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sexta-feira, 3 de julho de 2020

PORTUGAL - BRAGA - A Cidade dos Arcebispos

BRAGA,
a Cidade dos Arcebispos

Não podemos visitar Braga sem lembrar um pouco da sua história, que é a História de Portugal.

Fundada pelos romanos no ano 16 aC, com o nome de Bracara Augusta, tem vestígios de aglomerados populacionais desde a Idade do Bronze. É uma das primeiras cidades europeias convertida ao cristianismo.
Orientada em ruas alinhadas Noroeste-Sudeste e dividida em quarteirões, nos anos 50 dC já era rica em comércio de cerâmica e metais e uma referência do Alto Império Romano.
Devido à instabilidade na Hispânia, no século III, foi construída uma muralha que circundava completamente a cidade (em 1070 a Diocese reorganiza-se e a urbe fica restringida em volta da Sé Catedral).
Foi Diocleciano que criou a Galécia (três conventos do Noroeste Peninsular e parte do convento de Clúnia) e Bracara Augusta torna-se capital política e intelectual do Reino Suevo que abarcava toda a Galiza até ao rio Tejo. 
Foi conquistada pelos mouros em 715 dC mas foi recuperada pelo rei de Leão Dom Afonso III cerca de 100 anos depois.
Em 1093 Dom Afonso VI doou a cidade a sua filha  Dona Teresa no casamento com Dom Henrique de Borgonha, conde de Portugal e pai do primeiro rei de Portugal.
Por toda cidade vamos encontrar muitos nomes de Arcebispos. No século XVI, o Arcebispo Dom Diogo de Sousa começa a reestruturação da urbe e, entre os séculos XVI e XVII, vão desaparecendo os edifícios de traça romana e substituídos por edifícios de Arquitectura Religiosa. E sob inspiração de André Soares (outro nome de que se ouve falar muito em Braga...) que viveu entre 1720 e 1760, Braga transforma-se no ex-libris do Barroco em Portugal. Contemporâneo, outro arquitecto, Carlos Amarante, traz os edifícios Neoclássicos.
Em 1790, sob influência das Invasões Francesas e das Lutas Liberais, o poder dos Arcebispos decai, mas o título de Cidade dos Arcebispos ficou-lhe ligado para sempre...

Em Maio decorre a Braga Romana 
e é uma boa desculpa para uma visita.

Subindo a Avenida da Liberdade que vai entroncar na Avenida Central,

deparamos com os edifícios neoclássicos 

e de Arte Nova, com destaque para o Teatro Circo, 
incluido na Rota de Teatros com História desde 2015. Foi idealizado para espectáculos circenses em 1906, mas só começou a tomar forma em Abril de 1915 pela mão do arquitecto João Moura Coutinho. 
Em 1939 foi instalado o Cinema Sonoro e grandes orquestras europeias, Arthur Rubinstein e Guilhermina Suggia passaram por aqui. Em 1986 torna-se sede da Companhia de Teatro de Braga e em 1999, adquirido pela Câmara Municipal, tornou-se num complexo cultural que vale a pena visitar, marcando visita guiada. 
Tem uma sala principal com 897 lugares
(em 4 pisos: plateia, galerias laterais e 3 balcões de camarotes) 
e um lustre fantástico. 



A tela da boca, 

com 12X8m, do Mestre Domingos Costa (discípulo de Silva Porto), retrata músicos, drama e comédia. 
O Pequeno Auditório tem 236 lugares. 

O Salão Nobre 

(onde está o sofá Conversador...) 
foi requalificado. 
O Foyer fica no piso de baixo.



No café "A Brasileira" 

parámos para beber o conhecido "café de saco".

As ruas estão animadas e a velha Chapelaria Machado 

lembra-nos que o comércio local, em Braga, não está morto.

No Largo do Paço, o Paço Arquiepiscopal 

está tomado pela feira romana mas não passa despercebido o Chafariz dos Castelos, 

em estilo barroco do século XVIII, encimado por uma imagem feminina que simboliza a cidade. 

O Paço Arquiepiscopal era sede da República Bracarense extinta em 1790. 

A outra fachada do Paço virada para o Jardim de Santa Bárbara tem uma fonte do século XVII que pertenciam antigo Convento dos Remédios (onde hoje está o Teatro Circo), encimada por uma estátua de Santa Bárbara. Contornando o Jardim de Santa Bárbara, 

estamos na Praça do Município, 
que já foi Campo dos Touros e que foi mandada abrir num local de hortas e quintas pelo Arcebispo Frei Agostinho de Jesus no século XVI. A ala nova do Paço Episcopal virada para a Praça 
(hoje Biblioteca Pública de Braga) 
foi mandada construir em 1751 pelo Arcebispo Dom José de Bragança. 

O Domus Municipalis 
foi mandado edificar dois anos depois. 
Além do belo edifício barroco, na Praça está a Fonte do Pelicano.

E vamos-nos encaminhando para o Arco da Porta Nova, que já se vislumbra ao longe 

e que faz parte da Rota do Barroco de Braga. 
A porta foi rasgada na muralha em 1512 para estabelecer o eixo fundamental da circulação intramuros, iniciativa do Arcebispo Dom Diogo de Sousa. A construção actual é projecto de André Soares. 

A simbologia de se chamar porta e estar sempre aberta levou ao adágio popular "És de Braga?" quando alguém deixa uma porta aberta... 

A fachada virada para o Campo das Hortas 
tem as armas de Dom Gaspar. 

Na face interior, o nicho de Nossa Senhora da Nazaré 
que já existia na versão primitiva do Arco.

O Museu da Imagem 
fica num edifício do século XIX e numa torre do século XIV da antiga muralha medieval, numa obra de restauro do arquitecto Sérgio Borges. É dedicado à Fotografia. 

Braga tem muitos becos. Terei que voltar, para os fotografar. A caminho da Sé fica a que dizem ser a rua mais estreita da cidade: a Rua da Violinha.

A Sé Primacial fica no Largo da Praça Velha. 

Ruas estreitas, 

janelas com roupa a secar 

e lojas. Sinais dos tempos novos.

A Sé é um complexo catedralício. Foi sagrada a 28 de Agosto de 1089 sob a devoção a Santa Maria de Braga. Rivalizou durante muitos anos com a de Santiago de Compostela que adquiriu primazia, diz-se, por haver roubado relíquias sagradas que foram levadas de Braga para Santiago.
Sobre a construção romana inicial do edifício, muitas alterações se introduziram, ao longo dos vários séculos. 
A fachada 
resulta de uma actualização do Barroco de Braga em 1723.

No interior, o esplendor do Órgão de Tubos, 

melhor, dos dois órgãos, 
de 1737 e de 1739, de Simão Fontanes e decorados em talha por Marceliano de Araújo. 

As várias Capelas 

e a Sacristia merecem a visita. 

Os claustros não têm a beleza esperada. 

São do século XIX em substituição dos do século XVIII que ameaçavam ruir.

É a mais antiga Catedral de Portugal que levou ao dito popular: "Isso é mais velho do que a Sé de Braga"! 

Na parede lateral esquerda, Rua de Nossa Senhora do Leite, 

a imagem de Nossa Senhora do Leite, 

cópia da atribuída a Nicolau Chanterene que está no Tesouro-Museu da Sé.

A Igreja de São João do Souto 
foi construída  no século XVIII.

A primitiva era do século XII, doada ao Arcebispo Dom João Peculiar por Pedro Ourives e sua mulher Gelvira Mídiz em 12 de julho de 1611. A actual foi mandada construir pelo Arcebispo Dom Gaspar de Bragança e está ligada à Capela dos Coimbras. 
O Palacete dos Coimbras 
é do século XVI e era residência para eclesiásticos, mas foi adquirida por Dom João de Coimbra, provedor da Mitra de Braga, que edificou uma capela privada sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição e da autoria dos Mestres Biscaínhos (construtores também do Palácio dos Biscaínhos). 

O edifício do palacete foi demolido em 1906 para criar o Largo de São João do Souto e foi reconstruído em 1924 do lado oposto da rua, em continuidade com a capela. 
Atenção às janelas e portas Manuelinas que são as originais do antigo palacete.



No Largo Carlos Amarante, está a Igreja do Hospital, Igreja de São Marcos, 
construída no século XVIII com projecto de Carlos Amarante e cantaria de José Fernandes Graça, o Landim.

No mesmo largo, a Igreja de Santa Cruz 
com fachada barroca bracarense (período final do Maneirismo com o Barroco nascente). Segundo a lenda, existem 3 galos em alto relevo escondidos no intrincado dos desenhos da pedra esculpida e se moça casadoira os encontrar, casa mesmo!. Encontrei um.

Na Rua de São Marcos, 

onde muitos edifícios nos chamam a atenção, fica a Casa dos Crivos ou Casa das Gelosias, 

exemplar raro da arquitectura civil de Braga (século XVII/XVIII) que ressalta pelo revestimento dos alçados em gelosias, finas tábuas cruzadas 
que permitem a ventilação interior e preservam a intimidade doméstica. 
O conceito lembrou-me o Palácio dos Ventos, na Índia, na cidade de Jaipur!...

E regressámos à Praça da República. 
No meio da Arcada, a Igreja da Lapa e a Torre de Menagem do antigo castelo. 

Tem origem na Idade Média e é um projecto do Arcebispo Dom Diogo de Sousa. No século XVI fazia-se aqui o comércio de bens e as arcadas serviam para acolher animais e mercadorias. A arcada actual é de 1715 e tem 19 arcos. Desde 1910 que tem este nome. Por baixo, o Café Vianna , de 1871, que Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco frequentavam. 
Na Avenida Central, está o imponente Convento e Basílica dos Congregados 
encaixado entre edifícios, sobressaindo as suas duas torres monumentais e pesadas. 

A fachada da Igreja, o retábulo de Nossa Senhora das Dores, 

a caixa do Órgão de Tubos 

e a Capela de Nossa Senhora Aparecida são obras de André Soares. As estátuas da fachada, de São Filipe Nery e São Martinho de Dume, são de Manuel da Silva Nogueira. Após a extinção das ordens religiosas (1834), foi liceu, biblioteca e, mais tarde, ocupado pela Universidade do Minho.

A Casa Rolão, 

construída entre 1758 e 1761, merece uma visita. Pertenceu a uma família que se dedicava ao fabrico de sedas e a sua arquitectura deve-se a André Soares. Aqui funciona a 
Livraria Centésima Página, 
um dos locais culturais da cidade.

A Rua de Santo António 

é uma rua estreitinha, no centro, com frequência menos recomendável em tempos que já lá vão.

Perto, numa das antigas torres da cintura medieval da cidade, 
dedicada a Santiago, está o Oratório de Nossa Senhora da Torre, 
de André Soares. 

Na origem da construção deste Oratório esteve a crença de Braga ter sido poupada ao Terramoto de 1755 por intervenção da Virgem. Na Torre, de cinco pisos, está o Museu Pio XII.

Saindo a Porta de Santiago estamos no Largo de São Paulo, 

amplo, com a Igreja e o Museu 
(Pio XII - Henrique Medina) de um lado e o casario do outro lado da rua 

com janelas 

e varandas de cortinas nas fachadas bonitas. 

No Largo, além da Igreja de São Paulo está a Igreja de São Tiago. 

Os circuitos turísticos, em Braga, podem partir sempre da Praça da República...

E num desses circuitos surgiu-nos a Igreja dos Terceiros 
que fica na Rua dos Capelistas. 
Pertence à Ordem Terceira de São Francisco, congregação instituída em Braga em 1672. A sua construção foi iniciada em 1685, mas só foi terminado em 1730, misturando, muito bem, estilos maneirista e barroco. Também aqui houve colaboração de André Soares. As casas coloridas 
que lhe ficam coladas, não estragam a imagem. E vamos encontrar, outra vez, a Torre de Menagem 

e a torre recuada da Igreja da Lapa 
que foi construída em cima da um torreão do antigo castelo. 
Nesse largo, existe um padrão ou pelourinho (...?). 

Depois, a Rua dos Capelistas, 
uma bela rua pedonal com lojas e esculturas.
A Praça Agrolongo, 
onde desemboca a Rua dos Capelistas, também chamada Campo da Vinha está ligada a vários acontecimentos da nossa História. 
Foi aqui que se iniciou a Revolução da Maria da Fonte (28 de Maio de 1926) porque era ali que se localizava o quartel militar. 
Em 1930, Salazar veio apregoar aqui os seus ideais.
E já após a Revolução de Abril, em 11 de Agosto de 1975, a sede do PCP (Partido Comunista Português) foi invadida e incendiada. 

Quem visita Braga, não pode deixar de subir ao Bom Jesus do Monte, 

o conjunto Barroco Rococó e Neoclássico construído no Monte Sagrado.
Igreja, Escadório com via sacra, e o funicular, são as atracções do local.
Começou com uma Cruz no cimo do Monte Espinho. Em 1373 foi erguida a Ermida da Santa Cruz. O arcebispo Dom João da Guarda criou uma Confraria Bom Jesus do Monte, em 1522. Um século depois foram construídas casas para abrigo dos peregrinos e uma capela com Cristo Crucificado e as primeiras Capelas dos Passos da Paixão. 

Carlos Amarante projectou o actual Santuário e a Igreja, concluída em 1811. 
A Igreja 
é um dos primeiros edifícios neoclássicos de Portugal. 

O altar-mor 
foi construído em uma pedra de granito e representa o Monte Calvário. A imagem do Crucificado foi mandada esculpir em Itália.
O Escadório 
tem todo um simbolismo envolvente: 5 Fontes (5 sentidos), 3 Virtudes 
(Fé, Esperança e Caridade) e as Capelas da Via Sacra.

O conjunto é rodeado por um parque arborizado 

com jardins 

e lagos artificiais.

A 4km, fica o Santuário do Sameiro, 

Santuário da Imaculada Conceição do Sameiro, o local mariano mais importante em Portugal, depois de Fátima e da Mãe Soberana de Loulé.

Descendo a Falperra, ainda se pode fotografar um dos mais belos exemplos do Barroco Português, a Igreja de Santa Maria Madalena ou Igreja da Falperra,
projecto do já nosso conhecido André Soares, século XVIII.

E como é belo admirar a cúpula do Sameiro iluminada, antes de adormecer!


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