PUNO, LAGO TITIKAKA
1 a 3 Novembro 2017
O aeroporto de Cusco é pequeno,
as pessoas são simpáticas e extremamente eficientes.
O nosso voo doméstico para Juliaca durou menos de uma hora e, à nossa espera, estava a Janete. Estão a construir a auto-estrada para Puno e beneficiámos de cerca de 40km de meia faixa para mais rapidamente chegar às margens do lago Titikaka.
Juliaca fica a 3800m de altitude
e continuámos a subir até ao Lago.
O hotel Libertador está à beira do Lago,
a 4000m de altitude, numa espécie de ilha, afastado do centro da cidade. Por isso, almoçámos no hotel: costeleta de alpaca bebé com quinoa e chicha morada. E uma interessante sobremesa chamada "Financiero",
que é um bolo em forma de barra de ouro, com frutos vermelhos e uma bola de gelado de baunilha (muito pouco calórico!!!).
Não conhecíamos a cidade e, por isso, pedimos que nos chamassem um taxi que, por 10 soles, nos deixou na Praça de Armas
e combinámos encontro para uma hora e meia depois.
PUNO é uma cidade relativamente pequena e o seu turismo está tão intimamente ligado ao Lago Titikaka que poucos turistas conhecem o seu centro.
A Plaza de Armas está organizada, actualmente, exactamente como em 1668, ano em que o vice-rei Conde de Lemos fundou a Villa de Nuestra Señora de La Concepción y San Carlos de Puno. Mas, agora, no centro da Praça está o monumento a Francisco Bolognesi,
herói peruano da Batalha de Arica contra os Chilenos.
A Catedral, é um mimo!
É do século XVII e teve várias etapas de construção.
O portal de pedra
finamente trabalhada, cheia de pormenores,
é obra do artista indígena Simón de Asto, que a executou em 1759 e inclui elementos do Altiplano andino, como flores de panti,
pumas e aves da região. Para mim, chega a ser mais bonita do que a Catedral de Cusco, embora menos monumental. É uma fusão entre o estilo Barroco espanhol e elementos indígenas.
As pessoas mantêm os trajes simples,
aconchegantes, e todos de cabeça tapada (que, em altitude, o sol é mais perigoso).
À volta da Praça, os edifícios são coloridos
e estão bem recuperados, transformados em restaurantes e hostels.
A Casa del Corregidor
é um belo exemplo, com o seu balcão azul.
O edifício do Palácio da Justiça,
não é menos colorido!
O Balcão do Conde de Lemos,
em madeira castanha, marca a esquina de uma das casas. Do século XVII, foi nesta casa
que se hospedou o Vice-rei Conde de Lemos que aqui se deslocou para sufocar uma rebelião. Actualmente é o local onde funciona a Dirección Desconcentrada de Cultura de Puno e, também, uma galeria de Arte.
Seguimos pela Calle Lima,
rua pedonal, bem movimentada, com pavimento
com cenas do folclore peruano, em mosaico.
Ao fundo, o Parque Pino,
com uma praça encantadora onde decorria uma Feira do Livro.
No centro da pracinha, uma estátua homenageando Manuel Pino (1827-1881), médico, educador e político da região, que morreu na Batalha de Miraflores (Guerra do Pacífico, 1879-1881).
A Igreja da Candelária,
de frente para a praça. foi fundada em 1562, como Parroquia San Juan Bautista del Partido de Puno, pelo bispo de La Paz.
Na capela, guarda a Virgen de la Candelaria. É em 1988 que o bispo da Diocese de Puno a elevou à categoria de Santuário da Santíssima Virgem da Candelária de Puno.
Em 2014 foi declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pelos rituais ligados a esta igreja que, a 2 de Fevereiro tem a sua festa multicultural, com danças, manifestações artistico-culturais e religiosas (por isso as cenas gravadas no piso do caminho que vem da Praça de Armas até à Igreja).
A Festa da Candelária
está relacionada com os ciclos agrários pré-hispânicos de sementeira e colheita, de culto a Pachamama, a Mãe Terra.
O pôr do sol no Lago,
foi pobrezinho porque estava enevoado. Mas a beleza do Lago, estava lá.
Com 8490 quilómetros quadrados, uma largura máxima de 3812m e uma maior profundidade de 28m, a 4000m de altitude. Tem 36 ilhas, sendo as maiores a ilha Esteves, a ilha Taquile e a ilha Amantani (pertencentes ao Perú) e a ilha do Sol e a ilha da Lua (que pertencem à Bolívia). O povo que as habita são de etnia Aymara e etnia Quechua.
No dia seguinte,
fomos visitar o lago navegável mais alto do Mundo.
Titi, significa Puma e Kaka, cinza. O Lago está dividido pelo Perú (60%) e Bolívia. Tem 95 ilhas artificiais e 36 naturais.
Nas Ilhas Flutuantes
vivem 2000 pessoas.
Eram nómadas recolectores e viviam em barcos de totora (uma espécie de palha que nasce no lago). Foram dominados pela cultura Aymara mas, actualmente, são uma comunidade autónoma e fixaram-se construindo as ilhas com totora.
Os canais de circulação,
para pequenos barcos, são uma espécie de estradas. Para entrar na comunidade das ilhas, há um controle
e paga-se uma espécie de portagem. Vêem-se os cartazes:
"Baje la velocidad",
"Control a 200m" e
"Control de ticket de ingresso a Los Uros".
Visitámos a Ilha de Santa Maria Coyla,
onde a chefe Olga
nos recebeu e explicou, minuciosamente, como fazem a ilha e a casa.
Grandes blocos de raízes secas
(que vão buscar à periferia do lago), de totora (4X10m) são unidos por troncos de madeira
que são enterrados nesses blocos e unidos entre si por fortes cordas
também feitas de totora (hoje em dia, já são utilizadas cordas de nylon). Depois, colocam várias camadas de totora verde,
em sentidos diferentes. As casas ficam a um nível superior, por causa da humidade.
A Olga acabou a explicação representando-se, na miniatura, com o marido e os pais... e o barco, mais elaborado, a que chamam "mercedes"!...
Cada ilha é uma pequena comunidade, com várias famílias que trabalham para o bem comum. Se existe um conflito, o juiz é a serra.
É isso mesmo, literalmente: a casa é separada do resto da ilha por uma serra!
A Lis, uma jovem de 30 anos foi-nos mostrar a sua casa:
um pequeno quarto com uma cama para as duas crianças e um espaço que, á noite, é ocupado pela cama do casal. "Então, e a intimidade do casal?"... "Há muitos recantos escondidos na ilha...",
respondeu a Lis, sorrindo.
Só há uma cozinha e a comida é confeccionada, rotativamente, por cada família. Os homens pescam e caçam e trocam produtos com os de fora. As mulheres tratam das crianças (que vão de barco para a escola) e tecem e bordam, vendendo os seus trabalhos aos turistas.
Foi num barco mais trabalhado e enfeitado (os Mercedes)
que, por 10 soles por pessoa, atracámos na Ilha Aputini. Carimbámos o passaporte e bebemos um chá de coca, que a altitude começa a dar dores de cabeça.
Depois de cerca de duas horas de navegação,
chegámos à Ilha Taquile.
Situada a 3950m de altitude (o ponto mais alto está a 4050m), a ilha tinha o nome de Intika (Inti, Sol e Ka, Flor), até ser comprada por Pedro Gonzalez de Taquilla que, mais tarde, mudou o próprio nome para Taquile. Escravizou os indígenas para mão de obra para a construção e agricultura. Proibiu os trajes regionais e a população foi obrigada a usar os dos colonizadores, que usam até hoje.
As mulheres
usam uma blusa (almilla) vermelha e muitas saias (polleras) e uma espécie de xaile (chuku), um manto negro que tapa os ombros das mulheres casadas, mas deixa os ombros à mostra nas solteiras.
Os homens
usam calças de tecido negro, camisa branca com colete curto cuja forma e cores determinam a sua função no seio da comunidade; uma faixa bordada e um gorro com orelhas (chullo) cujas cores e desenhos variam com a idade e situação social. Falam quechua e um gentílico que é o taquileñola.
Os casamentos fazem-se só entre os habitantes da ilha. Fazem uma grande festa em que participam todos quando anunciam que pretendem casar-se. Mas o casamento só se realiza depois da Sirvinacuy que é uma convivência de 3 anos para saber se o casal é compatível!
A ilha foi utilizada como prisão colonial e só em 1970 passou a ser propriedade do seu povo.
A ilha, de 5,72 quilómetros quadrados, está dividida em 6 distritos, marcada a divisão por arco encimados com as cabeças dos seus chefes.
Vivem da pesca, agricultura da batata e turismo (recebem cerca de 40.000 turistas por ano), embora não haja hotéis.
Os seus tecidos são Património da UNESCO (2005), Obras Mestras do Património Oral e Intangível da Humanidade (Património Cultural Imaterial da Humanidade), pelos tecidos em tear feito pelas mulheres
e em malha com 5 agulhas feita pelos homens.
Desenvolveram um turismo comunitário em que utilizam as suas casas para hospedagem e serviço de refeições de um modo rotativo, beneficiando todas as famílias.
Por causa da altitude, a caminhada até à Praça Principal foi feita lentamente,
começando a subir, com paragens para admirar a paisagem
e colher muña para cheirar
e, assim, aguentar melhor a altitude.
A Praça Principal
tem uma igrejinha branca
e uma torre quadrada, em ruínas.
A Casa do Alcaide (Ayuntamiento)
À volta, casas pequenas, algumas com aspecto colonial.
Descendo, almoçámos debaixo de um toldo, em mesa corrida, num relvado onde uma família nos serviu uma sopa de quinoa
com batatas e truta grelhada escalada,
tudo muito saboroso e finalizámos com um chá de muña.
Um grupo de argentinos estava na mesa ao lado e, juntos, assistimos à demonstração, feita pela Jenifer, de como se transforma uma planta comum na ilha,
em shampoo
e detergente para a roupa.
O regresso ao hotel fez-se pelo mesmo caminho de água.
No dia seguinte, a caminho do aeroporto de Juliaca, fomos visitar o Complexo Arqueológico de Sillustani,
que se estende por 6 hectares.
As sepulturas (Chulpas) encontradas são de épocas pré-inca e inca.
As construções pré-incas são rústicas, com pedra sobre pedra.
As de cultura Pukara
são abaixo do nível da terra,
as Kolla
as Inka
são de pedra bem talhada e chegam a atingir 12m de altura.
Em baixo, no estuário do rio Vilque,
os Uaruaros
que são terraços elevados que beneficiam da água do rio, onde cultivam batatas, milho e quinoa.
Actualmente, o complexo continua com pesquisas e com descoberta de novas chulpas.
A chulpa maior é chamada do Lagarto
porque, numa das pedras, tem o relevo de um lagarto.
Dois círculos de pedra são o que resta do Templo da Lua e do Templo do Sol.
A viagem até Lima, foi curta e ficámos uma noite num hotel ao lado do aeroporto, para podermos descansar e por causa dos horários dos aviões.
Amanhã, seguiremos para Jaén, na Amazónia peruana.
* * *
16 comentários:
Uau!
Gostei muito! Mas é preciso ser-se resistente para subir esses montes.
Gostei também muito dos tecidos e dos bordados. Em Islantilla, há alguns anos, apareciam muito por lá colombianos, chilenos, equatorianos... Vendiam peças lindíssimas de vestuário, esculturas, instrumentos musicais. Também tocavam e dançavam. Agora desapareceu tudo. Só há vendedores do norte de África e chineses.
Beijinhos, Daisy e Alfredo.
Obrigada pela vossa partilha.
Acabei de fazer esta viagem maravilhosa ,mas se nao fosse o cha de coca e o ter cheirado aquela ervinha .....seria dificil!!! Grandes e valentes viajantes : Daisy e Alfredo. Beijinhos .
Pronto, mais uma bela viagem que foi decorrendo ao calor da lareira.
Já de regresso, só tenho que agradecer à Daisy e ao Alfredo!
Beijinhos.
Gostei sim senhor!
Que viagem maravilhosa! e o que se aprende! Obrigada, adorei!
Um bom 2018 com muitas e lindas viagens.
Beijinhos para vós.
Obrigado por partilharem connosco as vossas viagens por essa América, aonde os nossos antepassados latinos chegaram, onde fizeram algumas maldades e deixaram, porventura, algumas bondades. A mim, o mais alto, mais longe e mais forte ( o espírito Olímpico também ajuda!) que me faz lembrar é o Tata Mai Lau e "arredores".
Como a filha Teresa também já por lá andou, fiz-lhe o reencaminhamento.
Bom ano de 2018 para vocês, com saúde e boas viagens.
Um beijo e um abraço respectivo.
João Bago d'Uva
Estas viagens assim descritas, são como o Licor Beirão da família Redondo. É para beber devagar e pausadamente. Não promove admiração ou espanto ao leitor, porque a qualidade já vem de trás. Sabe bem, ao recato do calor do lar, "desfolhar" mais esta viagem a outras gentes e outros costumes ...
Um abraço
Terminada a vagem.Gostei.
Obrigado
Tudo muito bom! Maravilhosos lugares e a descrição foi esclarecedora. Adorei a viagem, pois nunca a poderia fazer pois a tal altitude ia ter um ataque cardíaco. Estou, assim, muito grata pela partilha e, aproveito para vos desejar um Bom Ano e muitas viagens.
Com a minha gratidão...
Grata por partilharem este delicioso roteiro de viagem. A Daisy estuda muito cuidadosamente a história e cultura das zonas de visita e quando depois vamos ler ficamos a saber e conhecer lugares e paises a que nunca sonhámos ir. è muito bom viajar convosco
Mais uma vez foi muito bom ir com vocês! Fiquei maravilhada com o colorido de Puno.
Beijinhos aos dois
É um privilégio ler estes vossos testemunhos.
Engano-me ou é a 2ª vez que vão ao Peru? Também adorei e voltaria com prazer.
Bom ano e um xi coração.
Olá Luisa! Sim, foi a segunda vez. A primeira foi em 2005, cuja viagem também se pode seguir aqui no TRAVEL WITH US.
Beijos.
Fantástica reportagem. Adorei viajar convosco. Parabéns.Beijinhos
Jane
Gostei muito, especialmente porque estive convosco nesta aventura.
Beijinhos
Joana
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