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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

PORTUGAL - ALTO ALENTEJO

TRÊS DIAS NO ALTO ALENTEJO
(23, 24, 25 de Setembro 2019)

Não conhecíamos Castelo de Vide e Marvão e foi a desculpa para reservarmos 3 dias em Portugal.
Fixámo-nos em Castelo de Vide, onde chegámos pela hora de almoço.
Comemos "Cabrito cachafrito" no restaurante das piscinas, em frente ao Hotel Castelo de Vide  e saímos em direcção a Marvão.
Fomos à procura do Menir da Meada, na aldeia Póvoa e Meadas... e não foi fácil. Infelizmente as indicações são escassas, para não dizer nulas. No meio da aldeia, perguntámos a um local. 

Já tínhamos passado a placa minúscula 
que estava escondida depois da curva apertada que deveríamos ter feito!

Depois de um pequeno troço de estrada não alcatroada, lá estava ele, 
imponente, entre oliveiras e sobreiros. 

Um encanto de enquadramento para esta testemunha do Megalítico, com 7,15m de altura (6m acima do solo). 

É a mais importante construção megalítica, entre granitos e xistos, da Serra de São Mamede, um símbolo da fertilidade e da crença, no período Neocalcolítico numa comunidade próspera que aqui se fixou.

A colina de Marvão 
surpreendeu-nos, com a silhueta escura do castelo e o casario branco a derramar-se na encosta, no topo da Serra do Sapoio, a 860m de altitude.
Os seus habitantes não chegam a ser 500!
Já era nomeada no século X, como Amaia de ibne Maruane e Fortaleza de Amaia. Serviu de refúgio ao rebelde ibne Maruane Aliliqui, "o Galego", líder de um movimento sufi no Andalus contra os emires de Córdova.

Foi conquistada aos mouros por Dom Afonso Henriques ajudado pelos Templários.
Subindo, subindo, começa por nos aparecer o Convento de Nossa Senhora da Estrela, 

fundado em 1448 no local onde existia uma capela dedicada a Nossa Senhora da Estrela.
Deixámos o carro fora das muralhas.
Atravessada a Porta, 
entrámos  no Posto de Turismo, para colher alguma informação. 

Subindo, no Largo do Espírito Santo, a Fonte do Concelho ou Fonte do Espírito Santo 

e a Igreja do Espírito Santo 
que tem um portal renascentista.

Chegados à base do castelo, onde ele e a paisagem brilham, 

o Museu Municipal e Igreja de Santa Maria, 
onde estão expostas peças de Arte Sacra, armaria 

e a capela de Santa Maria.

A rodear o castelo, o jardim de buchos 

e a escultura em mármore rosa de 
João Cutileiro 
que homenageia o fundador de Marvão, Ibn Maruan.

A visita ao castelo começa na Cisterna, 
um sítio mágico e fresco. 

Das muralhas, a vista é impressionante. 

O Convento de Nossa Senhora da Estrela 
consegue ver-se bem, bem como as falésias agrestes da Serra do Sapoio.

Descemos ao burgo. 

Passámos por arcos, 

ruas estreitas, 

janelas 

e portas manuelinas 

debruadas a granito e enfeitadas com linhos e rendas. 

E a casa do poeta João Apolinário 
(1924-1988) que ali viveu os últimos 8 anos da sua vida: local bem escolhido para criar poesia!

Pena aquele edifício a degradar-se, com sinais de casa senhorial, de janelas manuelinas. Dá vontade de chorar!

E voltámos à Igreja do Espírito Santo. 

O gato desta visita foi fotografado por aí. 

Continuámos à direita. Mais arcos nas ruas medievais com as lajes no meio. 

Na Mercearia de Marvão 
comprámos bolachinhas de aveia, maçãs bravo de Esmolfe e azeite.

No Largo do Pelourinho, o Pelourinho 
do tempo de Dom Manuel, o rei que deu o Foral Novo a Marvão, em 1512. Está em frente a um edifício quinhentista, antiga cadeia.

E mais um gato, na muralha, branco, à saída. 

E uma escultura de um Crucificado, 
de Maria Leal da Costa a dominar a paisagem, surpreendeu-nos quando já seguíamos viagem.

O dia já findava, mas ainda conseguimos encontrar, entre giestas, meio abandonada, a Anta da Nave do Grou ou Anta do Sobral. 
Abri a cancelinha, entrei e fui fotografar.

De regresso a Castelo de Vide, parámos junto da monumental Fonte do Martinho 

(do século XVII, um espaldar com 4 bicas de mármore talhadas em forma de golfinhos), para fotografar a vila.

Escurecia quando saímos do hotel e estacionámos na Praça Dom Pedro V, onde está a estátua do rei 

que visitou a vila e que a apelidou de "Sintra do Alentejo" e também a Igreja Matriz.

A Matriz, Igreja de Santa Maria da Devesa 
tem a fachada voltada a Sul, duas torres sineiras com quatro janelões com sinos. A porta principal é ao estilo barroco.

As fontes de Castelo de Vide mereciam um circuito!...
Sabíamos que a Fonte do Ourives estaria por ali. 
Perguntámos. "Fonte do Ourives? Eu sei lá o nome das fontes!...". Adivinhámos: estava mesmo ali, em frente a uma esplanada, no Largo do Capitão Salgueiro Maia. 
De mármore branco, com quatro tanques semi-circulares e quatro carrancas com bicas em cobre por onde jorra a água.

O nosso jantar foi uma gigantesca tosta de pão alentejano numa esplanada.
No dia seguinte, o que nos pareceu, de início, nevoeiro, transformou-se numa chuvinha pouco simpática.

Mesmo assim, subimos ao castelo. De carro (!), não tendo bem a noção da estrutura da vila. Para esquecer! Ruas muito estreitas, 
com curvas onde automóveis com 2m ou mais de largura... não cabem! De cabeça de fora, o "...passa, passa, pára!" foi um sufoco.

O castelo 
estava envolto naquela neblina que o tornava misterioso. Está numa posição dominante no alto de uma colina a Norte da Serra de São Mamede, no meio do trajecto da antiga estrada romana que levava a Mérida.

Com um certo aspecto de abandonado, a primitiva alcáçova vai ser a 
Casa da Cidadania Salgueiro Maia. O projecto parece interessante, mas parece interrompido. Será?

O único habitante era um gato tigrês que se aproximou ao ver-nos.

O Burgo Medieval 
é abraçado pelas muralhas protectoras.

Portas debruadas a granito 
emoldurando as cores (onde predomina o vermelho), com postigos de ferro forjado. 

E as portas ogivais de pequeno tamanho 

(também estas mereciam um circuito...).

A Cadeia 

e a Fonte e Igreja do Bom Jesus dos Presos ficam na Rua Direita. 

Castelo de Vide condensava-se no burgo medieval e a Rua Direita ligava a Porta de São Pedro a Norte e a Porta da Vila a Sul. No Largo da Igreja de Nossa Senhora da Alegria, 
a igrejinha, do século XVII com um bonito painel de azulejos na frontaria simples.

As casas, bem cuidadas, caiadas. 

Portas e arcadas 

nas ruas muito estreitas e floridas.

Descemos de carro até à Rua Bartolomeu Álvares da Santa, numa outra odisseia em que até tivemos ajuda de um simpático habitante local para caber nas ruas medievais!

Em frente aos Paços do Concelho, 

o Pelourinho 
que foi reconstruído no século XX com elementos do século XVII.

A Judiaria fica aos pés do Castelo.

Voltámos a passar junto da Matriz. 
Na lateral, uma bela escultura de Santos Lopes.

Ainda uma ligeira neblina, mas nada que assuste para um passeio a pé.

Junto da Fonte do Ourives (com ela à esquerda), virar na primeira à esquerda.
Leis decretadas por alguns reis lusitanos levaram à criação de "ghetos" próprios para os Judeus... A própria palavra "judeu" entrou para o léxico popular como pejorativo. Em Castelo de Vide desenvolveu-se na encosta da vila virada a nascente.

Visitámos a Sinagoga 
(infelizmente não são permitidas fotos no interior...) na esquina da Rua da Judiaria com a Rua da Fonte. 
O edifício orienta-se no sentido Este/Oeste. A visita é interessante e bem orientada, contando a história e mostrando alguns objectos de culto dos Judeus Sefarditas (a Península Ibérica era Península Sefard).

Depois de algumas panorâmicas da Vila, 

descemos a Ruinha da Judiaria 

para ir fotografar a Fonte da Vila, do século XVI. 

Até à Praça Dom Pedro V, passámos por ruas floridas, 

escadinhas, 

 mais portas ogivais 

e a casa onde nasceu Salgueiro Maia
com promessas de restauro.

À procura da albufeira do Caia demo-nos conta, outra vez, da falta de sinalização das nossas estradas. Encaminhados para uma estrada de terra batida, sem saída, 

valeu para poder fotografar uma Anta desconhecida e não sinalizada!

E, afinal a albufeira até tinha muito pouca água 
e o restaurante estava fechado!

O almoço foi na "A Estalagem", em Arronches, 

onde uma parede de chocalhos nos recebeu à entrada. 

As migas e carne de porco frita foram acompanhadas com bom vinho local (Reynolds... os ingleses também chegaram às vinhas alentejanas!). 
A sericaia também estava deliciosa.

A vila é pequena e encantadora.
Do castelo resta uma parede englobada no casario (Torreão da Cadeia). 

Era uma importante praça-forte durante as guerras com Espanha no século XVII. Pensa-se que terá sido reedificado em1310, mas durante o terramoto de 1755 a povoação sofreu grande destruição e as pedras de trechos das muralhas foram utilizadas na reconstrução. 

As ruas, de casas caiadas e debruadas 
com cores garridas, estão muito bem cuidadas e vão ter à Praça da República, onde estão os Paços do Concelho,

a Fonte de Neptuno 

e a Igreja Matriz 
que surpreende pela beleza e grandiosidade. A igreja primitiva , de 1236 foi doada por Dom Sancho II ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e Dom Teotónio foi encarregado da construção do novo templo, concluído em 1242. 
Um belo portal 
e torre sineira quadrada. 
A padroeira é Nossa Senhora da Assunção de Arronches.

A caminho do Crato, parámos no Mosteiro de Flor da Rosa, 
o belo mosteiro fortificado mandado construir por Dom Álvaro Gonçalves Pereira, primeiro prior do Crato e pai de Dom Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável que assustava os Espanhóis no século XIV.

A igreja, de características góticas,  

abriga o túmulo do fundador 
e encontra-se completamente despojada de toda a sua Arte Sacra. 

Atravessando o belo claustro, 
onde num pequeno lago central se pode ver a Cruz de Malta, 

está um Núcleo do Museu de Arte Antiga com uma exposição de Virgens e o Menino esculpidas na Idade Média.
  

E rumámos ao Crato.
Também aqui o Terramoto de 1755 fez muitos estragos. Procurámos o castelo. "Castelo?", interrogou-se a senhora. "Fica aí para cima. Nunca lá fui! Já não há castelo!".

Pelo caminho, passámos pela Biblioteca,
um edifício que chama a atenção pelo bom restauro.

Também gostámos do mural de Mário Belém, 
"Daquela vez que dei de caras com a janela para a minha alma".

Fechado, abandonado (parece que havia um projecto!), o que resta do castelo...

Regressámos ao carro, pelas ruas medievais.

Depois, foi uma busca infrutífera pela Anta do Tapadão, apesar de termos chegado ao portão apontado pela placa bem visível. 
Não percebemos!...

Consolou-nos o abraço que fomos dar aos nossos amigos de Ponte de Sor e a conversa amena à volta de uma mesa de petiscos.

Despedimos-nos de Castelo de Vide no dia seguinte de manhã com mais uma foto junto da Fonte do Martinho, com a desculpa de que a luz é diferente...

A caminho de casa, percorremos os passadiços do Alamal 
(3.600m muito fáceis de fazer), partindo da praia fluvial 

até à ponte e regressando ao ponto de partida, 

sempre ao lado das águas muito azuis e com o castelo de Belver na mira e que nos mirava. 

De arquitectura militar medieval, 
isolado no alto de um monte granítico, a oeste da vila de Belver, concelho de Gavião, distrito de Portalegre, fazia parte dos castelos que defendiam as fronteiras cristãs da linha dos rios Zêzere e Tejo.

O Castelo de Almourol 
já fica no distrito de Santarém e também fazia parte da mesma linha de defesa, e controlava, também, o comércio de azeite, trigo, carne de porco, frutas e madeiras entre as diferentes regiões e Lisboa. 

É um afloramento granítico de 18m de altura que, com a pouca água que o rio leva, 
custa a crer que é uma pequena ilha de 310m por 75m um pouco abaixo da confluência do Zêzere com o Tejo.

Vila Nova da Barquinha mereceu visita por causa do seu Parque de Esculturas Contemporâneas. 

Alberto Carneiro, Joana Vasconcelos e outros. Gostei, especialmente, do "Contramundo" de Rui Chafes: 
couraça vazia ou com animal ameaçador? Ameaça-nos ou sente-se ameaçado por nós?

A última paragem foi em Constância, na confluência dos rios Zêzere e Tejo.
Atravessada a ponte e subindo, encontrámos a Biblioteca Municipal Alexandre O'Neil 

e pela  escadaria íngreme chegámos à Matriz, Igreja de Nossa Senhora dos Mártires 

que, no seu interior tem uma alegoria do grande Malhoa, 
que decorou o tecto. Maneirista e rococó, foi edificada em 1635.

Junto ao rio, a vila. 
O Jardim-Horto de Camões, 

nas costas da escultura do épico 
que aqui viveu alguns anos, foi criado pelo arquitecto-paisagista Gonçalo Ribeiro-Teles, lembra locais por onde passou o poeta e tem flora desses longínquos lugares.

Na Praça Alexandre Herculano, 

está o Pelourinho 

e vislumbra-se, por uma ruela estreita, a fachada da Igreja da Misericórdia,

maneirista e belo espaldar sineiro 
(apesar das das antenas de televisão que se confundem com a cruz...).

Subimos a Rua Luís de Camões, com a antiga cadeia à esquerda. 

No chão, reprodução de barcos de pesca em calçada portuguesa. 

E, ao cimo, a promessa de  Casa-memória de Luís de Camões.

E voltámos a descer. 
Ruas estreitas com andorinhas no ar e mais barcos no chão, 

escadas que disfarçam os declives, com arcos.

Despedimos-nos, então, da antiga Punhete, que Dona Maria II, em 1836, teve o bom gosto de baptizar de Vila de Constância! 


* * *