Vale Sagrado dos Incas
(Pisac, Ollantaytambo, Moray e Maras)
25 a 28 Outubro 2017
Há 12 anos visitámos o Perú com a agência local Enjoy Perú
Desta vez tivemos a companhia da Viajes Pacífico, desde que chegámos a Lima, com serviços impecáveis.
Via Madrid, chegámos a Lima com algum atraso por causa de uma paragem forçada em Guayaquil (Equador) para entregar uma peça a um avião da companhia (Aireuropa), que avariou. O atraso não nos fez perder o voo doméstico para Cusco...
Vimos o nascer do sol
e os picos de neve eterna dos Andes.
Um funcionário da agência esperava-nos, deu-nos as boas vindas e algumas informações e seguimos com o motorista até ao hotel em Vale Sagrado dos Incas.
A primeira impressão de Cusco é de que é uma cidade inacabada.
E é: as casas, apesar de terem sinais de estar habitadas, são de tijolo à vista, sem acabamento de telhado.
Durante quase toda a viagem, apercebemo-nos de que é por todo o país. Existem duas razões: os pais começam a construção e, depois, cada filho vai acrescentando o edifício, ficando a viver com os pais... mas a principal razão é que as casas só começam a pagar imposto depois de concluídas!
Saímos da cidade e continuámos a subir até aos 4600m de altitude, até descer ao Vale que fica a 2500m.
Parámos em miradouros que nos foram familiares
e tomámos, de novo, contacto com a simpatia das pessoas e as seus trajes regionais bem coloridos e com o artesanato.
E chegámos a Urubamba (uru=aranha, bamba=planície, em idioma quechua),
capital do Vale Sagrado dos Incas.
Começámos a aperceber-nos do crescimento turístico da região. Os automóveis e, principalmente os tuc-tuc
(que, aqui, alguns são adaptados de bicicletas e motorizadas) enchem as ruas.
O hotel Tambo del Inka Luxuary Collection
é um oásis
no meio da confusão, na margem do rio Vilcanota ou Urubamba. Tomámos o nosso primeiro chá de folhas de coca, para melhor resistir à altitude elevada.
Depois de instalados, pedimos um taxi e fomos almoçar ao Muña,
aconselhado pelo motorista que nos deixou e regressou a Cusco: a tarde era por nossa conta.
O restaurante é bastante turístico, mas tem um buffet muito bom: ceviche, quinoa, milho frito, plátano, carne de alpaca, carne de porco cozinhada como os nossos rojões, truta...
Com música ao vivo e artesanato nos jardins,
o ambiente é bastante agradável.
O turismo cresceu e aperfeiçoou-se!
A altitude acrescenta cansaço ao já existente... Com chá de folhas de coca à frente, vendo as árvores, lá fora, zangadas com o vento, sentámo-nos no salão do hotel,
mandando notícias aos amigos, tentando não adormecer.
O jantar pretendia ser ligeiro, mas experimentámos uma mistura de batatas desidratadas e assadas no forno e umas pequenas empanadas, com 3 tipos de molhos.
No dia seguinte, conhecemos o guia que nos vai acompanhar no Vale Sagrado e em Cusco, o culto Romaín (que nos foi surpreendendo sempre) e o motorista Sócrates.
A nossa primeira visita foi a Awanacancha (awana=lã, cancha=lugar onde se produzem os tecidos).
Os Camelídeos (da família dos camelos) aumentaram, bem como o espaço, desde que aqui estivemos, há 12 anos, com a guia Maria Magdalena.
Lamas Q'ara,
Lamas Ch'aku,
Guanacos,
Alpacas Huacayo,
Alpacas Suri.
Todos bem nutridos e simpáticos.
Os meninos da excursão do colégio esforçavam-se para ser o centro das suas atenções.
Outro menino, filho de uma das empregadas de serviço, brincava entre os bichos e corria atrás do gato...
Aprendemos as várias fases da lã até chegar ao tecido... e surpreendem-nos com a cochonilla,
que é praga no meu jardim, mas excelente para a coloração, desde o vermelho ao lilás, conforme se lhe acrescenta lima, água ou outros ingredientes!
Também aqui se mostram algumas das 35 variedades de milho
(que, além de cozinhado, também é fermentado para fazer a chicha) e algumas das cerca de 4000 variedades de batatas!
O primeiro choque do boom turístico no Perú nestes 12 anos, foi em Pisac
O sítio arqueológico inka que visitámos sozinhos com a Maria está, agora, com a estreita estrada de acesso pejada de carrinhas, autocarros e turistas em fila.
O Parque Arqueológico ocupa uma área de 4 quilómetros quadrados, em colina (Cordilheira de Vilcabamba),
com os terraços de cultivo a descerem até ao vale.
São grupos de ruínas
com torres ou pucaras e bairros, de onde se destaca o Intiwatana, onde estão os palácios e os templos.
Não arriscámos a subida, de grande dificuldade até ao topo da colina. O Romaín acompanhou a Joana, nós aguardámos à sombra, fazendo panorâmicas do Vale!...
Descemos, depois a Pisac colonial
que mantém as construções coloniais típicas desta zona.
Mantêm o forno típico
e o mercado (que cresceu).
Escondida por este, está a Igreja,
reconstruída respeitando a original do tempo colonial.
Antes do almoço, ainda visitámos o Museu Inkari,
com 8 salas dedicadas às culturas pré-inca e inca.
Cada sala mostra as diversas culturas de uma maneira bastante interessante e informativa. Para quem pensa que a cultura no Perú se reduz à Inca...
Na verdade, foi a mais curta, interrompida pelos europeus!... Caral, Chavin, Paracas, Mochica, Nazca, Wari, Chimu Lambayeque, Inca.
Almoçámos no restaurante do Museu.
Ollantaytambo,
visitado no dia seguinte, era um centro militar, religioso, administrativo e agrícola construído para controlar o Vale Sagrado. Situada a 2800m de altitude, a cidade era um dos pontos de ligação com Cusco, entre a floresta amazónica e a cordilheira andina. Era como um ponto de abastecimento e descanso, como havia muitos,
com "armazéns"
estrategicamente escavados na montanha, onde as correntes dos ventos conservavam os cereais e outros víveres.
Ollantaytambo situa-se na confluência de três vales
onde o vento se forma em espiral, arejando os alimentos armazenados na montanha. Está a 80km de Cusco por um trilho onde, a cada 3,5km existe um posto de abastecimento e defesa. A partir de Cusco, existem 35000 trilhos e uma cidade a cada 80km. Imagine-se a quantidade de locais que ainda não foram descobertos, para além de Ollantaytambo e Machu Picchu!
Os Incas não tinham um Império no conceito clássico. Não eram opressores.
Todos trabalhavam para um bem comum e recebiam, em proporção, a sua quota. A parte política situava-se em Cusco, capital do Império, mas as fortalezas e cidades espalharam-se, num curto espaço de tempo, até ao que é hoje o Equador, a Bolívia, Chile e Argentina.
Ollantaytambo, das fortalezas existentes é, no entanto a única com a cidade habitada.
A povoação estende-se aos pés de uma escadaria de 268 degraus,
ao lado dos socalcos de cultivo, terminando no Templo do Sol.
As casas de adobe estendem-se no vale,
formando o desenho de uma espiga de milho.
A água descia da montanha, por canais subterrâneos por dois motivos: para chegar mais fresca e para evitar o envenenamento por possíveis inimigos.
A construção da parte militar e religiosa foi feita com a típica arquitectura inca
de sobreposição de grandes blocos que, aqui, são de granito rosa
vindo da montanha do lado de lá do rio Urubamba. Usavam um cacto sobre troncos de árvore para os fazer deslizar, depois de desviarem o curso do rio. Para os fazer subir até ao pico da colina, construíram uma rampa que ainda hoje é visível.
Quanto mais importante era o local a construir, maiores eram os blocos de granito: no Templo do Sol,
estão os maiores e mais bonitos, dispostos de tal maneira que resistiram a diversos sismos. Todo o complexo tem a forma de um lama adulto e de um lama bebé.
Na montanha em frente, pode ver-se uma face humana
junto de um edifício-armazém.
No contorno da montanha à esquerda, outra face, esta de perfil,
cujo olho o sol ilumina no solstício de Junho.
A entrada na cidade faz-se pelo trilho inca, que vem de Cusco e é ladeado pelo Muro das Cem Janelas,
onde se colocavam oferendas.
Respeitavam igualmente o Sol, a Lua, os Trovões e a Chuva e, por isso, os invasores pensavam que os Incas eram politeístas.
Na verdade, acreditavam que existia algo superior, criador de tudo:
Apu Tecsi Illana Wirakocha Pachayachachi=Não se pode ver, não se pode tocar, mas pode sentir-se.
O templo quadrado na base do complexo arqueológico, é o Templo da Água.
Havia festa e a cidade teve que ser fechada devido à grande afluência de pessoas e veículos. Romaín contactou com Sócrates que conseguiu vir buscar-nos mesmo à saída do Complexo, mas tivemos de esperar que os caminhos se desimpedissem.
Não nos aborrecemos: o desfile colorido das crianças das escolas, encheu-nos de satisfação!
Até Moray, a viagem foi radical! Para evitar o caos da estrada normal, Sócrates (que vive aqui) levou-nos por estreitas estradas não asfaltadas, em curvas e contracurvas,
mas desfrutando de paisagens magníficas,
subindo na montanha, com os picos nevados dos Andes à vista, até ao Altiplano andino,
descendo, depois, um pouco até aos Terraços Circulares.
Situados a 3550m de altitude
os terraços foram construídos de maneira a terem, da base até ao cimo, uma diferença de temperatura de 15 graus centígrados.
Supõe-se que seria um local de experiências para cultivo das diversas variedades de milho.
Maras, já fica a 3150m de altitude,
descendo para Urubamba que já está a12km. A povoação foi fundada em 1556 por Pedro Ortiz de Orue (cuja porta da antiga mansão, fotografámos).
Não parámos, mas a impressão que nos ficou da povoação foi a sua semelhança com uma qualquer aldeola da Andaluzia! A cerca de 10km, lá estão as Salinas ou Minas de Sal
(Kachi Ragay, em quechua).
Exploradas por civilizações muito antigas, como a Tahuantinsuyo, há milhares de anos, de uma maneira comunitária, passavam, em cada família, de geração em geração.
No governo de Fujimori tentou-se privatizar as salinas, mas as famílias revoltaram-se e conseguiram manter tudo como estava há milhares de anos.
A água salgada é conduzida desde as minas, na montanha,
para os socalcos construídos, criando uma paisagem magnífica. Ontem choveu e, por isso há muitos quadradinhos castanhos...
Já bem tarde, acabámos a visita em Urubamba para almoçar (surpresa!)
no Tunupa,
exactamente o mesmo restaurante onde almoçámos há 12 anos!...
Amanhã, espera-nos Machu Picchu. Mais uma surpresa!
* * *
11 comentários:
Só tenho um adjectivo: UAU!
Adorei!!!
Teria um (só??) problema, se por acaso lá fosse: queria comprar bonecas e recordações coloridas de todos os lado!...
O pormenor das casas inacabadas é como no Norte de África. O que acaba por tornar as terras um pouco menos bonitas...
Se me sair o Euromilhões, trataremos de fazer a Rota dos Milheirinhas! Lindo!
UPS!!!!
Onde se lê "Milheirinhas" (uma família alentejana nossa amiga, deverá ler-se "Moreirinhas", claro! ;)
Admirável!
Que sortudos sois.......
Ainda bem porque assim "viajo" também.
Olinda
Encantado com a primeira parte
Revi as fotos e apreciei a descrição da Daisy,muito pessoal e bem informada.
Consola os sentidos e instrui!
Desejo-vos muita saúde para que nos possam continuar a encantar.
Beijinhos.
obrigada pela partilha
continuem a viajar e com alegria saúde pois é fantástico
beijinhos
Bela viagem! adorei passear por estes lugares maravilhosos.
Fico à espera da 2ª parte OK. Não demorem muito :).
Beijinhos
Lugar comum é dizer-se que é tudo muito bonito. Mas lugar comum, já não é interiorizar que aliado às fotos que surpreendem, também a investigação apurada. Sem qualquer tipo de suspeição pelo facto de me ligar estreita amizade a estes dois caminhantes do planeta, eu digo com convicção que o "Travel" deveria ser um manual escolar,tal a riqueza de cultura que comporta. Obrigado é a palavra simples mas abrangente de tudo o que vi e li pela vossa pena o objetiva. Fico à espera do que virá a seguir.
Abraço
Quito Pereira
Estivemos - Jane, eu e alguns amigos - no Peru em janeiro de 1976. Foi uma viagem fantástica, cheia de imagens impressionanates da natureza e do povo. Vocês estão me dando a oportunidade de rememorar isso, mas com um show de imagens. Beleza pura!
Gostei muito das fotos e da respectiva explicação. Não conto lá ir por isso foi uma boa oportunidade viajar através dos vossos olhos.
Beijinhos aos dois
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