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sábado, 12 de maio de 2012

BRASIL - NORDESTE - Salvador da Bahia

SALVADOR da BAHIA

1 a 5 Julho 2007


Em 1548, Tomé de Sousa, o primeiro governador da Baía, desembarca na vila do Pereira (povoado na baía de Todos os Santos, onde hoje se situa o porto da Barra), para fundar o centro administrativo da Colónia, nascendo,assim, Salvador.
Os índios tupinambás, habitantes do Recôncavo, que não foram aprisionados para o trabalho na lavoura, fugiram mais para o interior.
A produção açucareira tornou-se a base da riqueza da região e, se, no início, o trabalho indígena foi chegando, a rápida evolução levou à necessidade de mais mão-de-obra, tornando-se, então Salvador, o principal centro importador de escravos africanos.

Chegámos a Salvador depois de cerca de 8 horas de viagem, com um dia ainda pela frente, com uma diferença horária de menos 4 horas.
Esperava-nos a Rosane e o Sr. Mário.
O bagageiro estendeu logo a mão... "para me estrear no euro!...". Mas levou dólar, que era o que estava mais à mão.
Levaram-nos ao "Vila Galé", que já foi "Holliday Inn", onde nos instalámos muito bem, com vista para o Atlântico,

com águas a baterem nas rochas escuras.


Descansámos um pouco e telefonámos ao António Luís, um colega e amigo do Alfredo. Apareceu, acompanhado pela esposa, Silvana. Para mim, que não os conhecia, foram de empatia imediata.
Como estávamos cansados, fizemos uma visita rápida e superficial pelo Forte de Santo António,
Solar do Unhão (onde almoçaremos amanhã), Barra e Pelourinho.
O jantar foi num restaurante à beira-mar, o "Iemanjá":
moqueca de camarão e moqueca de siri mole com os acompanhamentos devidos (vatapá, caruru, farofa de dendé e pirão...).

A independência do Brasil não foi pacífica na Baía, onde só se consolidou em 1823, com derrota das tropas portuguesas que ainda resistiam no Recôncavo. Ainda hoje é feriado no Estado no dia 2 de Julho, dia da Vitória, e não a 7 de Setembro (1822) como no resto do país.
O feriado proporcionou-nos a companhia do António Luís que nos mostrou a sua cidade.
No Mercado Modelo,

antiga alfândega, comprei o malangandan e várias pequenas telas de sabor naif com motivos da cidade.
O malangandan
é uma peça muito interessante: são 12 objectos em prata, todos diferentes, que eram oferecidos ao escravo quando o senhor achava que o devia premiar. Quando tinha as 12 peças, adquiria a liberdade.
Dique do Tororó, um local muito verde, tinha os orixás a planar no meio da água.
Até à Sorveteria da Ribeira, onde nos deliciámos com um saborosíssimo sorvete,
fotografámos as "Gordinhas"
da escultora Eliana Kertész, no bairro de Ondina.
A Silvana acompanhou-nos no almoço no
Solar do Unhão.
Este solar
foi construído para residência do desembargador Pedro Unhão Castelo Branco, no séc.XVII. Abrigava a casa-grande, senzala, capela, armazéns e cais. Em 1962 foi restaurado pela arquitecta Lina Bo Bardi e abriga o Museu de Arte Moderna (que estava fechado por causa do feriado). Com cais próprio,
recebia as mercadorias e os escravos vindos de África.
O bobó de camarão estava uma delícia e uma carne de sol (carne salgada e demolhada para cozinhar), com um sabor um pouco agressivo também não esteve mal.
A sobremesa, fomos procurá-la no Pelourinho,
no Convento do Carmo
transformado em hotel. Uma multidão em festa,
muito colorida, a música altíssima, as casas enfeitadas, as bandeirinhas por cima das nossas cabeças,
fez-nos adivinhar, pela amostra, o que será o Carnaval nesta cidade.
Provámos a sericaia brasileira que só pecou pelo acompanhamento: a ameixa de Elvas foi substituída por figo em compota com sabor a ervas.
Ao fim da tarde, a Gabriela, uma argentina loura a viver há vários anos no Brasil trabalhando no turismo com pessoas de língua inglesa, veio buscar-nos para assistirmos ao Candomblé. No seu mini-bus, foi recolhendo duas americanas negras, serôdias, junto ao forte da Barra, um casal japonês (que estão a trabalhar em Manaus), numa pousada junto ao Pelourinho e um casal holandês um pouco mais velho que nós.
O Candomblé foi num dos mais antigos terreiros da Baía e também um dos maiores e mais importantes, Ilê Axê Opô Afonjá da Mãe Stela que deve andar pelos setenta e tal anos. Constituído por casas dedicadas a vários orixás, museu sobre a história do terreiro, da religião africana, biblioteca, escola municipal e tecelagem artesanal. Forçados a converter-se ao catolicismo, os africanos escravizados prestavam culto aos seus deuses (os orixás que representam as forças da natureza), dando-lhes nomes de santos católicos. Iemanjá, rainha do mar, é Nossa Senhora da Conceição; Oxalá, deus da criação, Jesus. Proibido pela Igreja Católica, o ritual consiste no chamamento dos espíritos falecidos (babalorixás) que se materializam com roupas específicas, numa roda, presidida pela Mãe-de-Santo, e depois de muito rodar e batucar. Tudo seguido com muito respeito, em bancadas separadas por sexos.

Combinámos o Circuito Histórico para o dia seguinte e foi a Rosane que nos guiou com o Alex, filho do sr. Mário, ao volante.
Descemos até ao Forte da Barra ou de Santo António,

 onde chegou o barco de Tomé de Sousa. Pelo caminho, passámos o chamado Corredor da Vitória, onde os ingleses do tempo da rainha Vitória, se instalaram com o mercado do aço, pelo Museu de Arte da Bahia, pelo Campo Grande com a estátua do Caboclo, pelo Gabinete Português de Leitura
em estilo manuelino, pela Igreja Barroquinha
quase afundada e em vias de recuperação, atrás da qual existiu o primeiro candomblé. E parámos na Praça Municipal, onde está o Elevador Lacerda,
a Casa Tomé de Sousa
e a estátua do mesmo.
Espreitámos a Cidade Baixa,
com o Mercado Modelo e algumas habitações antigas do porto. Na ladeira, as casas das mulheres, numa ruína de meter pena. Era aqui que as mulheres/prostitutas esperavam os marinheiros.
A zona mantém algumas prostitutas, velhas e degradadas como as habitações que se recusam a abandonar.
Na Praça da Sé, as baianas vieram para serem fotografadas connosco,
a troco de alguns reais. Bonitas e vistosas mulatas.
As casas portuguesas de um lado,
a Cruz caída do escultor Mário Cravo e mais uma baiana, esta de pedra imortal, em frente.
Entrámos no Terreiro de Jesus, com o Convento dos Jesuítas, as duas igrejas só com uma torre cada uma, a de São Pedro dos Clérigos,
azul, a de São Domingos,
em frente à Catedral.
E finalmente, ao fundo, a igreja de São Francisco,
com um magnífico barroco dourado no interior
e um claustro também muito bonito.


Nada de fotos lá dentro...
Ao lado, a igreja da Misericórdia,
cuja fachada também é muito bonita.
Continuando a descer até ao Largo do Pelourinho, os olhos enchem-se com as ruelas de casas coloniais coloridas,
a casa de Jorge Amado, agora Fundação com o mesmo nome,
a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos
que levou quase todo o séc.XVIII a construir porque os escravos só podiam trabalhar nela nas horas de folga, que não deviam ser muitas.

O almoço foi numa churrasqueira esplêndida, o "Rincão do Gaúcho" com rodízio óptimo mas, principalmente, com um buffet de acompanhamentos de comer e chorar por mais.

Depois, direitos à igreja do Senhor do Bonfim,
construída em 1772, em estilo rococó, coberta de azulejos portugueses do séc. XIX, no interior, com linhas neo-clássicas   .

Cá fora, claro, as célebres fitinhas coloridas que devem ser atadas ao pulso, depois de benzidas, para satisfazer os três pedidos que devem ser feitos à medida que se fazem os três nozinhos.

Descemos à Ribeira, à sorveteria, onde provei o sorvete de mandioca. Passeio agradável, admirando a beleza da grande Baía de Todos os Santos,
as casas da Ribeira, a praia, as casas da encosta
com as torres da Igreja do Senhor do Bonfim a sobressairem.
Depois, a Ponta de Humaitá com a pequena igreja

 e o Forte de São Filipe
ou de Monte Serrat, muito branco no morro verde, com o mar aos pés.

O jantar, no "Escravo Miguel", no hotel, foi muito bom. O buffet de acompanhamentos e de sobremesas com muitas frutas tropicais, tentador.

O dia da partida foi um passeio muito agradável pela BA-099, a chamada Estrada do Coco (com 146 km) até à Praia do Forte, a 84 km de Salvador.
A costa é lindíssima, com coqueiros e dunas de areia branca.
Numa primeira paragem, a Casa de Iemanjá,
em Rio Vermelho, onde se faz o culto da Rainha dos Mares, faz-nos adivinhar o que será o local em dias de festa com os barcos cheios de oferendas que lançam no mar, para Iemanjá. No dia seguinte, a praia enche-se para recolher o que a Rainha dos Mares não aceitou e devolveu.
A praia da Amaralina
tem uma história:a do português chamado Amaral que se apaixonou por uma índia chamada Lina que se perdeu no mar.
As praias vão-se sucedendo. Na praia da Pituba,
com um belo relvado onde se pode receber massagens. No Jardim de Alá,
há uns belos coqueiros. Em Arembepe, nos anos 70, os hippies assentaram arraiais. Janis Joplin passou por aqui e ainda podemos ver alguns resistentes, em cabanas sem qualquer infra-estruturas. A Boca do Rio (Rio das Pedras), e a Praia de Itapuã (pedra que ronca), tão cantada por Vinicius e outros, também ficam nesta costa.
Na Lagoa do Abaeté

bebemos uma água-de-coco,
ouvindo o papo de uma família baiana, metendo-se com a nossa guia. "Vai, guia, diz a eles que Pedro Álvares Cabral venceu as ondas e os oceanos e veio encalhar aqui!...". Risada. "E a cabeça de Lampião está no fundo destas águas!...". Mais risada. "E a água da lagoa era salgada, mas botámos tanto açúcar que agora é doce!". O papo ia bom. "Sabem porque a água do mar é salgada?", perguntou o Alfredo. Que não. "Porque tem muito bacalhau de molho!". Os baianos estavam encantados. "Portugueses?". "Sim, eu sou neto de Pedro Álvares Cabral!...". "E eu sou prima!", disse a mulher mais velha. E foram abraços e risos: "Oi, prima!", "Oi, primo!".
Também esta lagoa tem lenda com índio, que se apaixonou por uma sereia, mas como ela não era mulher, ele marcou casamento com uma índia. No dia do casamento, foi ao mar despedir-se da sua amada, mas não regressou, deixando a índia eternamente a chorar, formando a lagoa com as suas lágrimas. Perto, a gameleira,
a árvore sagrada do candomblé (também chamada iroko e com as suas folhas se prepara a água sagrada utilizada nos rituais da cultura afro-brasileira).

Almoçámos na Praia de Guarajuba e chegámos finalmente à Praia do Forte

cujo nome deriva da existência de um forte histórico, Castelo Garcia d'Ávila, primeira fortaleza-habitação no Brasil, construído no séc.XVI para proteger Salvador das invasões dos franceses.
Em 1972, o empresário paulista Klaus Peters comprou uma fazenda de coco na Praia do Forte e implantou um projecto de turismo sustentável. As casas da aldeia, de pescadores, foram restauradas.

Lojinhas de artesanato,

pequenos cafés,

restaurantes e pequenas pousadas ladeiam a avenida principal que nos leva ao Projecto Tamar,
preservação das tartarugas marinhas do Brasil,

desde 1980, controlando os 8.000 km da costa brasileira.

Regressámos ao hotel onde as malas estavam guardadas e recebemos o telefonema do António Luís com quem jantámos no "Yate Club".

O voo para São Luís do Maranhão é a uma hora um pouco incómoda, mas foi o que se arranjou
(00.45 h). Tentaremos dormir um pouco no avião.





19 comentários:

São Rosas disse...

Que maravilha, o Japão :O)

Ana Isabel disse...

"O que é que a baiana tem?
Tem umas belas vistas, tem!
Tem churrasquinho, tem!
Tem doces sorvetes, tem!
Tem gente boa, tem!
Tem ritmo no pé, tem!
E graças ao Alfredo & Daisy…
Tem lindas fotos, tem!
E histórias como ninguém!"

PS – Vocês podiam era pôr aqui no blogue um formulário para a malta se candidatar a um espacinho na vossa mala. Espero que aceitem subornos...

Rui Felício disse...

Para além das belíssimas fotografias, que são a marca de água do Travel With Us, fiquei a conhecer Um pouco mais da História do Brasil e da sua independência. No que se refere ao feriado da Baía, diferente do feriado que comemora a independência no resto do Brasil, é uma curiosidade e uma completa novidade para mim.
Este casal, já o sabemos, não passeia só para regalar a vista. As suas viagens são bem mais profundas do que isso...

José Manuel Saraiva disse...

Meus queridos Alfredo e Daisy,

As fofotgrafias estão fantásticas! Parabéns! Acho que escolheram bem
esta viagem... Qualquer dia, talvez para o ano, irei levar a Fátima ao
Brasil, que ela não conhece. E, levando-a, farei copm ela exactamente
este itinerário.

Também já estive duas vezes em Salvador e na Praia do Forte. Gostei
imenso. Tenho muitas fotografias, mas não ficaram tão bem como as
tuas, Alfredo.
ZM e F

Washington e Familia disse...

Caros Alfredo e Daisy:

Como bom baiano (e agora Portugues também), Parabenizo a vocês pelo fantástico registo fotográfico e histórico da minha cidade - S. Salvador da Bahia.
Uma cidade linda, rica em história, onde o Brasil político começou, um povo bom, alegre, e que ama receber visitantes.
Obrigado por divulgar tão linda matéria, e aguçar a vontade de visitar Salvador aos nossos amigos.
Infelizmente Salvador passa por uma crise sem precedentes devido a oito anos de péssima administração política - municipal e estadual. Mas penso que "não há mal que sempre perdure" ...
Amamos vocês, e sempre relembramos os bons tempos (muito curtos) que passamos juntos.

Um grande beijo para Daisy e um Forte Abraço para o Alfredo.

Washington, Beth, Juli, Victor e agora Mateus.

Anónimo disse...

Grande coincidência !!!
Sábado, um amigo do meu filho Gonçalo, advogado de profissão, jantou cá em casa.Vive em Salvador e a conversa versou a sua experiencia no Brasil, onde casou. Prepara-se agora para fazer o final do seu doutoramento.
Foi por isso que, com enorme interesse, vi mais esta belíssima reportagem de alegia e cor.
Bem Hajam.
Mas desculpa, dizer-te isto, Alfredo! Aquela tua foto agarrada à baiana (5ª a contar de cima) não se faz !!! Não é elegante fazer inveja aos amigos !!!
Abraço a ambos os dois ...
P.S. Faltam-me ver 6 694 fotografias do Japão. Para que conste ...
QUITO

RI-RI disse...

Mais uma bela aula exemplarmente ilustrada.

Paulo Moura disse...

Haja alguém que saiba contar!

DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Melhor nem de encomenda!!!!!!

cota13 disse...

Obrigado Meninos.
Um Abraço.
Tonito.

olinda Rafael disse...

Vê-se,admira-se,ganha-se conhecimento,come-se...e fico muito contente por tudo isto!
Beijinhos,amigos

Maria Julia disse...

E eu esperando o Japão...

Gostei de conhecer esta zona brasileira e como sempre as suas histórias.

Beijinhos Alf e Daisy.

ricjoa disse...

Parabéns pela reportagem.
Creio que temos uma fotografia tirada com as mesmas baianas...umas semanas depois de vocês terem estado lá!
Nós ficámos na Pousada do Carmo, muito perto do Convento do Carmo (mas a um preço muito mais acessível). Gostei de Salvador, mas ainda gostei mais de S.Luís do Maranhão! Beijo aos primos padrinhos, Joana

abilio disse...

Isto é uma maravilha e um previlégio quando pela vossa mão viajamos, sabendo um pouco de história, comendo, e bem, acolá, e apreciando as belas paisagens através das excelentes fotos.
Continuem a deliciar-nos.
Os amigos agradecem.
Bjs e abrçs
Abílio

JANE disse...

Queridos Amigos
Mais uma vez estou aqui para vos felicitar a magnifica reportagem sobre a Bahia. Tanto há no "continente " Brasil para fotografar rsrsrs será que veremos mais coisas bonitas ???; o Brasil do meu coração, tenho lá toda a família do lado materno ( S. Paulo ) com casotitas rsrsrs na Ilha Bela, Campos de Jordão etc . Vida boa, mas muito queridos , levam a vida a sério como bons paulistas, cultos sem serem ostensivos. Quando lhes dá para a cultura ninguém os bate, também levam a vida a viajar, mas fotos é que não aparecem, e seria bem difícil igualar as vossas , diga-se a verdade.
Um grande beijo e grande abraço do Klaus
Com a amizade de sempre
Jane

Jorge Neves disse...

Foi bom recordar este lugar lindissimo onde eu fui tão feliz.
Jorge

Emiliana Brandão disse...

Olá, Alfredo, sempre visito seu blog, e sempre me dá uma vontade imensa de seguir passo a passo todas as suas viagens.... Adorei as fotos e as histórias desses seus dias na Bahia.!!!! :))

DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Lido e visto com muito agrado!
Um abraço
Um beijo
A distribuir devidamente!

Luís Cabral disse...

Fantástica reportagem, Salvador da Baia é um mimo, a marca de Portugal é fortíssima.
Grande abraço.

Luís e Fátinha