Viajámos com a Ibéria entre Lisboa, Madrid e Santiago e com a Latam nos voos internos.
E sobrevoámos a Cordilheira dos Andes.
É a terceira vez que estamos em Santiago do Chile. A segunda foi há dois anos e meio, a primeira há vinte anos.
Desta feita ficámos na área mais moderna da cidade, em Las Condes,
o bairro onde vive a classe média alta, com uma arquitectura contemporânea de edifícios muito altos. Por comparação com a Manhattan de Nova Iorque, dão-lhe o nome de Sanhattan...
E, do alto do nosso quarto, no Ritz-Carlton, até se vê um edifício que parece (lembra) o Crysler!
Almoçámos no "Le Pain Quotidien",
que tem grande variedade de escolha, desde os vegetarianos às tábuas de queijos e enchidos... Fica perto do hotel, tem uma frequência bastante jovem e os empregados são muito simpáticos.
Estamos longe da parte velha da cidade. De taxi, fomos até à Praça de São Francisco,
para visitar o Bairro Paris-Londres, para o mostrar à Joana. Começa junto da Igreja de São Francisco que faz parte do Convento do mesmo nome.
Os Franciscanos venderam ao Estado os terrenos onde está o Bairro, devido a problemas económicos da Congregação. Iniciou-se a sua construção no nascer do século XX e a arquitectura, muito europeia,
obedece aos gostos da época da classe média alta.
Começou tudo no cruzamento de duas ruas: Calle Paris e Calle Londres.
No número 38,
antes do golpe de 1973, estava a sede do Partido Socialista do Chile.
Foi depois ocupado pelo DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), a polícia secreta da ditadura militar de Augusto Pinochet, entre 1973 e 1977.
Foi transformado em um centro de detenção e tortura até à abertura do campo de concentração da Villa Grimaldi. Era conhecido como Londres 38. As pedras da calçada lembram alguns dos mártires da ditadura, com nomes de gente bastante jovem.
Há pedras pretas que representam os cadáveres encontrados e não identificados e pedras brancas dos desaparecidos. Para que se não esqueça.
Pelo Passeo Ahumada,
chegámos à Plaza de Armas.
Em todas as cidades da colonização espanhola nas Américas, a Plaza de Armas era a primeira construção. Servia de protecção e ali se instalava o comandante das tropas e se construíam os edifícios de apoio à colonização e à evangelização...
Fundada em 1541, lá está a antiga residência de Pedro de Valdívia, o Correo Central,
que foi depois residência oficial dos Governadores chilenos e dos Presidentes da República.
O Museo Historico Nacional ou Palacio de La Real Audiencia,
era o principal tribunal do país e onde funcionaram alguns Ministérios até serem transferidos para o Palácio de La Moneda. Ao lado, a Ilustre Municipalidad de Santiago, construída entre 1578 e 1647 (que foi reconstruída em 1891 devido a ter sofrido um incêndio) era a sede da Administração da cidade.
E a Catedral Metropolitana, claro.
A actual edificação é a 5ª construída no mesmo local. O estilo dominante é o Neoclássico.
Era Domingo e o povo estava na rua.
Até os Chinchineros nos brindaram com um dos seus admiráveis espectáculos, junto ao Monumento a Los Pueblos Originales ou Monumento Al Pueblo Indígena.
O dia terminava, o sol escondia-se e os contraluzes davam beleza ao espaço.
O calor mantinha-se.
Por dentro, passadas as pesadas portas de cedro, a Catedral mostra o seu esplendor, com colunas pintadas imitando o mármore rosa.
Belíssima, a capela de La Virgen Del Carmen.
Voltámos a outra igreja de que muito gosto: a Basílica de La Merced.
Com a sua cor de salmão, a basílica não passa despercebida. Foi construída em 1795 pela Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria da Misericórdia. Estilo Neo-Renascença. No interior está a imagem católica mais antiga do país, trazida pelo Padre Antonio Correa em 1548, a Virgen de la Merced.
No Passeo Agustinas, entrámos na Iglesia de San Agustín.
A principal atracção deste templo é o Cristo de Mayo ou Señor de la Agonia,
com duas lendas interessantes, uma delas contada já no blog, após o sismo de 1647. A outra, justifica as marcas na escultura talhada em madeira policromada pelo frade Agostinho Pedro de Figueiroa em 1613. Pertencia a imagem a Catalina de Los Ríos y Lisperguer (La Quintrala), conhecida por açoitar com fúria os escravos. Um dia, deu-se conta de que Cristo a olhava com ar crítico e começou a açoitá-lo também cada vez que as coisas lhe corriam mal! Na hora da morte, arrependeu-se e ofereceu a escultura aos frades.
Regressámos a Las Condes
e jantámos no Ciro's. Nada de especial.
Em Santiago vive 40% da população chilena, cerca de 7 milhões de pessoas. Por isso, o trânsito automóvel é caótico. A cidade é cruzada longitudinalmente pela Alameda, assim chamada porque toda a zona era coberta de álamos, que foram abatidos para a sua construção. Ladeia o rio Mapocho e vai tomando o nome das diversas comunas que atravessa.
Avenida do Libertador Bernardo O'Higgins, toda a gente se refere a ela como "a Alameda". Tem 10km de extensão.
A visita, com guia, do Cerro de Santa Lucia, ficou gorada porque decorria um evento com o Presidente e estava fechado ao público. Voltaremos.
A hora era boa para ir ver o render da guarda no Palácio de La Moneda.
Um espectáculo sempre muito apreciado, com banda de música e tudo.
Do alto da sua estátua, Salvador Allende é espectador assíduo...
Voltámos à zona antiga, passeando na última rua tornada pedonal,
o Passeo Bandera,
obra do artista visual Dasic Fernández que pintou os 400m lineares de cores garridas.
Chegámos à Plaza António Varas,
com a estátua deste e Manuel Montt, no centro, entre o Palácio da Justiça e o Congresso Nacional (Edifício del ex Congresso). Este, criado em 1811 foi, em 1990 transferido para Valparaíso, a segunda cidade do país, visando uma descentralização.
Contornando o edifício, vê-se a Câmara dos Deputados
com arquitectura helénica.
Em frente, outro interessante edifício que alberga a Academia Diplomática do Chile.
A Estação Ferroviária
é, agora, um centro de eventos (Centro Cultural Estación Mapocho). Com o crescimento da cidade, ficou demasiado no centro e foi construída outra, mais periférica.
O Mercado Central,
também perdeu a importância como mercado.
Criado em 1864 na Plaza de Abastos, a mando de Bernardo O'Higgins, foi projectado por Manuel Adunate em estrutura metálica que foi trazida de Inglaterra.
Foi inaugurado em 1872. Agora, tem poucas bancas e muitos restaurantes.
No Bairro da Bellavista, fomos ver
"La Chascona",
a casa onde Pablo Neruda vivia com Matilde Urrutia.
Era segunda-feira... dia de encerramento dos museus em Santiago!
Um pequeno passeio no Parque do Bicentenário terminou a manhã.
O parque foi inaugurado em 2007, numa grande área de terrenos baldios, para comemorar os 200 anos da independência do Chile.
É uma zona muito agradável e onde vimos, pela primeira vez, os cisnes de pescoço preto.
Pode dar-se de comer às aves... e foi uma festa!
Almoçámos, muito bem no "Tiramisú", perto do Ritz-Carlton e subimos depois ao topo do Sky Costanera,
para ver a cidade de cima...
e o rio Mapocho quase sem água.
De taxi, fomos até ao Cerro de Santa Lucia,
esperançados de que o Presidente já lá não estaria. E não estava.
O cerro tem 629m de altura e terá sido um vulcão extinto. Era chamado Huélen antes da colonização e foi conquistado por Pedro de Valdivia
em 13 de Dezembro de 1540, dia de Santa Luzia.
Tem uma área de 65.300 metros quadrados. Em 1816 foram construídos dois fortes ou castelos com canhões,
na colina de pedra (Castillo Hidalgo).
Várias praças convidam a descansos.
A que nos recebe é a Plaza Neptuno
e é esse deus que domina a bela fonte.
Era a hora de ponta e resolvemos não entrar no Metro (soubemos depois que funciona muito bem e não se nota a hora de ponta...) e fazer a pé o caminho até ao hotel cerca de 2km.
Um painel cerâmico de homenagem a Gabriela Mistral
está na encosta do jardim na base do Cerro de Santa Lucía.
Percorremos a Alameda, passando pela Universidade Católica de Santiago
e pelo GAM
(Centro Cultural Gabriela Mistral).
Gabriela Mistral foi a poetisa que recebeu o primeiro Prémio Nobel da Literatura do Chile.
Este centro foi construído em 1972 para sede da conferência das Nações Unidas na cidade.
Usado pelo governo de Pinochet, foi abandonado depois. Sofreu um grande incêndio em 2006 e, finalmente, em 2010 foi recuperado para abrigar e promover os vários tipos de Arte.
Ainda chegámos à Plaza Baquedano
ou Plaza Itália, onde se fazem as manifestações das vitórias futebolísticas.
Aí, fotografei o Cerro San Cristobál e a sua Virgem da Imaculada Conceição.
O monte tem 880m de altura. A estátua da Virgem tem 14m de altura e está num pedestal de 8,5m. Bem pequenina, ao longe, consegui um belo zoom.
Mas o cansaço venceu-nos e chegámos a Las Condes de taxi...
No dia seguinte, saímos de Santiago com frio, nevoeiro e ameaçando chuva, em direcção a Valparaíso.
Saindo da cidade, entrámos no campo, nos férteis vales chilenos!
O Valle Curacavi (que significa "água de pedra") é o local de onde saem as melhores frutas que se comem em Santiago e em toda a Europa.
Do Valle Casablanca
saem os mais afamados vinhos chilenos. E, como não podia deixar de ser, fizemos uma prova de vinhos na Casona Veramonte
onde descobrimos uma casta que não conhecíamos.
A Carménère
chegou aqui por engano, misturada com a Merlot, vinda de França, onde tinha sido extinta pela Filoxera. Das 4 castas provadas foi a que mais nos agradou.
E chegámos à segunda cidade do país, uma cidade com grande importância portuária espalhada por 45 cerros.
É essa a maior beleza da cidade, uma espécie de desordenamento paisagístico que é único... muito colorido.
La Sebastiana
era a única casa de Pablo Neruda que não conhecíamos. Há 20 anos, quando aqui estivemos, ainda não era museu (foi inaugurado em 1999).
Em arquitectura exterior, é a mais interessante, em colina, distribuída por vários pisos, todos virados para o mar,
bem ao pedido de Neruda: "Siento el cansacio de Santiago. Quiero hallar en Valparaíso una casita para vivir y escribir tranquilo.Tiene que poseer algunas condiciones. No pude estar muy arriba ni muy abajo, debe ser solitaria, pero no en exceso. Vecinos, ojala invisibles. No debem verse ni escucharse. Original, pero no incómoda. Muy alada, pero firme. Ni muy grande, ni muy chica. Lejos de todo pero cerca de la movilización. Independiente, pero com comercio cerca. Ademas tiene que ser muy barata" (1959).
Levou 3 anos a restaurá-la e honrou o seu primeiro proprietário com o nome que lhe deu.
Toda a casa é como um miradouro para a cidade.
Valparaíso terá sido habitada, inicialmente, por nativos Picunche, agricultores e por Povo Chango, nómadas que se dedicavam à pesca.
Os espanhóis chegaram em 1536 a bordo de um pequeno barco, vindos de Valparaíso de Arriba, Cuenca, Espanha.
Em 1810, um rico comerciante construiu um cais que foi o primeiro na história do Chile. Aliás, Valparaíso foi pioneira em outras coisas, no Chile:
o primeiro jornal, Mercúrio de Valparaíso, em 1903;
o primeiro funicular (Concepción) em 1883;
e em 1880, a primeira companhia de telefones.
Também a imigração de outros países da Europa, transformando a cultura espanhola, trouxe o primeiro cemitério não católico no Chile, o Cemitério Protestante.
E até os Ingleses trouxeram a prática do futebol...
Depois da visita a La Sebastiana, descemos para voltarmos a subir no Ascensor Reina Vitória.
De há 20 anos para cá, o que nos chamou a atenção foi a profusão de murais.
De resto, tudo está igual!
O Cerro Alegre
é o mais turístico. Foi aí que encontrámos um "transformer" da fotografia, Alberto Lagos.
No Cerro Concepción, um grupo de advogados comprou um belo edifício de arquitectura francesa,
restauraram-no e habitam-no agora.
Almoçámos um bom ceviche, junto do belo edifício do Museo de Bellas Artes de Valparaíso.
Descemos pelo funicular El Peral
para a Plaza Sottomayor onde está o belo edifício da Armada do Chile
e a estátua do herói da Guerra do Pacífico, Arturo Pratt.
Viña del Mar é um aprazível lugar à beira-mar,
Tem praia, casino
e até uma casa acastelada,
o Castelo Wulff.
O Relógio de Flores é onde todo o turista que se preze se faz fotografar...
Foi oferecido pelos suiços no Campeonato do Mundo de Futebol de 1962.
Ao 5ºdia, começou a nossa experiência na Patagónia Chilena.
Num voo de pouco mais de 2h, chegámos a Balmaceda
e, pela Carretera del Sur, até Puerto Chacabuco.
A Carretera del Sur ou Carretera Austral tem início em Puerto Montt.
Balmaceda foi a primeira povoação da Patagónia, começando com uma população 800 pessoas. Actualmente tem pouco mais de 1000.
Grandes montanhas azuis, pequenos povoados.
Coyaque é a capital da região de Aysén.
É um pequeno aglomerado de casas baixas, mas já com algumas áreas comerciais.
Puerto Aysén, Puerto Chacabuco, Fiorde Aysén, Parque Aikén del Sur, são nomes que, nestes dois dias, nos vão ser familiares.
Parámos na Cascata da Virgem,
que tem uma Virgem da Cascata.
O hotel Loberias del Sur
tem gente muito simpática.
Na recepção, um brasileiro, Leonardo. Na cafeteria,
o Luís (Luís Alfredo) fez questão de nos mostrar as áreas sociais depois de nos servir uma refeição ligeira.
Virado para o fiorde Aysén
e para o porto,
o hotel é o edifício mais importante da pequena povoação.
O jantar-buffet, muito bom.
De manhã, fomos conhecer a "cidade".
Em Puerto Chacabuco residem 1600 pessoas, mas não se vê ninguém.
Estamos num plano superior ao porto.
Depois de um pequeno passeio com vista para o fiorde, embrenhámo-nos na povoação.
Tem uma avenida principal
cruzada por várias ruas com letreiros de "Via de evacuacion tsunami - evacuation route" em direcção à montanha.
As casas, pequenas, de madeira, têm um aspecto frágil.
Difícil imaginar o conforto nos frios Invernos patagónicos!
O almoço, à lista,
com buffet de sobremesas, estava bem confeccionado. O salmão predomina.
Têm culturas no meio do fiorde e utilizam-no em vários pratos, incluindo o ceviche.
Às 4h, a Antónia veio buscar-nos para um trilho no Parque Aikén del Sur,
um parque privado que pertence ao Loberias del Sur e fica a 15mn, de carro, do hotel.
Foi um passeio agradável ao longo do rio Salto
pela flora local, onde conhecemos várias Arrayan,
a Nalca, de folhas gigantescas
(que pode ser utilizada em saladas) e vários fungos, incluindo o popularmente chamado Pão-de-índio.
O caminho termina na bonita cascata Salto Barba del Viejo
com 22m de altura.
Junto do Lago Riesco
esperava-nos o assado de cordeiro.
E doces cães chilenos,
estes da Patagónia.
A neblina que se avistava, de manhã,
da janela do quarto, deu lugar a um dia esplendoroso.
O catamarã "Chaitén"
levou-nos por 25 milhas náuticas com fiordes e paisagens deslumbrantes
até entrarmos na Laguna San Rafael. Antes, avistámos, ao longe, o Glaciar Valentin.
O Glaciar San Rafael é um dos maiores do Campo de Gelo do Norte da Patagónia Chilena. É ele que alimenta o lago. É o corpo de água glaciar mais perto do Equador.
O glaciar tem 760 quilómetros quadrados.
O catamarã ficou ao largo do glaciar e fizemos a aproximação em pequenos botes.
Foi uma boa experiência.
Sem vento, a temperatura suportava-se bem e a vista foi surpreendente.
O almoço foi servido no barco, mas não há nada que chegue à mesa do restaurante do hotel, onde jantámos.
Por dificuldade de voos, tivemos que voar até Santiago para chegar a Puerto Montt. Os voos andam cheios porque a via de comunicação terrestre é dificultada pela existência de muitas ilhas e lagos no sul do país.
A Região dos Lagos, onde chegámos depois das 17h, foi colonizada em 1848 por "imigrantes fortes e robustos" que pudessem cultivar a região de Valdívia, Osorno e Llanquihue. Era o desejo do governo chileno... e chegaram alemães, a quem deram terrenos para desflorestar e cultivar batata e milho e a quem deram a nacionalidade chilena. A arquitectura espelha a região dos imigrantes.
O nosso hotel é o
"Dreams Los Volcanos",
o mesmo onde nos trataram muito bem há dois anos.
Da janela, procurei os vulcões no Lago Llanquihue, em vão. As nuvens escondiam-nos. O Lago Llanquihue é o segundo maior do Chile, com 860 quilómetros quadrados e banha a base do vulcão Osorno.
Demos um pequeno passeio a pé
e as rosas estão por todo o lado,
fazendo jus ao segundo nome da cidade, "La ciudad de las Rosas".
Entrámos na Feria Artesanal
e fotografámos a Igreja altaneira, branca e debruada a vermelho.
E voltámos, como há dois anos ao restaurante "Las Buenas Brasas"
para saborear o "jardim de marisco"
com alguns dos mariscos típicos do Chile: as pequenas e deliciosas ostras chilenas, o picoroco,
o loco
e outros. As entradas de ostras e pão especial, foi um bom começo.
Na manhã seguinte, o Carlos, o simpático recepcionista fã do Fado e da Carminho, explicou onde deveríamos dirigir-nos para obtenção dos bilhetes para o tour de hoje, que não é privado (mas foi previamente reservado).
Antes do embarque no Lago de Todos os Santos, parámos em Petrohué
para ver os Saltos de Petrohué.
A água corre sobre pedras de lava basáltica e vai terminar no Lago de Todos os Santos. Um cenário lindo onde as águas de cor esmeralda estão rodeadas por frondosa vegetação.
A floresta valdiviana dificultava as conexões e, por isso, utilizava-se o Lago Llanquihue até Ensenada, povoação entre dois vulcões activos (Osorno e Calbuco) onde a população de origem alemã, em Abril, vai para a floresta colher murta para fazer licores e compotas.
Embarcámos num catamarã no
Lago Todos Los Santos,
assim chamado porque foi descoberto no dia 1 de Novembro.
Cerros de bosques sempre verdes, cascatas,
algumas casas isoladas. Os vulcões
Osorno e o Pontiagudo acompanharam-nos por perto e durante bastante tempo.
Peulla é uma pequena aldeia
com 150 habitantes,
chamada "aldeia ecológica",
rodeada pela Cordilheira e Lagos Andinos, na fronteira com a Argentina.
Em língua andina, significa "rebentos de Primavera". Em 2013 foi reconhecida como o destino mais sustentável do Chile. Era o nosso local de almoço mas, antes, escolhemos conhecer melhor a área e subimos no "Jabali",
um pequeno autocarro todo-o-terreno, aberto e preparado para passeios turísticos.
Embrenhámos-nos na floresta valdiviana do Parque Nacional Pérez-Rosales.
Neste parque só vive a família Gonzalez, descendente, desde há 3 ou 4 gerações, de alemães, antes de ser Parque Nacional. Por estes caminhos, Che Guevara cruzou a fronteira na sua motocicleta (La Poderosa), a caminho da Bolívia, imortalizando a fronteira dos Lagos Andinos nos "Diários de Motocicleta" (filme).
Na granja,
convivemos com cabras, ovelhas, porcos, burros.
Para chegar ao El Encanto, o Jabali atravessou o rio Peulla
que, nesta época, não leva muita água.
Chegando ao rio Negro, deslizámos num pequeno barco,
no silêncio, ouvindo as quedas de água ao longe e os sons de vários pássaros. A Natureza no seu melhor.
As águas negras das cinzas vulcânicas, reflectem as margens.
Os rios Peulla e Negro juntam-se e terminam no Lago de Todos Los Santos.
O almoço no hotel Peulla foi pobre,
mas tudo o resto compensou.
No regresso, algumas cascatas
caem no Lago.
E chegados a Puerto Varas, da janela do "Dreams Los Volcanos", consegui fotografar os vulcões: o Osorno
a sair das águas e o Calbuco,
meio encobertos pelas nuvens!...
Jantámos no "Barista": pão torrado e tábua de presunto.
O dia acordou com chuva.
Às 8h tínhamos o António (guia) e o Patrício (motorista) à nossa espera e levaram-nos até à pequena povoação de Parguá na margem norte do Canal Chaca. O ferry transportou-nos, com o carro, até à Ilha Grande do arquipélago de Chiloé que tem 100 ilhas.
A chuva continuava e a subida à coberta não foi boa ideia.
A Ilha Grande tem uma superfície de 9181 quilómetros quadrados e é habitada por 150mil habitantes.
Foram trinta minutos de navegação até Chacao.
Na Villa de Santo Antonio de Chacao, as casas de madeira continuam a ser bonitas.
A Igreja,
também de madeira, tem duas torres simétricas, janelas debruadas a azul e um telhado de zinco também azul.
Construída em 1710, é luminosa,
muito simples mas com alguns interessantes pormenores.
A pia de água benta, na entrada,
lembra o nosso artesanato de cerâmica.
Um Cristo, no altar principal,
tem um poncho chileno no braço esquerdo.
À sua esquerda, uma escultura de
São José com Jesus,
pouco vulgar na estatuária religiosa.
A chuvinha abrandou um pouco e demos uma pequena volta na pracinha Plaza Martín Luiz de Gamboa.
Dez minutos depois estávamos em Ancud, Ciudad de Paz.
O Forte de Santo António
foi construído na Baía do Rei, com forma quadrangular
com 24m de frente para o mar, com canhões.
Tem uma bonita vista.
Resta um obelisco, no meio,
homenageando o último governador espanhol de Chiloé, Antonio Quintanilla.
Até ao mercado, passámos por mais uma igreja.
Existem, no arquipélago, 180 igrejas, todas de madeira (o conjunto delas é Património da UNESCO) e existe um padre para cada 25.
No Mercado,
o mel de ulmo,
os alhos gigantes
e... muitas algas.
Mexilhões sem casca secam, em fios.
A pescada e o congro, além do salmão, são os peixes mais vulgares.
Uma hora de carro depois, estávamos em Dalcahue.
A maré estava baixa.
A diferença entre marés, nesta zona do Pacífico, chega aos 7m.
Almoçámos no palafítico restaurante,
na Cocinería Carlita, o típico Curanto,
O Curanto original é cozido em uma fogueira ateada num buraco de meio metro escavado na terra e preenchido com pedras e folhas. É uma espécie de cozido-à-portuguesa com os mariscos típicos do Chile, enchidos e galinha.
A mesa é um balcão corrido virado para as vigias que proporcionam fotos interessantes!
A Igreja de Nuestra Señora de Las Dolores, na Plaza de Armas,
é Património da UNESCO desde 2000.
Toda a estatuária é em madeira.
Até as colunas,
que estão pintadas para parecerem de mármore.
A cidade de Castro, capital do arquipélago, é famosa pelas suas casas palafíticas.
Na maré alta, o mar fica por baixo das habitações dos pescadores.
Algumas já são aproveitadas para o turismo.
A Igreja de São Francisco
está pintada de amarelo. Também lhe chamam Igreja do Apóstolo Santiago e está na Plaza de Armas.
Inicialmente projectada para ser construída em pedra, a falta de operários para trabalhar essa matéria prima, fez com que fosse construída em cipreste e outras matérias nativas.
Em estilo Neogótico, muito em moda no início do século XX. Foi a presença de 450 anos dos franciscano que influenciou o nome da igreja. Foram eles que ensinaram as primeiras letras aos indígenas.
Os trabalhos em madeira são muito artísticos.
Regressámos a Puerto Varas cruzando, de novo, o Canal de Chacao, deixando a Ilha Grande para trás.
E, em Puerto Varas, a caminho do restaurante "Mawen Café",
pudemos admirar a beleza do vulcão Calbuco!
No dia a seguir, a chuva, mansa, não facilitou o tour em Puerto Varas, na colina onde estão as casas mais antigas.
E, infelizmente, a Igreja do Sagrado Corazón de Jesus estava fechada.
Puerto Montt é a capital da Região de Los Lagos.
Do Miradouro Manuel Montt
apercebemo-nos da cidade grande.
Na Plaza de Armas,
a Catedral de Nuestra Señora de Monte Carmelo
cuja frontaria apresenta colunas dóricas. De madeira de alcerce pintada a imitar o bronze, é o edifício mais antigo da cidade.
Muito moderno e de arquitectura bem contemporânea, é o Estádio Regional de Chinquihue.
A Caleta de Angelmó
(Angel Mo, assim chamada pelos indígenas a Angel Montt, médico que vivia no local...) fica junto de uma pequena baía, frente à ilha Tengo, onde nasceu um porto, no fim do século XIX, onde chegam os barcos com os produtos comercializados entre ilhéus.
Actualmente é mais uma atracção turística com feira de artesanato. Mas também um porto de embarque para o sul (Chiloé, Laguna San Rafael e Puerto Natales) e um mercado de mariscos e pescados. Podemos ver, ao vivo, o Picoroco...
Os leões-marinhos
são outra atracção embora, nesta época, não sejam muitos.
Regressando a Puerto Varas,
o vulcão Osorno,
timidamente, mostrou-se, a sair das águas do lago Llanquihue!
Até que a chuva nos obrigasse a fugir para o hotel, ainda demos um pequeno passeio pela cidade das rosas.
No "Sotavento Libros", vêem-se bem as "escamas" de madeira de alerce das paredes.
Ainda subimos pela escada pintada,
encontrando Arte Urbana, o "Jardim de Las Artes" (Kunstgarten)
e algumas das casas mais antigas.
E deixámos Puerto Varas e o olhar meigo de mais um cão chileno.
Foram 2h de avião até Punta Arenas.
E daí a Puerto Natales, de carro, mais 3h.
Chegámos ao "Remota Patagónia Lodge" era já noite escura!
O hotel tem uma arquitectura muito original e uma bela vista a partir da janela do quarto
e não só, como pudemos comprovar no dia seguinte.
No Parque Nacional Torres Del Paine, a Natália guiou-nos e o Francisco conduziu-nos, uma boa equipa que procurou satisfazer todas as nossas "exigências".
Declarado Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO em 1978, o parque tem 242.242 hectares, não podendo ser bem conhecido em apenas um dia!
O azul ("paine")
espelha-se no impressionante maciço andino. À volta da Laguna Figueiroa,
que congela no Inverno, a planura de La Pampa.
Na Villa Cerro Castillo
bebemos um café.
Fica no cruzamento de duas estradas que levam aos dois ícones da Patagónia: as Torres del Paine (Chile) e o Perito Moreno (Argentina).
No Miradouro do Lago Sarmiento começámos a ver as Torres del Paine,
que dão o nome ao parque. A Torre Sur vê-se incompleta.
É a mais alta (2850m). A Torre Central tem 2800m e a Torre Norte 2600m. Ao lado, o chamado Nido de Condores com 2243m e, mais baixo, o Cerro Paine com 1535m.
Os condores surpreenderam-nos, a voar.
Também os guanacos selvagens se mostraram.
E aquele estranho animal parecido com uma avestruz que se chama Ñandu.
Da Laguna Amarga (porque é de água salgada)
também temos uma boa imagem das Torres.
A partir daqui entra-se, oficialmente, no Parque Nacional Torres del Paine, na Región de Magallanes. Não chegámos até à base das Torres porque é uma longa caminhada.
O nosso trilho é de pouco mais de 2km, o Sendero Salto Grande.
Com o Lago Nordenskjold pela frente,
lá estão os Cuernos del Paine.
Com o zoom, conseguem ver-se os glaciares entre o basalto negro.
Os lagos de cor azul são fruto do degelo desses gigantes.
O Lago Pehue
tem uma cor verde-esmeralda.
De novo os guanacos se atravessam à nossa frente.
As pequenas orquídeas
acompanham-nos até à cascata que se despenha do Lago Pehue, de uma altura de 10m.
Bem visíveis, os Cuernos.
O almoço foi na Hosteria Pehoe, uma casinha vermelha
na margem do Lago Pehue cujo acesso se faz por uma ponte palafítica.
Nela, um gato lindo, de aspecto selvagem,
o único animal doméstico autorizado a viver no Parque, porque se alimenta sozinho, do que o Parque tem.
É possível chegar junto do Glaciar Grey caminhando até à Isla de Los Hielos.
Mas são 6km num percurso difícil, com bastantes obstáculos. Por isso, preferimos partir da Guarderia Grey,
atravessar a ponte suspensa Weber,
passar um pequeno bosque,
pisar a areia do Lago Grey,
ver alguns icebergs,
os Caiguén
e regressar para contemplar o glaciar a partir do miradouro.
O maior lago do Parque é o
Lago Del Toro,
que fotografei a caminho da Cueva Del Milodón.
Em 1895 o colono alemão Hermann Eberhard descobriu a maior caverna do Cerro Benitez
e aí encontrou a pele de um animal desconhecido que mais tarde se identificou como um Milodón (Milodonte, que viveu na Patagónia até há aproximadamente 10.000 anos).
Uma reprodução à escala,
com 3m de altura, de pé nas patas traseiras, faz a delícia dos turistas.
Os estudos continuam porque este será o maior tesouro enterrado da Patagónia.
Neste dia, percorremos, apenas, 290km dos muitos que o Parque tem, mas valeu a pena.
O último dia na Patagónia, foi um cruzeiro aos glaciares.
De Puerto Bories, onde foi criada a Sociedade Exploradora de Tierra de Fuego (para exportação de ovelhas para a Argentina) em 1913.
Pelo canal Señoret
entrámos no canal Eberhard
e Fiorde Ultima Esperanza.
Na Punta Barrosa, vimos a colónia de Cormorones
que, ao longe, parecem pinguins.
Cascatas
e picos rochosos cobertos de branco,
acompanham-nos.
Mais à frente, uma pequena colónia de Lobos-marinhos.
As cascatas multiplicam-se.
Do alto do Monte Balmaceda,
com 2035m, começa a aparecer o Glaciar Balmaceda.
Fico sempre impressionada
com estes testemunhos do passado.
Quanto tempo, ainda resistirão?
A cauda, está a alguns metros da água.
Leio que, em 1981, ainda a tocava.
Estamos num fiorde do Oceano Pacífico (num parque que engloba um outro glaciar que iremos ver, o Serrano) que pertence ao Parque Nacional Bernardo O'Higgins.
Meia hora depois estávamos a atracar no molhe de Puerto Toro
para um passeio no meio da floresta até ao miradouro para ver o Glaciar Serrano
com a sua impressionante lagoa de degelo.
No bosque, proliferam os fungos comestíveis Pão-de-índio.
Mais meia hora de navegação e estávamos a almoçar na
Estância Perales,
um precioso churrasco de cordeiro.
Regressados ao Remota, o dia ainda estava longe de acabar, porque as horas de sol na Patagónia são muitas.
Pedimos para nos chamarem um taxi e fomos visitar Puerto Natales, começando na Plaza de Armas
(Plaza Arturo Pratt) e na sua Igreja,
Neoclássica, dedicada a Maria Auxiliadora que está representada no altar e num belíssimo vitral.
Ao lado, o edifício da Municipalidad.
As Lupinas
enfeitam as casas, aqui e ali.
Na beira-mar, o monumento ao vento patagónico!
Que, extraordinariamente, hoje está manso.
O Museo Historico
dá-nos a conhecer o povo original da Patagónia
e as aventuras dos pioneiros e colonos.
Aónikenk era o nome dos nómadas que habitavam a Patagónia, nesta zona, desde há 13000 ou 14000 anos.
A colonização da "Ultima Esperanza" deveu-se aos conflitos étnicos, culturais, religiosos e políticos do Velho Mundo nos finais do século XIX, agravados por penúrias económicas e a existência de um território livre de tensões sociais e enormes extensões de terras para povoar, na Região de Magalhães. Apenas 10 colonos, de nacionalidade alemã, chegaram em 1892. No início do século XX, 30 alemães e ingleses e, depois, espanhóis, franceses, uruguaios e alguns chilenos. Hermann Eberhard, capitão aposentado da marinha mercante alemã, foi o pioneiro que ocupou terras junto do fiorde que mais tarde levou o seu nome, com criação de gado.
Eram as terras do fim do Mundo!...
Jantámos na cidade.
Ainda fotografámos a "Mão", na marginal.
E a nossa viagem estava no fim.
No dia seguinte, voámos para Santiago.
A cidade recebeu-nos bem.
Passeámos em Las Condes,
jantámos no "Tiramisú", já nosso conhecido, dormimos no Ritz-Carlton e preparámos-nos para o a longa viagem de regresso a Portugal.