10 e 11 Junho 2015
Chegámos a Varsóvia depois de cerca de 4h de voo, por volta das 14.30h, para dois dias de visita, com a Joana e o Ricardo.
O tema da viagem será diferente da de 2010 e, por isso, não será de mais esta postagem.
Bem perto do "Hilton Warsow Hotel", onde estamos, fica o Museu da Resistência Polaca,
dedicado à Resistência de Varsóvia de 1944. Programado em 1983, foi inaugurado a 31 de Julho de 2004, no aniversário dos 60 anos da Resistência. Sala de cinema com documentário a 3D sobre a reconstrução de Varsóvia,
um grande hangar com um B-24 Liberator,
uma secção com fotografias
sobre a ocupação alemã e atrocidades cometidas pelos nazis e também uma secção sobre a resistência do pós-guerra quando os soviéticos ocuparam a Polónia.
Um pequeno café, decorado ao estilo dos anos 1940, atenua o ambiente.
Também a escultura original da "Sereia"
e a fotografia da mulher que lhe serviu de modelo.
Depois, de taxi até à Praça do Castelo,
para rever a Cidade Velha (Stare Miasto). O palácio do Castelo e a Coluna de Segismundo III Vasa,
a branca Igreja de Santa Ana
e o casario setecentista
impõem-se, na grande praça, onde as pessoas se espalham, parecendo pequeninas.
Ainda me lembrava do caminho
até à Praça do Mercado da Cidade Velha,
onde a Sereia está mergulhada entre as obras de restauro
e muitas esplanadas de guarda-sóis abertos. Foi numa destas esplanadas que nos sentámos para jantar.
A luz já era pouca.
O jantar foi bom e, calmamente,
voltámos à Praça do Castelo,
para fazer o Caminho Real, a Krakowskie Predzmiescie.
Em frente do Palácio Radziwill deparámo-nos com uma manifestação, já com as pessoas em debandada.
Em 15 de Abril de 2010, cinco dias após a queda do avião da Força Aérea Polaca em que morreu o Presidente polaco,
a mulher e comitiva (96 vítimas), um movimento espontâneo de um grupo de escuteiros
ergueu uma cruz de madeira em frente ao palácio. Em Julho de 2010, após as eleições, o novo presidente, Bronislaw Komorowski, da plataforma mais central (PO), mandou que a cruz fosse para a Igreja de Santa Ana. A mudança foi feita pelos escuteiros que a erigiram e pelo arcebispo, mas criticada por alguns grupos com notoriedade nos media, que a queriam em frente do palácio.
A 16 de setembro de 2010, regressou ao palácio, mas à capela deste e a 10 de de Novembro do mesmo ano, definitivamente à Igreja de Santa Ana. Mas cada 10 de Junho, regressa ao seu local de origem, numa manifestação de memória das vítimas, mas também de liberdade de expressão cultural.
A noite estava agradável e deu para fotografar o Hotel Bristol, iluminado,
a Igreja Santa Maria da Cruz,
onde está o coração de Chopin, a estátua de Copérnico e os efeitos de luzes no Palácio Staszic.
Não estaríamos muito longe do hotel, mas o cansaço aconselhou-nos a chamar um táxi.
No dia seguinte de manhã, também de taxi, começámos a visita na zona do gueto.
O edifício do museu estava em construção
quando aqui estivemos há cerca de 5 anos.
A estrutura que se adivinhava nessa altura, e que nos foi explicado representar as águas do Mar Vermelho a abrirem-se a Moisés e aos Judeus na fuga do Egipto tem, agora, outra perspectiva, no interior.
Por fora, o edifício é completamente revestido com placas de vidro com cerca de 8cm de espessura,
com um ligeiro ângulo em relação à parede.
Está construído no local onde existiu o gueto de Varsóvia, este Museu da História dos Judeus Polacos.
Abriu em 19 de Abril de 2013, mas apenas em Outubro de 2014 se completou a espantosa narrativa multimédia sobre a comunidade judaica por centenas de anos na Polónia até ao Holocausto. São 13.000 metros quadrados de espaço com auditórios multiusos com 400 lugares sentados, salas de exibições temporárias e um centro educativo muito visitado pelas escolas.
Depois das águas do Mar Vermelho, descemos e entramos numa espécie de floresta em vidro
que simboliza a fuga para a Polónia da perseguição da Europa do oeste. Nos 1000 anos seguintes, a Polónia tornou-se no país com a maior colónia de judeus da Europa. De Córdova, vieram os mais intelectuais como Ibrahim ibn Jakub. Prosperidade e cultura.
Num prato de cerâmica, a figura de Vasco da Gama,
com uma caravela, contando a história de que o navegador conheceu, na Índia, um judeu cujos pais nasceram na Polónia, que o levou para Portugal e o baptizou com o nome de Gaspar da Gama e o rei Dom Manuel o nomeou para várias missões (contado nas crónicas de Damião de Góis). No final da visita, um espaço sobre o Holocausto, com chocantes fotografias
e histórias pessoais e outro espaço sobre o pós-guerra e a ocupação soviética.
Fora, o monumento aos Heróis do Gueto
e a escultura de Jan Karski (que convida a sentar…),
professor e lutador do movimento da Resistência na II Guerra Mundial que disse: Foi fácil para os nazis matar judeus. Os Aliados consideravam muito caro resgatá-los. Os Judeus foram abandonados por todos os governos, hierarquias das igrejas e sociedade, mas milhares sobreviveram porque outros milhares de pessoas na Polónia, França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, ajudaram a salvá-los. Os governos e a igreja, dizem "Nós tentámos ajudar os Judeus", porque têm vergonha e querem manter a reputação. Não ajudaram, porque 6 milhões pereceram e os governos e a igreja sobreviveram. Ninguém fez o suficiente.
Por toda a área do gueto, os 16 blocos de pedra,
cada um representando 45.000 judeus assassinados.
Uma pequena colina, mais à frente, o Memorial ao bunker Mila 18,
construído pela resistência do gueto (ZOB). A 8 de Maio de 1943, quando foi descoberto pelos nazis, 300 pessoas estavam no seu interior. Deitaram gás para o seu interior, para os obrigar a sair, mas Anielewicz e sua namorada Mira Fuchrer e alguns outros dirigentes, preferiram injectar-se com veneno a render-se. No topo do monte, um obelisco
onde, em polaco, inglês e yidish está escrito:
O túmulo dos Lutadores do Gueto de Varsóvia. Na Mila ulica, uma das ruas mais animadas no pré-guerra. O local exacto do bunker, fica a cerca de 700m, onde se ergue um prédio de apartamentos.
Neste percurso judeu, na Stawki ulica, fica o Umschlogplatz (em alemão ponto de colecta ou ponto de recarga),
onde eram reunidos os judeus para o embarque nos combóios para os campos de extermínio, em Treblinka. Entre 1942-1943, 300.000 judeus saíram para as câmaras de gás.
As placas, têm gravados os primeiros nomes dos judeus.
Lembrava-me do Monumento aos Caídos e Mortos pelos Soviéticos,
vítimas da agressão soviética durante a II Guerra Mundial e subsequente repressão, um carro negro carregado de cruzes, no meio de uma grande avenida. Foi inaugurado a 17 de Setembro de 1995, no 56º aniversário da Invasão Soviética de 1939.
Sempre caminhando, quase a entrar na Cidade Nova, na Praça Krasinski, o Monumento à Resistência de Varsóvia,
dedicado à Resistência de 1944, esculpido por Wincenty Kucma e pelo arquitecto Jacek Budyn, foi erguido em 1989. 90% dos edifícios foram destruídos durante a ocupação da cidade pelos alemães e os soviéticos continuaram sem fazer nada para intervir. Abandonaram a cidade em Janeiro de 1943 depois de esperarem pelos alemães. Só em 12 de Abril de 1988 o governo comunista da Polónia deu permissão para a construção do monumento. Em 1999, foi construído, por trás, o Supremo Tribunal da Polónia.
E estávamos na Cidade Nova.
Antes de atravessar a porta da Barbacã,
almoçámos no "Barbakan Restauracja"
e comemos os célebres pierogi.
O passeio é fácil, em Varsóvia.
Voltámos à Praça do Mercado da Cidade Velha,
com muita gente
e fizemos o caminho, de novo, até à Cidade Nova, pelo trajecto de que me lembrava, para mostrar aos primos a porta da muralha por onde saía o lixo da cidade,
a pequena ruazinha do arco com a casa azul, a Dwna ulica,
a Rua das Escadas de Pedra,
e os "novos" edifícios com as suas belas pinturas.
Levámo-los até à Praça do Mercado da Cidade Nova, à branca Igreja de São Casimiro
e descansámos em frente, na frescura de uma esplanada.
Regressámos à Praça do Mercado da cidade Velha, entrei na Catedral,
voltando a fotografar o São João Baptista
e, desta vez, também o célebre Crucificado com Cristo de cabelo humano…
As portas, da Catedral e da igreja ao lado (Igreja de Santa Maria da Piedade dos Jesuítas), continuam a encantar-me.
Antes de chegar à Praça do Castelo Real, numa gelataria, um grande grupo de crianças, com a sua professora, faziam fila para adquirir o precioso petisco.
Uma menina, sentada à beira do passeio, tocava, distraída, nas teclas do seu acordeão, olhando os outros meninos, alguns já a saborear o gelado. A cena não nos passou despercebida e o Alf não resistiu: pôs-se na fila, comprou o gelado e foi levá-lo à menina do acordeão.
Viu o agradecimento no seu olhar de criança e ouviu-o na língua estranha. O nó na garganta desfez-se, a angústia passou.
Seguimos pelo Caminho Real.
Na Igreja da Santa Cruz,
decorria uma liturgia, mas não resisti a convidar a Joana a entrar, para ver o local onde está o coração de Chopin
e a contar-lhe a incrível história de como ele chegou ali!
(Ver: Polónia - Varsóvia (Rota de Chopin )
O Palácio da Cultura e Ciência,
Seguindo o mapa, chegámos lá e subimos, depois de pagar a entrada, para fazer panorâmicas da cidade.
A noite caía,
entretanto, e, regressando, jantámos perto, no "Goscie Aioli", restaurante italiano, muito barulhento (com Dj à entrada), mas com boas pizzas e óptimo gelado de baunilha com morangos e casca de laranja.
Depois destas voltas todas, o hotel até nem estava longe.
Amanhã, seguiremos para CRACÓVIA, de carro.
* * *
18 comentários:
Obrigado pelo passeio.
Tonito.
Mais um grande obrigado pela vossa "boleia virtual" bem como pelas explicações transmitidas! Tem sido sempe um prazer "acompanhar-vos".
Parabéns , foram muito rápidos a fazer o post. Mas não tão rápidos quanto a Sra. da bilheteira soviética a exigir o pagamento dos bilhetes ao Alfredo! Beijnhos. Joana
Obrigado Alfredo, o Ricardo nunca nos conta nada! Um abraço
Jorge Fernandes
Já toquei tantas vezes na rua e nunca o Alfredo me foi levar um gelado!
Como este passeio / viagem é um pouco "secante", para mim (tem pouca água...), vou comentar por partes. Até agora, tendo chegado ao Monumento à Resistência de Varsóvia, gostei das histórias e dos monumentos, principalmente os fotografados de noite e gostei de ler aquilo, que nunca soube, assemelhado à morte de Francisco Sá Carneiro e comitiva, cá em Portugal - a queda do avião da Força Aérea Polaca, em que morreu o Presidente Polaco, sua mulher e comitiva, com toda a história envolvente. Quanto à história dos judeus...pobre povo !!! Gostei de saber, do monumento e história dele, para a sua comunidade.
Muito engraçada a história da Floresta de vidro e suas imagens.
A História da menina do acórdeão, já conhecia e é adorável e a Igreja de Sta. Cruz, como nós temos também...
Esta viagem tem história muito pesada paa o meu gosto e já estou derreada...
Gostei de qualquer forma, claro. Cá ficou mais um País conhecido...
Obrigada, Alf e Dasy.
Beijinhos.
Mais uma grande passeata, que acompanhei com enorme agrado!
Obrigada, Primo, por mais esta "viagem"...
Beijinhos para os dois
Tudo visto e algumas revistas!
Passeio agradável...mesmo aqui còmodamente sentado!
Obrigado pela partilha!Dividido pelos dois!
Gostei!
So hoje me apercebi de que ja estava pronto mais um roteiro de viagem preparado pela Daysi .Embora desta vez o tema tenha sido mais arrepiante ,gostei de viajar convosco .Obrigada aos dois,Daysi e Alfredo,beijinhlo.
Sao vaz
Como sempre, um belo passeio, cheio de fotos e textos interessantes. Senti-me lá.
Obrigada pela partilha.
Bem hajam...acabei agora de chegar da Polónia... belas fotos...óptima descrição Um Abraço do Álvaro..
Já acabei! Incrível como vi e aprendi tanto em tão pouco tempo! Mais uma vez obrigada, Alfredo e Daisy. Bela reportagem, como sempre! Vou partilhar com meus amigos.
Boa viagem Alfredo e Daisy
Obrigada Alfredo por me deixares contente com as tuas sempre belas reportagens e calculo da tua Esposa.Bjs aos dois.
Carregada de história e de tanto sofrimento!
Sempre com todo o interesse leio e vejo as fotografias e assim ando na vossa companhia passeando....
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