Com a Hilde, Isabel e Marina
DELHI
A esta distância, por certo, escapar-me-ão muitos pormenores.
Olhando as fotografias já a descolarem-se dos álbuns e que o Alfredo terá que digitalizar, as memórias vão aparecendo e iremos partilhar mais esta viagem com os nossos amigos.
A viagem foi dura e a chegada a Delhi um choque, começando pelas caras atrás dos cartazes com nomes, que olhavam para nós, tentando adivinhar se seríamos nós quem iriam guiar. Pele escura e cabelo liso, preto, muito preto.
Rohit era o nome do jovem que nos esperava. O cartaz dizia "Vicente", o apelido da Isabel, porque a viagem, programada por todos, foi marcada por ela, em Lisboa, em agência de pessoa conhecida. O rapaz ficou baralhado, por ela ser mulher (começou aqui o choque de culturas...), perguntou o apelido do Alfredo e passou a ser esse o nome do nosso grupo, partindo do princípio de que teria sido lapso da parte dos indianos!... Também perguntou se éramos todas mulheres dele!!!
Mas eu era a única que dormia no quarto dele. As três meninas ficaram no segundo quarto.
Assim que saímos do edifício do aeroporto, o calor, a humidade e os cheiros avassalam-nos. É outro mundo. Parecia outro planeta.
E o choque continuou, com a visão dantesca do movimento caótico do tráfego, das casas velhas, escuras, aparentemente a cair. E o barulho?!? Todos os carros apitam... muito! Basicamente, a condução é pela esquerda, mas cada um vai por onde quer e regressa à esquerda quando ouve o apito da buzina. Alguém disse que, para conduzir bem na Índia, são precisas três coisas: good brakes, good horn... and good luck!
A Índia é o 7º maior país do Mundo e o 2º mais populoso, depois da China.
DELHI é a maior cidade do norte e é a capital.
Como estávamos cansados, comemos qualquer coisa no hotel, o "The Oberoi Maidens", instalámo-nos e pedimos um taxi para a Praça Connaught, para jantar, tendo-nos aconselhado sobre o restaurante, na recepção.
A praça é uma das maiores de Delhi, um centro de comércio e finanças. Deve o seu nome ao duque de Connaught e foi construída entre 1929 e 1933.
Assim que saímos do taxi, fomos "assaltados" por vendedores de tudo e mais alguma coisa, predominando o cheiro intenso do jasmim. Sentimo-nos extremamente inseguros. Muitos pedintes: crianças ao colo de crianças.
Procurámos, a segurança do restaurante recomendado.
A maioria dos clientes eram indianos e ficámos receosos quando vimos toda a gente a comer com as mãos, mas forneceram-nos talheres.
A comida é muito saborosa e variada. O Alf começou, aqui, a sua primeira refeição que vai ser igual até ao fim desta viagem: CARIL! "Mas sempre diferente!...", dirá no fim. É que cada pessoa mistura os ingredientes de uma maneira singular.
No fim da refeição, ainda tentámos fazer um pequeno passeio pela praça, mas rapidamente desistimos, por causa do assédio.
Foi fácil e rápido chamar um táxi para cinco pessoas, a partir do restaurante, onde regressámos. Mais difícil foi a viagem.
A cidade é pouco iluminada. Entre as faixas de rodagem da grande avenida, o espaço estava cheio de pessoas a dormir. E o condutor tinha um comportamento inusitado: de luzes desligadas, punha o carro em andamento, acendia os faróis nos máximos e desligava-os imediatamente, fazendo o percurso às escuras, voltando a repetir a operação alguns metros à frente!!! O Alfredo, à frente, a seu lado, começou num riso nervoso que nos começou a preocupar. Ainda tentou perceber o motivo de tal comportamento mas o motorista não entendia uma palavra de inglês!...
Respirámos de alívio, quando chegámos ao hotel.
Ao nosso serviço, temos dois automóveis com motoristas, que nos vão acompanhar durante toda a viagem na Índia. As três meninas viajam num e eu e o Alf e o guia (quando há) em outro. O nosso motorista conduz um Tata e chama-se B. P. Singh.
A primeira visita foi ao Rajghat, Mausoléu de Mahatma Gandhi. Raj Ghat significa Banco Rei e é o memorial ao Pai da Nação Indiana que defendeu que só através da não-violência e da verdade podemos conseguir a Liberdade. É uma plataforma de mármore negro, no local de cremação de Mahatma Gandhi a 31 de Janeiro de 1948, um dia depois do seu assassinato.
Está situado nas margens do rio Yamuna.
Por um dos quatro caminhos de pedra,
ladeados de relva, caminhamos descalços até ao túmulo, onde estão gravadas as últimas palavras de Gandhi: "Hey ram! (Oh meu Deus!). É um local que convida à meditação e ali ficámos, por momentos, pensando na violência dos actos dos homens.
Sobre o mármore negro, coroas de flores coloridas e uma chama eterna.
Lal Qila ou Forte Vermelho, foi a visita seguinte.
É o maior monumento da Old Delhi, Património Mundial da Humanidade.
Exemplo da arquitectura indiana, com mistura da Arte Persa e Europeia, no estilo Shahjahani e deve o seu nome popular à cor da pedra dos seus altos muros de 18 metros
na margem do Yamuna e de 33,5 metros na face virada para a cidade.
A sua construção demorou dez anos, desde 1648, na época do imperador mughal Shah Jahan, o construtor do Taj Mahal que, após a morte da esposa, transferiu a capital de Agra para Delhi.
Tem 2,4 quilómetros de muralhas e ocupa uma área de 254,67 acres.
Entrámos pelo Lahore gate.
Além deste, também se pode entrar pelo Delhi gate. Mas o imperador entrava pelo Khizrabad gate, outro dos seis portões de acesso.
Dentro, depois de atravessar a enorme área verde dos jardins, assistimos à maior chuvada jamais vista. A época das monções, mostrava-se.
A riqueza de ornamentações dos vários edifícios, é inimaginável!... Acredita-se que o maior diamante do Mundo, o "Kohinoor", fazia parte do mobiliário!
Foi no Diwan-i-Aam, Hall of Public Audiences,
onde o imperador, sentado na canopied alcove, ouvia as queixas dos seus súbditos, que aguardámos a paragem da chuvada, sob os olhares persistentes e incomodamente incisivos dos visitantes masculinos indianos.
Quando a chuva parou, pudemos continuar a visita.
Separados por verdes jardins e passeios extremamente limpos,
os Nahr-i-Behist, os apartamentos privados do imperador, com a vista para o rio Yamuna
e a Moti Masjid (Mesquita Pérola), a mesquita adicionada mais tarde, construída em 1659, como mesquita privada, para Aurang Zeb, sucessor de Shah Jahan. Pequena, de mármore branco, com três cúpulas e três arcos. Os pavilhões são ligados por um canal de água corrente a partir do Yamuna.
Os nossos carros estavam fora, mas foram dispensados para podermos ter uma experiência extraordinária, aliás, duas em uma: atravessar o Chandi Chowk, o mercado, dois a dois, num riquexó com condutor de bicicleta a passar tangentes a pessoas, outros riquexós, vacas e lojas pejadas de tudo e mais alguma coisa!...
Até à Jama Masjid (Mesquita da Sexta-Feira), a maior mesquita de Delhi, na colina Shahjahan, construída em 1650.
Cerca de 6.000 pessoas trabalharam aqui durante seis anos.
Com três grandes portões, quatro torres e dois minaretes de 40 metros de altura, sobressai na sua beleza, com tiras de arenito vermelho e mármore branco.
O enorme pátio (75X66 metros), com o chão brilhante do resto da água que acabou de cair, tem capacidade para 25.000 pessoas e só pode ser pisado por pés descalços.
São cinco pavilhões distintos. Quatro são de arenito vermelho e um, belíssimo, de mármore branco e rosado.
Pelas arcadas abertas à paisagem, consegue ver-se o forte mais antigo de Delhi, o Purana Qila.
Quando saímos, os nossos motoristas esperavam-nos para nos levarem ao Birla Mandir,
templo budista (o primeiro templo mandado construir para a família Birla)
em estilo arquitectónico Nagara, com influências modernas.
Também conhecido por Templo Lakshmi-Narayan
é dedicado a Lakshmi (deusa da Riqueza) e seu consorte Vishnu (Preservador). Foi inaugurado em 1939 por Mahatma Gandhi que impôs a condição de o templo não ser restrito a hindus, mas aberto a todas as castas.
Situa-se a oeste da Praça Connaught e a limpeza imaculada de todo o recinto contrasta com a sujidade do exterior. Impressiona pelas cores garridas (vermelhos, ocres) e pela brancura dos mármores.
São 7,5 hectares de santuários, fontes e jardins.
A estrutura principal tem três andares enfeitados de esculturas com cenas da mitologia Hindu.
Os shikhara do templo são altas torres de arenito, a maior das quais tem mais de 160 metros de altura.
Geeta Bhawan é um grande salão decorado com interessantes pinturas de cenas da mitologia indiana.
Na chamada Avenida do Presidente,
que finda no grande portão de ferro forjado do Palácio do Presidente,
encontramos o India Gate,
com 42 metros de altura, um Arco do Triunfo, no meio de uma encruzilhada. Homenageia os 70.000 soldados indianos que perderam a vida lutando no Exército Britânico durante a I Guerra Mundial. Foi projectado por Edwin Lutyens e a primeira pedra foi colocada pelo duque Connaught, em 1921.
Os encantadores de serpentes colocam-se
estrategicamente para cativar a atenção dos turistas.
Os nossos motoristas deixaram-nos à entrada do complexo Qutb Minar.
A Torre da Vitória ou Qutb Minar
De arenito vermelho e mármore, tem 72,5 metros de altura, com 379 degraus e um diâmetro na base de 14,3 metros e no pico de 2,7 metros.
É belíssimo, decorado com entalhes com versos do Corão e inscrições perso-árabes.
Cercado por várias estruturas medievais, em ruínas, entre elas a mesquita Quwwat-ul-Islam, de colunas trabalhadas. Foi a primeira mesquita construída pelos sultões de Delhi.
A Coluna de Ferro,
no pátio,
tem inscrições em sânscrito que dizem que o pilar foi criado como Vishudhvaja (Padrão do Senhor Visnu).
Dentro do complexo, existe um edifício que começou a ser construído por alguém que queria fazer um minarete mais alto do que o Qutb Minar, mas morreu antes de o completar.
Bom, agora vamos descansar. Espera-nos uma árdua viagem...
19 comentários:
O motorista do táxi devia pensar que os médios e máximos eram para funcionar como os pisca-piscas
Fiquei a "conhecer" Dehli.
Boa repotagem fotográfica e esclarecedoras explicações.
Gostei
Ló
Merci pour ce voyage
É maravilhosa esta partilha. Senti-me como se tivesse ido convosco, arrepiando-me com a multidão e o tráfego, relaxando naqueles espaços abertos de meditação. Obrigada. Fico à espera da continuação.
Sei que vou gostar, mas teria gostado mais se o convite tivesse sido em 1996 !!!...
Adorei, Alfredo! Acompanhei-te e achei-a bestial. Parabéns!
Forte e fraterno abraço para a Daisy e para ti do sempre Vosso,
zm
Falta-te visitar o Luxemburgo, grande Alfredo... Continuo à tua espera.
Andei na confusão do trânsito, senti os odores, vi as crianças...
Viajei de táxi, às escuras e com o Alfredo a sorrir, nervoso...
Um mundo tão diferente!
Como sempre, vos agradeço por mais esta belíssima viagem.
Mais um lugar que gostaria de visitar. Enquanto tal não acontece, já me deliciei em vos acompanhar. Obrigada por me "levarem"!!
"Hey ram!
Gostei, apreciei!
Gostei! Excelente viagem! Hoje vou comer caril...!!!!
Obrigado Daisy! Obrigado Alfredo.
Abraço.
ZL
Obrigado pela viagem.
Tonito
Bela viagem, com alguns comentários jocosos que me fizeram rir. O Harém do Alfredo, com as meninas "mulheres" dele, mas que a Daisy pôr logo tudo nos devidos lugares.
Como já sabia, o transito é caótico e a cena do taxista hilariante.
Boas fotos. Uma outra forma de ver a India, sem as suas bolsas de pobreza. Grandes templos, tudo explicado ao pormenor. Para ver e rever, neste choque de culturas que se percebe.
As cobras encantadas, fazem parte deste universo fabuloso a que felizmente tivemos acesso pelo "Travel".
Foi bom, de novo, viajar convosco ...
Obrigada por mais esta visita que adorei.
País com uma cultura tão diferente e tão bem retratada por vós quer na escrita quer nas imagens.
É sempre um prazer viajar na vossa companhia.
Um abraço
LILI
Gostei,excelente reportagem.
Parabéns.
Luís Cabral
Mais uma viagem por um país distante e com características tão particulares...
Admirei conhecer através de vós mas nunca esteve nos meus horizontes a vontade de conhecer a Índia.
Mas ficar a conhecê-la através de vós,viajantes do mundo,foi muito bom!
Muito obrigada por partilharem mais esta viagem connosco.Gostei muito.
Beijinhos.
Alfredo e Daisy
Obrigado por mais uma viagem encantadora.
Jorge
Obrigada, por mais esta viagem.
Um mundo bem diferente!
Gostei muito.
Obrigada Alf e Daisy.
Obrigada amigos, por mais esta magnifica viagem !
Fotos excelentes e textos maravilhosos e elucidativos da Daisy. É sempre um prazer viajar convosco.
Olga Viana
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