4, 5, 6 Fevereiro 2016
Foram cerca de 3 horas e meia, de Buenos-Aires até Terras do Fim do Mundo, passando por cima dos cumes nevados da Cordilheira dos Andes.
Chegámos ao aeroporto mais a sul do Mundo...
ao lugar onde acaba o mundo habitado e começam os gelos antárticos!
Ushuaia ou Tierra del Fuego,
justifica o seu nome em língua indígena, ushu+aia como baía larga, e tierra del fuego dada por Fernão de Magalhães que, depois de passar o estreito que tem o seu nome, começou por ver grandes fogueiras ateadas pelos nativos no cimo das montanhas.
O "Los Acebos Ushuaia Hotel",
fica bem no altinho, com a cidade de 80.000 habitantes aos pés e uma paisagem fabulosa a partir da janela do quarto e das salas.
Está frio (embora não tanto como prevíamos) e muito vento, que afastou as nuvens, porque choveu ontem!...
Almoçámos salmão (o peixe mais comum por estas paragens...) e um outro peixe que não identificámos, de nome estranho.
Descansei, mas o Alf foi, no shutle do hotel, até à cidade e fez fotos interessantes,
embora diga que a cidade se resume a uma grande avenida que a atravessa, marginal, e pequenas ruas estreitas que sobem para a montanha.
Ao jantar, fomos vendo a cidade a anoitecer, numa mesa junto à janela panorâmica, com o canal Beagle no cenário, as montanhas encimadas de neve e a visita de dois pássaros que,
equilibrados na lenga, compõem o que parece um quadro chinês.
Tivemos um guia interessante, o Óscar, para a visita do Parque Nacional Tierra Del Fuego, no dia seguinte.
A Ilha Grande da Terra do Fogo foi ocupada pelo homem desde há cerca de 10.000 anos. No actual Parque Nacional, viveram os Yàmana ou Yagans,
de pequena estatura, que andavam completamente nus, protegidos do frio com óleos de mamíferos marinhos com que cobriam a pele. Eram uma sociedade matriarcal.
Não tinham muita actividade de caçadores e caminhantes, mergulhando nas águas frias
para caçar mamíferos marinhos
e recolectores de marisco e, por isso, tinham os membros inferiores pouco desenvolvidos. Viviam nas canoas e em pequenas escavações
que os protegiam do clima agreste. Não havia hierarquias entre os diversos grupos, partilhavam os alimentos e eram alegres.. até chegarem os europeus.
Quando Darwin passou por aqui, classificou-os entre os humanos e os símios! A evangelização não foi bem sucedida porque viviam uma vida curta e de trabalho e não tinham necessidade de uma entidade como um deus.
Doenças e introdução de animais, como castores, raposas e coelhos com vista a comércio de peles, dizimaram animais autóctones e indígenas.
Agora, o Parque tem praga de coelhos e castores que roem as raízes das árvores,
desertificando grandes áreas junto à água.
A primeira paragem foi na estação do
Ferrocarril Austral Fueguino
ou El Tren del Fin del Mundo,
pequeno combóio a vapor que foi construído em 1909 para transporte dos presidiários da Colónia Penal aqui inaugurada em 1884. O regime presidiário era semi-aberto porque o governo precisava de mão de obra para a construção da cidade com a madeira da floresta.
A pequena linha foi crescendo à medida que a floresta ía sendo devastada. Em 1947, o presídio foi encerrado e em 1994 o combóio começou a ser utilizado para fins turísticos. Hoje, até existe um campo de golfe com 18 buracos.
Fizemos dois trilhos, sem custo,
com belas paisagens
de flora mais ou menos estranha.
Muito comum, as plantas parasitas,
de um verde mais claro do que as lengas (as árvores que predominam) que se alimentam da seiva das árvores, acabando por secá-las!
As turfeiras,
constituídas por restos vegetais, musgos, gramíneas e juncos acumulados e comprimidos em ambiente húmido e temperaturas baixas que impedem a decomposição, assustam. Num ambiente sem oxigénio, ácido, produz-se uma lenta acumulação, numa profundidade de mais de 8m, num cenário fofo que apetece pisar... mas não é aconselhável!...
A Cordilheira dos Andes sempre à vista,
recordando que o Chile está do lado de lá.
A Baía Lapataia,
surge, em baixo, no fim do primeiro trilho.
Descemos até aos passadiços de madeira e ao pequeno porto, Puerto Arias.
Voltámos a subir, apanhámos o carro e seguimos em direcção ao Lago Acigami,
onde a paisagem é deslumbrante.
Soube bem o chá quente e o chocolate quente que o Óscar preparou, ali mesmo, enquanto nos deleitávamos com o azul glacial do lago
e com as montanhas, onde sobressai o Cerro Condor, adivinhando a fronteira com o Chile.
Terminámos na Ensenada Saratiegui, onde estão
os Correios do Fim do Mundo ou
Unidad Postal Fin del Mundo.
A experiência do almoço, já na cidade, valeu pelas entradas de empanadas. O peixe servido tinha a consistência do bacalhau, mas faltava-lhe tempero.
O porto fica em frente
e foi lá que nos integrámos no pequeno grupo que nos acompanhou no Cruzeiro no Canal Beagle.
O canal faz a fronteira internacional entre a Argentina e o Chile. Navegámos no sector argentino, que pertence à província de Tierra del Fuego, Antártida e Ilhas do Atlântico Sul. O nome vem do barco britânico HMS Beagle que, pela primeira vez aqui chegou em 1830 e aqui voltou com Charles Darwin em 1933.
O guia, Luciano, muito jovem foi dando as indicações em espanhol e inglês. Éramos os únicos portugueses. Alguns franceses e brasileiros.
As ilhas são pequenas e a primeira aproximação foi à Isla de los Pájaros,
onde vivem os Cormorones roqueros,
magalhânicos e imperiais, que vivem perto dos ninhos, entre a Primavera e o Outono.
Na Isla Alicia,
uma grande colónia de Leões-marinhos da América do sul. A aproximação foi uma festa, no convés, apesar dos ventos fortes. Muitos exemplares,
com os grandes machos castanho escuro rodeados pelas fêmeas, de um castanho mais claro e menos volumosas. O comandante fez uma maior aproximação, e o macho levantou-se, ameaçador.
Depois, o Farol do Fim do Mundo, Les Éclaireurs,
imortalizado pelo romance de Jules Verne (1920).
Construído em 1919, com 11m de altura, é um dos símbolos de Ushuaia. Continua a funcionar com equipamento luminoso alimentado por painéis solares. Mas o verdadeiro Farol do fim do Mundo está no Atlântico, já desactivado desde 1902, na Isla de Los Estados, o Farol San Juan de Salvamento, construído em 1884.
Na Isla Puentes, já de regresso,
o único sítio onde é permitido desembarcar,
fizemos um pequeno passeio por trilho bem demarcado,
para observação da flora. Rasteira,
a variedade é rica de tons verdes e muito colorida.
Bagas,
flores
e arbustos.
com a qual já tivemos uma aproximação, nas altas montanhas de El Tatio, no Chile, no deserto de Atacama, a mais de 3000m de altitude.
De consistência pétrea, arredondada, é composta por minúsculas flores também verdes.
E, por cima dela, nascem belas flores coloridas!
Nesta ilha, proliferam e embelezam o solo e fascinaram-me.
Os Concheros
são formações circulares, que aqui se podem encontrar. São assim chamadas, segundo o Luciano, por serem depósito de conchas.
Depois de chá, café e chocolate quente acompanhados com biscoitos, de um licor caseiro intragável (para mim...), o sorteio da bandeirinha do país, que calhou a uma francesa de Avignon. Deverá enviar uma foto da bandeira no local mais bonito da sua terra...
Ushuaia aproximava-se e ficou bonita nas fotografias.
O voo para Calafate, no dia seguinte, era às 16:10h, o que ainda deu para fotografar o nascer do sol,
e fazer uma pequena visita à cidade, durante a manhã.
O shutle do hotel deixou-nos na Avenida Maipú.
As torres das duas igrejas sobressaem na paisagem.
A da Igreja Paroquial
e a da Iglesia de La Merced,
que foi a primeira a ser construída.
Depois de várias voltas, conseguimos encontrar a porta principal, e estava aberta.
Vale a pena entrar.
De nave singela, tem uma imagem da Virgen de Lupán,
muito bonita, homenagem dos náufragos do "Monte Cervantes", de que terá sido salvadora,
e uma inusitada figura (Crucificado?), a sair de uma porta de vidro.
Voltando à Maipú, na Plaza Don Bosco,
fotografei o missionário salesiano e as crianças.
Mais à frente, na Plaza Islas Malvinas,
o memorial aos soldados mortos na Guerra das Malvinas,
um espaço bem concebido que reconhece os mortos, mutilados e deficientes desse conflito ,como Heróis.
Em frente à Casa de Govierno,
uma exposição de cartazes
do artista plástico Alejandro Abt, com o título "Democracia , una construción colectiva" e homenagem a María Eva Duarte Peron, com a frase "donde existe una necessidade nace un derecho".
Às 13:50h, o Óscar apanhou-nos no hotel para nos levar ao aeroporto mais a sul do mundo e despedimo-nos de Ushuaia,
rumo a CALAFATE.
* * *
19 comentários:
Uma visita a terras que fazendo parte dos roteiros turisticos, pela sua lonjura são menos frequentadas pelos portugueses. Muita bela a reportagem e bem documentada, como é habitual. A flora é surpreendente e todo o envolvimento. Também as pequenas cidades e a religião que, seja qual for a latitude é sempre o refúgio das gentes, mesmo que com outros usos e costumes. Mais um trabalho de qualidade, que da minha parte agradeço, certo que jamais voarei para terras do fim do mundo ...
Obrigada por nos mostrarem as maravilhas da Vossa Viagem...!!!
Maravilhoso adorei, obrigada amigo!Bom fim de semana!
Excelente paisagem. ..!!!
Não tenho palavras para lugar tão belo.
PARABENS pelas fotos que tanto ADOREI.
Obrigada SEMPRE por se lembrar de partilhar!
Também eu teria muito gosto em ter ido nesta viagem J
Abraço!
Odete
Fixe
Abraço e beijo
Obrigada por nos mostrarem terras e gentes que eu, de outra maneira, nunca saberia que existiam e que nunca veria. A flora da região é estranha, por isso ainda mais bonita e acredito que muito tenha agradado à Daisy. Aguardamos os próximos episódios
Obrigado.
Fiquei maravilhada com a natureza deste fim do mundo. Três dias bem passados confortavelmente sentada ao abrigo do frio. Mais uma vez!!!
Espero pela próxima etapa.
Beijinhos aos dois
Acabo de ver e ADOREI!!! ...mais uma bela lição de História da Daisy, acompanhada de imagens não só do fim do mundo com também DE OUTRO MUNDO. Obrigada aos dois, mais uma vez!
Obrigada Alf e Daisy estive a cuscar o blog fiquei encantada....assim vale a pena...bjs
Como sempre,fantástico!
Muito boa esta viagem ao fim do Mundo.
Adorei como sempre e não me canso de vos agradecer estes momentos tão belos!
Beijinhos prós dois
Mais uma lição que, como sempre, agradecemos.
Carlos e Fernanda.
Caramba! Que Fim do Mundo lindo...
Maravilha!
Mais uma excelente viagem! :)
Muito obrigada.
Beijos
Finalmente cá cheguei e adorei. Montes de coisas bonitas, que vocês vêm e fotografam em todos os lados, até no fim do mundo :)...Charles Darwin, de quem há pouco, publiquei aqui no FB, a sua teoria e óbviamente esta sua viagem, que fez parte do estudo, aqui falado , para além de Jules Verne - muita história, mas aos poucos :)
Enfim, gostei do fim do mundo, assim fosse ele...
Eu sou a Jú e o que tem o vosso Blog ? Unknown??? Aproveito, para vos enviar beijinhos e agradecer esta viagem.
Enviar um comentário