a comprá-lo.
O edifício do Turismo é um belo solar, 
na rua Marquês da Graciosa, que pertenceu à Família Giraldes de Andrade, Alcaide-mor de Monsanto.

Em frente, outro solar, do século XVIII, da Família Pinheiro, com uma fonte na fachada 
(Chafariz do Moro)

e brasão.

De um dos miradouros, 
vê-se a Casa de Uma Só Telha
com cobertura de uma só rocha granítica.

Enquanto o Alf comprava fruta, procurei a casa que foi consultório do médico-escritor Fernando Namora
quando este aqui viveu de 1944 a 1946.

E dei com a pequena Igreja da Misericórdia

românica, com a imagem da Virgem entre grades 

e a torre sineira ou de Lucano, 

atrás e com o Pelourinho, do século XVI.

As marafonassão cruzes de madeira vestidas,
com aspecto de bonecas, associadas a cultos de fertilidade, utilizadas para afastar o perigo de trovoadas e outros males. 
Participam nos desfiles da Festa da Divina Cruz. Muito coloridas, de amorosos vestidinhos e lenços,
existem de vários tamanhos nas lojas de artesanato e às portas, em cestinhos e altares, 
ao lado de mulheres mais ou menos idosas e faladoras. 

Com tempo, até conheceremos as histórias de toda a aldeia, em conversa amena de desenrolar de palavras!…

Para acabar o dia, ainda faltava PENHA GARCIA
que fica logo ali.

Possui um castelo

na serra do Ramiro, sobranceiro ao rio Pônsul, 
na vertente da serra de Penha Garcia.

A construção deste castelo foi iniciada por Dom Sancho I e Dom Afonso II, em 1220, doando-o à Ordem de Santiago. Mas, em 1303, Dom Dinis doou-o à Ordem dos Templários. No século XVI, com o fim das ordens religiosas, o castelo e propriedades inerentes, regressaram à Coroa.
Diz a Lenda do Penhor da Justiça que Dom Garcia, alcaide do castelo, numa noite de tempestade, raptou dona Branca, bela jovem filha do poderoso governador de Monsanto. Dom Garcia acabou por ser capturado nas encostas da serrania. 
Não foi morto, por insistência dos apelos da formosa Dona Branca, mas o governador condenou-o à perda do braço esquerdo. Conta-se que o "Decepado" continua vigiando do alto das torres, o morro sobranceiro a Monsanto!…

Não encontrámos o "Decepado" mas, subindo por becos e escadinhas, 

fomos ao castelo 
de onde se tem uma vista fantástica para a barragem de Penha Garcia. 
As escarpas e algumas casas, ficam submersas quando a barragem é aberta.

É uma paisagem fabulosa.

Como formiguinhas, em baixo, um grupo preparava-se para fazer escalada.

A aldeia, em si, não é tão monumental como Monsanto, mas está cuidada e é simpática, 

com as pessoas nas soleiras das portas, cumprimentando e dando informações.
Se não tiverem comprado pão na Idanha, como nós, façam-no aqui. Vale a pena.

A Igreja Matriz 
é simples, com torre sineira quadrada. 

Pelourinho 

tem, no capitel, 
inscrições referentes ao reinado de Dom Sebastião, da época em que foi construído, e os seus autores foram Estevão Simão e Domingos Fernandez.

É tudo muito perto, mas fomo-nos entranhando mais e mais no interior e, quando quisemos voltar à A23, estávamos bem longe dela, apesar de haver uma indicação à saída de Penha Garcia, perdendo-se depois, como já é hábito, aliás, nas indicações das estradas deste nosso país. Com o GPS, confiámos. E quando chegámos a casa, em Aveiro, já era noite!!!


* * * * *

18 comentários:

São Rosas disse...

Monsanto tem tanto para contar... e tanto por descobrir...

Álvaro Assunção disse...

Bem Hajas!!...uma boa manhã chuvosa de Domingo.! Um Abraço

Heitor Lopes disse...

Logo hoje que te ia convidar para ir a Lousã

António Guilherme D. Vicente disse...

Obrigado Alfredo, vou seguir o conselho.

Carlos Costa Freire disse...

Obrigado a estes dois meninos,que nos fazem encher o olho,com estas maravilhosas fotos e comentários....numa manhã chuvosa em Viana....Bjs e abraço

Manuela Santos Dias disse...

Que maravilhosa ideia... fico grata.

Zé-Tó Gaspar disse...

Obrigado....!!!!

José Manuel Saraiva disse...

Mais uma excelente reportagem do Alfredo e da Daisy! Adorei a viagem. Obrigado e Parabéns! Abrs.

Nana Vieira disse...

Muito lindo...

Albino Reis disse...

Adoro este tipo de aldeias. Muito bonito!

Lydie Gomes disse...

Lindas fotos e num dia de chuva é um raio de sol feliz Ano 2016 para todos com muita saúde.

São Vaz disse...

Acabei de revizitar as terras raianas e gostei muito de ter ido convosco ,pois conseguem sempre mostrar-nos lugares que nos passaram despercebidos!!!!!gostei

Ló disse...

Bela visita me proporcionaram, mais uma vez. Não conheço nada desta zona e gostei do que nos contam e do que nos mostram

Inês Saraiva disse...

Muuuito lindo! Beijinho

Isabel Pais disse...

Maravilha!Boa semana!

Branca Sarmento disse...

Obrigada pela partilha. Bjs

Saint-Clair Mello disse...

Gostei de estar com vocês por essas aldeias de encanto. Um abraço.

celeste maria disse...

Estou sentada vendo as chamas na minha lareira.
Então fui passear por terras graníticas, em tempo quente, com uns amigos que me proporcionaram uma excelente viagem, numa conversa descontraída, tu cá, tu lá e me mostraram, em imagens fabulosas e legendas carregadas de sabedoria, esses lugares mágicos do nosso país!
A minha costela transmontana emocionou-se...
Beijinhos, Daisy e Alfredo.