18 a 22 Junho 2011
Saímos de Las Vegas para o deserto do Mojave
que foi a porta de entrada para a Califórnia durante grande parte do século XIX, altura em que caçadores, comerciantes e colonos viajavam para Los Angeles. Era um percurso demorado, difícil e perigoso. Em 1870 foram descobertas minas de ouro, prata e outros metais preciosos, atraindo muita gente. Com a construção do caminho-de-ferro de Santa Fé, as localidades prosperaram.
Pima (com os outlets), Baker City (local de paragem dos camionistas) e Zzyzx Road (como é possível haver uma estrada com este nome?!?) e chegámos à fronteira do Estado da Califórnia,
onde fomos obrigados a parar numa "portagem de inspecção agrícola". "Have you some fruits?". Não tínhamos e seguimos, sem problemas.
Chegámos à Calico Ghost City
guiados pelo cartaz do cow-boy/mineiro.
A 18km de Barstow, é uma cidade-fantasma mineira do final do século XIX,
com parte reconstruída e ainda alguns edifícios autênticos. Aqui chegaram centenas de mineiros quando, em Março de 1881, foi encontrada prata nas montanhas à volta.
Tinha 1200 pessoas e 22 saloons (!).
Em 1907, Calico já era uma cidade-fantasma, porque os metais preciosos tinham desaparecido.
Em 1950, Walter Knott começou os restauros, para exploração turística.
Sob o sol escaldante, fomos imaginando como seria a vida naqueles tempos.
Até se compreendem os 22 saloons,
naquela terra inóspita e com o duro trabalho nas minas.
Alguns personagens cruzam-se connosco.
Dentro das lojas, os empregados estão vestidos à época.
No restaurante onde almoçámos,
o chão estava pejado de cascas de amendoins, fazendo crack-crack quando caminhávamos. Quando nos sentámos, percebemos porquê: dois pequenos baldes cheios de amendoins
eram a nossa "entrada", enquanto aguardávamos a refeição.
Toda a gente deitava as cascas para o chão!
Num dos alpendres, um velho garimpeiro conversava, sentado numa cadeira de baloiço.
Voltámos ao carro e ao abençoado ar condicionado.
Em Barstow e Bakersfield começaram a aparecer os primeiros arbustos/árvores do deserto do Mojave: as iucas,
mais pequenas do que as joshuas
que crescem nas áreas mais altas, húmidas e frescas e chegam a viver 1000 anos.
Depois de 574km de estrada,
chegámos a Visália,
ao "Hampton Inn",
o nosso ponto de partida para amanhã visitar o Sequoias/Kings Canyon Park.
Jantámos no "Lamp Liter Grille" que, de grill só tinha o pão das sanduíches. Pastas e saladas, foi o que escolhemos: a comida italiana, salva-nos sempre!
De manhã, saímos às 10:25h para a descoberta das sequóias gigantes!
As Sequóias são as árvores mais altas dos Estados Unidos, quiçá do Mundo.
Podem viver 2000 anos e alcançar 107m de altura. As raízes podem crescer até 61m na horizontal, mas apenas 1 ou 2m de profundidade, o que não lhes dá estabilidade, acabando por cair.
São as únicas árvores que não morrem de pé!
Estão na Serra Nevada da Califórnia, nas High Sierras,
cordilheira formada há 3 milhões de anos por elevações de picos graníticos.
Depois da entrada no Parque, o rio acompanhou-nos, à direita.
Nas bermas, grandes camadas de neve ainda não conseguiram derreter.
Deixámos o carro no estacionamento público, descemos até à zona do Museu e apanhámos o pequeno autocarro que passa nos pontos de interesse.
Saímos no Tunnel Log.
As sequóias não morrem de pé e a árvore caída foi escavada, podendo passar-se através dela.
Fica a 4,3km do Museu.
Apanhámos o autocarro seguinte e descemos no Crescent Meadow,
um campo de flores de Verão onde perseguimos, silenciosamente, os alces.
O último autocarro levou-nos de regresso à área do Museu em cujo largo está a mais alta sequóia do Parque denominada Sentinel.
Depois de um almoço ligeiro, rumámos ao
Kings Canyon National Park,
pleno de sequóias gigantes e belas.
Depois de uma agradável caminhada, no bosque sombreado,
lá encontrámos a jóia da coroa do parque,
a General Sherman Tree,
A General Grant
é conhecida como The Nation's Christmas Tree e é a terceira maior sequóia do Mundo.
De novo no carro, a caminho do Yosemite Park, os cumes de granito das montanhas
estão brancos de neve e vigiam-nos ao longe.
Em Oakhurst,
ficámos no "Best Western Yosemite Gateway Inn", num quarto enorme com varanda virada para a piscina, em baixo, na encosta.
Jantámos muito bem no restaurante do hotel, por
55 USD por casal com 17% de gorjetas (obrigatório!). Isto das gorjetas, nos USA, não vai muito com os nossos hábitos: os empregados não têm ordenado e só ganham as gorjetas, se o serviço for bom. Como diz o Alfredo, isto estaria muito bem se, no final da refeição, não pagasse quem não gostasse da confecção da comida!…
O Yosemite Park tem 3030 quilómetros quadrados e recebe centenas de milhar de visitantes todos os anos. As suas paisagens foram formadas ao longo de milhões de anos de actividade glaciar.
No Mariposa Grove fica o centro de visitantes, no extremo do parque. Aqui se podem ver mais de 500 sequóias gigantes
com mais de 3000 anos algumas delas e, as maiores, com 75m de altura e 9m de diâmetro na base.
Na encosta, a sobressair do chão castanho, manchas vermelhas de flores… que não estão ali por acaso!
Até ao Glaciar Point, nas bermas, a neve acumulada
e picos agrestes acompanharam-nos.
À vista de lagos de água, parámos e fomos fotografados
por um encantador casal de octagenários que se esqueceram da paisagem…
No Washburn Point debruçámo-nos sobre o vale, avistámos as belas cascatas do degelo
e o Half Dome
que se eleva a 1,6km acima do vale e é o símbolo do Parque. A sua linha curva é como uma onda antes de se precipitar verticalmente em direcção ao vale.
Cortado pelo gelo glaciar que passou pelo vale da Sierra Crest, os geólogos acreditam que é 3/4 do original e não metade.
No Glaciar Point, uma saliência rochosa a 980m acima do vale, avistámos a maior cascata do Yosemite Park.
Picos, prados e o El Capitán
completam a paisagem deslumbrante. O El Capitán eleva-se a 1370m sobre o vale, é a maior rocha exposta do Mundo e uma atracção irresistível para os amantes de escalada.
Começámos a descer até ao Tunnel View,
um miradouro à saída do túnel da Hwy 41, no extremo oeste do vale. A vista é incrível, com o El capitán à esquerda, o Half Dome ao centro e a Bridal Veil Fall à direita.
No Mirror Lake,
apetecia ficar mais um pouco. Nas águas serenas, reflectem-se os picos graníticos e as cascatas glaciares.
Da Old Village de Yosemite, do século XIX, resta apenas a pequenina igreja de madeira, restaurada.
O rio Merced
acompanhou-nos durante algum tempo, a caminho de São Francisco, com pressa, provocando um som calmante e paisagens muito bonitas.
Subindo, descendo, a pradaria com milho, centeio e árvores de fruto, espelham a rica Califórnia.
Chegámos a Sacramento, ao "Larkspur Landing", às 19.30h. No hotel foram-nos avisando de que os restaurantes fecham cedo. Que, dos aconselháveis, só o "Bandera" estaria aberto.
À média luz, o "Bandera", além dos balcões,
tem pequenos reservados com cómodos sofás, para quatro pessoas. À medida. Come-se bem na Califórnia… churrascos!
No dia seguinte, depois do pequeno-almoço, servido em plásticos, partimos à descoberta da
Old Sacramento Town,
à beira do Sacramento river e do caminho-de-ferro. O Poney Express e o Caminho-de-Ferro Transcontinental
(construído com mão-de-obra escrava chinesa),
tinham aqui a sua estação terminal a ocidente, bem como a dos vapores fluviais com rodas de pás,
Sacramento fica no coração do Gold County e é a sua capital e a maior cidade do Estado, no centro da Califórnia.
O impressionante edifício do State Capitol, o Parlamento,
vê-se de vários pontos da cidade plana.
A Old Sacramento preserva muitos edifícios históricos
numa área com lojas e restaurantes à época. Começou por albergar os mineiros (1849) mas, entre 1860 e 1870 iniciou-se a ligação entre a Califórnia rural e os centros de comércio ao longo da costa.
Debaixo de um sol abrasador, procurando a sombra dos alpendres, fomos ver o Supremo Tribunal,
o Eagle Theatre de 1949,
o Firehouse de 1853, transformada em restaurante.
A Old Schoolhouse retrata uma escola primária californiana do século XIX.
No rio, o Delta King Riverboat,
um dos últimos barcos de rio, com rodas e pás, que hoje é hotel e restaurante.
Theodore Judah
tem um monumento, um baixo-relevo do engenheiro que planeou o Caminho-de-ferro Transcontinental que vai da costa este à oeste.
Também o Poney Express,
que fazia 3163km a cavalo para entregar o correio de Sacramento a St. Joseph, Missouri, merece monumento.
Às 11h, voltámos ao carro em direcção a Lake County e ao Clear Lake, o maior lago inteiramente no estado da Califórnia.
Região vinícola e turística, fica a 180km de Sacramento.
Nomes como Lucerne on the Lake (que faz lembrar a Suiça), Nice (que deve o seu nome a William Bayne que nasceu naquela cidade francesa),
são pequenas cidades com casas de praia mais ou menos interessantes viradas para o lago
onde os pescadores passam muitas horas.
Na Upper Lake Old and Storic Town
encontrámos um local aprazível, com casinhas restauradas ou reconstruídas.
Na casa do médico, um letreiro: "Volto Já"!
Almoçámos no "Blue Wing Saloon Restaurant", muito simpático.
Continuando a bordejar o lago, tomámos a Redway to Redwoods.
O Redwood National Park
protege algumas das maiores florestas de sequóias do Mundo, estendendo-se ao longo da Costa Norte da Califórnia.
Saindo da Estrada 101, entrámos na
Drive thru tree road
com a grande sequóia viva e escavada por onde pode passar um carro. Explorada turisticamente,
a Chandelier Tree
é penetrada várias vezes por dia.
Reentrámos na 101, continuando para Norte, saindo em Philipsville (pequena cidade com 250 habitantes mas com um quartel de bombeiros), 30 milhas depois.
Ao longo do rio Eel, no interior do Humboldt Redwood Park (20.000 hectares), por 53km percorremos a chamada Avenida dos Gigantes,
impressionante, com sombras reconfortantes e alguns focos de luz solar, numa beleza incomparável. Na base dos Gigantes, grandes fetos brotam.
A poucos quilómetros, a cidade de Redcrest
onde está outra árvore que pode ser atravessada de carro.
Voltámos à auto-estrada até Ferndale,
a 21 milhas da Avenida dos Gigantes.
É do melhor que há em Arquitectura Vitoriana
a norte da Califórnia, com lojas de antiguidades e Arte. Situada numa planície perto da foz do rio Eel, é uma zona rural fundada em 1852 por imigrantes dinamarqueses, portugueses
e suiço-italianos que criaram uma lucrativa indústria de lacticínios.
Belas casas, como a Gingerbread Mansion
e a Vitoria Inn onde jantámos muito bem.
Estamos acomodados em duas vivendazinhas
iguais que pertencem a um casal dinamarquês/japonesa (Uffe e Kuniko Christiansen) que vivem numa outra, maior, com a mesma arquitectura.
Chama-se "Hotel Ye Olde Danish Inn".
Tomámos o pequeno-almoço no "Vitoria Inn" depois de nos despedirmos dos nossos anfitriões, no dia seguinte. O dono do "Vitoria Inn" é descendente dos portugueses Silveira, da ilha do Faial, nos Açores. Interceptou-nos à saída, encantado porque reconheceu a língua portuguesa quando conversávamos no salão. Mudou o Silveira para Silva porque era mais fácil de pronunciar pelos americanos. Já foi ao Faial, mas não encontrou as raízes.
Na Main Street, as casas mantêm o charme de antigamente.
Atravessámos a Fern Bridge,
de 1911 e retomámos a 101 Redwood Highway paralela à Avenida dos Gigantes.
As vinhas e as winneries foram aparecendo.
São Francisco aproximava-se.
* * * * *
11 comentários:
Obrigado.
Mais uma bela viagem que fiz sentado em casa.
Tonito.
Que lindo. Texto e imagens que me fizeram voltar por momentos ao passado dos cowboys que via na Tv.
Terá sido uma das belas viagens que fiz com os vossos olhos. Obrigado.
jcarlos
Maravilhas!...
Viajei desde o deserto até aos montes nevados e, imagine-se, estou descansada e maravilhada!
Beijitos, amigos e obrigada.
Aínda estou encantada com esta maravilhosa visita! Faria esta viagem de bom grado, deve ser o chamamento da natureza, que tanto adoro (o sol escaldante... nem por isso).
Mas voltei ao tempo em que lia os livros de cowboys juntamente com o meu pai, adorávamos os filmes de Far West, e esta viagem trouxe-me à lembrança memórias muito queridas!
Obrigada...!!!
Beijinhos!
Odete
Obrigada, Alfredo, por mais esta prenda.
Beijinhos e abraços para vós
Marinela e Chico
Como bem sabeis, muito bem mesmo, não é das viagens, que mais me fascinou, por muito desértica, até determinada altura. Cidades fantasmas também me assustam...mas achei piada à história dos amendoins :)
Na Serra Nevada, já me comecei a entusiasmar e o "Kings Canyon National Park, com alguns lindos bichinhos, que me souberam a pouco e sequóias muitas, demais...
Engraçada a história da "General Sherman Tree".
Gostei dos lagos e cascatas e do Rio Merced.
O "Old Sacrament Town", fez-me lembrar os filmes de cowboys, que nunca apreciei, mas aqui até gostei e o impressionante "State Capitol". Também gostei do "Theodore Jurah" e das casas, como a "Gingerbread Mansion". Ficou-me no goto a "Vitorian Inn".
Valeu!!!
Obrigada, Alf e Daisy.
Beijinhos.
percorri tudo e aqui não está a foto do passatenpo...
Gostei da 1879....
Uma riqueza de viagem que me foi oferecido por vocês. Formidável.
Envia mais.
Boa viagem e saúde.
Um abraço
Fernando AZENHA
A princípio incomodou-me a aridez e o calor mas depois a coisa compôs - se.
Não posso dizer que fiquei com água na boca, mas a vossa companhia agrada-me sempre.
Beijinhos aos dois
A diversidade de paisagens é bonita e já viajei como os meus amigos sem me cansar.
Claro,as fotografias encantam e os relatos da Daisy são história da boa em que nada falta.
Beijinhos
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